quarta-feira, 15 de março de 2023

AUKUS, uma aliança para desafiar a China

O presidente Joe Biden recebeu na base naval americana de San Diego os primeiros-ministros da Austrália e do Reino Unido a propósito de um negócio de submarinos, mas também de um projecto comum que visa o fortalecimento da influência americana e dos seus aliados na região da Ásia-Pacífico, mas que também é um desafio, ou uma provocação, para a China. Este projecto que já é conhecido pelo seu acrónimo AUKUS, uma associação das palavras Austrália + Reino Unido + Estados Unidos, tem como desígnio a contenção da expansão militar chinesa na região, numa altura em que está em curso a construção de uma frota naval chinesa muito moderna e a conversão de ilhas artificiais em bases no alto mar.
As autoridades chinesas pediram que aqueles países abandonassem a mentalidade da Guerra Fria, uma vez que este projecto ameaça ser um ponto de partida para uma corrida armamentista e constitui um atraso nos esforços de não proliferação nuclear, mas Joe Biden afirmou que os Estados Unidos “salvaguardarão a estabilidade na região Ásia-Pacífico e que esta aliança fortalecerá as expectativas de paz nas próximas décadas”.
No mesmo encontro, o primeiro-ministro australiano Anthony Albanese anunciou como elemento central do AUKUS, a compra pela Austrália de três submarinos de propulsão nuclear e o fabrico de uma quarta unidade com tecnologia americana e britânica. A primeira unidade será entregue em 2030 e o primeiro-ministro australiano afirmou que o plano se prolongará por vários anos e que custará 368 mil milhões de dólares australianos, correspondentes a cerca de 240 mil milhões de dólares americanos, isto é, um valor semelhante ao PIB anual de Portugal! 
Os críticos australianos do AUKUS têm lembrado a política de ziguezague que a Austrália tem adoptado, pois assinou acordos com o Japão, depois com a França e, agora, com os Estados Unidos e o Reino Unido, enquanto ex-primeiro-ministro Paul Keating já afirmou que o AUKUS é "o pior negócio de toda a história", que "é uma afronta" e que "a Austrália voltou a ceder ao seu passado colonial". A imprensa australiana deu grande destaque a este acontecimento, sobretudo o Northern Territories News ou NT News, que se publica em Darwin, que avança o valor do investimento previsto, mas que também ilustra a sua edição com a fotografia de um submarino da classe Virginia, semelhante aos que a Marinha australiana começará a receber depois de 2030.

O insustentável SNS e quem dele se serve

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) é uma conquista da democracia nascida em 1974 e tem expressão no artigo 64º da Constituição da República, ao afirmar que “todos têm direito à protecção da saúde” e que esta se realiza “através de um serviço nacional de saúde universal e geral e, tendo em conta as condições económicas e sociais dos cidadãos, tendencialmente gratuito”. Muitas vezes esse serviço tem sido apontado como um dos melhores do mundo e Portugal distinguia-se no panorama europeu pela qualidade dos seus serviços públicos de saúde e pela melhoria dos respectivos indicadores, mas hoje a situação parece estar insustentável.
Nos últimos anos, a saúde tornou-se na área mais importante de todas as áreas sociais da governação pelos avultados recursos orçamentais que utiliza. Porém, a prestação de serviços do SNS coexiste com a oferta de serviços de saúde privados, o que gera conflitualidade em vez de complementaridade, o que leva muita gente a dizer que o SNS tem sido desfavorecido em proveito dos grupos privados de saúde. Não sei. A problemática da gestão da saúde é muito complexa e não se enquadra na simplicidade da lei da oferta e da procura, em que de um lado estão os médicos e do outro estão os doentes. É um assunto de gestão a tratar por especialistas e não por aventureiros. O problema é que todos os dias somos confrontados com situações encerramento de serviços, com demissões, com faltas de médicos de família, com adiamento de consultas e cirurgias e com longas filas de espera nas urgências. Sabemos que há uma grave crise de motivação da classe médica e paramédica, agravada pelas condições em que trabalham, pelo desajustamento das suas grelhas salariais e pelas fragilidades estruturais e organizativas do SNS. A situação não surpreende ninguém, pois há muito que “vemos, ouvimos e lemos” como o SNS tem sido pervertido por muitos dirigentes superiores e intermédios incapazes e irresponsáveis, que chefiam os serviços clínicos nos hospitais e nos centros de saúde, mas que se encostam ao seu interesse pessoal e ao vedetismo e que, tal como os músicos do Titanic, continuam a tocar quando o navio se afunda. Não servem o SNS. Servem-se do SNS!
Tudo isto vem a propósito do título escolhido para edição de ontem do jornal i: insustentável. Onde é que já ouvira isto? De facto, alguns dos médicos que me têm ajudado ao longo da vida, já me tinham informado que a situação era insustentável. A tempo souberam denunciar que o SNS estava “preso por um fio” e dizer não. Por isso aqui fica a minha gratidão, mas também a minha solidariedade para com os clínicos CNF, RBM e outros, que têm olhado por mim.