quarta-feira, 30 de junho de 2021

Princesa brasileira, Rainha de Portugal

A exposição que está patente na Galeria do Rei D. Luís do Palácio Nacional da Ajuda com o título D. Maria II. De princesa brasileira a rainha de Portugal. 1819-1853, é um acontecimento cultural relevante, não só por representar a retoma das grandes iniciativas culturais a que a cidade de Lisboa já nos habituara e que a crise pandémica suspendera desde há muitos meses, mas também pela grande qualidade expositiva e diversidade de conteúdos.
A exposição celebra o 200º aniversário do nascimento da rainha D. Maria II e foi organizada pelo Museu da Presidência da República (MPR) e pelo Palácio Nacional da Ajuda (PNA), apresentando várias centenas de peças e documentos provenientes de diversos museus, autarquias e coleccionadores privados, bem como do Governo Regional dos Açores, muitas das quais foram restauradas para esta exposição. De entre as obras que ficarão em exposição até ao dia 29 de setembro, destacam-se várias joias pessoais de D. Maria II e a Coroa Real Portuguesa que há mais de duas décadas não era exposta ao público, bem como a bandeira utilizada pelas forças liberais na ilha Terceira, que fora bordada pela própria princesa Maria da Glória.
A exposição evoca a vida e o reinado da rainha que nasceu no Brasil em 1819, que era filha de D. Pedro IV e da imperatriz Leopoldina, mas que veio a falecer precocemente em 1853, durante o parto do seu 11º filho. Dois dos seus filhos - D. Pedro V e D. Luís - foram reis de Portugal.  No seu reinado, que iniciou em 1834 com 15 anos de idade, o país passou do absolutismo ao constitucionalismo e, apesar de ser um período de grande instabilidade que se seguiu à guerra civil, abriu as portas a grandes transformações sociais, económicas e culturais.
Um excelente catálogo apoia a belíssima exposição que, naturalmente, se recomenda que seja visitada, pela sua qualidade pedagógica, documental e estética.

terça-feira, 29 de junho de 2021

Marcelo foi contagiado pela futebolite

O jornal Tal & Qual foi fundado em 1980 e teve grande sucesso editorial, mas em 2007 cessou a sua publicação. Porém, cerca de catorze anos depois, voltou às bancas como semanário de informação geral e é um regresso que se saúda.
Na sua última edição o jornal escolheu para manchete “Marcelo anda a pôr Belém num virote”, mas o assunto não me interessou porque não tenho nenhuma curiosidade em saber a forma como o venerando Chefe do Estado faz a gestão da sua residência oficial.
Entretanto, vieram os dias do Euro 2020, com a comunicação social a infectar a sociedade portuguesa de uma forma absolutamente desproporcionada e a deixar no espírito dos mais distraídos a ideia de que o futebol era a coisa mais importante das nossas vidas. Com o entusiasmo fora dos limites, não só o Presidente da Assembleia da República perdeu a cabeça, como o próprio Presidente da República veio dar razão ao Tal & Qual, ao pôr o país num virote, pois alinhou no generalizado desvario que se abateu sobre o país, fazendo ao mesmo tempo de comentador, de adepto e de seleccionador. Foi um absoluto exagero, estudado e preparado, sempre com os microfones e as câmaras à vista, como ele tanto gosta. Naturalmente, decidiu assistir ao jogo Portugal-Bélgica, mas não escolheu o recato da sua casa, mas preferiu um restaurante com os inevitáveis microfones à volta. No dia seguinte, tomou a decisão de ir esperar os jogadores que, por acaso tiveram a pior prestação de sempre naquela competição. Mais um exagero. O jornal O Jogo escreveu que “Marcelo decidiu dar colo à selecção”, mas mais nenhum jornal ligou à inapropriada presença de Marcelo Rebelo de Sousa, que foi dizer que éramos tão bons como o campeão do mundo, que éramos melhores que o número um do ranking mundial, que jogámos mais do que eles e que a luta continua. Foi demasiado colo. É demasiado populismo. É bom que o Presidente da República seja inteligente, culto, cosmopolita e democrata, mas estes exageros não são nada recomendáveis.

