Quando a
generalidade da imprensa internacional trata da guerra na Ucrânia e de todos os
problemas humanitários e militares que ela suscita, há um jornal internacional que
escolhe um tema de capa bem diferente. Trata-se do jornal suíço Le
Temps, que desde 1998 se publica na cidade de Genève e que é um diário francófono,
generalista e de cobertura nacional. Na sua edição de hoje optou por contar
a história de um veleiro de três mastros chamado Endurance e de Ernest Shackleton, em vez de repetir as notícias,
verdadeiras ou não, que nos chegam da Ucrânia a um ritmo tão repetitivo quanto
a publicidade comercial, parecendo querer afastar-se de toda a manipulação
noticiosa que está a contaminar a verdade. Para a capa do jornal foi escolhida uma das famosas fotografias do Endurance, captadas em 1916 por Frank Hurley, o fotógrafo da expedição.
Ernest Shackleton
foi um explorador britânico que, depois de ter participado em três expedições à
Antártida, organizou a Expedição Transantártica Imperial que pretendia
atravessar a Antártida, passando pelo Polo Sul. A sua equipa embarcou no Endurance e largou das águas britânicas
em Agosto de 1914, mas no dia 19 de Janeiro de 1915 ficou preso num banco de
gelo no mar de Weddell. Depois de muitos meses e de muitas peripécias, o navio
cedeu à pressão do gelo e o seu casco de madeira foi esmagado, afundando-se nas
águas austrais geladas no dia 21 de Novembro de 1915. Dispondo apenas de uma
pequena embarcação salva-vidas, Ernest Shackleton decidiu procurar auxílio na
estação baleeira da Geórgia do Sul, situada a quase dois mil quilómetros de distância.
Foi uma aventura bem-sucedida porque, apesar de todas as dificuldades,
Shackleton conseguiu que todos os seus 28 companheiros fossem salvos.
Cento e sete anos
depois, o Endurance foi localizado e
fotografado a dez mil pés de profundidade no mar de Weddell por uma equipa
científica patrocinada pelo Falklands Maritime Heritage Trust, que saiu da
Cidade do Cabo a bordo de um navio quebra-gelos. As fotografias obtidas mostram que o navio está muito bem
preservado e que até o seu nome podia ser visto estampado na popa, o que deu origem
à afirmação de que “a preservação está para além da imaginação”.
Uma bela história em tempo de guerra.
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