sexta-feira, 30 de setembro de 2022

A paz na Ucrânia é cada vez mais urgente

As últimas notícias sobre o conflito da Ucrânia que, com maior ou menor verdade nos vão chegando, parecem mostrar que o regime de Vladimir Putin está a passar por grandes dificuldades, não só no campo de batalha, mas também na ordem política interna e internacional.
A reocupação ucraniana de algumas áreas territoriais, sobretudo na região de Kharkiv, e o reforço da ajuda militar americana, levaram Putin a fazer um discurso ameaçador e a decretar a mobilização de reservistas, ao mesmo tempo que, tanto os chineses como os indianos, não mostraram a solidariedade para com a Rússia que Putin desejava. Depois surgiram o anúncio dos referendos, mais a acção de sabotagem sobre as condutas do Nord Stream e o anúncio do reconhecimento da independência das regiões de Kherson e Zaporijia que, tal como Lugansk e Donetsk, irão ser integradas no território russo apesar da oposição da comunidade internacional, como salientou o secretário-geral das Nações Unidas. Como refere a última edição do Der Spiegel, que exibe na capa uma ilustração de Putin com um olho negro – que corresponde ao mapa da Ucrânia – ele está “perigosamente fraco”.
A ser assim, tal como acontece com os animais acossados, Putin torna-se perigoso e as suas ameaças devem ser levadas a sério, pelo que é necessário que se faça qualquer coisa para acabar com esta guerra e evitar que a arma nuclear seja utilizada. É preciso que a diplomacia regresse a este palco rapidamente, o que de resto parece ser a opinião já dominante dos cidadãos europeus como revelou recentemente o Eurobarómetro.
Ao contrário das guerras de antigamente em que havia vencedores e vencidos, estamos agora num conflito que corre o risco de não ter vencedores, mas apenas vencidos.

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

O fornecimento de gás russo à Europa

A notícia mais importante do dia de ontem foi, seguramente, a fuga de gás que se verificou nos gasodutos Nord Stream 1 e Nord Stream 2, que transportam o gás natural desde a Rússia até à Alemanha, através do mar Báltico, que é depois distribuído por vários países da Europa. Estes gasodutos correm paralelamente numa extensão de 1224 quilómetros de comprimento e têm sido objecto de muitas discussões, pois simbolizam a relação de dependência energética do centro e do ocidente da Europa em relação à Rússia. Essa discussão acentuou-se com o conflito ucraniano em que o gás russo se tornou uma arma de guerra, pois os russos precisam do dinheiro da venda do seu gás natural para alimentar a sua economia de guerra e os ocidentais precisam do gás russo para alimentar as suas economias e para aquecer as suas casas.
Hoje vários jornais publicam a fotografia da mancha provocada pela fuga do gás no mar Báltico, em águas territoriais suecas e dinamarquesas, enquanto todos se interrogam sobre o que realmente se passou, pois foram detectadas explosões na área onde estão assinaladas as fugas de gás.
O jornal holandês deVolksrant destaca com uma fotografia a seis colunas, a enorme mancha resultante da fuga de gás no mar Báltico e diz que “as explosões no Nord Stream são quase certamente sabotagem”. No mesmo sentido estão algumas reacções já conhecidas das autoridades alemãs, dinamarquesas e polacas, pois é difícil imaginar uma avaria técnica simultânea nos dois gasodutos. Significa que toda a gente parece apostar na tese da sabotagem mas, a ser verdadeira, torna-se difícil saber quem poderia e teria capacidade para levar a efeito esta acção. Ou como diria o detective Hercule Poirot, que a ficção televisiva celebrizou, encontre-se quem estaria interessado nesta sabotagem e está encontrado o autor.
O certo é que o fornecimento de gás russo à Europa está em risco e as tensões agravam-se.

terça-feira, 27 de setembro de 2022

Giorgia Meloni agita a unidade europeia

O partido Fratelli d’Italia e a sua presidente Giorgia Meloni venceram as eleições legislativas italianas com 26,19% dos votos, enquanto os resultados dos partidos seus aliados, ou seja, a Liga do Norte de Matteo Salvini (8,93%) e a Força Italia de Silvio Berlusconi (8,28%), vão permitir que a coligação de direita e extrema-direita tenha a maioria parlamentar e Giorgia Meloni possa formar governo. A notícia do jornal La Stampa diz que será a primeira mulher a governar a Itália, mas a generalidade da imprensa diz que a Itália regressa à extrema-direita, com Meloni a governar na linha de Mussolini. Foi a escolha de 50 milhões de italianos que, desta forma, criticaram a política interna italiana e mostraram o seu desagrado com a política europeia seguida por Bruxelas.
A União Europeia reagiu com alguma surpresa a este resultado, pois a coligação italiana vencedora defende muitas posições que são contrárias à filosofia política comunitária, o que pode significar o início de um retrocesso na construção europeia, em que por vezes têm sido dados “passos maiores que a perna”, quer no seu alargamento com critérios discutíveis, quer nas suas posições relativamente aos grandes blocos, sobretudo porque muitas decisões são tomadas à margem da opinião dos cidadãos.
Se Robert Schuman, o francês que foi o verdadeiro pai da união europeia, regressasse à sua Europa, certamente ficaria estupefacto com a situação. Acabaram as discussões sobre a “Europa das Pátrias” ou a “Europa dos Estados”, mas também os debates sobre as soluções intermédias, entre um federalismo integrador europeu que ignora a existência de nações e culturas diferenciadas e os nacionalismos exacerbados e egoísmos nacionalistas. Bruxelas e a sua burocracia tornaram-se arrogantes e menos democráticos e, escondida num sorriso simpático, a presidente Ursula von der Leyen é hoje o símbolo de algum desnorte. 
A entrada em cena de Giorgia Meloni vai perturbar espíritos e agitar as águas mas, também, vai mostrar que a Europa não pensa toda da mesma maneira, ao contrário do que há dias dizia o eminente ministro Cravinho, quando afirmou que a força da Europa está na sua unidade.