segunda-feira, 28 de junho de 2021

Há muito mais vida para além do futebol

A equipa portuguesa jogou ontem em Sevilha e perdeu com a selecção belga por 1-0, pelo que foi eliminada do Euro 2020. “O único momento de inspiração da Bélgica bastou para afastar Portugal”, escreveu o jornal Público como manchete de primeira página, ilustrada com uma fotografia de um Cristiano Ronaldo derrotado. Segundo rezam as crónicas, “o apuramento bateu no poste” e houve “falta de pontaria”, mas a equipa bateu-se bem, atacou muito e merecia ganhar. Os belgas foram eficazes e fizeram um só remate que lhes bastou para averbar a vitória. Foi uma enorme desilusão para os portugueses, depois de uma intensa campanha conduzida pela comunicação social e pelos seus estagiários, bem como por algumas personalidades da nossa vida política, com destaque para o Presidente da República que, qual venerando Chefe do Estado, se tornou um fervoroso adepto e um entusiasmado comentador. Todos eles fizeram do futebol a coisa mais importante das nossas vidas e isso não é verdade. A desilusão geral que se abateu sobre o país também é uma consequência da insistência com que nos fazem crer que somos os melhores do mundo e de não nos prepararem para outro resultado.
Os jogadores fizeram o que puderam enquanto profissionais muito bem remunerados, ou obscenamente pagos, mas também ficaram tristes, porque o resultado poderia ter sido outro. Porém, hoje o país acordou com os mesmos 92.212 quilómetros quadrados de superfície, a nossa dívida pública não se alterou, a taxa de desemprego também não baixou e o índice de transmissibilidade do covid-19 podia estar melhor.  
Há que seguir em frente porque há muito mais vida para além do futebol, como diria o saudoso Presidente Jorge Sampaio, que era um genuíno adepto de futebol, mas que não era comentador.

domingo, 27 de junho de 2021

A América cultiva a rapidez da Justiça

No dia 25 de Maio de 2020 na cidade de Minneapolis do estado do Minnesota, um polícia chamado Derek Chauvin deteve um indivíduo suspeito de qualquer coisa chamado George Floyd e aplicou-lhe uma técnica de imobilização que consiste em deitar o suspeito de bruços, ajoelhar junto dele e pressionar o seu pescoço com o joelho. Chauvin pressionou o pescoço de Floyd durante mais de oito minutos, Floyd gritou vinte vezes que não conseguia respirar, alguns polícias assistiram sem intervir e diversos transeuntes filmaram aquela cena. George Floyd não resistiu. As imagens desta ocorrência foram largamente difundidas pelas televisões e desencadearam protestos antiracistas e manifestações contra a violência e o abuso policiais em muitas cidades americanas, mas também tiveram muitas solidariedades, incluindo nos estádios de futebol europeus.
No dia 25 de Junho de 2021, um ano e meio depois da ocorrência de Minneapolis, o julgamento do caso ficou concluído e a sentença foi lida. Os americanos esperavam ansiosamente pela sentença e o ex-polícia Derek Chauvin foi condenado a 22 anos e seis meses de prisão pelo homicídio do afro-americano George Floyd.
A sentença foi recebida com algum alívio pela comunidade negra americana e pelas organizações de defesa dos direitos civis, pois a condenação de um polícia branco pela morte de um afro-americano é uma raridade na justiça americana, enquanto a imprensa americana deu alargada cobertura à notícia.
A Justiça americana foi rápida como convém à boa ordem social.

