Por razões
históricas, muitos portugueses conheceram a orla costeira da província
moçambicana de Cabo Delgado desde o início do século XVI, quando as naus da
carreira da Índia escalavam ou invernavam na ilha de Moçambique, tendo-se
estendido até 1975, quando a República Popular de Moçambique se tornou
independente. Por isso, por razões históricas e emocionais, o que se passa em
Cabo Delgado interessa a muitos portugueses que por lá passaram, como é o nosso
caso. A região é muito rica
em recursos naturais e tem abundantes reservas de gás natural, mas está pouco desenvolvida,
enquanto uma parte da sua população é fortemente islamizada. A cidade de Maputo,
que é a capital, encontra-se a quase dois mil quilómetros e a população tem
dificuldade em apoiar um poder político tão distante e tão ausente, para além
de sentir que o seu empenhamento na luta armada de libertação nacional continua a não ser reconhecido. Por tudo isso parece haver muito descontentamento em Cabo Delgado.
Em Outubro de
2017 grupos armados não identificados atacaram a vila costeira de Mocímboa da
Praia, registando-se desde então um crescente número de assaltos a povoações
que já causaram mais de um milhar de mortos e que levou a que mais de cem mil
pessoas abandonassem as suas aldeias e procurassem refúgio em áreas mais seguras.
As forças de defesa moçambicana e, eventualmente, grupos de mercenários
contratados pelo governo não têm tido sucesso e a situação parece agravar-se. Trata-se de uma
insurreição ou de uma guerra? Que apoios nacionais ou internacionais têm os
insurgentes? Será uma tentativa para criar um estado islâmico no norte de
Moçambique? Que relação tem esta guerra com a exploração do gás natural?
É neste contexto
que, numa sábia entrevista ao jornal O País, o antigo presidente moçambicano
Joaquim Chissano veio dizer que “é preciso aprofundar as causas da guerra em
Cabo Delgado”. Exactamente.
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