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Um português que não poupa em viagens

A edição de hoje do Diário de Notícias destaca, com uma fotografia a quatro colunas, a presença de Marcelo Rebelo de Sousa na Califórnia, num dos habituais registos populistas de que tanto gosta. O título é simplesmente “Marcelo na Califórnia”, mas podia ter sido “Um presidente que não poupa em viagens”.
De facto, nos últimos trinta dias o nosso Presidente da República: (1) esteve em Angola para tomar parte no funeral de José Eduardo dos Santos, (2) foi ao Brasil para participar nas festas do Bicentenário da Independência do Brasil, (3) regressou a Angola para assistir à tomada de posse de João Lourenço, (4) seguiu depois numa uma viagem ao Reino Unido para se integrar nas cerimónias fúnebres da rainha Isabel II e, por fim, (5) viajou até aos Estados Unidos para cumprir a sua promessa de visitar as comunidades portuguesas da Califórnia. Feitas as contas, são cerca de 62.000 quilómetros que correspondem a uma volta e meia à Terra, voando sobre o Equador, além de terem sido mais de 15 dias de ausência física do território nacional, embora ele esteja sempre presente através dos tempos de antena televisivos que lhe são assegurados e que muito vão cansando os portugueses.
Com ele viaja sempre uma comitiva que nunca é divulgada, mas que através das inúmeras reportagens televisivas, verificamos que é bem numerosa e, obviamente, muito cara. Num tempo de dificuldades económicas crescentes, o país havia de gostar de saber quanto custam todas estas viagens e, também, que interesse objectivo têm para o nosso bem-estar. Na comitiva também segue o comentador Marcelo, que é uma personagem irritante que acompanha sempre o Venerando Chefe do Estado e que se faz rodear de microfones para os quais vai falando de tudo, pois ultimamente fala sobre tudo, quase sempre a dizer banalidades e lapalissades.
Portanto, os portugueses da Califórnia estão em festa e, nestes dias, farão fila para se fotografarem como o nosso Presidente da República, um homem que incarna, simultaneamente, as figuras do senhor Feliz e do senhor Contente.

sábado, 24 de setembro de 2022

A guerra da Ucrânia e as opiniões públicas

O conflito da Ucrânia parece estar para durar e não se vislumbra uma solução militar, enquanto o esforço de guerra das partes envolvidas é enorme e muito desgastante, porque os recursos não são ilimitados ou, como dizia Paul Samuelson, quando se gasta mais em canhões, gasta-se menos em manteiga. Do Atlântico aos Urais, os governos das partes envolvidas começam a ser questionados pelos cidadãos, que veem a sua ração de manteiga mais reduzida e, por isso, o sentimento das opiniões públicas é cada vez determinante para a condução da guerra.
Daí que comecem a surgir sondagens a medir o sentimento dos cidadãos europeus em relação ao conflito ucraniano.
Na sua edição de hoje, o semanário Expresso publica uma recente sondagem do ICS/ISCTE, que destaca que os “Portugueses mais atingidos pela crise já querem cedências à Rússia”. Assim, a sondagem revela que 53% dos portugueses “preferem resistir à Rússia” e que 35% “preferem ceder à Rússia”, mas também que “entre os maiores de 65 anos, 37% dizem que ‘seria melhor’ terminar a guerra, mesmo fazendo cedências a Moscovo”. Além disso, outra curiosidade da sondagem é que “a defesa de um final rápido do conflito com cedências do Ocidente é exactamente igual entre eleitores de esquerda e de direita (34%)”, isto é, a vontade de encontrar a paz não é determinada pela ideologia, mas por outros factores.
No mais recente Eurobarómetro, divulgado a 6 de Setembro em Bruxelas, os cidadãos europeus confirmam o seu forte apoio à Ucrânia, incluindo o apoio humanitário (92%), o apoio ao acolhimento de ucranianos que fogem da guerra (90%), o apoio às sanções económicas impostas aos russos (78%) e o apoio ao financiamento e fornecimento de equipamento militar à Ucrânia (68%), o que significa que 32% dos cidadãos europeus não apoiam nem o financiamento, nem o fornecimento de equipamento militar à Ucrânia. Assim, os números do Eurobarómetro parecem estar em linha com os resultados apurados pela sondagem publicada pelo Expresso, mostrando que ao contrário do que é insistentemente insinuado por políticos e comentadores televisivos, há muita gente na Europa e em Portugal que quer a paz na Ucrânia.

