sábado, 24 de setembro de 2016

Um navio é sempre belo, mas um veleiro...

 
O diário Levante que se publica na cidade espanhola de Valência destaca na sua edição de hoje a visita ao seu porto do navio-escola Amerigo Vespucci, que está a efectuar a sua 80ª viagem de instrução de cadetes. O emblemático navio, que está a celebrar 85 anos de vida, largou do porto de Livorno e navegou pelo Atlântico e pelo mar do Norte. Agora esta “embaixada italiana” regressa a casa e, neste fim de semana no porto de Valência, abre as suas portas aos valencianos que, segundo diz o jornal, irão “al abordaje del buque escuela de la Marina italiana”.
O Amerigo Vespucci é, provavelmente, um dos mais belos veleiros do mundo e, habitualmente, participa nos grandes desfiles navais organizados pela Sail Training Association. O navio possui três mastros, mede cerca de cem metros de comprimento, desloca 4.700 toneladas e tem uma superfície vélica de 2.400 metros quadrados distribuida por 24 velas.
A cidade de Valência e o seu principal periódico não deixaram de assinalar a presença no seu porto do Amerigo Vespucci, certamente porque a identidade e a cultura valencianas são marítimas e mediterrânicas. Em Lisboa, porém, não seria assim. Apesar de muito ter  mudado nos últimos anos, a cidade e os seus jornalistas continuam de costas voltadas para o Tejo, para o mar e para as coisas do mar. No país que tantas vezes se reclama de país de marinheiros e que possui o navio-escola Sagres, que também é reconhecido como um dos mais belos veleiros do mundo, o interesse da imprensa pelo nosso património marítimo é mínimo.
Fernando Pessoa escreveu em 1915 na Ode Marítima que “um navio será sempre belo, só porque é um navio”, quando ainda não havia a  Sagres nem o  Amerigo Vespucci. É pena que poucos “gatekeepers” e poucos jornalistas portugueses tenham a opinião de Álvaro de Campos.

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