sábado, 31 de outubro de 2020

América: porque tem que ser Joe Biden

A edição de hoje da revista The Economist trata das eleições presidenciais americanas e exibe um título de primeira página que explica why it has to be Joe Biden, ou porque tem que ser Joe Biden, com base numa análise comparativa entre o King Donald e o President Joe
Começando por salientar que os Estados Unidos estão hoje mais divididos e mais infelizes do que em 2016 quando Trump foi eleito, sobretudo pelas 230 mil mortes causadas pelo covid-19 e pelas confusões, disputas e mentiras que ele introduziu na vida quotidiana dos americanos, mas o candidato Joe Biden representa uma esperança e uma hipótese de restaurar a estabilidade e a civilidade da Casa Branca, mas também para reconstruir e unir um país dividido. É por isso que o The Economist afirma que, se votasse, daria o seu voto a Biden. 
A revista faz depois uma análise dos dois candidatos. Sobre Donald Trump afirma que, nos últimos quatro anos, ele profanou repetidamente os valores, os princípios e as práticas que fizeram dos Estados Unidos um paraíso para os americanos e um farol para o mundo. A característica mais impressionante da sua presidência tem sido o seu desprezo pela verdade, a sua indiferença pela democracia que jurou defender e a forma como tem ridicularizado a ciência e as suas recomendações, sendo incapaz de ver para além da sua própria reeleição. Relativamente a Joe Biden, a revista começa por dizer que a fasquia para bater Trump não é muito alta e que ele é uma boa aposta para começar a reconciliar os americanos, muito divididos pela polarização racial e pela desigualdade económica que estão a minar a unidade nacional, mas é também um multilateralista que, ao contrário de Trump, procura consensos e evita os confrontos. 
A revista termina o seu texto dizendo que “Mr. Trump must be soundly rejected”. Vamos a ver.

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

A pandemia e os comentadores da treta

Na sua segunda onda o vírus covid-19 está muito activo em Portugal, mas também na generalidade dos países europeus, verificando-se um agravamento progressivo da situação e repetindo-se as orientações, as recomendações ou as imposições destinadas à contenção da pandemia. Para além das medidas mais usuais que se recomendam – uso de máscara comunitária, lavagem frequente de mãos, distanciamento social – as autoridades têm tomado medidas específicas, como as restrições à circulação, o cancelamento de eventos desportivos e culturais ou a proibição de ajuntamentos mas, sobretudo, têm insistido na necessidade da responsabilização dos comportamentos individuais dos cidadãos. A situação é muito crítica e há países e regiões onde foi instituído o confinamento obrigatório, como hoje anuncia el Periódico de Barcelona, mas essa circunstância tem implicações económicas tão sérias que, naturalmente, têm que ser ponderadas pelas autoridades. Ninguém sabe o que nos reserva o futuro, nem sanitária nem economicamente e o facto é que esta situação só terminará quando for descoberta uma vacina eficaz para a protecção do vírus e um tratamento seguro para a população infectada. 
Nesta situação complexa que atravessamos em Portugal, a pandemia do covid-19 aparece ligada a uma outra pandemia que é o corropio de muitas dezenas de comentadores que passam pelas televisões, muitos deles ignorantes e alarmistas, que nada conhecem do assunto nem dos ambientes hospitalares, mas que tudo criticam como se fosse fácil a tarefa de quem decide. Objectivamente, essa gente nada esclarece e apenas contribui para criar insegurança e preocupação na população. Neste avião em que todos viajamos e que de repente se viu envolvido numa enorme tempestade, eu confio no piloto e não me passa pela cabeça entrar pelo cockpit para lhe dizer o que deve fazer. 
Há que confiar nas autoridades sanitárias que estão a pilotar esta situação e que, certamente, tudo fazem para nos ajudar nesta emergência.