sexta-feira, 25 de junho de 2021

A tensão à volta do caso da Crimeia

Perante a grave crise que atravessava, em 1985 o Partido Comunista da URSS elegeu Mikhail Gorbachev para seu secretário-geral, encarregando-o de promover as reformas necessárias para salvar o regime instituído depois de 1917. Daí nasceu a perestroika que veio dar origem ao desmembramento do estado soviético e à independência de várias das suas repúblicas, entre as quais a Ucrânia que se tornou independente em 1991. A influência russa era enorme na Ucrânia porque cerca de 20% da sua população é de origem russa e, além disso, uma parte do arsenal nuclear soviético estava em território ucraniano, pelo que foram feitos acordos, nomeadamente de âmbito militar, entre a nova Federação Russa e a Ucrânia independente.
Porém, vieram a surgir problemas políticos internos resultantes da diversidade cultural do país e do alinhamento internacional que procurava, com os ucranianos divididos entre a aproximação à União Europeia e a fidelidade à Federação Russa. Esses problemas acentuaram-se e em 2014, houve um movimento insurrecional em várias regiões do país e a população russa da península da Crimeia, com o apoio militar russo, ocupou muitos edifícios públicos e rejeitou a governação ucraniana de Kiev. Foi então realizado um referendo local, considerado ilegal, que aprovou a chamada “reunificação com a Rússia”, mas as Nações Unidas e a comunidade internacional não aceitam a ocupação da Crimeia e consideram-na um território ucraniano sob ocupação russa.
A península da Crimeia tem cerca de 26 mil km2 de superfície, cerca de dois milhões de habitantes dos quais cerca de 60% são de etnia russa e tem uma posição estratégica importante no Mar Negro, pois acomoda a base naval russa de Sebastopol.
Esta semana, o destroyer inglês HMS Defender, em trânsito de rotina de Odesa para a Geórgia, terá entrado nas águas territoriais da Crimeia junto do cabo Fiolent e um navio-patrulha russo terá feitos tiros de advertência, enquanto um avião de combate Su-24M terá lançado bombas na proa do navio inglês. A imprensa inglesa deu grande destaque a este caso como se fosse uma guerra e avisou Putin de que “não vai parar os nossos navios”, mas os russos também não querem navios ingleses por lá. No entanto, ainda está por esclarecer o que realmente se passou. 

quinta-feira, 24 de junho de 2021

A nossa superestrela é Cristiano Ronaldo

Cristiano Ronaldo marcou ontem dois golos à França e, para além do empate que garante uma presença (sofrida) da equipa portuguesa nos oitavos de final do Euro2020, o jogador atingiu a marca de 109 golos ao serviço da selecção portuguesa, o que iguala o máximo mundial de golos marcados ao serviço de uma selecção nacional, que pertencia ao iraniano Ali Daei.
Naturalmente, a comunicação social portuguesa destacou este acontecimento e Ronaldo merece-o.
Porém, tem sido um exagero o exibicionismo novo-riquista, ridículo, suburbano e desproporcionado da comunicação social portuguesa, que tem andado atrás dos jogadores por Budapeste e por Munique, enchendo-nos de futebol, de ronaldices e de imensas banalidades. Alguns títulos reflectem a ronaldomania que tomou conta da nossa imprensa, como por exemplo CR109, Ronaldo é Deus ou Ronaldo dispensa calculadora. É um entusiasmo que não é espontâneo e que resulta em alto grau de um estímulo criado pelas capas dos jornais, pelas intermináveis horas de televisão que nos são servidas e por um merchandising que explora o entusiasmo popular.
Porém, os golos que ontem foram marcados por Cristiano Ronaldo, tiveram repercussão no estrangeiro e, por exemplo, os grandes jornais desportivos italianos como La Gazzetta dello Sport (Milão), o Corrierre dello Sport (Roma) e o TuttoSport (Turim), trataram de internacionalizar os 109 golos de Ronaldo. Nestas circunstâncias, embora criticando muito do que é escrito e dito na nossa comunicação social que muitas vezes esquece que uma equipa de futebol tem onze jogadores, eventualmente dez estrelas e uma superestrela, não podemos deixar de aplaudir e enaltecer os feitos futebolísticos de Ronaldo e da sua destacada presença nas capas dos maiores jornais desportivos italianos.

