sábado, 10 de janeiro de 2015

O 11 de Setembro Francês que é Europeu

Na sequência do bárbaro ataque ao jornal satírico Charlie Hebdo e de tudo o que durante 52 horas se lhe seguiu, a edição de hoje do jornal belga LE SOIR inclui um suplemento especial no qual marca presença a opinião de 22 especialistas, de todas as tendências, sobre o que aconteceu em Paris e sobre a ameaça que afecta o mundo em que vivemos.
Numa breve apreciação desses textos parece haver grande unanimidade quanto à complexidade da situação que ameaça a Europa, embora as análises produzidas avaliem as respectivas causas de forma diversa. Para uns, o problema está sobretudo nas fraquezas das sociedades multiculturais e nas dificuldades de integração cultural das minorias; para outros, a situação resulta principalmente da incapacidade europeia para adoptar adequadas políticas de coesão social; para outros, ainda, o problema resulta maioritariamente da crise económica que repele um certo tipo de marginalizados, que são atraídos por “cantos de sereia”.
É sabido que nos últimos anos muitos estrangeiros partiram para a Síria e para o Iraque onde receberam treino militar a fim de integrarem as fileiras do ISIS e de outros grupos radicais que actuam na região.  As estimativas são muito imprecisas quanto ao número de jihadistas estrangeiros, mas são indicados cerca de 15 mil, provenientes de mais de 80 países. Serão mais de dois mil ocidentais, sobretudo franceses e ingleses, mas também belgas, alemães, holandeses, espanhóis, americanos, australianos e outros. Uma parte deles regressa, definitiva ou temporariamente aos seus países. As experiências por que passaram nas fileiras da jihad como testemunhas ou como participantes de atrocidades e de combates violentos, são muito marcantes. Uns não as quererão repetir, outros hão-de vangloriam-se de as ter feito, outros estarão disponíveis para as repetir e, outros, não saberão fazer outra coisa. Provavelmente os irmãos Kouachi pertenciam a este grupo.
Se o 11 de Setembro de 2001 mudou a América, provavelmente este “11 de Setembro Francês”, como ontem lhe chamou o Le Monde, também vai mudar a Europa.

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