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Portugueses que brilham no Giro d’Italia

Terminou ontem o Giro d’Italia que, com o Tour de France e a Vuelta a España, constituem as três principais provas do ciclismo mundial e que, todos os anos, são acompanhadas por milhões de entusiastas nas estradas, nas montanhas e nas televisões que lhes dedicam alargados espaços, com as reportagens televisivas a recorrer a motos, helicópteros e a drones, tornando-as muito apreciadas pelas audiências. 
O ciclismo português não tem expressão internacional e, apesar da lenda que foram os desempenhos de Joaquim Agostinho, da medalha olímpica conquistada em 2004 por Sérgio Paulinho ou do título de campeão do mundo de estrada ganho por Rui Costa em 2013, pouco mais de relevante se tem passado no ciclismo português. Porém, este ano alguma coisa aconteceu e o Giro d’Italia 2020 consagrou dois ciclistas portugueses nessa prova de três semanas, o que constitui um facto absolutamente insólito. 
As televisões mostraram um jovem chamado João Almeida nascido nas Caldas da Rainha e com 22 anos de idade que, para além de se ter mantido durante quinze dias no primeiro lugar com a camisola rosa, terminou a corrida em 4º lugar. Nunca nenhum português conseguira isso. Outro jovem chamado Rúben Guerreiro, natural do Montijo e com 26 anos de idade, ganhou uma etapa do Giro d’Italia e, no final da prova, subiu ao pódio com a camisola azul, símbolo do vencedor do Prémio da Montanha, o que significa que foi o primeiro português “a ganhar uma camisola numa grande volta”. Também, nunca nenhum português conseguira isso.  
O jornal O Jogo referiu-se a estes dois desempenhos como “fecho de ouro” e, de facto, são tão raros os êxitos desportivos dos nossos atletas no contexto internacional que é justo que a imprensa lhe tivesse dado destaque, embora quase no mesmo plano de um tal de Ivanilson, um futebolista brasileiro que… meteu um golo. Que jornalismo da treta. É caso para dizer que a pandemia do futebol não nos larga, nem quando o Almeida e o Guerreiro brilham.

As acções das forças especiais no mar

A imprensa inglesa dá hoje grande destaque aos acontecimentos ocorridos a bordo do navio-tanque Nave Andromeda na noite de sábado, próximo da ilha de Wight. O navio de bandeira liberiana saíra do porto de Lagos, na Nigéria, com destino ao porto inglês de Southampton, mas quando se aproximava do porto de destino foram detectados alguns passageiros clandestinos a bordo que procuravam asilo no Reino Unido e que se tornaram violentos. 
Nessas circunstâncias, os 22 elementos da tripulação do Nave Andromeda resguardaram-se na chamada “cidadela” do navio onde se trancaram, tendo pedido auxílio às autoridades britânicas. Foram activados os serviços do Special Boat Service (SBS) e foi iniciada uma operação com aquela força especial, que envolveu quarenta militares e teve o apoio de quatro helicópteros da Royal Navy, dos quais cerca de dezasseis elementos do SBS desceram por uma corda rápida sobre o navio, apanhando de surpresa os passageiros clandestinos. A operação foi realizada a coberto da escuridão da noite e terá durado apenas nove minutos, tendo os sete passageiros clandestinos sido detidos e entregues à polícia de Hampshire. 
O jornal The Times foi um dos jornais que publicou na sua primeira página a fotografia do Nave Andromeda mas, mais do que o relato do que aconteceu, destacou a prontidão e eficiência do SBS, uma unidade treinada para missões de contraterrorismo e resgate de reféns em condições de grande dificuldade e risco.