terça-feira, 22 de junho de 2021

Sánchez enfrenta o desafio da Catalunha

A política espanhola está a passar por momento de tensão devido à intenção do governo de Pedro Sánchez de decretar o indulto a nove líderes independentistas catalães condenados a penas de prisão no âmbito d’el procés, ou seja, a sua luta pela independência da Catalunha. O tema divide a Espanha, pois o indulto é um acto de clemência mais profundo do que a amnistia, ao extinguir o procedimento criminal e a própria pena. Assim, enquanto a Direita acusa Sánchez de claudicar perante as exigências dos separatistas catalães, a Esquerda aposta na abertura de um diálogo que pacifique a política catalã e reforce a unidade espanhola. Porém, os dirigentes catalães exilados, entre os quais se encontram três eurodeputados, reclamam não só o indulto, mas também o seu regresso em liberdade e a realização de um referendo sobre o futuro da Catalunha.
Pedro Sánchez anunciou a sua proposta num cenário enquadrado pelas bandeiras da Espanha e da Catalunha e essa imagem foi publicada não só na imprensa espanhola, mas até no Financial Times, a mostrar o interesse com que foi seguida a apresentação de “un nuevo proyecto de país com los independentistas”.
Os graves acontecimentos do Outono de 2017 na região da Catalunha têm sido objecto de intensa discussão jurídica pois foram analisados à luz de um Código Penal obsoleto, que todos querem que seja revisto. Porém, não se tratou apenas do comportamento ilegal e do exílio de alguns dirigentes catalães, com destaque para Carles Puigdemont, porque outros acontecimentos levaram à abertura de dezenas de processos judiciais contra altos cargos administrativos da Generalitat de Catalunya, não só por sedição, mas também por uso indevido de fundos públicos e desfalques por ocasião do referendo ilegal de 1 de Outubro de 2017.
Não é nada fácil o desafio de Pedro Sánchez.

domingo, 20 de junho de 2021

O Brasil já ultrapassa os 500 mil óbitos

O Brasil atingiu 500 mil mortes por covid-19 e, segundo titula hoje o jornal O Estado de S. Paulo, não há fim à vista para esta tragédia, pois tanto o número de óbitos como o número de novos casos não param de aumentar. O Brasil já é o segundo país do mundo com mais óbitos e nos últimos dias esse número tem estado acima de dois mil. A situação é muito preocupante e a população tem-se manifestado contra Jair Bolsonaro pela incapacidade e incompetência com que tem conduzido a luta contra a pandemia, enquanto Lula da Silva, o ex-presidente e virtual candidato à presidência, fala em genocídio.
Entretanto Bolsonaro não comentou a tragédia nacional que são 500 mil mortes e preferiu fazer um balanço dos seus primeiros 900 dias de governo, num documento de propaganda irresponsável que foi intitulado “900 dias: nos trilhos da preservação de vidas e da retomada da economia”, em que se afirma que mais de 110 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 foram enviadas para todos os estados brasileiros, “o que coloca o país em quarto lugar no ranking mundial de países que mais vacinas aplicam”. Trata-se de uma descarada deturpação da realidade pois o Brasil está em 78º lugar mundial no que respeita à população já vacinada, além de estar em 2º lugar no número de mortes. O que se lamenta é a forma despudorada como os políticos do estilo Bolsonaro actuam na base da propaganda mentirosa e da irresponsabilidade política. 
Os brasileiros merecem um presidente à altura do desafio que o país atravessa. As manifestações apontam para que seja posto na rua em 2022, mas ainda falta tanto tempo...

