quinta-feira, 29 de novembro de 2018

A persistência da agitação na Catalunha

Depois da agitação independentista que ele próprio alimentou, o governo da Catalunha e o seu presidente Quim Torra enfrentam agora um Otoño caliente, como diz hoje o jornal elPeriódico de Barcelona. O protesto parece ser generalizado e tem dado origem a grandes manifestações de massas em que as bandeiras da Catalunha foram substituídas pelas bandeiras de diversas cores dos sindicatos e em que se têm registado confrontos e algumas destruições na via pública. Há inúmeros conflitos laborais e greves que duram há vários dias, nomeadamente dos médicos, professores, estudantes e funcionários públicos. Os sindicatos reclamam pela reversão dos cortes remuneratórios aplicados em 2011, pelo pagamento do trabalho extraordinário e de uma forma geral pela reposição do poder de compra dos seus trabalhadores.
Nesta altura do ano, é normal intensificar-se a reivindicação sindical, mas no caso da Catalunha é bem curioso como as manifestações que até há bem pouco tempo eram a favor do independentista Quim Torra, sejam agora contra a sua governação e com algum grau de radicalismo. No seu caso bem se pode dizer que “semeou ventos” e que está a “colher tempestades”, mas também se pode dizer que em tão pouco tempo passou de bestial a besta em, como se fosse um treinador de futebol.
Provavelmente não foi feito o retrato sociológico dos manifestantes catalães, mas talvez sejam os mesmos, aqueles que idolatraram Torra e aqueles que agora o insultam, o que significa simplesmente que as massas são manipuláveis, o que é um facto bem conhecido das teorias da comunicação.

Macau procura preservar a língua patuá

Os portugueses instalaram-se na península de Macau em meados do século XVI e desde então começou a afirmar-se uma língua crioula de base portuguesa, influenciada pelas línguas chinesas, malaias e cingalesas, mas também de inglês, do tailandês, do japonês e de algumas línguas indianas. Essa língua é conhecida como o Patuá macaense, outras vezes como o Papia Cristam di Macau e outras, ainda, como Doci Papiaçam di Macau.
Ao longo do século XX, com o aparecimento de novos meios de comunicação, o Patuá deixou de ser uma língua corrente, entrou em vias de extinção e era conhecido apenas por um número cada vez menor de macaenses. Até que em 1993 surgiu uma associação cultural com o objectivo expresso de salvar e divulgar essa língua crioula, enquanto símbolo identitário, histórico e cultural de Macau. Essa associação é o Grupo de Teatro Dóci Papiaçám di Macau, fundado e dinamizado pelo advogado macaense Miguel de Senna Fernandes, que o jornal Tribuna de Macau destaca na sua última edição.
O Dóci Papiaçám di Macau, tal como outros grupos e associações culturais macaenses, tem procurado proteger o Patuá macaense, apresentando peças teatrais e músicas em Patuá, publicando um Dicionário Português-Patuá e mantendo o objectivo de incluir o Patuá na Lista do Património Oral e Imaterial da Humanidade da Unesco.
O grupo celebra agora 25 anos de vida e a sua actividade é considerada uma referência da cultura macaense por ter feito renascer o interesse pelo Patuá e por agregar pessoas de etnias, classes sociais, idades e sensibilidades diversas, o que de certa forma representa a identidade do território de Macau, isto é, “um lugar comum a muitas pessoas diferentes”.

domingo, 25 de novembro de 2018

Uma visita de grande sucesso político

A visita oficial de três dias do Presidente João Lourenço a Portugal foi um acontecimento político muito importante para as relações entre Portugal e Angola, pois traduziu-se numa permanente manifestação de cumplicidades e de afectos entre os presidentes de Portugal e de Angola e, por essa via, entre o povo angolano e o povo português.  
Os ares frios e distantes dos tempos do  ex-presidente José Eduardo dos Santos, já fazem parte do passado. João Lourenço veio trazer-nos uma nova Angola e os portugueses perceberam e estão a aplaudir a mudança que está a acontecer no país, que também está a melhorar a sua imagem no mundo. Com a sua coragem, o seu sorriso e o seu discurso, João Lourenço conquistou a simpatia dos portugueses e, tendo aludido à anormalidade de terem decorrido nove anos sem que o chefe de Estado angolano tivesse visitado Portugal, afirmou que “os amigos querem-se juntos”. Nas relações entre Angola e Portugal, não se pode falar apenas em interesses como acontece nas relações internacionais, porque para além dos interesses há afectos, há história, há cultura e há um conhecimento recíproco.
A economia e o investimento estiveram no centro das conversações. Naturalmente. De facto, Portugal e Angola perceberam que precisam ambos do outro e que os seus interesses são compatíveis e complementares. Porém, para lá de uma dúzia de acordos de cooperação que foram assinados, o discurso de João Lourenço não se poupou nas palavras e falou de corrupção, nepotismo, bajulação e impunidade, porque a nova Angola exige uma nova atitude do poder. Disse que quando se propôs combater a corrupção em Angola já sabia que estava a mexer num “ninho de marimbondos”. A metáfora da destruição do ninho de marimbondos agradou aos portugueses e o Jornal de Angola registou-a para a posteridade.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

