Há um
imenso drama que está a ser vivido na cidade síria de Alepo, a que o diário ABC dedica
hoje a sua primeira página. A cidade agoniza e as forças rebeldes que a
dominaram durante quatro anos, estão agora cercadas pelas forças governamentais,
depois de algumas semanas de duros combates. Alguns jornais internacionais dizem
mesmo que “a batalha por Alepo parece estar a aproximar-se do fim” e que na
próxima semana “as forças do regime de Bashar Al-Assad poderão declarar
vitória”. Porém, é preciso muito cuidado na apreciação das notícias que nos
chegam da Síria, pois elas parece estarem ao serviço das várias propagandas ao tratarem
uns beligerantes como bons e outros como maus, quando na realidade todos eles são
maus. A guerra é a guerra. Sempre foi assim.
Se acontecer
a queda de Alepo, será a pior derrota das forças rebeldes que ficarão reduzidas
a alguns redutos disseminados pelo território sírio e, portanto, demasiado
vulneráveis e mais à mercê do regime sírio, até porque Bashar al-Assad já
declarou que a tomada de Alepo não significará o fim da guerra. Contudo, será uma humilhação e uma grande derrota para a estratégia americana e dos seus
aliados franceses e ingleses que, na sua obstinação pelo derrube de Bashar
al-Assad, financiaram, armaram e conduziram a oposição síria para a derrota que
se aproxima. Quem poderá afirmar que o envolvimento desta "coligação de interesses" não resultou da pressão das respectivas indústrias de armamento?
Entretanto,
haverá cerca de 150 mil civis encurralados com as forças rebeldes que precisam
de ajuda humanitária com urgência. Essa situação é um bom pretexto para que
cessem os combates. Depois de tanto terem conversado nos últimos anos, John
Kerry, o secretário de Estado americano, e Sergei Lavrov, o chefe da diplomacia
russa, estarão agora em contacto permanente para encontrar uma solução para os
problemas da ajuda humanitária, da evacuação de doentes e, de uma forma mais
geral, para acabar com a guerra. Porém, agora Kerry é um homem derrotado,
enquanto Lavrov se pode sentar à mesa como um vencedor. Os erros pagam-se.
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