sábado, 19 de junho de 2021

Guterres é mesmo o melhor de todos nós

António Guterres foi reeleito por unanimidade para um novo mandato como Secretário-Geral das Nações Unidas e esse facto é relevante, não só porque significa que a comunidade mundial apreciou o seu primeiro mandato, mas também porque a unanimidade não parece ser a norma habitual daquela instituição.
Quando em 2016 foi eleito pela primeira vez para aquele cargo, de entre os elogios que recebeu de todos os sectores da sociedade portuguesa, destacou-se aquele que lhe fez Marcelo Rebelo de Sousa ao referir-se-lhe como “o melhor de todos nós”. Tinha razão, o que nem sempre acontece quando começa a dar opinião sobre tudo o que deve e que não deve. Cinco anos depois, Guterres continua a ser o português de que todos nos orgulhamos, pelo prestígio internacional que cimentou, pelo equilíbrio das suas atitudes e pela sensatez das suas posições.
Quando procuramos ilustrar este texto com a imagem de um jornal, verificamos que a imprensa internacional nem sequer deu notícia desta eleição, tal como a própria imprensa portuguesa, de que apenas o jornal Público fez uma pequena referência de primeira página, enquanto os futebolistas que hoje jogam em Munique mereceram todo o destaque. São os sinais dos tempos, em que somos anestesiados continuamente por aquilo que os mass media entendem ser importante, o que nos obriga a um enorme esforço para distinguir o trigo do joio.
Embora na pequenez que é a dimensão deste blogue aqui fica o nosso vivo aplauso pela reeleição de António Manuel de Oliveira Guterres como Secretário-Geral das Nações Unidas.

quinta-feira, 17 de junho de 2021

A cimeira Biden-Putin e um novo diálogo

O encontro de ontem entre Joe Biden e Vladimir Putin foi um dos mais importantes acontecimentos políticos dos últimos anos, porque os Estados Unidos e a Rússia são as duas maiores potências nucleares do nosso planeta, tendo os grandes jornais internacionais publicado a fotografia dos dois líderes. O encontro Biden-Putin realizado na biblioteca da Vila La Grange, em Genebra, foi muito positivo porque permitiu reabrir o diálogo entre as duas superpotências, mas também porque contribuiu para dissuadir os ambientes de desconfiança e de tensão que se tinham acumulado nos últimos meses.
Segundo a imprensa mundial revelou, o encontro durou cerca de três horas e o diálogo foi construtivo e positivo, embora não tivesse quaisquer resultados espectaculares, mas os dois líderes mostraram “vontade de se entenderem”. De resto, como foi acentuado por ambos, cada um deles disse representar os interesses dos seus países e muitos desses interesses não são coincidentes. Joe Biden disse mesmo que a sua agenda “não é contra a Rússia, mas que é pelo povo americano”.
A imprensa refere que durante a reunião foram tratados o problema dos direitos humanos, em particular a prisão do líder oposicionista russo Alexei Navalny, tal como as questões da cibersegurança.
Uma das poucas medidas concretas da cimeira foi a decisão de voltar a enviar para os seus postos o embaixador americano em Moscovo e o embaixador russo em Washington, o que é um bom sinal de desanuviamento.

sábado, 12 de junho de 2021

Jorge Fonseca, um judoca grande campeão

Estamos a atravessar um período em que a crispação política nacional está a aumentar pela conjugação do cansaço de quem governa e de quem espera vir a governar, mas também dos efeitos acumulados da pandemia e, naturalmente, pela aproximação das eleições autárquicas. Tudo está a servir para que muitos políticos apareçam nas televisões a marcar espaços e a mostrar que existem, muitas vezes ultrapassando as regras do bom senso e tornando-se demasiado ridículos. 
Começa a ser insuportável ver e ouvir esta gente que tudo critica e tudo reivindica, esquecendo-se que as necessidades são ilimitadas, mas que os recursos são escassos.
No meio deste clima de crispação, vão aparecendo os resultados de alguns atletas que mercê do seu trabalho e da sua dedicação se destacam no panorama internacional, em diversas modalidades desportivas. Assim aconteceu ontem com Jorge Fonseca que conquistou a segunda medalha de ouro da sua carreira e se tornou bicampeão mundial de judo na categoria de menos de cem quilos, depois de vencer cinco combates e todos por ippon. Não é habitual que os atletas portugueses consigam estes resultados e, por isso, a nossa satisfação tem que aqui ficar expressa. Curiosamente, o jornal A Bola homenageou Jorge Fonseca com grande e merecido destaque de primeira página, embora tivesse escolhido a palavra Monstruoso que não é feliz, pois significa extraordinário, mas também pode significar horroroso. Já o jornal O Jogo escolheu o título show Jorge que “ganhou cinco combates em nove minutos e meio”. Porém houve jornais, como o Público, que nem sequer falaram de Jorge Fonseca na primeira página, preferindo escolher banalidades como aliás fazem demasiadas vezes.