Os Açores e o seu novo quadro político

As eleições regionais açorianas deram a vitória ao Partido Socialista e ao seu líder Vasco Cordeiro, embora sem a maioria absoluta que lhe permitiria governar sustentado num apoio parlamentar estável e coerente, pelo que a partir de agora terá que governar com uma geometria variável de alianças e de apoios que, à semelhança do que se passa no Continente, torna o exercício da governação muito mais complexo. Se agora adicionarmos as novas dificuldades devidas às consequências sociais e económicas da pandemia, o quadro de dificuldade política vai necessariamente aumentar e os açorianos podem vir a passar por um quadro de instabilidade que não conheceram até agora. 
Se analisarmos a evolução da política açoriana num contexto de ciclo de longa duração, verificamos que a alternância democrática - que é uma característica fundamental da Democracia – tem existido nos Açores. Assim, desde que foi consagrada a autonomia dos Açores e que como Região Autónoma passou a ter um Governo Regional, já houve doze governos regionais, sendo seis do PSD e seis do PS. Entre 1976 e 1996 foram vinte anos de governação social-democrata e, entre 1996 e 2000, foram vinte e quatro anos de governos socialistas. Não sei se, para além do estilo, há muita diferença entre uns e outros porque, enquanto zona ultraperiférica, a governação dos Açores depende demasiado de Lisboa e de Bruxelas. Nas eleições ontem realizadas o PS elegeu 25 deputados e o PSD 21, mas a novidade foi que os outros 11 deputados se distribuíram por seis partidos – CDS (3), Chega (2), Bloco de Esquerda (2), PPM (2), PAN (1) e Iniciativa Liberal (1) – enquanto a coligação CDU perdeu o seu deputado. 
São nove ilhas e esta dispersão político-partidária parece reflectir a diversidade cultural do arquipélago, onde só a beleza natural e a qualidade da população são comuns em todas as ilhas.

domingo, 25 de outubro de 2020

Açores votam para a Assembleia Regional

Estão a decorrer hoje as eleições para a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores e, por via indirecta, para o Governo Regional dos Açores. 
Não são conhecidas sondagens que indiquem como serão repartidos os votos nem qual o partido que vai ganhar, nem se o vencedor terá ou não maioria absoluta e, por isso, até ao encerramento das urnas haverá incerteza. No entanto, se olharmos para o que se passou na campanha eleitoral, facilmente concluímos que se verificou um assinalável respeito mútuo entre as diferentes forças políticas e que os candidatos se apresentaram ao eleitorado com serenidade e com propostas, fazendo uma campanha mínima de cartazes e sem o habitual exagero de distribuição de T-shirts, bonés, esferográficas, isqueiros e outros produtos de merchandising. Este tipo de campanha eleitoral dignifica a democracia e, por isso, independentemente dos resultados, os Açores e os açorianos estão de parabéns e é pena o seu exemplo não seja aqui seguida no rectângulo continental.
Há 227.999 eleitores inscritos que irão escolher 57 deputados regionais, que representarão as nove ilhas açorianas e os seus 19 concelhos.

sábado, 24 de outubro de 2020

O apelo ao voto nas eleições americanas

A importância das próximas eleições americanas é cada vez mais evidente porque estão em confronto dois candidatos com personalidades, comportamentos, percursos e projectos bem diferentes. Poucas vezes na história dos Estados Unidos aconteceu esta situação tão antagónica que está a deixar o mundo suspenso sobre quem vai ser o próximo presidente dos americanos.
Neste contexto, sucedem-se os apelos ao voto e até a revista TIME, cuja capa faz parte da história do jornalismo americano, decidiu mudar o seu centenário logotipo na edição que vai ser posta a circular, o que acontece pela primeira vez nos quase cem anos que a revista já leva de vida. O logotipo da revista foi alterado para VOTE, com o objectivo de apelar à participação dos seus vinte milhões de leitores nas eleições do próximo dia 3 de Novembro, o que é um exemplo de inovação na arte da comunicação política. Acredita-se que poucos acontecimentos possam vir a influenciar mais o mundo nos próximos tempos do que a eleição presidencial americana e, por isso, a revista pretende mostrar aos seus leitores que a decisão de cada um ir às urnas e votar no próximo dia 3 de Novembro é a mais importante que alguma vez tomaram em relação a eleições. “É um momento raro, um momento que vai dividir a história em antes e depois durante várias gerações”. 
Os rostos desta luta eleitoral são Joe Biden e Donald Trump que até há poucos dias tinham respectivamente 51,1% e 42,2% das intenções de voto a nível nacional. Porém, como tem sido repetido, inclusive neste blogue, o voto popular apenas escolhe os delegados do colégio eleitoral em que dominam os estados decisivos e, por isso, as sondagens conhecidas não permitem fazer prognósticos quanto ao resultado final.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

