Na sequência do
bárbaro ataque ao jornal satírico Charlie
Hebdo e de tudo o que durante 52 horas se lhe seguiu, a edição
de hoje do jornal belga LE SOIR inclui um suplemento
especial no qual marca presença a opinião de 22 especialistas, de todas as
tendências, sobre o que aconteceu em Paris e sobre a ameaça que afecta o mundo
em que vivemos.
Numa breve
apreciação desses textos parece haver grande unanimidade quanto à complexidade
da situação que ameaça a Europa, embora as análises produzidas avaliem as
respectivas causas de forma diversa. Para uns, o problema está sobretudo nas
fraquezas das sociedades multiculturais e nas dificuldades de integração
cultural das minorias; para outros, a situação resulta principalmente da
incapacidade europeia para adoptar adequadas políticas de coesão social; para
outros, ainda, o problema resulta maioritariamente da crise económica que
repele um certo tipo de marginalizados, que são atraídos por “cantos de
sereia”.
É sabido que nos
últimos anos muitos estrangeiros partiram para a Síria e para o Iraque onde
receberam treino militar a fim de integrarem as fileiras do ISIS e de outros
grupos radicais que actuam na região. As estimativas são muito imprecisas
quanto ao número de jihadistas estrangeiros, mas são indicados cerca de 15 mil,
provenientes de mais de 80 países. Serão mais de dois mil ocidentais, sobretudo
franceses e ingleses, mas também belgas, alemães, holandeses, espanhóis,
americanos, australianos e outros. Uma parte deles regressa, definitiva ou
temporariamente aos seus países. As experiências por que passaram nas fileiras
da jihad como testemunhas ou como
participantes de atrocidades e de combates violentos, são muito marcantes. Uns
não as quererão repetir, outros hão-de vangloriam-se de as ter feito, outros
estarão disponíveis para as repetir e, outros, não saberão fazer outra coisa.
Provavelmente os irmãos Kouachi pertenciam a este grupo.
Se o 11 de
Setembro de 2001 mudou a América, provavelmente este “11 de Setembro Francês”,
como ontem lhe chamou o Le Monde,
também vai mudar a Europa.
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