O insólito
referendo realizado no passado domingo na Venezuela, em que era perguntado aos
eleitores se o governo ficava “autorizado” a invadir a vizinha Guiana para
ocupar três quartos do seu território, teve o resultado esperado. A onda de propaganda
nacionalista a favor da anexação do Essequibo produziu efeitos, pois mais de
dez milhões de venezuelanos, correspondentes a mais de 95% dos votantes,
votaram “Sim”. Foi uma verdadeira união nacional e uma explosão de nacionalismo
à maneira sul-americana, em que até a oposição se juntou ao governo de Nicolas
Maduro que, naturalmente, logo afirmou que “el pueblo habló bien claro”.
A Guiana ou
República Cooperativa da Guiana é independente desde 1970 e tem uma superfície
de cerca de 214 mil quilómetros quadrados (mais do dobro de Portugal), mas tem
menos de um milhão de habitantes. Trata-se de um país que mantém alguns
problemas fronteiriços que herdou do tempo colonial, tanto com o Suriname, como
com a Venezuela. As reivindicações da Venezuela acentuaram-se desde que,
recentemente, foram descobertas enormes reservas de petróleo na região de Essequibo.
Daí a excitação de Nicolas Maduro e a oportunidade que está a aproveitar para
consolidar o seu poder, ao mobilizar os venezuelanos em torno da ideia de
integrar o Essequibo no seu território. Assim, mal foi conhecido o resultado do
referendo, Nicolas Maduro mandou criar o novo estado da Guiana Essequibo e divulgou o “novo mapa” da Venezuela com a
incorporação daquele território, ao mesmo tempo que anunciou a
concessão de licenças para explorar petróleo naquela região, determinando ainda que o “novo mapa” seja publicado e levado às escolas e às
universidades.
Um conflito
regional parece estar em curso, embora exista a convicção de que Maduro esteja
a pressionar a Guiana para negociar a resolução desta reivindicação. Porém, não é seguro que ele resista à pressão da onda nacionalista que foi criada na Venezuela e que descarte uma iniciativa
armada para, de facto, ocupar o Essequibo.
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