O radicalismo continua forte em França

O radicalismo está a perturbar as sociedades contemporâneas, sobretudo aquelas em que os valores da democracia e do respeito pelas liberdades estão mais enraizados, como acontece na generalidade dos países e, em especial, nos países europeus. 
O que vai acontecendo em vários países europeus é perturbador, sobretudo quando as questões religiosas se chocam com os modelos culturais estabelecidos, o que é uma consequência da diversidade cultural e da diferenciação económica que os migrantes encontram nos países de acolhimento. 
O mais recente episódio deste radicalismo aconteceu em França. Samuel Paty tinha 47 anos de idade e era professor de História e de Geografia no colégio Bois d’Aulne, em Conflans-Saint-Honorine, nos subúrbios de Paris, mas foi barbaramente assassinado na passada sexta-feira por um terrorista islâmico porque, numa das suas aulas em que tratara da liberdade de expressão, terá exibido caricaturas do profeta Maomé. A França ficou em estado de choque e recordou-se da tragédia do Charlie Hebdo de Janeiro de 2015. Ontem o professor Paty foi homenageado por toda a nação francesa e pelo presidente Emmanuel Macron que o condecorou a título póstumo com a Legião de Honra enquanto, hoje, toda a imprensa francesa evoca e presta homenagem a Samuel Paty, ao mesmo tempo que elogia e incentiva os professores franceses a não ter medo de exercer a sua função de educadores em liberdade. 
No mundo de mudança em que vivemos em que tudo parece depender daquilo que corre irresponsavelmente nas redes sociais, a função dos professores é cada vez mais importante para a sociedade não só como transmissores de saberes, mas sobretudo como educadores e agentes da formação cívica dos cidadãos, mas essas tarefas terão que desempenhadas sem medo e em liberdade.

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

O Brasil homenageia os seus médicos

Nas sociedades contemporâneas foram criadas datas de referência que, de forma simbólica, servem para festejar, recordar ou salientar qualquer coisa importante para quem as criou. Há, por isso, as grandes festas nacionais, de que são exemplo o 4 de Julho nos Estados Unidos, o 14 de Julho em França, o 15 de Agosto na Índia ou o 25 de Abril em Portugal. Da mesma forma, as Nações Unidas também decidiram escolher dias específicos para assinalar acontecimentos ou assuntos relevantes que, depois de aprovados pela sua Assembleia Geral através de Resoluções, passam a ser o Dia Mundial da Água a 22 de Março, o Dia Mundial do Livro a 23 de Abril, o Dia Mundial dos Oceanos a 8 de Junho, o Dia Mundial da Música a 1 de Outubro, o Dia Mundial da Criança a 20 de Novembro e muitos outros, totalizando 162 Dias Mundiais ou Dias Internacionais. Há dias para quase tudo e até há o Dia Mundial das Leguminosas a 10 de Fevereiro, o Dia Mundial do Atum a 2 de Maio, o Dia Internacional das Viúvas a 23 de Junho e o Dia Mundial da Lavagem de Mãos a 15 de Outubro. Muitas outras organizações, a nível internacional e a nível nacional, também escolhem os seus Dias de Qualquer Coisa. 
Vem isto a propósito da celebração do Dia do Médico que ontem ocorreu no Brasil, pois corresponde ao dia em que nasceu São Lucas, o protector dos médicos. A celebração deste ano serviu para homenagear aqueles homens e mulheres que, juntamente com outros profissionais da saúde, dedicam a sua vida ao exercício da Medicina e prestam um serviço essencial à comunidade, que é cuidar da saúde das pessoas e servir os doentes, o que nos tempos de pandemia que atravessamos se torna ainda mais relevante. Na cidade do Rio de Janeiro a estátua do Cristo Redentor foi iluminada de verde em homenagem aos médicos e o jornal O Globo também se associou a essa homenagem à classe médica dedicando-lhe uma expressiva composição na primeira página. 
Em Portugal o Dia do Médico celebra-se a 18 de Junho, mas não me recordo de qualquer homenagem deste género, que bem merece aplauso.

