Há uma crise mais
ou menos generalizada que afecta a Espanha e que, entre outras coisas, se
traduz num exército de 6 milhões de desempregados mas, aqui ao lado, embora de
contornos e dimensão diferente, também passamos por uma crise semelhante que se
evidencia na debilidade da economia, no aumento da pobreza, na progressiva
perda de direitos sociais e na generalizada falta de confiança nas instituições.
Todos sabemos como os portugueses são parecidos com os espanhóis e como já
passou o tempo em que se dizia que “de Espanha nem bom vento nem bom casamento”.
Hoje há uma evidente “globalização à escala ibérica”.
Porém, entre as
coisas que ainda distinguem claramente a Espanha de Portugal, encontramos a
imprensa e a forma como é usada a liberdade de imprensa. Em Espanha existe
jornalismo de investigação e, como se vê hoje no El Correo, que se publica
em Bilbau, são postos na praça pública os nomes e as fotografias dos homens que
usaram abusivamente e gastaram milhões com os cartões de crédito da Caja Madrid
e do Bankia, assim como uma pormenorizada descriminação dos gastos feitos em
restaurantes, discotecas, viagens, hotéis, jóias, vestuário, cosmética, farmácia
e tantas coisas mais. O jornal destaca esse assunto e chama-lhe a “radiografia
do saque”. Porém, em Portugal nada disto é feito porque o nosso jornalismo se
deixou enredar pelos interesses instalados e a maioria dos nossos jornalistas
se tornaram permeáveis ao compadrio com essa gente e gosta de viajar com eles. Vemos
isso demasiadas vezes. Assim, há uma opaca cortina jornalística que esconde os
nomes e os factos que levaram Portugal por um caminho tão obscuro de incerteza
e de desânimo, como aquele em que estamos. Não foi apenas o silêncio perante a
mentira política e perante os responsáveis pelos casos BPN e BPP. Agora estão
calados perante o caso BES e tantos outros escândalos menores, em que a política,
o jornalismo e os negócios convivem. A única coisa positiva disto é que assim vamos
sabendo quem é que tem vivido acima das suas posibilidades.
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