sexta-feira, 11 de junho de 2021

Cristiano Ronaldo é o verdadeiro Mr. Euro

A televisão tornou o futebol num bom exemplo da aldeia global, mostrando os treinadores e os jogadores a circular por diferentes países, o que vem fazendo das grandes equipas de futebol umas verdadeiras multinacionais. O mundo dos negócios do futebol e o espectáculo futebolístico deixaram de ter fronteiras. Por isso, o EURO 2020, que hoje se inicia em Roma, é uma competição que interessa aos entusiastas do futebol de todo o mundo e, em especial, na Europa e na América Latina, sendo objecto de notícia em muitos orgãos da comunicação social. A prova disso está, por exemplo, na edição de ontem do jornal desportivo mexicano Récord.
O jornal dedica toda a sua primeira página ao Mr. Euro, que é Cristiano Ronaldo e, com grande destaque, escreve:

CRISTIANO RONALDO se hará leyenda máxima del torneo de selecciones del Viejo Continente: se convertirá en el ÚNICO futbolista en jugar CINCO Eurocopas, está a un GOL del récord absoluto y va por la marca de más JUEGOS. Será HISTÓRICO en el Grupo de la Muerte ante Francia y Alemania.

Este destaque de um jornal mexicano não admira, pois Cristiano Ronaldo é realmente uma figura mundial do futebol. Desde 2002, tornou-se campeão na Inglaterra, na Espanha e na Itália, participou em dez grandes torneios – quatro Europeus, quatro Mundiais, uma Taça das Confederações e uma Liga das Nações. Ganhou a Liga dos Campeões por cinco vezes pelo Manchester United e pelo Real Madrid. Pela selecção portuguesa foi campeão da Europa em 2016 e é o seu maior goleador, tendo marcado 103 golos em 173 jogos. Ronaldo está com 36 anos de idade e parece que essa idade já é um bocado avançada para jogar futebol. Veremos. Porém, o que aqui se assinala é a homenagem que o jornal mexicano Récord presta ao Cristiano Ronaldo, ou ao Mister Euro!

A festa do EURO 2020 começa em Roma

O Campeonato da Europa de Futebol de 2020 ou 2020 UEFA European Football Championship, que foi adiado devido à pandemia, vai começar hoje e irá decorrer até ao dia 11 de Julho. Hoje, muitos jornais europeus assinalam o arranque deste UEFA EURO 2020 (ou 2021), destacando-se o jornal Le Parisien que, em vez de incitar os jogadores a ganhar como faz quase toda a imprensa, trata de dedicar a sua capa à festa. Simplesmente à festa. É isso mesmo, que la fête commence!
Visto nessa perspectiva, por certo que a competição vai ser mais interessante e que nos vai ajudar a recuperar dos traumas culturais que a pandemia nos trouxe.
São 24 equipas nacionais, 31 dias de competição e 51 jogos a disputar em 11 cidades – Amesterdão, Baku, Bucareste, Budapeste, Copenhaga, Glasgow, Munique, São Petersburgo, Sevilha, além de Roma, onde hoje começa o torneio com o jogo Itália-Turquia, e de Londres, onde terminará o campeonato. Em todos os estádios serão permitidos adeptos, embora com as suas lotações mais reduzidas do que o habitual.
Nestas alturas, muitos revelam as suas ambições e a sua confiança num bom resultado. Há os favoritos do costume. E a equipa portuguesa também faz parte desse grupo. Então, que esteja à altura das circunstâncias e que, para alegria de todos os portugueses, possa revalidar o seu título de Campeão da Europa que ganhou numa final em Paris em 2016.
As televisões irão transmitir muitos jogos e espera-se que tenhamos bons espectáculos para nos ajudarem a vencer a situação pandémica que ainda atravessamos e, se possível, com o espírito de festa que interessa nestas coisas.

