Um político holandês
de 57 anos de idade e de nome Mark Rutte é, desde o dia 1 de Outubro de 2024, o
14º Secretário-Geral da NATO, sucedendo ao norueguês Jens Stoltenberg que
ocupou aquele cargo durante dez anos. Parece não haver mudanças significativas
na orientação ideológica da NATO e se Stoltenberg vivia obcecado com a possibilidade de
uma invasão russa e dizia “mata”, temos agora Rutte a dizer “esfola”, ao
afirmar que “o perigo está a avançar na nossa direção
a toda velocidade” e, ao mesmo tempo, a expressar a convicção de que “não
estamos preparados para o que está para vir em quatro ou cinco anos”.
O
holandês nem esperou pela posse de Donald Trump e já avisou que os cidadãos dos
32 países-membros da NATO devem “aceitar fazer sacrifícios”, como cortes nas
suas pensões, na saúde e nos sistemas de segurança social, para aumentar as despesas com a defesa e garantir a
segurança a longo prazo na Europa, isto é, aumentar o valor de referência das suas despesas de defesa dos actuais 2%
para 3% do PIB, como referia o Finantial
Times na sua edição de ontem.
Mark Rutte náo teve tempo de consultar ninguém. Falou por si, pelo
seu partido, pelos seus princípios e até se pode pensar que também falou por Portugal. Mas não é
assim. Portugal é um membro fundador da NATO, mas é um estado soberano com
órgãos democráticos que decidem a forma como devem ser repartidas as suas
despesas entre “canhões ou manteiga”. As suas despesas na área da defesa são actualmente
da ordem dos 4.186 milhões de euros, mas o primeiro-ministro – com base não se
sabe em quê – já veio dizer que podem atingir os 6 mil milhões de euros em 2029. Com que base e com que direito?
A escolha entre “canhões ou
manteiga” obedece a regras constitucionais e nenhum poder político tem
legitimidade para fazer essas escolhas à margem da vontade dos portugueses, ou não é um qualquer Rutte que nos diz como devemos aplicar os nossos escassos recursos.
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