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Mentira não vinga e Trump perde terreno

A vinte dias das eleições presidenciais americanas, o problema do covid-19 mostra-se cada vez mais determinante para o resultado final, pois o número de infectados nos Estados Unidos está a aumentar a um ritmo de mais de 50 mil novos casos por dia e o seu número total aproxima-se dos oito milhões. 
Nos últimos dias, a situação tem evoluído negativamente e nenhum dos cinquenta estados americanos registou uma diminuição de casos em relação à semana anterior, tendo havido 36 estados em que houve mesmo um aumento significativo, enquanto os outros 14 estados mantiveram alguma estabilidade. As taxas de internamento também têm aumentado e, habitualmente, isso significa que o número de óbitos também tende a aumentar. 
O presidente Donald Trump, que é candidato a novo mandato, foi infectado pelo covid-19 mas terá recuperado, tendo reiniciado a sua campanha eleitoral sem usar máscara sanitária e sem se preocupar com o distanciamento social, afirmando repetidamente que o vírus foi derrotado, o que é uma grave e irresponsável mentira.  Nas sondagens, Donald Trump continua a ter cerca de dez pontos abaixo de Joe Biden, quer no plano nacional, quer nos estados que contribuem com mais delegados para o colégio eleitoral. Aparentemente, Trump está a perder eleitores e a forma como se comporta relativamente à pandemia está a ser diariamente contrariada pela realidade. Donald Trump tem sido fortemente ridicularizado na imprensa internacional, enquanto o candidato Joe Biden tem recebido a simpatia de muitos mass media internacionais. A capa da última edição da revista francesa L’Express é elucidativa desse apoio (europeu) a Joe Biden e da rejeição do estilo grosseiro, arrogante e mentiroso de Donald Trump. 

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Rafael Nadal é o grande herói da Espanha

Rafael Nadal, o tenista espanhol natural da ilha de Mallorca que tem 34 anos de idade, cometeu ontem a proeza de vencer em Paris pela 13ª vez o famoso Torneio de Roland Garros que, com o Australian Open, o Torneio de Wimbledon e o US Open, constituem os quatros torneios do Grand Slam do ténis internacional. 
Com esta série de 13 vitórias conseguidas desde 2005, o tenista Rafael Nadal igualou o record de 20 vitórias em torneios do Grand Slam que agora passa a repartir com o suiço Roger Féderer que, com 39 anos de idade, ainda está em actividade. Este desempenho de Nadal no mesmo torneio não tem paralelo no mundo do ténis e toda a imprensa espanhola deu a notícia com natural euforia, publicando hoje a fotografia do campeoníssimo de Roland Garros que, de facto, conseguiu um feito desportivo notável. Essa fotografia de Nadal ajoelhado na terra batida de Roland Garros aparece em muitos países, incluindo jornais franceses, alemães, italianos, americanos, brasileiros, argentinos, mexicanos e outros.
O jornal Marca recorda todas as anteriores vitórias de Nadal e homenageia o tenista de Mallorca como o grande herói da Espanha, mas leva a sua euforia longe de mais ao escrever que “eres lo más grande que veremos jamás”. A proeza de Nadal orgulha a sociedade espanhola e porque ele tem manifestado grande apoio à unidade política da Espanha e, discretamente, tem condenado o separatismo catalão, não tardará a que a sua imagem seja aproveitada para reforçar a unidade espanhola e se torne cada vez mais uma bandeira da Espanha.

