Os clássicos da
Geopolítica preocuparam-se em teorizar sobre o poder marítimo (Mahan e Castex)
e sobre o poder terrestre (Mackinder e Haushofer), cada qual com os seus
argumentos mas, explícita ou implicitamente, todos consideravam Portugal como
um país marítimo e a Espanha como um país continental. Com a criação da NATO em
1949, uma aliança de que Portugal é membro fundador, essa circunstância
acentuou-se, isto é, Portugal confirmou-se como um país marítimo e atlântico,
enquanto a Espanha mantinha o estatuto de país continental que olhava para os
Pirinéus e estava de costas para o Atlântico.
A Espanha só
ingressou na NATO em 1982 e, desde então, as suas opções estratégicas
alteraram-se e hoje olha para o mar com renovado interesse, tendo-se tornado
uma média potência marítima. A opinião pública e os mass media espanhóis assumem a vocação marítima da Espanha e
acarinham a sua Marinha de Guerra, como se observa na edição de ontem de La
Voz de Cádiz, a propósito da largada, que classificou como “emotiva”, do
navio-escola Juan Sebastián de Elcano
para o seu 96º cruzeiro de instrução, que durante sete meses fará dez escalas
em seis países – Brasil, República Dominicana, México, Estados Unidos, Panamá e
Reino Unido. Classificado como “el mejor embajador de Cádiz”, o navio embarca
82 guardas-marinhas com o propósito de contribuir para a sua formação integral
e adestramento no mar, pelo que durante a viagem aprenderão a navegar à vela,
terão aulas curriculares e trabalhos práticos, além de participarem num
projecto científico do “Observatorio del cambio climático”, desenvolvido em
parceria pelo Instituto Hidrográfico de la Marina e pela Universidade de Cadiz.
Provavelmente,
quando o nosso belo navio-escola Sagres
larga do Alfeite também tem programas semelhantes mas, ao contrário da Espanha,
os jornais nunca falam desse assunto, talvez porque os jornalistas desconheçam o poema “Navegar é
preciso” de Fernando Pessoa.
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