Desde que no dia 1
de Julho o ministro Gaspar se demitiu, com uma carta em que confessa não se
encontrar em condições de assegurar a credibilidade e a confiança necessárias
para enfrentar uma nova fase do ajustamento, que entramos numa verdadeira telenovela
política com episódios multi-diários que quase parecem um daqueles “compactos” de
telenovela, em que as televisões juntam diversos episódios para transmissão
conjunta. No dia seguinte foi o ministro Portas, o tal que engolira muitos
sapos e que se deixara humilhar como figura número três do governo, a renunciar
irrevogavelmente ao governo. Uma hora depois, uma discípula do ministro Gaspar
tomava o seu lugar, aparentemente sem o acordo do ministro Portas. O primeiro ministro
Coelho mostrou-se admirado e parecia navegar ao sabor dos acontecimentos como
sempre fizera, sem controlar a nau, nem o rumo, nem os tripulantes. Sem
inspirar a necessária confiança ao povo.
A crise estava
instalada, não só por causa das atitudes irresponsáveis desta gente, mas sobretudo
pelos dois anos de maus resultados governamentais, visíveis no desemprego, na
dívida, no défice e na recessão económica. Então, os agentes políticos começaram
a tomar posições e desdobraram-se em declarações. Os comentadores não tinham
mãos a medir. Em Bruxelas, em Berlim e em Belém havia inquietação, mas o acordo
chegou rápido. Cada vez mais do mesmo. Coelho engoliu sapos e insiste na mesma
receita que tem dois anos de resultados trágicos. Sem qualquer vergonha nem
dignidade, Portas perdeu toda a credibilidade ao dar o dito por não dito. Gosta
de ser ministro.
Eu já cá ando há
muitos anos e já vi muita coisa, mas não imaginava ver isto. A política não
pode ser isto. Estudei mais do que o Portas e muito mais que o Passos. Devo ter visto mais do que eles. Por isso
tenho grandes dúvidas no que aí vem, mas vou esperar para ver. Bom seria que me
enganasse.
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