O separatismo catalão tem raízes históricas seculares e, de vez em quando, acorda e manifesta-se, como acontece agora em clima de recessão económica, quando o governo catalão se viu na necessidade de pedir ajuda ao governo espanhol para pagar aos funcionários públicos, aos fornecedores e o serviço da sua dívida de 42 mil milhões de euros. Na sua ânsia autonomista a Catalunha deslumbrou-se, foi longe demais e criou um super-Estado que acumulou dívidas e elevados custos de gestão mas, apesar de limitado pelas restrições do défice e da dívida, o governo de Madrid afirmou estar pronto a prestar essa ajuda. Porém, o governo catalão afirmou não aceitar quaisquer condições políticas e exigiu um pacto fiscal que nacionalize as receitas fiscais catalãs, o que objectivamente corresponde à rejeição da solidariedade com as outras regiões espanholas. A manifestação de 11 de Setembro, inicialmente de luta contra a crise, transformou-se num ajuste de contas com o governo central e num veemente apelo à independência catalã. Perante os factos ocorridos, o Rei João Carlos emitiu uma mensagem pacificadora dirigida aos partidos políticos e aos separatistas, mas a escalada prossegue. O governo de Mariano Rajoy afirma que reagirá com firmeza às intenções catalãs e recusa negociar qualquer pacto fiscal, enquanto os separatistas catalães invocam que dão a Madrid mais do que recebem. Ontem Artur Mas, o presidente do governo autónomo da Catalunha, deu mais um passo em frente ao decidir a dissolução do Parlamento e a convocação de eleições para o dia 25 de Novembro. O jornal ABC afirma que Mas “avança com eleições para alimentar a sua quimera soberanista” e cita o Rei que já afirmou que “seria cegueira não ver a gravidade desta etapa histórica”. Mais do que em Mariano Rajoy, as atenções vão estar centradas em Artur Mas e no Rei João Carlos. Os espanhóis receiam cada vez mais o fantasma da fragmentação do país e, aqui tão perto, não podemos estar desatentos ou não aprender com a evolução que está a acontecer.
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