A última edição
do semanário Expresso destacou como manchete que o governo vai fazer uma
lista de património a devolver às ex-colónias, porque tem havido alguns
movimentos de opinião em diversos países, sobretudo africanos, que reivindicam que o seu
património arqueológico ou etnográfico, que foi retirado por estados
estrangeiros, seja devolvido. Na realidade, os grandes museus europeus como o
British Museum (Londres), o Louvre (Paris), o Neues Museum (Berlim) e o Museu
do Vaticano (Roma) têm nos seus acervos as maiores colecções de peças
arqueológicas do mundo, que normalmente resultaram de pilhagens, feitas nos
territórios coloniais ou em países sob domínio militar, embora também haja
muitas aquisições por compra e muitas doações. Ao longo do processo histórico,
desde os vikings aos exércitos de Hitler, passando pelos soldados de Napoleão,
a pilhagem de peças arqueológicas, de escultura e de pintura, foi prática
corrente nos territórios das antigas civilizações do Egipto, da Turquia, do
Iraque e um pouco por todo o mundo.
O assunto é
pertinente e, embora muitas das peças desse património estejam devidamente
preservadas nos museus onde se encontram, é legítimo que alguns países
reivindiquem a sua devolução, como é legítimo que o Estado português elabore
uma lista de património a devolver às ex-colónias. Porém, essa lista pouco será
diferente de um conjunto vazio, isto é, parece não ter havido pilhagens de
património nas ex-colónias portuguesas, como se pode observar nos nossos
museus. Quem conheceu o Portugal de além-mar sabe que, por razões diversas, as
eventuais operações de pilhagem ou transferência de património para fins
museológicos ou outros, se existiu foi absolutamente marginal.
Claro que há
mobiliário, estatuária, cerâmica e muito artesanato com origem nas ex-colónias,
mas todo esse património não chegou a Portugal por pilhagem ou outra forma
ilegal.
Em Portugal não há património relevante que deva ser devolvido às
ex-colónias. Faça-se a lista, para que não fiquem dúvidas.
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