A arte africana e o seu regresso às origens

Durante o longo período da colonização europeia do continente africano houve muitos militares, antropólogos, etnólogos, religiosos e outros, que percorriam os territórios coloniais e que regressavam a casa com recordações compradas ou trocadas e, por vezes, roubadas. Noutros casos, durante as acções de ocupação e domínio desses territórios, sobretudo no século XIX, as forças militares ocupantes tomavam posse dos objectos de arte que encontravam e simplesmente transferiam-nos para os seus países onde eram integrados em museus.
Por uma ou por outra via, a parte mais importante do património artístico móvel africano foi transferido para a Europa e, por isso, o British Museum de Londres e o Museu do Louvre de Paris, mas também o Museu Tervuren de Bruxelas, o Museu do Vaticano e muitos outros museus têm nas suas colecções de arte, enormes quantidades de objectos de arte africana. Um dos casos mais notórios é o novo Museu do Quai Branly ou Museu das Artes e Civilizações de África, Ásia, Oceania e Américas, em Paris, que tem um acervo de 300 mil obras das quais cerca de 70 mil são de origem africana. Segundo é referido, habitualmente, os países que têm mais obras de arte nos museus europeus são o Chade, os Camarões, Madagáscar, o Mali, a Costa do Marfim, o Benim, a Etiópia, o Gabão e o Congo.
Com o apoio da Unesco, a África exige agora a restituição de todos esses tesouros artísticos que fazem parte do seu património cultural. Na Alemanha e no Canadá o processo já foi iniciado,  mas no Reino Unido, na Bélgica e na França só agora se iniciou a discussão do complexo assunto. Em Portugal o problema também existirá, mas numa escala incomparavelmente menor.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

A promoção turística da ilha da Madeira

Acaba de ser publicada em França mais uma edição da revista Destination Portugal, que é dedicada à ilha da Madeira. Trata-se do número 11 de uma revista dedicada a Portugal, que é classificado como a nova destination-phare dos franceses ou também como le nouvel Eldorado. A iniciativa de publicar uma revista com este título e que já vai no seu 11º número despertou a minha curiosidade e fui investigar.
Trata-se de uma revista especializada em Turismo que nasceu em 2016 em Chamalières, nos arredores de Clermont-Ferrand, no centro da França, por iniciativa de uma pequena empresa com o nome de Vasco Editions. Com este nome, pensei de imediato que se tratava de uma editora criada e constituída por portugueses ou luso-descendentes que tinham detectado uma oportunidade de mercado cujo público-alvo era a comunidade francesa luso-descendente, que deve ser bem numerosa e que se interessava por Portugal. Porém, verifiquei que os sócios que, aparentemente, são os únicos trabalhadores da empresa, são Christophe Bonicel e Yves Goutorbe, cujos nomes não indiciam qualquer ligação a Portugal.
Das edições já publicadas destaca-se que já foram dedicadas à Nazare (la nouvelle vague), a Lisboa (duas edições), Albufeira, Peniche, Cascais, Aveiro, Porto (au top) e Lagos.
Com excelentes fotografias, a revista Destination Portugal satisfaz o mercado turístico francês que “gosta de viajar,  mas que se informa previamente sobre o que vai ver”, deve ser um projecto economicamente rentável e, ao mesmo tempo, promove o que de bom existe em Portugal. Por ainda não ter tido acesso à revista, não sei até que ponto ela é subsidiada pelas agências de turismo português.