terça-feira, 8 de junho de 2021

Perder no futebol não é drama nenhum

A selecção nacional de futebol participou no passado domingo na final da UEFA European Under-21 Championship e, se tivesse ganho, esse facto seria certamente aqui salientado. Porém, foi a equipa alemã que ganhou por 1-0, mas o comportamento dos jovens futebolistas portugueses merece ser salientado porque são talentosos, lutaram com entusiasmo e deles se poderá dizer que aquilo é que é jogar futebol.
Na fase preliminar ultrapassaram a Holanda, a Noruega, a Bielorússia, o Chipre e Gibraltar e, na fase final, derrotaram a Croácia, a Suiça e a Inglaterra. Depois veio a Itália e a seguir a Espanha. Portugal ganhou o direito a estar na final e bateu-se muito bem, mas não conseguiu vencer a poderosa Alemanha. Foi a terceira vez que a selecção portuguesa perdeu uma final destas, depois de já ter perdido essa mesma final em 1994 para a Itália e em 2015 para a Suécia. O jornal O Jogo chamou a estas três derrotas a dramática trilogia, mas não é caso para considerar que estas derrotas sejam dramáticas. De forma nenhuma. Até aconteceu que a UEFA escolheu um português como o melhor jogador do campeonato (Fábio Vieira), um golo português - por acaso em pontapé de bicicleta - como o melhor do campeonato (Dany Mota) e colocou cinco portugueses na equipa europeia ideal do torneio (Diogo Costa, Diogo Queirós, Fábio Vieira, Vitinha e Dany Mota). Já lá vai o tempo em que perdíamos sempre e que só tínhamos vitórias morais. Agora é bem diferente e até ganhamos algumas vezes, como aconteceu em Paris em 2016 quando o improvável Éder marcou um golo à França, mas não é drama nenhum quando se perde uma final futebolística. É apenas triste.

segunda-feira, 7 de junho de 2021

As comemorações do D-Day na Normandia

O jornal The Times tal como outros jornais ingleses e americanos, destaca na sua edição de hoje as comemorações do 77º aniversário do desembarque na Normandia, que a História consagrou como o Dia D, relatando os vários eventos realizados em homenagem aos 160 mil soldados americanos, ingleses e canadianos que participaram na Operação Overlord ou no dia mais longo. A operação também envolveu mais de cinco mil navios e onze mil aeronaves que, sob o comando do general Dwight Eisenhower, iniciaram a libertação da França. A operação decorreu ao longo de cerca de oitenta quilómetros da costa fortemente fortificada da Normandia e foi um grande sucesso que marcou o definitivo recuo das tropas nazis.
Os eventos comemorativos são sempre muito diversos e incluem visitas a memoriais e cemitérios, bem como desfiles e reconstituições da batalha, sendo promovidos pelas autarquias da região e por associações de antigos combatentes. Porém, a lei da vida faz com que sejam cada vez menos os antigos combatentes que participam nestas homenagens e as restrições impostas pela pandemia reforçam essas circunstâncias, embora as comemorações do D-Day continuem a ser uma grande acontecimento para o turismo da região.
O jornal também destaca nesta sua edição o caos que se verificou ontem nos aeroportos portugueses, em especial no Algarve, com milhares de turistas apressados a abandonar o país, devido às decisões britânicas de retirar Portugal da lista verde ou do corredor aéreo de viagens. Assim, a partir de amanhã, os turistas ingleses passam a ficar obrigados a quarentena quando regressam ao seu país e, por isso, uns fugiram e outros cancelaram as suas reservas. Foi um duro soco no estômago do sector turístico nacional e, segundo parece, foi apenas uma intervenção de política económica e deveu-se apenas à necessidade britânica de intervir no reequilíbrio da sua balança comercial.

