segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Heranças coloniais e derrubes de estátuas

A edição de ontem do jornal madrileno ABC destaca que “el odio a España se enseña en las escuelas de América” e ilustra a sua primeira página com uma fotografia em que um jovem arrasta uma cabeça de uma estátua de Colombo por uma rua da cidade colombiana de Barranquilla.
A rejeição das heranças coloniais, com todas as suas grandezas e desgraças, parece estar a tornar-se uma moda, em que se acentua a exploração dos colonizados pelos colonizadores, assim como a escravatura, o trabalho forçado, a apropriação de terras e recursos, bem como muitas outras facetas do domínio colonial. Aqueles que a História tem registado como pioneiros do descobrimento do mundo, do encontro de culturas e da globalização, caso dos Colombos, dos Gamas, dos Cartier, dos Janszoon ou dos Cook, tendem a ser contestados nas regiões que procuraram dominar, civilizar, cristianizar ou simplesmente trazer para o seu convívio cultural de acordo com os padrões da sua época. Nesse tempo não havia “direitos humanos” e esses padrões eram por vezes marcados por grande violência e crueldade, mas não eram uma prática exclusiva dos colonizadores para com os colonizados dos novos continentes, pois manifestavam-se com iguais características nas sociedades medievais europeias e algumas chegaram mesmo até aos nossos dias, como se viu no recente conflito da ex-Jugoslávia.
A actual contestação africana ou latino-americana que derruba estátuas e contesta a herança colonial, tem uma narrativa que é tão distorcida como aquela que agora rejeita. A reescrita da História faz sentido e pode ser necessária, mas não pode ser vista com os olhos do nosso tempo de modas, de redes sociais e de ajustes de contas. Diz o ABC que o ódio a Espanha se ensina nas escolas da América, mas se assim é, não faltará muito tempo para que essa moda se espalhe e que, em vez de caminharmos para uma sociedade mundial mais harmoniosa e mais justa, se multipliquem os factores de conflitualidade.

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