Angola, Portugal e o desejado reencontro

O Presidente da República de Angola está em Portugal para uma visita oficial de três dias a convite de Marcelo Rebelo de Sousa e a primeira coisa a fazer é dar as boas vindas a João Manuel Gonçalves Lourenço. A visita de JLo tem a marca de um reencontro entre irmãos que falam a mesma língua, que estiveram amuados e que é, portanto, muito desejado por angolanos e por portugueses.
Durante estes três dias, o presidente angolano vai encontrar-se com as autoridades portuguesas, estará numa sessão solene na Assembleia da República, viajará para o Porto, participará em seminários de natureza comercial e, sobretudo, vai sentir como são fortes os laços de amizade que os portugueses nutrem por Angola e pelos angolanos.
Portanto, o patamar desta visita vai estar muito acima dos interesses circunstanciais da conjuntura, dos negócios, das trocas comerciais, dos investimentos ou da discussão das dívidas, situando-se num plano verdadeiramente estratégico de contornos políticos e económicos, mas também de forte significado cultural e, naturalmente, de grande conteúdo emocional. Os anos de chumbo que turvaram a relação entre os dois países parece terem sido ultrapassados e agora parecem avizinhar-se anos de ouro no entendimento e na cooperação luso-angolana, como todos desejam por cá e por lá, não só em relação aos negócios e à economia, mas também em relação a outros assuntos desde a educação à saúde, sem marginalizar o intercâmbio cultural, desportivo e científico.
O Presidente de Angola representa o povo angolano e, por isso, traz consigo uma longa história comum entre os dois povos, que nem sempre correu da melhor maneira, mas a História foi o que foi e os seus julgamentos nem sempre são os mais apropriados, sobretudo quando são feitos por quem pensa condicionado pela ideologia do tempo presente. Nos tempos de incerteza em que vive o mundo, Portugal e Angola bem precisam de se entender porque as vantagens desse entendimento são enormes.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

O estranho caso das touradas em Portugal

As touradas e as outras festas tauromáquicas apareceram agora na agenda política e mediática mas não são um problema e, muito menos, um problema importante. Importantes serão outros problemas como a pobreza ou a fome, os baixos salários e as pensões, a desertificação do interior, as alterações climáticas ou a poluição dos nossos rios. Esses é que são alguns dos nossos verdadeiros problemas!
As corridas de touros e as touradas não são um problema, pois são apenas espectáculos que muita gente aprecia loucamente e que, outros tantos, detestam também loucamente.
No primeiro grupo estão os que condenam a barbaridade que é picar ou matar um touro e, no outro grupo estão os que transbordam de entusiasmo pela festa brava e que são os chamados aficionados. Entre os meus amigos tenho quem pertença ao primeiro grupo e quem pertença ao segundo.
As festas tauromáquicas fazem pare da cultura portuguesa desde há muitos anos e nalguns casos são verdadeiras festas populares, caso das largadas de touros do Colete Encarnado em Vila Franca de Xira, das Festas da Moita ou de Alcochete, das touradas à corda na ilha Terceira e de outras festas tauromáquicas que se realizam em diversas localidades do país.
Hoje o jornal i salienta que a “tourada agita família socialista”, mas provavelmente agita muito mais famílias, porque são duas barricadas irreconciliáveis. Por isso, há que compatibilizar a vontade das gentes da Moita, de Vila Franca de Xira e da Praia da Vitória, por exemplo, com a vontade das gentes de outras localidades onde a festa brava não tem tradição, nem é apreciada. A cultura portuguesa tem muitas especificidades regionais e as festas tauromáquicas têm esse cunho regional. Assim, deverá ser cada Município a decidir a solução de maior agrado para os seus munícipes, tal como decide sobre outras iniciativas culturais. Pessoalmente, tenciono continuar a optar por outras iniciativas culturais.

sábado, 17 de novembro de 2018

O submarino argentino já foi encontrado

Ao fim de um ano de pesquisas, a Marinha da Argentina anunciou que foi encontrado o submarino San Juan que desaparecera no dia 15 de Novembro de 2017 com 44 tripulantes a bordo. As buscas decorriam desde que o submarino tinha sido dado como desaparecido e nelas chegaram a estar envolvidos meios de busca de treze países, mas perante a pressão dos familiares dos marinheiros do San Juan foi contratada a empresa americana Ocean Infinity para localizar o submarino. Depois de dois meses de actividade e quando se anunciava a suspensão das buscas, um veículo submarino ROV (Remotely Operated Vehicle) da referida empresa, controlado remotamente para observar e fotografar o fundo do mar, encontrou o San Juan no fundo do oceano Atlântico, a 907 metros de profundidade e a cerca de 400 km para leste da península Valdés, na Patagónia argentina.
Segundo revela o jornal argentino Clarín, a Ocean Infinity foi contratada porque a Marinha argentina não dispõe daquele tipo de equipamento e a bem sucedida operação vai custar 7,5 milhões de dólares.
A notícia veio clarificar a situação das famílias dos 44 marinheiros e emocionar os argentinos que ficaram agradados pelo sucesso das buscas. No entanto, não está garantida a recuperação do submarino por causa da grande profundidade a que se encontra, a não ser que o fabricante alemão se envolva neste complexo e muito dispendioso processo.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

