A União Europeia
vive desde há vários anos numa situação de grande fragilidade política, devido
à ausência de um verdadeiro projecto comum que mantenha os princípios
de solidariedade que presidiram à sua constituição, a que se juntam a falta de
lideranças de reconhecido prestígio à escala internacional e o surgimento de
nacionalismos regionais que, em cada dia que passa, se tornam incompatíveis com
o ideal europeu. As políticas comuns tendem a tornar-se uma ficção que cede
aos egoísmos nacionais e daí resulta uma progressiva perda de competitividade
científica e industrial relativamente aos gigantes americano e chinês. Bruxelas
é cada vez mais uma “arca de Noé”, ou uma nau sem rumo, onde cada um procura satisfazer os seus interesses.
A recente crise
pandémica veio mostrar como a União Europeia e o projecto europeu podem entrar
em desagregação. Não é necessário ter grandes conhecimentos de Economia, nem
consultar estatísticas, nem ouvir o Portas ou o Marques Mendes, para perceber a
dimensão da crise que nos entrou em casa. Basta olhar para os aeroportos
vazios, para os navios de cruzeiro nos seus terminais, para os restaurantes vazios ou para o
número de desempregados a aumentar.
Nesse sentido,
ontem estivemos perante um acontecimento de grande importância para o futuro da
Europa, que foi o anúncio do lançamento de um fundo de recuperação da ordem dos
500 mil milhões de euros, anunciado pelo presidente francês, Emmanuel Macron, e
pela chanceler alemã, Angela Merkel, que se destina à ajuda aos países da União
Europeia, no combate à recessão económica e à crise social que se aproxima.
Trata-se de um plano que assenta em financiamentos não-reembolsáveis, ou
subvenções a fundo perdido, provenientes do orçamento comunitário. É um novo
plano Marshall, muito semelhante àquele que os Estados Unidos criaram em 1947
para auxiliar a reconstrução da Europa após a 2ª Guerra Mundial. A
concretizar-se este plano, que já pode ser designado por Plano MM (Merkel-Macron), será um sinal de unidade política e um forte
apoio para que a Europa saia desta crise mais forte, mais unida e mais
solidária. É esse tom de unidade que o Finantial Times utiliza hoje ao
anunciar esta iniciativa franco-alemã.
Sim, o plano MM é um passo importante, mas é um vou ali e já volto, pois planos como este dependem sempre de enormes discussões, de tempos infindos para se resolverem e de uma data de burocratas a fingirem que têm poderes de decisão.
ResponderEliminarÉ fácil falar e muito mais quando se é já velho, irresponsável e algo ignorante, classe em que me considero incluído, mas com direito à opinião e de dizer o que lhe vem à cabeça.
A Europa encontra-se encurralada nos braços de uma tenaz constituída pelas grandes potências económicas e políticas americanas e asiáticas, esta em franca ascensão e aquela, integrante do dito mundo ocidental, a acumular asneira atrás de asneira graças ao seu clarividente representante máximo.
Com o seu potencial social, tecnológico, económico e político, a Europa não se pode deixar ficar como simples espectador a olhar para os lados.
E não é com a actual UE a funcionar como funciona que lá vai.
Mas então como? Não sei, apenas me vêm à cabeça algumas possíveis medidas, ainda que eventualmente defendidas por um só europeu, que se está a ver quem seja, para que a Europa engrosse a voz no planeta:
1 – Que os países integrantes da UE ambicionem ter peso significativo ao nível planetário e, portanto, assumir uma estrutura condizente com real poder de decisão em nome de todos;
2 – Vassourada imediata naquela legião de burocratas da actual UE, que fazem discursos muito bonitos, mas não saem, a grande maioria deles, da órbitra da própria sombra, consumindo em proveito próprio grande parte dos recursos à sua disposição;
3 – Que os países integrantes da UE acordem em desenhar para os órgãos dirigentes desta uma estrutura, democraticamente eleita, menos populosa, menos burocrática, mais ágil do que a actual, mas com capacidade para não se deixar encurralar pelos seus vizinhos planetários;
4 – Que essa nova UE consiga descobrir uma forma de conciliar o poder de que necessita com as particularidades nacionais de cada país integrante, que tão caras são aos seus constituintes.
Haverá alguém com poder e responsabilidade significativa que esteja, ou pelos menos tenha vontade, de se abalançar a tão ciclópica tarefa?