Aproximam-se as eleições brasileiras

Falta apenas uma semana para que o Brasil vá votar para escolher um novo Presidente da República ou, dito por outras palavras, falta apenas uma semana para que os brasileiros expulsem o actual ocupante do Palácio do Planalto, penalizando-o pela sua ignorância, impreparação e estupidez.
São 156.454.011 os brasileiros que poderão votar, não apenas para a escolha do Presidente da República, mas também para os cargos de governador, senador e deputado federal e, ainda, para deputado estadual. Porém, o que verdadeiramente anima a campanha eleitoral e até preocupa muita gente, é a disputa presidencial entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva.
O jornal Folha de S. Paulo anunciou ontem a última previsão eleitoral que dá 47% para Lula e 33% para Bolsonaro, mas estes números pouco variaram durante os últimos quatro meses, o que pode significar um menor rigor técnico da sondagem e, portanto, um maior grau de incerteza.
Jair Bolsonaro tem conduzido a sua campanha eleitoral sem quaisquer escrúpulos, tendo utilizado as suas funções para fazer propaganda, por vezes grosseira e injuriosa em relação aos seus adversários. Assim aconteceu nas comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil, na sua presença no funeral de Isabel II em Londres e na sua participação na Assembleia Geral das Nações Unidas. Os eleitores brasileiros perceberam as manobras eleitoralistas deste irresponsável e, no dia 2 de Outubro, talvez decidam afastá-lo imediatamente do seu futuro, evitando uma segunda volta das eleições.
No Brasil todos esperam melhores dias, com mais alegria, menos fome e um novo presidente, enquanto fora do Brasil todos esperam o despedimento de Bolsonaro e um novo ciclo de prosperidade, que faça retornar o país ao prestígio internacional de que gozou no tempo de Luiz Inácio Lula da Silva.

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Lições de fair-play que chegam de longe

Começou hoje em Londres e decorre até ao próximo domingo, a quinta edição da Laver Cup 2022, um torneio de ténis masculino em que se defrontam as equipas da Europa e do Resto do Mundo e em que a equipa europeia procura conquistar o quinto título. Entre outros grandes ases do ténis mundial que formam as duas equipas, destacam-se o espanhol Rafael Nadal, o inglês Sir Andy Murray, o suíço Roger Federer e o sérvio Novak Djokovic. Estes quatro tenistas são designados habitualmente por The Big Four e, em conjunto, conquistaram 66 títulos do Grande Slam, três medalhas olímpicas de ouro e, segundo as minhas contas, ganharam 344 torneios ATP. Durante cerca de vinte anos defrontaram-se entre si, alimentaram rivalidades, derrotaram a concorrência e, sobretudo, ganharam muitos, mas mesmo muitos milhões. Agora em Londres, os quatro ases estiveram na mesma equipa e esqueceram rivalidades. O jornal The Times publicou hoje a fotografia dos The Big Four e essa fotografia é um exemplo extraordinário de desportivismo de homens que, tantas vezes, discutiram nos courts os milhões que estavam em jogo.
Esta fotografia remete-nos para a vergonha do radicalismo, da intolerância e do comportamento anti-social, que aconteceu no dia 10 de Setembro em Famalicão e, uma semana, depois no Estoril. Em Famalicão, durante o jogo Famalicão-SL Benfica, um grupo de energúmenos e ignorantes obrigou uma criança que estava na bancada a despir a camisola benfiquista que usava. No Estoril, durante o jogo Estoril-FC Porto, um outro grupo de energúmenos insultou e expulsou um adepto portista e a filha que tinha ao colo, apenas porque vestiam camisolas portistas. Ninguém apoiou esta canalha, mas é necessário que as entidades responsáveis tomem medidas punitivas para acabar com estes radicalismos, com esta agressividade e com esta intolerância que está a destruir o nosso desporto. 