O acordo do Brexit é só um pequeno passo

Foi anunciado ontem que o governo de Theresa May aprovou o rascunho do acordo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, depois de muitos meses de negociações entre Londres e Bruxelas.
Trata-se de um documento de 585 páginas que contempla inúmeras questões como por exemplo a compensação financeira devida à saída britânica, os direitos dos cidadãos europeus no Reino Unido e dos cidadãos britânicos na Europa dos 27, os protocolos sobre o estatuto de Gibraltar e sobre as bases militares britânicas no Chipre, os procedimentos relativos à futura fronteira entre a Irlanda do Norte britânica e a República da Irlanda e, naturalmente, a problemática das futuras relações económicas britânicas com a Europa. Porém, a aprovação do governo de Theresa May não foi pacífica e onze dos seus membros terão estado contra, com o ministro dos Transportes a demitir-se e a pedir que fosse realizado um segundo referendo sobre o Brexit.
Significa que o caso ainda está para durar. O Conselho Europeu terá que validar o acordo nos próximos dias  e depois tem a palavra o Parlamento Britânico, mas há muitas dúvidas quanto à resposta que ele vai dar a este acordo, havendo muitas vozes da maioria que se lhe opõem. De seguida, ainda o Conselho e o Parlamento Europeu terão que votar a sua aprovação.
O jornal The Guardian diz hoje que no Reino Unido está tudo dividido, isto é, o governo, o Partido Conservador e o próprio país, com a Escócia à frente da contestação. O Brexit está, portanto, muito longe de estar resolvido. Falta convencer ministros, deputados e a opinião pública britânica, mas do lado europeu e dos aliados do Reino Unido também parece haver insatisfação. Até há quem venha afirmando que em vez de um acordo do Brexit, o que vai acontecer é a realização de eleições num futuro próximo para decidir, por essa via e sem segundo referendo, o que deverá ser feito.

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Israel, a Palestina e o sofrimento do povo

Depois de cerca de seis meses de acalmia, a tensão entre palestinianos e israelitas aumentou subitamente na noite de domingo quando forças especiais israelitas intervieram numa operação no interior da Faixa de Gaza, daí resultando a morte de alguns milicianos palestinianos e de um soldado israelita.
Na segunda e na terça-feira, tanto os israelitas como os palestinianos não pararam de se atacar. De acordo com o Gulf News os palestinianos lançaram 400 rockets sobre o território de Israel, enquanto a aviação israelita atacou 150 alvos palestinianos, incluindo a Al-Aqsa, a estação televisiva do Hamas na Faixa de Gaza, que deixou de emitir após o ataque. As imagens que foram divulgadas nos media internacionais mostram a enorme violência e a destruição causada pelos ataques aéreos israelitas e os observadores internacionais consideram que esta escalada no histórico conflito na Faixa de Gaza entre israelitas e palestinianos foi a mais grave desde a guerra de 2014.
A diplomacia egípcia, com apoio das Nações Unidas, trabalhou intensamente para pôr termo a esta violência entre milícias palestinianas e Israel, quando o balanço destes dois dias já atingia 16 mortos, incluindo 14 combatentes palestinianos, um militar israelita e um civil palestiniano, além de muita destruição. Ontem, o Hamas e os outros grupos palestinianos, assim como Israel, aceitaram uma trégua negociada pelo Egipto. Porém, o ministro da defesa israelita não concordou com a trégua aceite pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e tratou de se demitir, o que pode abrir uma crise política em Israel, ou seja, não há maneira de se acabar com o sofrimento do povo palestiniano.

