A viagem do Papa
Francisco ao Iraque produziu, entre outras consequências, o regresso da Síria e
dos seus dramas à agenda de alguma imprensa internacional e o jornal L’Orient-Le
Jour, que se publica na cidade libanesa de Beirute, foi um dos jornais
que trouxe para a sua primeira página o drama sírio.
O presidente
Bashar el-Assad sobreviveu a dez anos de guerra, mas governa um país em ruínas
e partilha o seu território com quatro exércitos estrangeiros e inúmeras
milícias armadas. Bashar el-Assad tem 55 anos de idade e está infectado por covid-19, tal como a sua mulher Asma,
mas governa a Síria desde 2000 e, em breve, deverá ser reeleito para um quarto
mandato presidencial de sete anos. Porém, o país que vencera o analfabetismo,
que era auto-suficiente no plano alimentar e energético, que exportava gás,
petróleo e fosfatos, já não existe.
A guerra síria é a maior catástrofe
humanitária que o mundo conheceu depois da 2ª Guerra Mundial. Metade dos seus
24 milhões de habitantes está deslocada, houve 390 mil mortos e 200 mil
desaparecidos, mais de um milhão de feridos e quase seis milhões de refugiados
nos países vizinhos. No terreno encontram-se quatro exércitos estrangeiros: os
turcos com cerca de 15 mil soldados, que controlam uma faixa com 120
quilómetros de extensão e 30 quilómetros de profundidade na fronteira norte da
Síria, bem como uma província curda no nordeste do país; os russos que ocupam a
base aérea de Hmeimim e outros aerodromos, têm uma base naval em Tartous e
algumas posições militares na fronteira leste do país; os americanos mantêm 800
soldados no nordeste a proteger os poços de petróleo; os Guardas da revolução
iraniana, o Hezbollah libanês, as milícias xiitas e afegãs encontram-se nas
proximidades das cidades mais próximas da fronteira com o Iraque; as milícias
curdas, apoiadas pelos Estados Unidos e pela França, controlam um terço do
território sírio à volta das cidades de Hassaké no nordeste e Raqqa no norte e
a província oriental de Deir Ezzor. No sul há outras milícias e algumas células
do Daesh em actividade. São demasiados actores e demasiadas tensões acumuladas.
Ninguém sabe como se pode sair desta tragédia.
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