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

A fanfarronice de Putin não serve a paz

Ao fim de sete meses de guerra, o imperial Vladimir Putin falou ao seu povo e tratou de radicalizar o seu discurso, ao anunciar a mobilização de mais tropas e ao ameaçar a Ucrânia e aqueles que a apoiam, com mais armas, incluindo o seu arsenal nuclear. Como é evidente, esta reacção é a resposta ao crescente poderio militar ucraniano e a alguns desaires que as forças russas têm sofrido, como foi o insucesso do assalto a Kiev, o afundamento do cruzador Moskva e o seu recente recuo na chamada batalha de Kharkiv. Ninguém esperaria que Putin fizesse um discurso apaziguador, mas também não se esperava que optasse por esta escalada verbal, que meio mundo já condenou. O jornal polaco Gazeta wyborcza destacou o discurso e salientou que “Putin voltou a ameaçar”. Com esta opção de Putin, a guerra vai continuar, a destruição e a morte vão prosseguir, enquanto a paz por que muitos anseiam vai ter de esperar. 
As guerras consomem recursos e alteram as conjunturas económicas, daí resultando dificuldades no quotidiano das populações e efervescência nas opiniões públicas. O exercício do poder e as opções políticas são sempre muito dependentes das opiniões públicas e, como se tem visto, são cada vez mais os que estão fartos da guerra, tanto na Rússia como no Ocidente. Chega a parecer que serão as opiniões públicas que irão exigir aos seus governos, que parem a guerra e tratem de conversar.
Praticamente à mesma hora do discurso de Putin, nos termos de um acordo de cooperação espacial assinado em Julho, dois astronautas russos e um americano, partiram do cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, tendo já chegado à estação espacial onde vão permanecer seis meses. À mesma hora era anunciada a maior troca de prisioneiros desde o início da guerra, envolvendo cerca de 300 combatentes, incluindo dez estrangeiros e os comandantes do batalhão Azov, que se tinham rendido em Mariupol e que estariam à espera de julgamento.
O discurso de Putin não encaixa com a cooperação espacial, nem com a troca de prisioneiros. Talvez ele tivesse precisado dessa fanfarrocine como condição prévia para aceitar falar de paz.

terça-feira, 20 de setembro de 2022

O novo rei e o futuro do Reino Unido

O funeral da rainha Isabel II foi um acontecimento que interessou o mundo e que, durante vários dias, encheu a programação das televisões e as primeiras páginas dos jornais de todo o mundo, transformando-se num notável caso mediático, tão notável como foi o seu longo reinado. Milhões de pessoas acompanharam as cerimónias fúnebres, tanto nas Ilhas Britânicas, como na Commonwealth e no mundo. As imagens da urna de Isabel II, da Família Real, dos agentes do protocolo, dos acompanhantes e do público encheram os noticiários, sobretudo devido ao impacto emocional do colorido das fardas militares e do compasso acertado do cortejo fúnebre. A justa homenagem à rainha Isabel II, que conseguiu manter unida a Grã-Bretanha apesar dos desvarios de alguns dos seus primeiros-ministros, foi tratada em termos mediáticos ou noticiosos como se se tratasse de um espectáculo. Assim foram as reportagens dos inúmeros jornalistas portugueses, a cujo registo alguém chamou “jornalismo de entretenimento” que, muitas vezes, foram marcadas pelo ridículo e pelo despropósito.
No que respeita aos jornais, verifica-se que a generalidade publicou a fotografia da urna a caminho de Westminster ou no interior da abadia, com diversos enquadramentos e, muitas vezes, com a frase “the final farewell”. Porém, o jornal Kurier, que se publica em Viena, escolheu uma fotografia diferente do último adeus à rainha, em que se destacam o novo rei Carlos III e o seu filho William, seu sucessor e príncipe de Gales.
Eles vão estar no centro da vida britânica e esperam-nos tempos muito difíceis. O Reino Unido passa por uma época de crise, que o ambiente de comoção nacional dos últimos dias deve ter amortecido, mas as reivindicações da Escócia e da Irlanda do Norte irão recomeçar. Qualquer dia…

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

O tenor Plácido Domingo encantou Sevilha

Plácido Domingo tem 81 anos de idade e foi a principal atracção da gala lírica que inaugurou a primeira edição das Noches de la Maestranza, o novo festival que se realizou na famosa Plaza de Toros de La Real Maestranza de Caballeria de Sevilla.
O tenor é uma figura mundial, quer como cantor quer como director de orquestra, tendo sido galardoado com muitos títulos honoríficos e prémios muito diversos, mas também é reconhecido pelos seus compromissos humanitários e de solidariedade social. Tem sido um divulgador da ópera, sobretudo através das suas parcerias com José Carreras e Luciano Pavarotti, os três tenores que “conquistaram o mundo”. Em 2021 foi nomeado Embaixador da Cultura Espanhola no Mundo.
Em Sevilha, Plácido Domingo foi um dos nove cantores que intervieram na gala lírica e, com a Real Orquestra Sinfónica de Sevilha, apresentou-se em dois blocos diferenciados: o primeiro dedicado à ópera e que centrou em Giuseppe Verdi, enquanto no segundo escolheu um repertório espanhol com zarzuelas, passodobles e canções populares. O público deslumbrou-se com a actuação e aplaudiu-o longamente e de pé, reconhecendo o talento artístico daquele octogenário.
Porém, o que é curioso foi o facto da edição sevilhana do jornal ABC, mas também o Diário de Sevilla, terem dedicado as suas primeiras páginas a “una noche estelar para Sevilla”. De facto, com um noticiário tão diversificado e tão vasto, com novidades internas e internacionais, é bem curioso como os dois maiores jornais sevilhanos centraram as suas edições na arte e na cultura. Excepcional. Único.
O Futebol e a Política desta vez perderam.