Até uma moderna fragata se pode afundar

Na madrugada da passada quinta-feira, dia 8 de Novembro, a moderna fragata norueguesa Helge Ingstad de 5000 toneladas colidiu com o navio petroleiro maltês ST Sola no fiorde de Hjeltefjord, perto de Bergen, quando regressava ao porto depois de terminar alguns exercícios enquadrados no Trident Juncture, o maior exercício militar da NATO desde há muitos anos. Neste exercício participam cerca de 50 mil militares de 31 países, que têm ao dispor 10 mil veículos, 250 aeronaves e 65 navios, entre os quais o porta-aviões americano Harry Truman e a fragata portuguesa Corte Real.
O acidente com a fragata norueguesa causou oito feridos entre os 137 elementos da guarnição e, como resultado da colisão, a fragata meteu água e adornou. Apesar das operações que têm sido conduzidas para evitar a sua perda, a fragata tem-se afundado e actualmente está quase totalmente submersa, mantendo-se à tona apenas o topo do mastro e uma pequena parte da popa.
O navio é uma das cinco fragatas da classe Fridtjof Nansen que foram construídas entre 2006 e 2011 nos estaleiros militares espanhóis da Navantia em Ferrol, na Galiza, tendo custado 366 milhões de euros e, por isso, a notícia deste acidente aparece hoje no jornal La Voz de Galicia. Segundo relata o jornal galego este caso constitui um desastre para a Marinha da Noruega e tem sido um espectáculo mediático para os noruegueses que têm acompanhado este quase afundamento através da televisão, até porque não se sentirão nada bem a ver 366 milhões de euros a ir ao fundo daquela maneira.

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Será o fim do jornalismo em Portugal?

As comemorações do fim da 1ª Guerra Mundial tiveram grande repercussão, não só para honrar os seus milhões de mortos, mas também para apelar à paz e a uma pedagogia da paz e da concórdia entre as nações. As cerimónias realizadas em Paris foram marcantes, devido à presença de muitas dezenas de chefes de Estado e de governo, mas muitas outras foram realizadas por todo o mundo. A edição de ontem do jornal canadiano Toronto Sun escolheu uma sugestiva imagem para a sua primeira página e escreveu como lead a seguinte frase:  “Assinalando 100 anos desde o fim da 1ª Guerra Mundial, realizaram-se cerimónias por todo o país e por todo o mundo como tributo aos que lutaram e aos que morreram”. Significa que, de uma forma ou de outra, a evocação da 1ª Guerra Mundial correu mundo.
Portugal entrou na guerra nas frentes da Flandres e nas fronteiras de Angola e Moçambique e embora não se conheça exactamente o número de portugueses mortos em combate ou por doença, as estimativas apontam para cerca de seis mil, que o país nunca deixou de homenagear.
Como já ontem referimos, nenhum jornal português assinalou ou deu importância a esta efeméride de significado mundial, talvez porque somos terrivelmente periféricos na Europa e no mundo, não só na geografia, mas também no culto de valores culturais e da nossa História. Lamentavelmente, a nossa imprensa é cada vez mais papel borrado de tinta. O que conta para a nossa imprensa escrita (e televisiva) é um tal Bruno de Carvalho, uma figura menor da nossa terra que, até prova em contrário, não fez nada de mal e apenas está a ser investigado. O caso nem merecia notícia, mas o Diário de Notícias, o Público, o Jornal de Notícias e, naturalmente, o Correio da Manha, não falam noutra coisa. Impera a lei de "vender papel" a qualquer preço ou o jornalismo de vão de escada. Não quero crer que acabou o jornalismo em Portugal, apesar de ver tanta mediocridade, tanta incompetência e tanta falta de sentido de serviço ao público.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Grande Guerra e a homenagem da França

Paris foi ontem o centro do mundo e Emmanuel Macron, cem anos depois do armísticio que pôs fim à I Guerra Mundial, foi o anfitrião de mais de 70 líderes e chefes de Estado que se juntaram para homenagear os milhões de mortos e feridos da Grande Guerra.
O presidente francês começou por receber os representantes internacionais no Palácio do Eliseu, de onde seguiram para o Arco do Triunfo e foi nesse local que o chefe de estado de França deixou um alerta contra o ressurgimento dos nacionalismos. No seu discurso Emmanuel Macron lembrou o “inferno” passado pelos que combateram nas trincheiras desta guerra, os 10 milhões de homens que morreram, os milhões de mulheres que ficaram viúvas e os milhões de crianças que ficaram órfãs e, num apelo à paz, disse que “a lição da Grande Guerra não pode ser a do ressentimento entre os povos, e o passado não pode ser esquecido” e acrescentou que “o patriotismo é exactamente o contrário do nacionalismo”.
A cerimónia teve grandeza e espectacularidade, como mostraram as televisões estrangeiras, já que as televisões portuguesas se revelaram uma vez mais alheias e desinteressadas do que acontece no mundo. Hoje, os jornais de todo o mundo tratam das comemorações em França e publicam a expressiva fotografia da primeira fila da tribuna onde, entre outros, estão Macron e Merkel, Trump e Putin.
A mediocridade da imprensa portuguesa, cuja tematização se aproxima cada vez mais do ridículo e que revela uma absoluta menoridade cultural, destaca hoje como principal notícia a detenção do ex-dirigente desportivo Bruno de Carvalho. É uma vergonha para qualquer dos directores dos nossos jornais de referência e para os jornalistas sérios que lá trabalhem. Que pena não termos um Almada Negreiros para retratar com um manifesto estes Dantas do nosso tempo.

