sábado, 8 de fevereiro de 2020

A esquerda anda à deriva no Brasil

A revista Veja destaca na sua última edição a situação em que se encontra a esquerda política no Brasil e ilustra a notícia com um navio chamado PT a afundar-se e com o timoneiro Lula da Silva ainda agarrado ao leme. Esta é uma das possíveis imagens da crise brasileira pois mostra que não há alternativa ao poder agora instalado em Brasília.
É preciso recordar que a actual crise política que afecta o Brasil se começou a desenhar em Agosto de 2016, quando a presidente Dilma Rousseff foi afastada do seu cargo, num processo em que o seu maior crime foram as “pedaladas fiscais”, uma expressão que em Portugal corresponde a uma habilidade chamada contabilidade criativa. Nunca ninguém se convenceu que o impeachment que a destituíu não foi um golpe urdido pela direita brasileira que utilizou deputados e senadores, muitos deles com graves acusações criminais. Depois, em Abril de 2018, aconteceu a condenação do ex-presidente Lula da Silva com 17 anos de prisão e as hostes da esquerda brasileira entraram em estado de choque, por verem o seu ídolo encarcerado. Seguiram-se as eleições presidenciais e, sem Lula da Silva na corrida, em Outubro de 2018, foi eleito Jair Bolsonaro que bateu Fernando Haddad com 55% dos votos. 
Com Bolsonaro as coisas parece não correrem bem no Brasil, mas o ponto fulcral da política brasileira não é saber se o país progride ou não, mas saber se Lula da Silva é mesmo corrupto ou se foi vítima de mais um golpe desferido pelos procuradores e juízes envolvidos no gigantesco escândalo de corrupção em torno da empresa pública Petrobras. O sistema democrático assenta na existência de um mínimo de duas alternativas e na possibilidade de alternância no poder mas, desde 2016, a esquerda brasileira está à deriva o que torna o sistema político-partidário brasileiro menos democrático, mais débil, menos fiável e cada vez mais ocupado por dirigentes pouco escrutinados e sem ética.

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