Quando se começam
a observar alguns sinais de que as partes em confronto no território ucraniano
estão a revelar algum cansaço, começando a flexibilizar as suas posições de
princípio e a encaminhar-se para um cessar-fogo – pelo menos é isso que parece
aos observadores não especialistas, como é o nosso caso – a edição de ontem do
jornal inglês The Guardian veio dizer que Putin quer dividir a Ucrânia em
duas partes, tal como aconteceu com a Coreia depois da 2ª Guerra Mundial. Ao
mostrar a bandeira ucraniana invertida, a imagem da capa dessa edição sugere
mesmo a divisão do país, cujo território só é superado territorialmente na
Europa pela Federação Russa.
Não se sabe se é
uma boa solução, mas o facto é que tem sido seguida em vários conflitos
recentes, uns armados (Coreia e Jugoslávia) e outros não armados (Checoslováquia).
No dia 9 de Março
escrevemos aqui, na Rua dos Navegantes,
um texto intitulado “Sim ao cessar-fogo e à paz na Ucrânia”, em que
transcrevemos algumas passagens de um artigo publicado por Henry Kissinger na
edição de 5 de Março de 2014 do The
Washington Post intitulado “To settle the Ukraine crisis, start at the end”,
que está disponível na internet.
Entre outras
coisas importantes e oportunas, Kissinger escreveu que “devemos buscar a reconciliação,
não a dominação de uma facção” e, também, que “com demasiada frequência, a questão ucraniana é apresentada
como um confronto: se a Ucrânia se junta ao Oriente ou ao Ocidente”, acrescentando, “mas para
que a Ucrânia sobreviva e prospere, não deve ser o posto avançado de nenhum dos
lados contra o outro – deve funcionar como uma ponte entre eles”.
O presidente Joe Biden é uma das principais chaves para resolver o
problema ucraniano, pois os líderes europeus deram-lhe demasiadas asas. Porém,
ele bem pode ler o texto de Henry Kissinger, que foi o Prémio Nobel da Paz em
1973, ou se preferir, ir falar pessoalmente com ele, pois parece que, aos 98 anos de idade,
conserva a lucidez suficiente para o aconselhar a “buscar a reconciliação” e a
não atirar gasolina para a fogueira, como fez na Polónia.
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