domingo, 11 de novembro de 2018

O encontro da reconciliação franco-alemã

Perfazem-se hoje cem anos sobre a data em que franceses e alemães assinaram o armistício em Compiègne, no norte da França, que acabou com a Grande Guerra. Ontem, numa cerimónia de grande simbolismo, Emmanuel Macron e Angela Merkel depositaram uma coroa de flores e inauguraram uma placa na clareira de Rethondes, onde é reafirmado o "valor da reconciliação franco-alemã ao serviço da Europa e da paz". Depois Macron e Merkel entraram no reconstituída carruagem onde, na madrugada de 11 de Novembro de 1918, a Alemanha se rendeu oficialmente encerrando mais de quatro anos de guerra na frente ocidental.
Foi a primeira vez desde 1940, que um Presidente francês e um chefe do governo alemão se reuniram neste memorial. Antes, no início da 2ª Guerra Mundial, Hitler tinha escolhido o mesmo local e a mesma carruagem para que, no dia 22 de Junho de 1940, ali fosse assinada a rendição dos franceses. Era a vingança alemã pela humilhação francesa de 1918. Para esse efeito, a histórica carruagem ferroviária foi então retirada de um museu para servir de palco à cerimónia com a presença de Hitler, mas durante a guerra a carruagem foi destruída e hoje é uma réplica que está agora no local.
O encontro de ontem entre Macron e Merkel assinalou a reconciliação entre os dois países que travaram três guerras entre 1870 e 1945,  mas que agora são os eixos da paz na Europa Ocidental. Toda a imprensa francesa destacou a paz e a reconciliação franco-alemã, como por exemplo Le Courrier picard, que se publica em Amiens, a cidade que mais próximo fica de Compiègne. Hoje, Macron e Merkel viajam para Paris, onde cerca de sete dezenas de líderes mundiais se reunirão para assinalar o 100º aniversário do fim da guerra junto do túmulo do Soldado Desconhecido, sob o Arco do Triunfo. Marcelo Rebelo de Sousa é um deles.

sábado, 10 de novembro de 2018

As memórias da Primeira Grande Guerra

A Primeira Guerra Mundial começou no dia 28 de Julho de 1914 com a invasão austro-húngara da Sérvia e terminou no dia 11 de Novembro de 1918, com a capitulação da Alemanha. Faz amanhã 100 anos!
Nessa guerra envolveram-se todas as grandes potências organizadas em torno de duas alianças: de um lado a Tríplice Entente (Grã-Bretanha com as suas possessões da Índia, Austrália, Canadá e África do Sul, a França e a Rússia, a que se juntaram depois Portugal, o Brasil e os Estados Unidos) e do outro a Tríplice Aliança (Alemanha, Áustria-Hungria e Império Otomano). A guerra alastrou a todo o mundo e morreram mais de vinte milhões de pessoas, incluindo mais de nove milhões de combatentes. O mapa da Europa foi redesenhado e os grandes impérios Alemão, Russo, Austro-Húngaro e Otomano deixaram de existir. Neste fim de semana, em todo o mundo, decorrem cerimónias evocativas dos heróis e dos mortos e o jornal Le Figaro destaca exactamente essa efeméride.
Portugal foi um participante activo na guerra, não só na frente da Europa ocidental, mas também nas suas fronteiras sul de Angola e norte de Moçambique, tendo perdido quase dez mil homens em consequência da impreparação das tropas para combate e da doença. Portugal ficou emocionado e de luto e por todo o país foram edificados memoriais “aos “mortos da Grande Guerra”.
A participação portuguesa na guerra de 1914-1918 tem sido devidamente estudada nos meios académicos e militares e no passado dia 4 de Novembro, uma grande para militar, assinalou a efeméride em Lisboa. Nenhum jornal português dedicou um espaço de primeira página ou uma reportagem a esse evento que mostrou, através da televisão, a grandeza e a solidez da instituição militar como um pilar da Democracia. Inversamente, algumas figuras femininas  da política e do jornalismo têm-se mostrado absolutamente irresponsáveis na forma como procuram atrair as Forças Armadas para a sua área de sensacionalismo.