domingo, 18 de setembro de 2022

A guerra na Ucrânia e o outono de Putin

A guerra na Ucrânia tem estado em banho-maria aparentemente devido ao cansaço das partes ou à falta de soldados e de munições, mas nos últimos dias parece que algo está a mudar, com os ucranianos e os seus apoiantes a mostrarem sinais de grande satisfação por algumas vitórias. Inversamente, os russos de Vladimir Putin têm acumulado más notícias e algumas derrotas tanto militares como políticas. O jornal sueco Expressen destacou ontem em primeira página que “Putins kollaps”, o que significa “o colapso de Putin”.
De facto, Putin sofreu vários revezes bem duros nos últimos dias. O primeiro foi o recuo na região de Kharkiv que, em termos militares, foi uma pesada derrota. O segundo revés foi a descoberta de uma vala comum com mais de quatro centenas de corpos na cidade de Izyum, que repete o que aconteceu em Bucha e que, supostamente, serão crimes de guerra. O terceiro revés aconteceu em Samarkand, pois embora Putin se tivesse encontrado com Xi Jinping e com Narendra Modi, os líderes dos dois mais populosos países do mundo e que possuem armamento nuclear, nenhum deles expressou claro apoio a Putin, tendo mesmo sugerido que era tempo de acabar com a guerra. Finalmente, um quarto revés foi interno, pois algumas dezenas de autarcas de várias cidades russas assinaram uma petição a pedir a demissão de Putin, porque a sua política prejudica o futuro da Rússia e dos seus cidadãos.
Esta situação configura um desequilíbrio que pode conduzir a maiores dificuldades para uma desejável negociação da paz. O facto é que o equinócio do outono se aproxima, mas Vladimir Putin parece que antecipou o seu próprio outono.

sábado, 17 de setembro de 2022

O novo caminho de progresso para Angola

As eleições angolanas realizaram-se no dia 24 de Agosto, os resultados foram divulgados no dia 29 e, no dia 15 de Setembro, o novo presidente da República Popular de Angola e os novos deputados tomaram posse. Tudo decorreu com uma normalidade que foi reconhecida internacionalmente e que veio mostrar que Angola conquistou as bases democráticas que lhe vão permitir corrigir alguns erros do percurso que tomou depois da independência e da guerra civil. Os resultados foram esclarecedores, pois o MPLA obteve a maioria dos votos com 51,7% e elegeu 124 deputados, enquanto a UNITA obteve 43,95% dos votos e elegeu 90 deputados, tendo sido eleitos mais seis deputados de três pequenos partidos. Como muitas vezes acontece nos processos eleitorais, os resultados foram contestados devido a eventuais irregularidades, mas foram confirmados pela Comissão Nacional Eleitoral. Porém, a UNITA declarou que não abdicava do seu direito de recorrer aos tribunais internacionais, estimulada pelas suas expressivas vitórias em Luanda e nas províncias de Cabinda e do Zaire.
O presidente João Lourenço que era o cabeça de lista do MPLA, foi reeleito, enquanto a oposição passou a ter um líder e um rosto respeitável que é o engenheiro Adalberto Costa Júnior.
Como noticiava o Jornal de Angola, o presidente eleito prometeu prestar particular atenção ao sector social e essa intenção deve ser saudada. O país passou por 41 anos de guerras - a guerra colonial e a guerra civil - e, nos anos mais recentes, tem procurado encontrar um rumo de paz, de progresso e de prosperidade. Os seus abundantes recursos naturais, que têm alimentado uma oligarquia que se passeia pela Europa e, sobretudo, por Lisboa e Londres, exibindo poder e riqueza cuja origem gostariam que não fosse conhecida, devem ser postos imediatamente no combate à desigualdade e ao subdesenvolvimento do povo angolano. Essa terá que ser a missão principal do presidente João Lourenço
Que seja bem-sucedido nessa missão!

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

God save Roger Federer, the Master!

Roger Federer anunciou ontem, aos 41 anos de idade, o fim da sua carreira como tenista profissional e vários jornais mundiais destacaram essa notícia, num dia em que outras coisas importantes aconteciam no mundo, desde Londres, onde decorrem as cerimónias fúnebres de Isabel II, até Samarkand, no Uzbequistão, onde Xi Jinping e Vladimir Putin se encontraram.
O jornal L’Équipe dedicou a sua primeira página ao tenista suiço e não hesitou em escolher um título de primeira página que, nas actuais circunstâncias que se vivem no Reino Unido, parece pouco oportuno pois minimiza ou ridiculariza os sentimentos de 70 milhões de britânicos e de muitos milhões de canadianos, australianos, neozelandeses e muitos mais. De resto, os jornais desportivos são useiros e vezeiros no uso desproporcionado de frases ou adjectivos: um guarda-redes que defende um penalti é um génio, um avançado que marca um golo é um herói e uma equipa que ganha pela primeira vez concretiza um feito histórico.
À margem deste comentário há que salientar a singularidade de Roger Federer que, apesar de igualado ou superado nos courts por Rafael Nadal e Novak Djokovic, foi sempre o eleito do público pelo seu ténis, as suas atitudes e a sua elegância desportiva. Venceu o seu primeiro torneio ATP em 2001 e o último em 2019, o que lhe dá um record de longevidade e fez com que durante a sua carreira, tivesse defrontado Djokovic cinquenta vezes e Nadal quarenta. Durante a sua carreira venceu 103 torneios ATP, incluindo vinte Grand Slam e, entre 2004 e 2018, esteve 310 semanas como número um do ranking mundial. 
Foi um Mestre. God save the Master!

