quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Quem muito aparece... muito aborrece

Um homem tão inteligente como ele, tão culto e tão cosmopolita, parece que ainda não percebeu que o ditado popular que diz que “quem não aparece esquece” não se lhe aplica e, que, inversamente, o que se lhe aplica é uma frase parecida que diz que “quem muito aparece, muito aborrece”. Exactamente assim. 
O homem tem uma ânsia de aparecer, de ser visto, de ser ouvido e de encher as televisões, que está a tornar-se insuportável. Convive com o sensacionalismo das televisões que se especializaram nos julgamentos públicos e comporta-se como um comentador televisivo. Vai a toda a parte para ser visto e ser filmado. Fala de tudo e tantas vezes de forma inoportuna, esquecendo-se que não lhe compete governar, nem interferir na governação. Faz-se anunciar para que os microfones dos estagiários e as câmaras televisivas, bem como o fotógrafo oficial de Belém, o possam rodear como ele tanto gosta. Fazendo uso da sua boa resistência física vai a Cabo Verde e fala. Vai a Luanda e comenta. Segue para Estrasburgo e não se cansa de falar. Tacticamente, o governo deixa-o falar. As nossas televisões agradecem-lhe, porque enchem os seus espaços noticiosos com a cara e a voz do venerando chefe do Estado, cujas imagens repetem até à exaustão, a rivalizar com o tempo gasto com os treinadores de futebol.
Quando os jovens estagiários se lhe dirigem com um “Oh presidente” não reage, como se o mais alto magistrado da Nação não devesse ter direito a outro tratamento mais adequado. Mas é disso que ele gosta e, por isso, até se deixa entrevistar por esse jornal de referência que é o Tal&Qual, que na sua edição anterior entrevistara o banqueiro João Rendeiro, enquanto se deixa fotografar com um copo de cerveja na mão, o que ele julga que o aproxima do povo. Porém, os tempos são difíceis e não é necessário exibir tanto porreirismo. 
Talvez seja necessário algum distanciamento...

Sem comentários:

Enviar um comentário