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

De Maputo à Catembe em cinco minutos

A República Popular de Moçambique e a sua capital vão estar em festa amanhã quando for inaugurada a ponte suspensa que vai atravessar a baía de Maputo e ligar a cidade de Maputo à Catembe, na sua margem sul. O jornal O País destaca hoje essa notícia da inauguração da nova ponte que é a maior ponte suspensa de África, a mais cara infraestrutura estatal construida depois da independência de Moçambique e que vai certamente tornar-se o novo ex-libris da capital moçambicana.
A nova ponte é, sobretudo, uma alavanca para o progresso e a congestionada cidade de Maputo tem agora espaço para se expandir ordenadamente, enquanto a nova estrada de mais de uma centena de quilómetros que da ponte segue até à fronteira na Ponta do Ouro, vai também permitir o desenvolvimento do turismo.
O financiamento e a construção da nova ponte foram mais uma aposta do investimento chinês em Moçambique. A infraestrutura tem um vão com 700 metros de comprimento e duas rampas com cerca de dois quilómetros cada uma, tendo a sua construção demorado cerca de 4 anos e envolvido muitas centenas de técnicos e de operários moçambicanos e chineses.
A ponte entre o Maputo e a Catembe vai permitir a ligação por terra entre as duas margens da baía da capital moçambicana em menos de cinco minutos e acabar com as demoradas e desconfortáveis travessias da baía, mas vai também poder ligar por estrada o território moçambicano do Rovuma ao Maputo (ou à Ponta do Ouro). Uma grande obra. Uma grande vitória para Moçambique.

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Observar flamingos em Dehesa de Abajo

A Reserva Natural Concertada Dehesa de Abajo, situada em La Puebla del Rio, junto ao parque Natural de Doñana e nas proximidades de Sevilha, tornou-se uma atracção ímpar para os ambientalistas e, em especial, para os ornitólogos. Trata-se de um espaço natural privilegiado para a observação de flamingos e de outras aves, que recebe anualmente milhares de visitantes e que, com frequência, é considerado o paraíso das aves.
“Contemplar os flamingos no Outono ao entardecer é um privilégio para os sentidos”, escreve o Diário de Sevilla que ilustra a primeira página da sua edição de hoje com uma expressiva fotografia de milhares de flamingos em Dehesa de Abajo.
Segundo é descrito no jornal, na invernada milhares de flamingos e outras aves aquáticas levantam voo ao amanhecer e sobrevoam os pântanos e lagoas de Dehesa de Abajo, constituindo um espectáculo esmagador, em que o piar das aves e o seu bater de asas se distinguem a grande distância.
Naturalmente, as autoridades turísticas andaluzas tomaram todas as providências para atrair os visitantes e construiram caminhos e postos de observação para admirar as múltiplas espécies de aves que por lá habitam, umas residentes e outras em preparação para voar para sul, em que se destacam os flamingos, as cegonhas e os patos, mas também diversas espécies de águias e de milhafres. Porém, em Dehesa de Abajo existe uma fauna muito diversificada, verificando-se que a população do lince ibérico tem aumentado significativamente.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Lisboa, capital da inovação e tecnologia

Lisboa está transfigurada e muito modernizada nos últimos anos e o turismo aparece, ora como causa, ora como consequência, dessa mudança. A cidade aproximou-se da sua zona ribeirinha, os velhos edifícios têm sido bem reabilitados e a oferta cultural dinamizou-se. Um país que há cinquenta anos vivia “orgulhosamente só”, atrai agora gente de todo o mundo, a lembrar a “minha aldeia”, um apreciado poema de António Gedeão:
 
Minha aldeia é todo o mundo.
Todo o mundo me pertence.
Aqui me encontro e confundo
com gente de todo o mundo
que a todo o mundo pertence.

