sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Paris é Paris, mas Lisboa é Lisboa

O movimento dos coletes amarelos está a lançar crescentes preocupações, não só na França, mas um pouco também por toda a Europa, porque já ultrapassou a questão de partida que foi o aumento dos combustíveis e se centra agora na contestação ao modelo de sociedade em que vivem os franceses e os outros europeus. O recuo do Presidente Macron não foi suficiente para travar o protesto, talvez porque tivesse chegado tarde demais e quando o radicalismo já tinha tomado conta do movimento.
Hoje os jornais franceses revelam receios pelo que possa acontecer amanhã em Paris e nas outras cidades francesas, mas as imagens televisivas que nos chegam de outras cidades europeias, por exemplo na Espanha e na Grécia, mostram que a contestação "à francesa" já lá chegou. É um momento de grande preocupação para os europeus, porque acontece quando a instabilidade está a ameaçar todo o continente com o Brexit, com a tensão na Ucrânia e a saída de Angela Merkel, a derrota de Macron, as tensões migratórias e as derivas populistas de alguns países. A Europa parece estar a perder o seu rumo.
Aqui nesta periferia ocidental da Europa também algo de instável está a acontecer, embora pareça estar associado às eleições que se aproximam. Com a recuperação do poder de compra dos trabalhadores e a melhoria global da situação económica do país, era de esperar a paz social. Porém, os partidos políticos e os sindicatos têm apoiado inúmeras greves que, embora possam ser justas e defendam os trabalhadores, não são mais do que instrumentos de luta política. Muitas das greves em curso ocorrem em sectores privilegiados da sociedade, nomeadamente no sector público, onde os direitos e as garantias dos trabalhadores são mais protegidos do que em qualquer outro sector. Os portugueses, e em especial os contribuintes, não compreendem este surto grevista e há fundados receios de que as greves e algum radicalismo a elas associado, possam ter graves consequências para o país. Algumas já estão à vista. Ninguém quer ver aqui o que está a acontecer em Paris. Que cada qual assuma as suas responsabilidades.

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