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

A guerra na Ucrânia e a posição de Ursula

Ursula von der Leyen, a presidente da Comissão Europeia esteve ontem em Estrasburgo para falar ao Parlamento Europeu sobre o estado da União Europeia. Esperava-se que falasse mais sobre a crise energética, pois disse que “milhões de pessoas estão a precisar de ajuda e que pagar as contas ao fim do mês está a tornar-se uma fonte de ansiedade para famílias e empresas”. Anunciou, também, cortes no consumo de energia e avisou que o inverno vai ser difícil, mas que teriam que ser os governos nacionais a tomar as decisões, coisa que poucos tomarão por serem impopulares. A edição de hoje do jornal alemão die tageszeitung dedicou-lhe a sua primeira página e escreveu “Sind so leere Hände” que, em português, significa “são mãos tão vazias”. O que ela queria era falar da Ucrânia. E falou. Demoradamente. 
O seu discurso foi considerado muito corajoso ao dar todo o seu apoio à Ucrânia, enquanto escolheu para esta sessão um fato azul e amarelo com as cores da bandeira ucraniana, o que foi considerado uma poderosa declaração de solidariedade para com o povo ucraniano, mas que também foi uma afirmação de exibicionismo populista, como se os dirigentes e os deputados europeus fossem membros de uma qualquer claque de futebol das mais fanáticas. Se a vestimenta tem algum significado, então melhor seria que ela vestisse de branco, porque a Europa deve ser mediadora e não uma parte activa naquele conflito.
Disse ela que o responsável pela situação é Vladimir Putin e tem razão. Foi ele que não resistiu às provocações e avançou com a tal “operação militar especial”. Hoje já se vê que não haverá vencedores e que todos somos perdedores. Porém, são vários os dirigentes europeus que querem o fim da guerra e que têm mantido algum diálogo com o agressor, procurando saídas para a situação. Entre eles, com alguma prudência, têm estado Scholz, Macron e Erdogan, todos eles líderes de países membros da NATO e que querem um cessar-fogo e a paz, enquanto noutra postura têm estado os americanos, os ingleses e… Ursula von der Leyen, que querem a derrota total de Putin.  
Ursula von der Leyen continua a anunciar apoios à Ucrânia e garante que a União Europeia vai ajudar “tanto tempo quanto for preciso”. Ela lá sabe.

terça-feira, 13 de setembro de 2022

Carlos Alcaraz foi um gigante em NY

A Espanha desportiva está a viver uma onda de euforia e acaba de criar um novo ídolo, chamado Carlos Alcaraz que, no passado domingo e apenas com 19 anos de idade, venceu o US Open e ascendeu a número um do ranking mundial do ténis. Foi a primeira grande vitória da sua promissora carreira e uma boa parte da imprensa espanhola publica a sua fotografia com destaque de primeira página e com rasgados elogios.
Depois de um longo período em que o ténis mundial foi dominado por Roger Federer, Rafael Nadal e Novak Djokovic, a ascensão do jovem Carlos Alcaraz ao topo da hierarquia mundial do ténis significa o início de uma mudança geracional nesta prática desportiva das élites. Como escreveu Luís de Camões há quase quinhentos anos, “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades / muda-se o ser, muda-se a confiança / todo o mundo é composto de mudança”.
A final do passado domingo foi a primeira da história em que para além da vitória no torneio, também se decidia quem seria o novo líder do ranking mundial e o acaso parece ter escolhido o local mais apropriado para este evento, isto é, o Arthur Ashe Stadium localizado em Flushing Meadows, no bairro de Queens da cidade de Nova Iorque, que é o maior estádio do mundo e que pode receber 23.771 espectadores.
De entre os inúmeros jornais espanhóis desportivos ou generalistas que homenagearam Carlos Alcaraz escolhemos o as e o seu título: un gigante en NY. Assim foi de facto.

domingo, 11 de setembro de 2022

Como acabar com a guerra na Ucrânia?

Como actualmente há menos notícias sobre a guerra na Ucrânia, até parecia que as partes estavam cansadas e que os paióis começavam a estar vazios, o que poderia ser uma boa oportunidade para o trabalho das diplomacias. Porém, nas últimas horas, os ucranianos anunciaram algumas vitórias militares que terão obrigado os russos a recuar, o que pode significar o início de uma grande ofensiva antes que chegue o inverno, com o frio, a neve, as estradas enlameadas e os campos inundados.
Contudo, ontem o jornal croata Večernji list, que se publica em Zagreb, tratou da guerra na Ucrânia e publicou com destaque de primeira página, as fotografias de Joe Biden e de Vladimir Putin e, em segundo plano, as imagens de Angela Merkel e de Olaf Scholz.
Com a ajuda do Google Tradutor procurei saber a tradução dos textos e, em ante-título,  li que a “União Europeia enfrenta o colapso” e, depois em título principal, li a frase “como a Alemanha trouxe a Europa para uma ratoeira neste século, da qual não há saída”.
“Colapso da Europa”, “ratoeira” e “não há saída” são frases ou palavras muito duras e arrasam a esperança de quem deseja que “a tragédia em curso” – assim se refere o jornal àquela guerra – termine rapidamente. A notícia critica severamente a “política estrategicamente cega e de mente estreita de Angela Merkel e toda a elite empresarial alemã”, que estão a prejudicar a Alemanha e toda a Europa.
Não sei se alguma vez algum jornal publicou as fotografias de Joe Biden e de Vladimir Putin como fez o Večernji list, a sugerir que a resolução do conflito depende apenas destes dois homens. Afinal tudo isto é uma coisa bem diferente da narrativa habitual e até há quem diga que, afinal, a culpa é de… Angela Merkel! 
No entanto, a pergunta fica: como acabar com a guerra na Ucrânia?

