Assinalam-se amanhã
50 anos sobre o dia 20 de Janeiro de 1973, data em que Amílcar Cabral foi
assassinado em Conacri. Natural de Bafatá, uma cidade localizada no interior da
então Guiné Portuguesa, Cabral passou a sua infância e adolescência em Cabo
Verde e licenciou-se em Agronomia em Lisboa. Era engenheiro agrónomo dos
Serviços de Agricultura da Guiné Portuguesa quando em 1956 fundou o Partido
Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), cujo desígnio era
a autodeterminação e a independência da Guiné e de Cabo Verde. A partir de 1963
e depois de repetidas propostas de negociações que o governo português sempre
recusou, passou a dirigir a luta armada de libertação nacional contra o poder
colonial e pela independência, com grande apoio internacional. Apesar
da dureza da guerra que se travou nas matas, nas bolanhas e nos rios da Guiné,
em nenhum momento Amílcar Cabral confundiu o sistema colonial com o povo
português, pelo qual afirmava grande afecto, bem como a sua admiração pela língua
portuguesa. O seu prestígio tornou-o num respeitado líder entre todos os
movimentos independentistas que lutaram contra os domínios coloniais no
terceiro quartel do século XX.
As portas da paz
na Guiné estiveram abertas em 1972, quando o governador António de Spínola se
encontrou com o presidente senegalês Léopold Senghor em Cap Skirring e Amílcar Cabral
propôs encontrar-se com Spínola em território português, eventualmente em
Bissau, mas as autoridades de Lisboa recusaram essas negociações. Pouco tempo
depois o líder guineense foi assassinado em Conacri, mas nunca se soube “quem
mandou matar Amílcar Cabral”.
O antigo ministro
Manuel Pereira Crespo disse em 1977 que Cabral “era um homem de muito valor,
sem preconceitos raciais e muito chegado aos portugueses, entre os quais tinha
bons amigos” e, em 2018, Adriano Moreira escreveu que “talvez Cabral tenha sido
o mais luso-tropicalista dos chefes do movimento revolucionário, com um notável
uso da língua portuguesa e uma invocação constante dos valores que são os da
Carta da ONU”. Em 2022 foi Marcelo Rebelo de Sousa que, “em nome de Portugal”,
o condecorou a título póstumo com o Grande Colar da Ordem da Liberdade.
Eu fui um
admirador de Amílcar Cabral, embora como combatente estivesse do outro lado e
foi em Bissau que em 1973 soube da sua morte.
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