segunda-feira, 2 de março de 2020

A agonia da língua portuguesa no Oriente

O Jornal de Letras, Artes e Ideias, ou simplesmente Jornal de Letras ou, ainda só JL, destaca na sua última edição que em Macau… ainda se escreve em português. Trata-se de uma edição especial dedicada à passagem do 20º aniversário da transferência da soberania para a República Popular da China, na qual alguns especialistas procuram responder à pergunta: o que ficou da cultura portuguesa?
Se fizermos uma analogia com o que se passa em Goa, rapidamente somos levados a pensar que, dentro de poucos anos, a cultura imaterial portuguesa terá desaparecido e que a cultura material portuguesa, isto é, os edifícios históricos e a arquitectura militar e religiosa, estarão “submersos” pelas gigantescas torres que vão nascendo pelo território. A língua portuguesa nunca foi a língua franca, nem em Goa nem em Macau, mas em tempos de globalização esse cenário agrava-se e a língua portuguesa é, cada vez mais, uma língua sem interesse prático, quase fossilizada e, sobretudo, uma língua que só alguns velhos ainda falam. Os esforços que têm sido feitos por várias entidades, quer em Goa quer em Macau, para manter viva a língua portuguesa não têm conseguido travar a sua lenta agonia. Pode haver muitos alunos a frequentar as escolas de português e até saber cantar A Portuguesa, mas esses alunos pensam e falam em inglês, em mandarim ou numa qualquer outra língua. Camões e Pessoa não lhes dizem nada.
É verdade que, no caso de Macau há três jornais que usam o português – Tribuna de Macau, Hojemacau e Ponto final – mas essa realidade é demasiado enganadora. Também é verdade que continua a haver alguns autores que, em Goa e em Macau, escrevem em português os seus livros de memórias e as suas reflexões sobre um outro tempo que viveram, mas esses autores são portugueses e esses casos são muito raros.
A língua portuguesa ainda será a língua oficial de Macau por mais trinta anos, mas nessa altura não portugalidade em Macau, nem haverá emprego para portugueses, nem a nova geração de macaenses falará português. É doloroso que isto aconteça, mas é a lei da vida ou o fluir da História.

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