domingo, 4 de agosto de 2019

Férias a crédito são nova forma de vida

A notícia de La Voz de Galicia é surpreendente, sobretudo depois da grave crise financeira de 2008 da qual nem o sistema financeiro nem os contribuintes já se livraram. Quando mais de cem mil galegos fazem as suas férias com recurso ao crédito, significa que já estamos num novo paradigma das relações entre rendimento e consumo ou, então, que ninguém aprendeu as lições do passado recente. E o que é válido para a Galiza deve ser válido para Portugal, porque os galegos e os portugueses são demasiado parecidos e tanto os comportamentos gananciosos da banca como os apetites irresponsáveis de quem a ela recorre para financiar as suas férias ,são certamente muito parecidos tanto para norte como para sul do rio Minho.
Não está em causa a necessidade de fazer férias, de descansar das rotinas laborais e de desfrutar de um ambiente diferente durante algum tempo para recuperar energias, mas o que admira é a nova forma de vida que se vem acentuando de fazer férias a crédito, seja para uma estadia no Algarve, para uma viagem aos Açores, para um cruzeiro no Mediterrâneo ou, até mesmo, para uma estadia “paradisíaca” nas Sheychelles. O "viaje agora e pague depois" tornou-se uma moda.
As economias europeias estão cada vez mais alavancadas na poderosa indústria do turismo e as férias de uns tornaram-se num negócio para muitos outros, como nos anos mais recentes se vê claramente em Portugal. Nessa lógica, o recurso ao crédito é um alimento essencial para alimentar essa indústria, embora seja perturbador para o princípio individual de que as poupanças que cada um faz com sacrifício para adiar o consumo para melhor oportunidade, se transformam em créditos para quem vai consumir sem que já tenha poupado. Antigamente ainda havia a compensação dos juros, mas agora é a banca que tudo engole na sua ganância e irresponsabilidade social.

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