A guerra na
Ucrânia chegou ao seu centésimo dia e continuamos a saber pouco sobre o que se
passa no terreno. Há muitas informações contraditórias e cada uma das partes
afirma que vai ganhar a guerra, mas hoje é evidente que são as duas
superpotências que se defrontam numa guerra por procuração, como mostra a
recente declaração de Antony Blinken a pedir a Vladimir Putin que cesse
imediatamente o conflito.
Enquanto isto, as
televisões massacram-nos com directos e com demasiados comentadores que pouco
nos esclarecem. O rigor e a exactidão, bem como muitas outras regras
deontológicas, são grosseiramente ignoradas. Não se percebe onde acaba a notícia e começa a opinião, nem se distingue claramente o que é informação e o que é propaganda.
Chama-se a isto a batalha da informação que, aparentemente, é tão violenta
quanto a guerra das armas e dos tiros.
As opiniões
públicas, tal com as partes directamente envolvidas no conflito, parecem estar
cansadas da guerra e das suas consequências na vida das comunidades.
Durante muitas
semanas, aqui desejamos o fim da guerra, um cessar-fogo e o início de
negociações, mas as últimas semanas mostraram que esse cenário está mais
difícil. Os russos intensificaram o seu assalto ao Donbass, enquanto os
americanos disponibilizaram aos ucranianos mais um pacote de armamento, com
mísseis antitanque Javelin, mísseis antiaéreos Stinger, artilharia pesada
e rockets de precisão, radares, drones, helicópteros Mi-17 e munições,
embora Joe Biden e Antony Blinken tenham avisado os ucranianos de que aquele
material apenas deve ser usado no campo de batalha da Ucrânia. Perante este
anúncio, os russos vieram afirmar que os Estados Unidos estão deliberadamente a
deitar gasolina para a fogueira.
Significa,
portanto, que será entre Washington e Moscovo que a guerra se vai resolver e
que as outras partes, incluindo a União Europeia e a Ucrânia, pouco terão a
dizer. Isso mesmo se pode concluir da primeira página da
edição de ontem do jornal francês Le Parisien, a propósito do 100º dia
de guerra, ao publicar a fotografia de Volodymyr Zelensky e o título - héroïques… jusqu’à quand? – insinuando
que a resistência ucraniana durará enquanto
os Estados Unidos estiverem dispostos a apoiá-la. Porém, nestas coisas
não são as amizades nem as alianças que contam, mas apenas os interesses...
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