 A realização da Web Summit, a grande conferência mundial de tecnologia que é organizada desde 2009, primeiro em Dublin mas desde 2016 em Lisboa, é um exemplo da transformação por que passa a capital de Portugal e, naturalmente, o próprio país. É a terceira vez que a cidade de Lisboa acolhe a conferência que este ano é centrada na tecnologia da internet, mas já foi anunciado que a Web Summit e o governo português acordaram numa parceria a dez anos que assegura que a conferência continuará a realizar-se em Lisboa até 2028.
É uma boa notícia para Lisboa e para Portugal, porque melhora a notoriedade e a imagem de Portugal e dos portugueses. Atrai pessoas, investimentos e actividades.  Alavanca a economia e estimula o progresso. Melhora a nossa sociedade. Com os milhares de visitantes que a Web Summit atrai, que enchem hotéis, transportes públicos, restaurantes e comércios, não é apenas um desafio ao empreendedorismo e à inovação, mas é também uma plataforma que parece fazer renascer a cidade em movimento, animação e vida.

domingo, 4 de novembro de 2018

Bolsonaro continua a agitar o Brasil

A eleição de Jair Bolsonaro continua a alimentar o noticiário internacional, a aumentar as preocupações de muita gente e a agitar o Brasil. No exterior, por exemplo em Portugal, o presidente eleito do Brasil continua a suscitar controvérsias e muitas dúvidas quanto às suas qualidades e competências para dirigir o país. A insólita história que está a ser protagonizada por Sérgio Moro, ao aceitar o convite de Bolsonaro e assumir-se como um político, depois de ter estado camuflado de juiz e ter impedido Lula da Silva de concorrer à eleição presidencial, é a prova do estado de degradação a que chegou o sistema judicial brasileiro. Sérgio Moro revelou a sua face de vulgar trafulha e de grande mentiroso. Com a sua ambiciosa pirueta perdeu toda a sua credibilidade e lançou toda a Justiça brasileira num lamaçal.
Hoje o Jornal do Comércio de Porto Alegre alerta para um outro problema que pode ser sério no plano da coesão nacional, pois 11 dos 27 estados brasileiros votaram a favor de Haddad, tendo o Nordeste votado maciçamente contra Bolsonaro. Perante esta concentração de opositores numa mesma região, Bolsonaro já terá ameaçado que os estados do Nordeste podem vir a ter um “tratamento secundário”. Mas o que vai acontecer na relação do novo presidente com o Nordeste é uma incógnita. Porém, a atitude de Moro veio introduzir um novo dado na política brasileira ao fazer com que as forças anti-Bolsonaro começassem a unir-se e a preparar-se para reagir ao autoritarismo que aí vem ou parece vir.

sábado, 3 de novembro de 2018

Brasil prossegue nos seus passos radicais

Jair Bolsonaro foi eleito Presidente do Brasil e, depois de uma primeira declaração de apaziguamento, retomou as suas controversas declarações e atitudes, apesar de ainda faltarem dois meses para se instalar em Brasília e ocupar o Palácio do Planalto.
A mais surpreendente das suas atitudes foi o convite que dirigiu ao juiz federal Sérgio Moro para que ocupasse um cargo de ministro no seu futuro governo, o que ele aceitou após algumas horas de reflexão. Portanto, os brasileiros vão ter como ministro da Justiça e Segurança Pública o juiz que prendeu o ex-presidente Lula da Silva e que o impediu de concorrer às eleições presidenciais de que era favorito, o que tanto pode significar o pagamento de um serviço prestado à candidatura de Jair Bolsonaro, como um empenhado esforço na luta contra a corrupção e o crime organizado.
Esta transição da Justiça para a Política vem mostrar a promiscuidade que existe entre ambas e vem demonstrar que Sérgio Moro tem actuado por conta das suas ambições políticas, isto é, tem actuado na magistratura como um político disfarçado de juiz, como sempre pareceu devido à sua obstinação na perseguição a Lula da Silva.
Daí que muitas pessoas se interroguem quanto ao facto de Bolsonaro ter convidado para ministro o juiz que condenou o seu principal adversário político e que duvidem da sua intenção de combater a generalizada corrupção brasileira, que existe sobretudo nos sectores políticos que lhe afectos.
O que certamente vai acontecer é que esta nomeação vai dividir ainda mais os brasileiros e vai mexer com o PT e com os apoiantes de Lula da Silva, cada vez mais convencidos de que houve um enorme golpe anti-PT para tomar o poder, o que vai contribuir para a sua coesão enquanto oposição a Jair Bolsonaro.