A guerra na Ucrânia já decorre há
quase dois anos, com muitas mortes, muita destruição e muito sofrimento, mas
nos últimos tempos tem sido esquecida, sobretudo depois dos acontecimentos de
Gaza de 7 de Outubro, que alteraram a agenda das preocupações mundiais. Muitos
dos dirigentes europeus e americanos que andaram em repetida procissão até Kyev,
com destaque para Ursula von der Leyen e Jens Stoltenberg, devem ter-se cansado,
ou devem ter feito contas ao dinheiro que estavam a gastar. A tão badalada contraofensiva de Kyev foi mais uma operação de propaganda ocidental do que uma operação
militar no terreno. O volume e o ritmo dos apoios militares, financeiros e
humanitários de que a Ucrânia necessita para lutar, parece ter abrandado,
enquanto Volodymyr Zelensky tem batido a todas as portas possíveis à procura de
auxílio. Algumas operações militares ucranianas têm sido bem-sucedidas, mas o
facto é que um quinto do território ucraniano continua ocupado pelos russos.
Há dois dias, o jornal DNA de Strasbourg escrevia que “en
Ukraine, un nouvel hiver de guerre arrive”, lembrando a dureza dos meses que se
aproximam, devido ao frio, à falta de alojamentos e de electricidade em várias
regiões, mas também devido à continuada acção dos russos e à indiferença daqueles
que podem levar ao cessar-fogo e â paz. Há muito tempo que não se falava da Ucrânia, mas a fadiga e a dúvida quanto ao futuro
têm aumentado. Na sua última edição, a revista TIME avisa que “o apoio
global à guerra está a diminuir” e reproduz o lamento do próprio Zelensky que
quase assume a impossibilidade de continuar a guerra, afirmando: “Ninguém como
eu acredita na nossa vitória. Ninguém”.
Prevalece o discurso dos maus e dos bons, da confrontação, da ajuda militar, dos mísseis e dos F-16, dos drones e dos tanques, mas ninguém
fala de paz. Neste quadro, é oportuno perguntar a razão por que as partes não
se entendem, não só os ucranianos e os russos, mas todos aqueles que têm
enganado os ucranianos com promessas de utopias e não acabam com a guerra para
sossego do povo ucraniano, mas também de todos nós. Sentem-se à mesa e conversem, pois o que não falta
são árbitros.
Eles chegaram a sentar-se à mesa em duas ou três ocasiões, mas quando a paz estava prestes a ser acordada, sempre havia uma visita de Boris Johnson a Kiev e os combates recomeçavam logo depois. Ao mesmo tempo, até a Merkel confessou que os acordos de Minsk foram apenas para enganar a Rússia e ganhar tempo para rearmar a Ucrânia. O mais grave é que durante estes acordos, os russos retiraram das regiões ao norte que ameaçavam a capital Kiev num gesto de boa vontade que foi vendido no ocidente como uma derrota russa. No início eles só queriam reconhecimento pela integração da Crimeia (onde 99,1% da população são russos) e maior autonomia para o Donbass (uma das regiões russófonas da Ucrânia onde 14,000 civis foram mortos desde 2014 até ao inicio da guerra, instigados por vários senadores americanos), agora os países ocidentais vão ter extrema dificuldade sequer em ser recebidos pelos russos, porque a confiança se partiu.
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