Os portugueses a brilhar no estrangeiro

Em tempos de recolhimento a que se sujeitam devido à situação pandémica que atravessam, os portugueses tiveram ontem um dia de grande euforia desportiva porque, através da televisão, puderam assistir a notáveis desempenhos de alguns dos seus atletas, pois no Giro de Itália brilharam dois ciclistas portugueses, no circuito de Le Mans destacou-se um motociclista português e no Stade de France, em Paris, tivemos a selecção de futebol a mostrar talento e a empatar com os actuais campeões do mundo. A vitória de Rúben Guerreiro na etapa de ontem do Giro de Itália em alta montanha e a camisola rosa que João Almeida veste há vários dias, são duas das maiores proezas do ciclismo português de sempre. O sexto lugar do motociclista Miguel Oliveira no GP França de MotoGP em Le Mans, que o mantém no nono lugar do Mundial de MotoGP, foi outro relevante acontecimento desportivo. Depois, à noite, os franceses não foram capazes de vingar a derrota que sofreram na final do Europeu de Futebol de 2016. 
O jornal A Bola utiliza a expressão À Campeão para elogiar este comportamento desportivo dos atletas portugueses. Por vezes avaliam-se e comparam-se o Portugal onde vivemos actualmente com o país dos tempos do Estado Novo, da guerra colonial, da intolerância política e do isolamento internacional. Comparam-se a liberdade política, os índices de educação e de saúde, o progresso económico e social, a modernidade cultural e outros indicadores, mas poucas vezes se destaca o enorme salto que os portugueses deram no desporto internacional, quando este se tornou um parâmetro para avaliar o prestígio dos países. Nesse campo o salto que foi dado nos últimos cinquenta anos foi gigantesco e Portugal projectou-se internacionalmente através de atletas como Carlos Lopes, Rosa Mota, Rui Costa, Fernando Pimenta e outros de grande nível internacional, para além de futebolistas como Luís Figo e Cristiano Ronaldo, ou seja, o desporto também fez com que passássemos a ser olhados de outra maneira no exterior. Só temos que aplaudir porque o êxito no desporto envolve muito trabalho e muita persistência.

sábado, 10 de outubro de 2020

O covid-19 infectou Trump e a Casa Branca

A mais recente edição da revista TIME ilustra a sua capa com uma ilustração que mostra uma espessa fumarada de covid-19 que sai das chaminés da Casa Branca, remetendo os seus leitores para as recentes notícias que davam conta que Donald Trump estava infectado por covid-19, assim como a sua mulher, alguns familiares e vários dos seus mais directos colaboradores. Donald Trump foi internado no Walter Reed National Military Medical Center mas muito rapidamente teve alta, embora vários médicos especialistas tivessem posto em causa essa alta apressada. Segundo revela a revista, o Donald pressionou e persuadiu a equipa médica para ter alta rapidamente e poder aparecer, como de facto apareceu, à varanda da Casa Branca, para mostrar ao eleitorado americano que venceu o vírus. A sua equipa política tratou de reclamar mais uma vitória para o Donald, depois daquela que obteve recentemente quando os Democratas procuraram impor-lhe um impeachment. Entretanto a sua campanha eleitoral tratou de pôr à venda moedas de 100 dólares com a frase Trump defeats covid. A ideia de se mostrar como um homem providencial tem sido a obsessão do Donald que, segundo afirma a revista, jamais suportaria aparecer em público como um homem velho, doente e vulnerável, ou como um simples mortal feito de carne como todos nós e, por isso, ironizava com os cuidados de saúde e com o uso de máscaras, que têm sido bandeiras usadas contra o seu concorrente presidencial Joe Biden. Muitas vezes, o Donald pareceu desafiar o vírus para que o infectasse, sacrificando inclusivamente as pessoas que o rodeavam, só para que não parecesse um homem fraco. Escreve a TIME que há mais casos de covid-19 ligados ao surto que contaminou a Casa Branca, do que os que foram relatados na passada semana na Nova Zelândia. Porém, o que impressiona é que a revista semanal que tem a maior circulação do mundo, que tem cerca de 20 milhões de leitores só nos Estados Unidos e que se imaginaria alinhada com os Republicanos, tenha dado este valente murro no estômago do Donald.

