Um homem tão
inteligente como ele, tão culto e tão cosmopolita, parece que ainda não
percebeu que o ditado popular que diz que “quem não aparece esquece” não se lhe
aplica e, que, inversamente, o que se lhe aplica é uma frase parecida que diz
que “quem muito aparece, muito aborrece”. Exactamente assim.
O homem tem uma
ânsia de aparecer, de ser visto, de ser ouvido e de encher as televisões, que
está a tornar-se insuportável. Convive com o sensacionalismo das televisões que
se especializaram nos julgamentos públicos e comporta-se como um comentador televisivo.
Vai a toda a parte para ser visto e ser filmado. Fala de tudo e tantas vezes de
forma inoportuna, esquecendo-se que não lhe compete governar, nem interferir na
governação. Faz-se anunciar para que os microfones dos estagiários e as câmaras
televisivas, bem como o fotógrafo oficial de Belém, o possam rodear como ele
tanto gosta. Fazendo uso da sua boa resistência física vai a Cabo Verde e fala.
Vai a Luanda e comenta. Segue para Estrasburgo e não se cansa de falar. Tacticamente,
o governo deixa-o falar. As nossas televisões agradecem-lhe, porque enchem os
seus espaços noticiosos com a cara e a voz do venerando chefe do Estado, cujas
imagens repetem até à exaustão, a rivalizar com o tempo gasto com os
treinadores de futebol.
Quando os jovens
estagiários se lhe dirigem com um “Oh presidente” não reage, como se o mais
alto magistrado da Nação não devesse ter direito a outro tratamento mais
adequado. Mas é disso que ele gosta e, por isso, até se deixa entrevistar por
esse jornal de referência que é o Tal&Qual, que na sua edição
anterior entrevistara o banqueiro João Rendeiro, enquanto se deixa fotografar
com um copo de cerveja na mão, o que ele julga que o aproxima do povo. Porém, os
tempos são difíceis e não é necessário exibir tanto porreirismo.
Talvez seja
necessário algum distanciamento...
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