terça-feira, 14 de junho de 2022

Sobre a escolha política dos franceses

No passado domingo realizou-se a primeira volta das eleições parlamentares francesas, a que concorreram cerca de 6.000 candidatos com idades compreendidas entre os 18 e os 92 anos, que procuravam ser escolhidos para os 577 lugares de deputados na Assembleia Nacional francesa. Havia cerca de 48,7 milhões de eleitores inscritos, mas houve uma abstenção de 52,5%, que foi a maior de sempre em eleições parlamentares.
O imprevisto aconteceu: a coligação Ensemble! que agrega os aliados centristas do presidente Emmanuel Macron e a NUPES (Nova União Popular, Ecológica e Social), uma frente unida de esquerda liderada por Jean-Luc Mélenchon, obtiveram ambos 25,7% dos votos, pelo que ambos reclamaram vitória. O Rassemblement National, o partido de Marine Le Pen, obteve 18,95% dos votos, enquanto a coligação de direita moderada que inclui os Republicanos, conseguiu 10,5% dos votos.
Na segunda volta, que vai ser disputada no próximo domingo, o presidente Macron não tem garantida a maioria parlamentar de 289 deputados para o apoiar nos próximos cinco anos e esse será um facto político surpreendente, pelo que Mélenchon até já veio afirmar que vai ser o próximo primeiro-ministro de França.
Hoje o jornal Le Monde publica um mapa com os resultados eleitorais da primeira volta, onde se vê como a França está dividida e desinteressada da política, não só pelo nível histórico da abstenção, mas também por ameaçar a maioria absoluta do presidente Emmanuel Macron, o que pode gerar instabilidade em França e alterar o quadro político da União Europeia, sobretudo num tempo de grandes incertezas. 

Os roteiros de Marcelo são uma roda-viva

Marcelo Rebelo de Sousa, o nosso venerando Chefe do Estado, tem andado numa roda-viva e em ambiente de euforia, como ele tanto gosta. Nos últimos dias encheu as nossas televisões com discursos, declarações e comentários sobre tudo, informou sobre o estado de saúde de António Costa e irradiou satisfação como se tudo estivesse a correr bem no país e como se os tempos que aí vêm não fossem muito preocupantes. É saudável que o país tenha um presidente que irradia felicidade e que procura incentivar a autoestima da “arraia miúda”, mas tem que haver proporcionalidade e contenção nos beijinhos, nas selfies, nas gargalhadas e nos elogios que faz aos seus concidadãos. Somos bons, sim senhor, mas talvez não sejamos os melhores do mundo, como o nosso presidente gosta de repetir e até haja quem acredite nisso.
No dia 10 de Junho, Marcelo Rebelo de Sousa esteve em Braga a celebrar o Dia de Portugal, mas no dia 12 à noite já estava em Lisboa nos festejos de Santo António. Entre estes dois eventos que lhe deram um enorme tempo de antena como ele tanto gosta, ele visitou a comunidade portuguesa de Londres, onde conviveu com “as várias centenas de cristianos-ronaldos que Portugal enviou para a Inglaterra” e condecorou o enfermeiro Luís porque, por mero acaso, foi ele que tratou o Boris quando ele teve covid-19, mas essa visita não teve qualquer impacto nos media ingleses. Depois, o supremo magistrado da Nação voou para Andorra, onde anunciou coisas que não lhe competem, como por exemplo o estabelecimento de um consulado-geral em Andorra la Vella e a desejável activação de um voo directo entre Lisboa e o principado. O jornal El Periòdic d’Andorra foi apenas um dos jornais que destacaram a visita do Presidente da República de Portugal, com fotografia de primeira página
Tudo isto me parece um exagero e faz-me lembrar um provérbio popular português: Quem não aparece esquece, mas quem muito aparece, tanto lembra que aborrece.