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Nos 110 anos da implantação da República

Perfazem-se hoje 110 anos sobre a data em que foi proclamada a República em Portugal e essa data foi celebrada com a participação do Presidente da República e outros dignitários, com guardas de honra e com discursos, mas sem a participação popular, o que parece ignorar que o êxito da revolução de 5 de Outubro de 1910 se ficou a dever em larga medida à participação popular. A situação pandémica que estamos a atravessar complicou a situação e terá desmobilizado essa participação popular, enquanto a cerimónia oficial contou apenas com 14 convidados. 
O ideal republicano tinha raízes nas proclamações doutrinárias da Revolução Francesa de 1789 – liberdade, igualdade e fraternidade – o que significava um governo do povo para o povo, a liberdade económica e uma justiça verdadeiramente democrática, tendo como pano de fundo a ideia do ressurgimento da pátria portuguesa, bem expressa na marcha que foi adoptada como hino nacional, que classificava os portugueses como o “nobre povo” e a “nação valente e imortal”, apelando a que se levantasse hoje de novo o esplendor de Portugal. Nos seus 110 anos de vida, o modelo republicano português foi adaptado e ajustado constitucionalmente, adoptou diferentes ideologias e deu origem a diversos regimes democráticos e não democráticos, mas a forma republicana da organização do poder político adquirida depois de 1910 tem sido inquestionável e é um importante património para o povo português. 
Hoje, lamentavelmente, nenhum jornal português destacou esta efeméride nas primeiras páginas das suas edições. Apesar dessa indiferença há muita gente que vive com o ideal republicano e que hoje grita: Viva a República!

domingo, 4 de outubro de 2020

Chissano e a guerra em Cabo Delgado

Por razões históricas, muitos portugueses conheceram a orla costeira da província moçambicana de Cabo Delgado desde o início do século XVI, quando as naus da carreira da Índia escalavam ou invernavam na ilha de Moçambique, tendo-se estendido até 1975, quando a República Popular de Moçambique se tornou independente. Por isso, por razões históricas e emocionais, o que se passa em Cabo Delgado interessa a muitos portugueses que por lá passaram, como é o nosso caso.  A região é muito rica em recursos naturais e tem abundantes reservas de gás natural, mas está pouco desenvolvida, enquanto uma parte da sua população é fortemente islamizada. A cidade de Maputo, que é a capital, encontra-se a quase dois mil quilómetros e a população tem dificuldade em apoiar um poder político tão distante e tão ausente, para além de sentir que o seu empenhamento na luta armada de libertação nacional continua a não ser reconhecido. Por tudo isso parece haver muito descontentamento em Cabo Delgado. 
Em Outubro de 2017 grupos armados não identificados atacaram a vila costeira de Mocímboa da Praia, registando-se desde então um crescente número de assaltos a povoações que já causaram mais de um milhar de mortos e que levou a que mais de cem mil pessoas abandonassem as suas aldeias e procurassem refúgio em áreas mais seguras. As forças de defesa moçambicana e, eventualmente, grupos de mercenários contratados pelo governo não têm tido sucesso e a situação parece agravar-se. Trata-se de uma insurreição ou de uma guerra? Que apoios nacionais ou internacionais têm os insurgentes? Será uma tentativa para criar um estado islâmico no norte de Moçambique? Que relação tem esta guerra com a exploração do gás natural? 
É neste contexto que, numa sábia entrevista ao jornal O País, o antigo presidente moçambicano Joaquim Chissano veio dizer que “é preciso aprofundar as causas da guerra em Cabo Delgado”. Exactamente.

