Com 90 anos de
idade faleceu ontem o Professor José Mattoso, uma notável figura da cultura
portuguesa, com uma vasta obra publicada sobre a nossa História Medieval.
Reconhecido como um dos mais ilustres historiadores medievistas portugueses,
como investigador e como professor universitário, era também muito respeitado
pelo seu percurso de vida, em que se destacavam a sua militância cívica, a sua
inteligência e a sua humildade.
Após o curso
liceal que frequentou na sua cidade natal de Leiria, foi monge da Ordem de São
Bento, tendo vivido na abadia portuguesa de Singeverga e na cidade belga de
Lovaina, em cuja Universidade Católica se licenciou e doutorou em História
Medieval.
Depois de cerca
de vinte anos de vida monástica, regressou à vida laica em 1970 e iniciou a sua
carreira académica em Portugal, onde foi professor catedrático da Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Em 1987 foi a
primeira personalidade a quem foi atribuído o prestigiado Prémio Pessoa e,
entre 1996 e 1998, dirigiu o Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Publicou mais
de três dezenas de obras de referência, dirigiu a edição em oito volumes da
História de Portugal (Círculo de Leitores) e coordenou o projecto de
inventariação do Património de Origem Portuguesa no Mundo (Fundação Calouste
Gulbenkian).
Viveu em
Timor-Leste no período imediatamente anterior e posterior à sua independência,
dirigindo de forma competente e persistente a recuperação da memória histórica timorense e a criação dos Arquivos
Nacional e da Resistência. Foi aí que o conheci e que com ele privei algumas
horas de conversa, rendido à sua cultura, à sua humildade, ao seu espírito de
missão e à sua sabedoria.
Portugal e a
cultura portuguesa perderam uma das suas mais distintas personalidades da
segunda metade do século XX.