Uma semana depois
da rendição generalizada das autoridades e das forças governamentais afegãs,
bem como da entrada dos taliban em Cabul, a situação é grave e não é possível
prever-se o que se vai seguir. Ninguém, com sabedoria e bom senso arrisca
prognósticos porque são tantos e tão diferentes os cenários possíveis, que só
os analistas encartados e pagos se arriscam a fazer análises e previsões para
justificar as suas avenças. Ainda nenhum desses sábios encartados apareceu na
televisão a dizer simplesmente “não sei o que se vai seguir”. Alguns deles vão
mesmo ao ridículo de discutir se a culpa disto tudo é do Obama, do Trump ou do
Biden, mas raramente ousam criticar os líderes europeus que se envolveram num
problema que não era deles. No entanto, todos os analistas parecem estar de
acordo quando consideram que o que se está a passar é uma humilhante derrota
dos Estados Unidos e da NATO, um facto que apenas a chanceler Angela Merkel
parece reconhecer.
A mais recente
edição da revista brasileira Veja dedica a sua capa ao que se
está a passar no Afeganistão, tendo escolhido como título “uma derrota da
civilização” e, como ilustração, mostra a Estátua da Liberdade envolvida numa túnica negra e num turbante afegão, enquanto alerta para a explosiva
combinação entre política e religião, salientando que o fundamentalismo
continua a ser uma ameaça à Humanidade.
Os efeitos da
humilhação ocidental no Afeganistão vão repercutir-se durante muitos anos e vão afectar o
actual quadro de relações internacionais, demonstrando, talvez pela primeira
vez desde há três séculos, que a América e a Europa já não dominam o mundo, apesar dos seus aviões,
dos seus mísseis e da sua tecnologia.
O Afeganistão
mostrou que o mundo já não é o que era.
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