sábado, 5 de junho de 2021

A defesa da língua e da cultura portuguesa

Parece que há portugueses espalhados por todo o mundo e que são respeitados e influentes nos países de acolhimento. De uma forma geral, eles mantém laços fortes com o solo pátrio ou com a terra natal, conservando muitas das suas tradições culturais através das festividades e das práticas religiosas, do convívio gastronómico, da paixão pelo futebol e do culto da saudade. Nas suas casas haverá uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, come-se bacalhau e presunto, ouve-se o fado e vivem-se intensamente as transmissões dos jogos da selecção portuguesa de futebol.
Porém, estamos cada vez mais na aldeia global. É um tempo em que há uma segunda geração de portugueses na diáspora que se insere mais intensamente nas comunidades de acolhimento e que adopta os seus comportamentos culturais. É também um tempo que a informação escrita tende a ser substituída pela informação televisiva e digital, havendo um enorme risco dessa geração perder as suas referências culturais lusitanas, sobrando-lhes pouco mais que um apelido de origem portuguesa como Silva, Santos ou Costa. Apesar disso, ou por isso, continuam a ser publicados jornais em português em países tão diversos como o Canadá e a Alemanha, a Austrália e a França, a África do Sul ou a Suiça. Um desses jornais é o Sol Português que se publica todas as sextas-feiras em Toronto e que reivindica ser o maior jornal de língua portuguesa no Canadá. A sua edição de ontem apresenta-se com uma sugestiva capa, ilustrada com uma interessante composição gráfica, em que saúda o Dia de Camões e das Comunidades Portuguesas e transcreve um extracto do poema A Alma Lusa - Saudade, Pinhal e Mar de José Ribeiro de Sousa.
Aqui se saúda o Sol Português pela sua iniciativa, pela sua actividade e pelo seu labor em prol da preservação da cultura portuguesa no Canadá.

terça-feira, 1 de junho de 2021

Sobe a tensão entre a Espanha e Marrocos

A ligação histórica entre os reinos de Espanha e de Marrocos é muito antiga e muito intensa, pois os marroquinos ocuparam o sul de Espanha durante vários séculos, enquanto os espanhóis têm uma longa tradição de presença colonial em território marroquino, de que ainda resta a sua soberania sobre as cidades de Ceuta e Melilla, o que naturalmente não agrada aos marroquinos, tal como a presença inglesa em Gibraltar não agrada aos espanhóis.
O reino de Marrocos tornou-se independente em 1956 depois de ter sido tutelado pela França e pela Espanha, tendo-se transformado num grande país, embora viva com o complexo de ter um vizinho maior, mais populoso e mais rico. O seu soberano é Mohammed VI que, com 57 anos de idade e 22 anos de poder, acumulou uma das maiores fortunas do mundo e se mostra insaciável na acumulação de riqueza, enquanto a população marroquina é muito pobre, há enormes desigualdades sociais e a estabilidade social resulta de forte repressão política e policial.
O rico soberano de Marrocos poderia ter outras aspirações para além de acumular fortuna, como por exemplo a liderança do islamismo ou a sua pacificação com o ocidente, mas de vez em quando parece querer desafiar a Espanha e a sua paciência. Antes foi a ocupação da ilha de Perejil, um rochedo desabitado que se situa a poucos metros da costa marroquina, agora foi a “invasão” de Ceuta por alguns milhares de migrantes “contratados”. Como pano de fundo, estão Ceuta e Melilla, mas também o Sara Ocidental, um território três vezes maior que Portugal e que a Espanha ocupou até 1975, mas que as Nações Unidas não reconhecem como território marroquino mas que é ocupado pelas tropas de Mohammed VI. 
Hoje, o jornal canário Diário de Avisos de Santa Cruz de Tenerife, publicou as fotografias do rei de Marrocos e de Pedro Sánchez, dizendo que Marrocos e a Espanha esticam a corda pelo Sara Ocidental. A capa do jornal bem pode valer mais do que mil palavras…