A imprensa europeia destacou hoje que o Tesouro alemão, num leilão da sua dívida realizado ontem, apenas colocou 61% de um pacote de 6 mil milhões de euros e sofreu a maior subida de juros desde a criação da moeda única. Disse-se, então, que aquele leilão foi um sintoma de que a crise financeira pode estar a chegar à Alemanha e que esta "provou um pouco do seu próprio veneno".
São apontadas três razões principais para este desinteresse dos investidores pela dívida alemã. Em primeiro lugar, a percepção de que a crise e as dificuldades financeiras estão a chegar à Alemanha por abrandamento económico, por contágio e por exposição às dívidas de vários países; em segundo lugar, o facto do juro de 2% representar um rendimento demasiado baixo para ser considerado atraente para os investidores, quando em alternativa têm aplicações com juros bem mais altos em outros países; em terceiro lugar, um eventual afastamento de investidores de fora da Zona Euro, que antes compravam dívida pública em euros.
Actualmente, a Zona Euro já estará em recessão e, previsivelmente, irá ampliar os seus défices orçamentais e enfraquecer ainda mais a qualidade dos activos bancários. O "aviso" agora feito à Alemanha pode abrir caminho a novas soluções. Por isso, começam a surgir vozes que exigem uma mudança no comportamento do governo alemão na condução da crise das dívidas soberanas europeias. Muitos consideram que a chanceler devia adoptar uma postura diferente, dando o seu acordo para a emissão conjunta de obrigações europeias (eurobonds) e para que o Banco Central Europeu actue como credor de último recurso. É preciso que a Alemanha mude de estratégia e, como afirmou Manuel Marin, o antigo vice-presidente da Comissão Europeia, "necesitamos una Alemania europea y no una Europa alemana".
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