sábado, 3 de outubro de 2020

Trump brincou com o fogo e chamuscou-se

Passadas 24 horas sobre a declaração de Donald Trump de que estava infectado por covid-19, o assunto tornou-se tema de primeira página da imprensa mundial, mas não deixa de ser intrigante o facto dos jornais de referência americanos não terem divulgado ontem esta notícia, certamente porque duvidavam dela. Hoje, a questão parece mais clara, até porque Trump foi hospitalizado e começam a traçar-se cenários para o que possa acontecer até ao dia das eleições de 3 de Novembro. Joe Biden, o adversário de Trump fez uma elegante declaração a desejar a recuperação do Donald e da Melania e a alertar a sociedade americana para os riscos que corre por não cumprir os preceitos mínimos para evitar o contágio pelo covid-19.  
Algumas das notícias publicadas acentuam o desleixo e a fanfarronice do Donald e recordam as suas declarações erráticas sobre a crise pandémica. Um desses jornais é o britânico The Independent que reproduz em primeira página três das suas mais recentes declarações:

21 Setembro - It affects virtually nobody. It’s an amazing thing.

29 Setembro - I don’t wear a mask like him [Biden]. Every time you see him, he’s got a mask.

2 Outubro - Tonight… I tested positive for Covid-19

Significa, portanto, que Donald Trump brincou com o fogo e chamuscou-se. Porém, no aspecto político e em relaçâo à campanha eleitoral, ainda é cedo para saber como vai reagir o eleitorado americano, embora estejam preparadas estratégias para que o Donald tire partido da situação. Uma delas poderá ser a sua recuperação e outra poderá ser o aparecimento de uma milagrosa vacina, que tantas vezes anunciou para proteger do covid-19. Como alguém já disse, esta situação é apenas mais uma que mostra bem o declínio da América.

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Donald Trump tem ou não tem covid-19?

A notícia de que Donald Trump e a sua mulher Melania estavam infectados por covid-19 não surpreendeu, embora possa não ser verdadeira. O fanfarrão é um mentiroso incorrigível e tem desafiado o bom senso em palavras e em comportamentos, não só quando sugeriu que se injectasse desinfectante para tratar o covid-19, mas também quando aparece em público sem máscara e critica jocosamente aqueles que a usam. Durante meses, o Donald desvalorizou a gravidade da pandemia que já matou mais de duzentas mil pessoas nos Estados Unidos e participou em comícios em que não foi respeitado o uso de máscara, nem o distanciamento social. Nas últimas semanas, em plena campanha eleitoral, tem dito que “a pandemia está próxima do fim” e que uma vacina está mesmo a chegar. Os efeitos desta notícia – que relata um facto verdadeiro ou não – são imprevisíveis. O mundo comunicacional e a esfera mediática estão altamente contagiados por fake news e há muita gente a duvidar da veracidade desta notícia. Hoje o New York Post e alguns outros jornais noticiam a infecção do Donald mas, surpreendentemente, as edições de hoje dos jornais The Washington Post, The Wall Street Journal e The New York Times não a referem, o que só pode significar que não acreditam ou que querem ter prova mais firme da sua veracidade. Em plena campanha eleitoral e a correr sérios riscos de não ser reeleito, este anúncio de Donald Trump gera muita desconfiança e tem boas probabilidades de ser mais uma das suas mentiras difundidas pela rede social Twitter. No entanto, há que esperar para saber o que diz a imprensa americana nos próximos dias. Ou será que o Donald e a Melania estão a encenar esta infecção para depois serem curados pela vacina que ele prometeu que iria aparecer antes de 3 de Novembro?