sábado, 28 de dezembro de 2024

Os obscenos lucros da banca portuguesa

A manchete da edição de ontem do Diário de Notícias destaca que a “banca portuguesa vai ter ano mais lucrativo de sempre em 2024”, o que parece ser uma boa notícia, pois todos se recordam dos tempos difíceis por que passou a banca depois da falência do banco norte-americano Lehman Brothers, acontecida em 2008.
Aquela falência deu origem a uma grande crise financeira internacional que chegou a Portugal e afectou a débil banca portuguesa, daí resultando a falência do BPN (2008), do BPP (2010), do BES (2014) e do BANIF (2015), ainda agravadas por gestão fraudulenta ou incompetente. Seguindo a orientação preconizada pelas instituições financeiras internacionais, os sucessivos governos portugueses trataram de inscrever anualmente nos Orçamentos do Estado uma previsão de despesa para salvar ou apoiar a banca. Estima-se que, até agora, os contribuintes portugueses já tenham avançado com mais de 20 mil milhões de euros. No caso da CGD que precisou de se capitalizar em 2017, a ajuda do Estado ascendeu a 2.500 milhões de euros que, segundo foi divulgado, já foram totalmente pagos.
Significa, portanto, que a banca portuguesa está a cumprir o seu papel na relação entre a Economia e a Sociedade ou a servir a população, ao assegurar a gestão dos depósitos bancários e das poupanças, articulando-os com o crédito bancário e o financiamento dos investimentos.
Porém, quando se anunciam 6,6 mil milhões de lucros no terceiro trimestre de 2024, com destaque para os 1,4 mil milhões de euros apresentados pela CGD, o maior banco português e que é público, ficamos perplexos, pois é uma quase obscenidade num país onde ainda há tanta pobreza. Embora uma boa parte deste lucro regresse ao accionista Estado sob a forma de dividendos, a CGD comporta-se como um vulgar banco comercial, pois retira-se das pequenas localidades porque “não são rentáveis” e castiga os seus clientes, não lhes pagando juros justos pelos seus depósitos, enquanto lhes cobra exorbitantes valores por manutenção de contas. Um abuso! Ocorre-me o “Poemarma”, o poema de 1967 que Manuel Alegre incluíu n’O Canto e as Armas e que diz:
- Que [o poema] chegue ao banco e grite: abaixo a pança!

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