segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

“Navegar é preciso; viver não é preciso”

Os clássicos da Geopolítica preocuparam-se em teorizar sobre o poder marítimo (Mahan e Castex) e sobre o poder terrestre (Mackinder e Haushofer), cada qual com os seus argumentos mas, explícita ou implicitamente, todos consideravam Portugal como um país marítimo e a Espanha como um país continental. Com a criação da NATO em 1949, uma aliança de que Portugal é membro fundador, essa circunstância acentuou-se, isto é, Portugal confirmou-se como um país marítimo e atlântico, enquanto a Espanha mantinha o estatuto de país continental que olhava para os Pirinéus e estava de costas para o Atlântico.
A Espanha só ingressou na NATO em 1982 e, desde então, as suas opções estratégicas alteraram-se e hoje olha para o mar com renovado interesse, tendo-se tornado uma média potência marítima. A opinião pública e os mass media espanhóis assumem a vocação marítima da Espanha e acarinham a sua Marinha de Guerra, como se observa na edição de ontem de La Voz de Cádiz, a propósito da largada, que classificou como “emotiva”, do navio-escola Juan Sebastián de Elcano para o seu 96º cruzeiro de instrução, que durante sete meses fará dez escalas em seis países – Brasil, República Dominicana, México, Estados Unidos, Panamá e Reino Unido. Classificado como “el mejor embajador de Cádiz”, o navio embarca 82 guardas-marinhas com o propósito de contribuir para a sua formação integral e adestramento no mar, pelo que durante a viagem aprenderão a navegar à vela, terão aulas curriculares e trabalhos práticos, além de participarem num projecto científico do “Observatorio del cambio climático”, desenvolvido em parceria pelo Instituto Hidrográfico de la Marina e pela Universidade de Cadiz.
Provavelmente, quando o nosso belo navio-escola Sagres larga do Alfeite também tem programas semelhantes mas, ao contrário da Espanha, os jornais nunca falam desse assunto, talvez porque os jornalistas desconheçam o poema “Navegar é preciso” de Fernando Pessoa.

Sem comentários:

Enviar um comentário