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

R.I.P. Elizabeth II

Elizabeth II cujo nome de baptismo era Elizabeth Alexandra Mary, faleceu ontem com 96 anos de idade. Desde 1952 que era a rainha do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e de mais catorze Estados independentes e, ainda, chefe da Commonwealth, uma organização que agrega 53 países.
Não me recordo de qualquer acontecimento que suscitasse tanto interesse e tanta unanimidade na imprensa mundial como a notícia do falecimento de Elizabeth II, que hoje ocupa toda a primeira página de inúmeros jornais. O prestígio da Rainha era, seguramente, bem maior do que o do seu próprio país e dos seus políticos, dos quais conviveu com quinze primeiros-ministros! Os britânicos, mesmo aqueles que não gostam da Monarquia nem dos seus vícios e privilégios, gostavam da Rainha que durante setenta anos simbolizou a unidade britânica e a estabilidade nacional, apesar das transformações que aconteceram no mundo depois da 2ª Guerra Mundial e das tropelias em que alguns dos seus filhos e netos se envolveram. Elizabeth II era “uma querida soberana e amada mãe”, como hoje escreveu The Journal, que se publica em Londres.
Um outro jornal escreveu que “a Rainha andou de braço dado com a História” e, de facto assim foi, pois assistiu à 2ª Guerra Mundial e ao declínio do Império Britânico, entre muitos outros grandes acontecimentos de relevo mundial.
O Reino Unido hoje está de luto e há quem já anteveja que se aproximam tempos muito difíceis para a monarquia britânica, para os quais faltará a palavra respeitada, tranquilizadora e conciliadora de Elizabeth II. 
Rest in peace Elizabeth II!

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Parabéns, Brasil!

No dia 7 de Setembro de 1822, o regente que o rei D. João VI, seu pai, deixara à frente do Brasil quando em 1821 regressou Portugal, terá declarado aos seus acompanhantes nas margens do rio Ipiranga, que a separação do Brasil em relação a Portugal era irreversível e terá proferido a frase “independência ou morte”, que ficou conhecida como “o grito do Ipiranga”. 
É muito duvidosa a veracidade desta expressão que o imaginário nacional, a tradição e vontade popular consagraram, mas o dia 7 de Setembro foi declarado feriado nacional no Brasil e é celebrado como o Dia da Independência.
Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon, assim se chamava o regente que declarou a independência, era mais conhecido por D. Pedro de Alcântara ou D. Pedro de Bragança, foi o primeiro imperador do Brasil como Pedro I, entre 1822 a 1831 e, também, rei de Portugal e dos Algarves como Pedro IV, entre Março e Maio de 1826.A história de vida de D. Pedro é fascinante e interessa a portugueses e brasileiros, quando se celebram 200 anos sobre o dia em que ele assumiu a independência do Brasil. Ele foi o porta-voz de uma ambição e dos ventos de liberdade que sopravam nas Américas. A independência brasileira foi uma reacção da nobreza colonial rica e branca, tanto brasileira como portuguesa, ao domínio das metrópoles. Foi semelhante aos movimentos que levaram à revolta das colónias inglesas e espanholas, que deram origem à independência americana e às independências das colónias espanholas sul-americanas.
A ligação entre Portugal e o Brasil não é apenas pela língua, pois os laços históricos e culturais entre os dois países são profundíssimos. Por isso, hoje o jornal Público, destaca que é dia para nos associarmos aos brasileiros e dizer-lhes: Parabéns, Brasil!

