A edição de hoje
do jornal Le Télégramme que se publica em Lorient, na Bretanha, apresenta
como tema de fundo o caso dos dois BPC da classe Mistral (Navio de Projecção e Comando) ou LHD (Landing Helicopter Dock, segundo a
designação NATO), que foram encomendados pela Rússia aos estaleiros de
Saint-Nazaire.
Estes navios têm
um deslocamento de 21.300 toneladas, 199 metros de comprimento, 32 metros de
largura, uma guarnição de 160 pessoas e podem transportar uma força de
intervenção de 450 militares e 16 helicópteros. Podem acolher 650 refugiados e dispõem de um hospital. A Marinha francesa dispõe ou
vai dispor de 4 unidades desta classe e, em face da sua capacidade operacional,
em Junho de 2011 a Rússia fez uma encomenda de duas unidades, através de um
contrato no valor de 1,2 mil milhões de euros. Embora os navios sejam entregues
com todos os equipamentos de navegação, incluindo os sistemas de navegação de
combate, todo o armamento será russo, inclusive rampas de lançamento de mísseis
de cruzeiro e sistemas de defesa anti-míssil, anti-aérea e anti-submarina. A
primeira unidade – o Vladivostok - está
pronto para ser entregue e a segunda unidade - o Sébastopol - deverá estar pronto em 2015.
Porém, aconteceu
a crise na Ucrânia e sucederam-se as sanções económicas à Rússia determinadas
pela NATO e pela União Europeia. A entrega do Vladivostok foi suspensa e a construção do Sébastopol desacelerou, pelo que paira uma ameaça sobre os
trabalhadores do estaleiro e sobre os seus inúmeros fornecedores e
subcontratados. Trata-se de uma situação a lembrar-nos Viana do Castelo, os ENVC e o caso Atlântida, mas de muito maior dimensão.
As autoridades
russas, que pagaram uma parte substancial do contrato por antecipação, estão a
pressionar a França e a fazer-lhe um
quase ultimato para que cumpra os seus compromissos contratuais e faça a entrega dos navios, ameaçando-a com um pedido
de indemnização de elevado montante, mas também existe a pressão dos falcões para que a França cumpra as sanções impostas à Rússia. Assim, diz o jornal, uma quebra do
compromisso francês será uma catástrofe financeira, mas também uma catástrofe
para a imagem da indústria francesa do armamento. É um enorme quebra-cabeças (mais
um) para François Holland.
Sem comentários:
Enviar um comentário