terça-feira, 7 de maio de 2013

Gente sem vergonha nenhuma

O Diário de Notícias revela hoje com grande destaque que, dez dias depois de ter tomado posse, o Secretário de Estado do Desporto decidiu conceder benefícios fiscais a quem ajudasse o ‘seu’ Vitória de Guimarães.
A lei estabelece que as associações que tenham como objectivo o fomento e a prática de actividades desportivas, com excepção das secções participantes em competições desportivas de natureza profissional, podem receber os tais benefícios desde que não tenham dívidas fiscais. Porém, é sabido que há alguma confusão, ou mesmo promiscuidade, entre os clubes desportivos e as sociedades anónimas desportivas (SAD), sendo que os seus dinheiros se destinam essencialmente ao pagamento dos jogadores e aos técnicos das equipas profissionais de futebol e só, marginalmente, ao fomento da actividade desportiva. Todos sabemos que é assim.
Em tempos de "assalto fiscal" aos contribuintes, esta bênção aos doadores é intolerável. É realmente chocante que, directa ou indirectamente, o dinheiro destinado ao futebol profissional tenha isenções fiscais para beneficiar os "benfeitores". Até pode ser uma forma de fuga ao fisco ou uma forma de branqueamento, mas é sempre uma forma de pagar menos impostos. O que eles pagam a menos, pagaremos nós a mais. Há que mudar essa lei porque é injusta. No caso do Vitória de Guimarães, o psicólogo Guerreiro que foi graduado em Secretário de Estado não terá violado a injusta lei, mas actuou sem vergonha nenhuma pois que lhe bastaram apenas dez dias para beneficiar os amigos e “ficar bem visto lá na terra”. Até parece um nepotismo fiscal ou uma forma encapotada de caciquismo.
 

 

O centenário de Álvaro Cunhal

Álvaro Cunhal morreu a 13 de Junho de 2005 com 92 anos de idade e, este ano, completaria 100 anos. Por isso, o seu partido decidiu evocar a figura do homem que entre 1961 e 1992 foi seu secretário-geral, tendo criado uma Comissão das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal que, entre outras iniciativas, promoveu a realização de uma grande exposição sobre a sua vida e pensamento.
Álvaro Cunhal foi um intelectual, um artista e um dirigente político, sendo um dos mais importantes símbolos de resistência à ditadura salazarista. Esteve preso em 1937, 1940 e no período 1949-1960, perfazendo cerca de 15 anos de prisão, oitos dos quais em completo isolamento. Fugiu da prisão de Peniche em 1960 e, a partir de então e até 1974, viveu no exílio. Foi uma figura incontestada e admirada no seu partido, mas os seus adversários políticos nunca deixaram de lhe reconhecer uma exemplar atitude de resistência e de coerência.
A exposição trata com muita profundidade a vida de Álvaro Cunhal, registando a sua actividade política na clandestinidade e a sua acção de resistência ao salazarismo, mas também o período que se seguiu ao 25 de Abril. Os ambientes relacionados com a sua vida e os acontecimentos que a marcaram foram recriados com muita imaginação e há um assinalável número de documentos que são apresentados, entre os quais se incluem os originais de pintura e desenho, assim como as obras de ficção e de ensaio.
A exposição foi inaugurada em Lisboa no dia 27 de Abril e decorrerá até ao dia 2 de Junho na Sala do Risco - Pátio da Galé, com entrada pela rua do Arsenal, sendo mais tarde exibida no Porto. É uma grande exposição que está exemplarmente apresentada e que constitui uma revisitação dos últimos cem anos da nossa sociedade.