A Espanha a celebrar a viagem de Elcano

No dia 6 de Setembro de 1522 a nau Victoria chegou defronte de Sanlúcar de Barrameda, na foz do rio Guadalquivir e próximo de Cádis, sob o comando de Juan Sebastián de Elcano, trazendo 18 tripulantes europeus e três homens que tinham embarcado nas Molucas. Estava concluída a primeira viagem de circumnavegação da Terra, pois daquele mesmo local tinham partido no dia 20 de Setembro de 1519 cinco navios com 237 homens comandados por Fernão de Magalhães. A viagem que foi descrita por Antonio Pigafetta e por alguns outros membros da expedição, durou quase três anos. As comemorações desta viagem foram assumidas pelos dois governos ibéricos, cada um deles procurando discretamente chamar a glória deste feito que muitos comparam com a chegada do homem à Lua - a glória de Magalhães (os portugueses) ou a glória de Elcano (os espanhóis).
O facto é que ontem, mostrando como em Espanha tudo foi preparado para alimentar a sua própria narrativa histórica, o navio-escola Juan Sebastián de Elcano regressou de uma longa viagem internacional de representação e integrou-se num desfile naval e aéreo em homenagem a Elcano, realizado ao largo de Sanlúcar, que se integrou nas comemorações do V Centenario de la Primera Circunnavegación. O rei Filipe VI esteve presente, bem como as principais autoridades espanholas e andaluzas. No desfile integraram-se doze navios de guerra, incluindo o LHD Juan Carlos I, o LDP Galicia e quatro modernas fragatas, para além da réplica da nau Victoria e vários aviões Sea Harrier e helicópteros, conforme relata com muito detalhe a edição de hoje do Diario de Cadiz.
Foi uma festa grande em Sanlúcar de Barrameda, porque até a Volta a Espanha foi pensada para que ontem uma etapa ligasse Sanlúcar a Sevilla. Foi, portanto, um dia “histórico y emocionante para todos los sanluqueños”.
Pois que Viva Sanlúcar, que Viva El-Rey e que Viva España!

terça-feira, 6 de setembro de 2022

A minha homenagem a Adriano Moreira

Adriano José Alves Moreira completa hoje cem anos de idade e alguns jornais portugueses prestam-lhe uma justa homenagem a que me associo, porque foi meu professor e de muitos dos meus amigos, todos dele guardando uma imagem de homem de sabedoria, inteligência e sensatez. É reconhecido como um humanista com elevado sentido de serviço público, um cientista político de referência e um activo participante no desenvolvimento do ensino superior em Portugal. A sua voz sempre foi escutada com atenção e respeito, independentemente das posições ideológicas ou partidárias de quem o escuta.
O seu percurso cívico, político e académico são bem conhecidos: licenciado em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa, doutorado pela Universidade Complutense de Madrid e pelo ISCSP da Universidade de Lisboa, doutor Honoris Causa por diversas universidades portuguesas e estrangeiras, membro da delegação portuguesa nas Nações Unidas, deputado e vice-presidente da Assembleia da República, presidente do CDS, conselheiro de Estado, presidente da Sociedade de Geografia de Lisboa e curador da Fundação Oriente, são apenas algumas linhas da sua extensa biografia. Porém, será o cargo de Ministro do Ultramar que ocupou no governo de Salazar entre 13 de Abril de 1961 e 4 de Dezembro de 1962, a marca mais distintiva da sua carreira, não só como patrocinador de profundas reformas no estatuto dos povos das colónias, mas também como dirigente que afrontou Salazar e “assistiu” ao início da guerra em Angola e à queda da Índia Portuguesa.
Hoje é um dia para felicitar o Professor Adriano Moreira pelo seu centésimo aniversário, mas também pelas lições que ao longo da vida nos tem ensinado e que esperamos nos continue a ensinar.

sábado, 3 de setembro de 2022

A Índia e o reforço do seu poder naval

Decorreu ontem no porto de Cochim, no estado indiano de Kerala, a cerimónia de incorporação na Marinha da India do novo porta-aviões INS Vikrant, que foi presidida pelo primeiro-ministro Narendra Modi.
O INS Vikrant foi construído nos estaleiros da Cochin Shipyard Limited, é o primeiro porta-aviões concebido e construído na Índia e, só por isso, é um motivo de orgulho nacional e de confiança quanto às capacidades industriais e tecnológicas do país, apesar da sua construção se ter arrastado durante 13 anos e ter custado cerca de 2,5 mil milhões de dólares. O primeiro-ministro Modi chamou-lhe uma “cidade flutuante” com 1700 tripulantes e considerou-o um “símbolo do potencial nacional”, tendo proporcionado um momento histórico para a Índia e para o seu chefe do governo, por ser um incentivo que pode impulsionar a indústria indiana de defesa.
O navio mede 262 metros de comprimento e tem quase 60 metros de altura, podendo alojar 30 aviões de combate e helicópteros. Com o INS Vikramaditya, o outro porta-aviões indiano, a Índia torna-se cada vez mais um importante e ambicioso actor no cenário geopolítico internacional.
A imprensa indiana de hoje dá conta da entrada ao serviço do novo navio e o jornal The Hindu, chama-lhe “sentinel of the seas”, ao mesmo tempo que analisa o crescente aumento do poder militar indiano.
Duas curiosidades sobre o Vikrant e sobre Cochim.
- O INS Vikrant é o segundo porta-aviões indiano com este nome, tendo o primeiro entrado ao serviço em 1961 e tomado parte nas operações que levaram à “queda da Índia Portuguesa”.
- Cochim foi “o primeiro porto português da Índia”, foi visitado por Pedro Álvares Cabral em 1500 e foi lá que morreu Vasco da Gama na noite de Natal de 1524. Em 1663, após uma presença de um século e meio, os holandeses expulsaram os portugueses da cidade e da costa do Malabar.