No século XVI o
nosso país foi uma potência marítima à escala global e os portugueses “por mares
nunca de antes navegados, passaram ainda além da Taprobana”, tendo sido pioneiros
do primeiro esboço da moderna globalização e do primeiro encontro de culturas
entre o ocidente e o oriente. Passados cerca de quatro séculos, já pouco resta
desse tempo de hegemonia económica e tecnológica dos portugueses, ou da influência
cultural que exerceram em tantas geografias distantes.
Essa realidade é
observável em diversas regiões marítimas da orla do oceano Índico e, mais
recentemente, começa a observar-se também em Macau, em Timor e em Goa.
Por isso, quando
na sua edição de hoje o jornal O Heraldo, que desde 1900 se publica
em Goa, inclui com destaque de primeira página um anúncio sobre as festas de
São João que se realizam em Utorda Beach, no distrito de Salcete, não é apenas
uma curiosidade, mas também é um exemplo da sobrevivência da língua portuguesa
num território cujas línguas oficiais são o inglês e o concanim. Festejar o São João e não o Saint John, é um pequeno acontecimento mas que é culturalmente
relevante, pois mostra que algumas práticas culturais portuguesas têm
sobrevivido à natural e progressiva indianização cultural do estado de Goa que,
pela natural evolução da vida local, vem acontecendo desde 1961.
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