quinta-feira, 30 de junho de 2022

A Escócia e a sua luta pela independência

A Escócia é um país que em 1707 se uniu com a Inglaterra e formou a Grã-Bretanha, a qual mais tarde se associou com o País de Gales e com a Irlanda do Norte, passando a constituir o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda ou, simplesmente, Reino Unido.
Os escoceses, que são mais de cinco milhões de pessoas, têm uma forte identidade nacional e profundos sentimentos autonomistas, havendo muitos deles que defendem ideais independentistas.
Em 2014, após um acordo entre os governos do Reino Unido e da Escócia, foi realizado um referendo em que foi perguntado aos eleitores se “a Escócia deve ser um país independente?”, tendo havido 44,7% que votaram sim e 55,3% que votaram não.
Seguiu-se em 2016 um referendo geral sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia em que o brexit ganhou com 51,9% dos votos, mas a Escócia votou maioritariamente pela permanência na União Europeia com 62% dos votos. Esse resultado mostrou um maior distanciamento de Edimburgo em relação a Londres e, no dia seguinte à votação, a primeira-ministra escocesa Nicola Sturgeon que lidera o Partido Nacional Escocês pró-independência, afirmou que um segundo plebiscito pela independência da Escócia estava em cima da mesa. Porém, as vicissitudes por que passou o brexit e a pandemia de covid-19 atrasaram essa intenção, até que as excentricidades de Boris Johnson e o sucesso do seu partido nas eleições locais do ano passado, fizeram renascer a ideia de um segundo plebiscito que Nicola Sturgeon quer que seja realizado no dia 19 de Outubro de 2023. No entanto, o governo escocês não tem autonomia total para realizar esta consulta popular e precisa da prévia autorização do Supremo Tribunal, ou seja, a intenção de Sturgeon é, por agora, apenas isso.
O jornal The National, the newspaper that supports an independence, foi o jornal escocês que mais destaque deu à intenção de realizar um segundo referendo e diz aos seus leitores que têm apenas 16 meses “to save Scotland from Westminster”.

Novo aeroporto revela uma “nau à deriva”

Esta manhã o país foi surpreendido com uma notícia sobre o novo aeroporto de Lisboa veiculada pelo jornal Público, que informava que o governo “quer o Montijo em 2026 e Alcochete em 2035” e publicava uma fotografia aérea da área aeroportuária do Montijo. Assim, segundo anunciava o jornal com base num despacho do Ministério das Infraestruturas, a intenção é avançar com as obras no Montijo para que em 2026 possa ser uma infraestrutura complementar da Portela, ao mesmo tempo que se começa a avançar com uma nova infraestrutura aeroportuária a construir de raiz no Campo de Tiro de Alcochete para concluir em 2035, altura em que o aeroporto da Portela será encerrado e libertará a cidade de Lisboa dos seus indesejáveis efeitos ambientais. O mesmo despacho indicava que o processo de Avaliação Ambiental Estratégica em curso passava a ser da responsabilidade do Laboratório Nacional de Engenharia Civil.
A notícia deixou-me optimista, porque era o início do fim de um problema que se arrasta há 53 anos! De facto, foi através do Decreto-lei 48.902, de 8 de Março de 1969, que o governo de Marcello Caetano criou o Gabinete do Novo Aeroporto de Lisboa (GNAL) destinado "a empreender, promover e coordenar toda a actividade relacionada com a construção do novo aeroporto de Lisboa". Desde então avançou-se e recuou-se, envolveram-se interesses contraditórios, perdeu-se tempo e gastou-se dinheiro, houve um incontável número de opiniões expressas por especialistas e não especialistas e até houve soluções tão diversas como a Ota e Beja, Alverca, Alcochete e o Montijo.
Parecia que, finalmente, o problema ia agora começar a ser resolvido. Aleluia, pensei eu! Porém, foi sol de pouca dura. O despacho do Ministério das Infraestruturas foi precipitado e rapidamente foi revogado. Aparentemente, nem o 1º Ministro, nem o Presidente da República, nem os partidos da oposição foram ouvidos numa matéria de relevante interesse nacional. Uma gaffe monumental a manchar ainda mais esta história de incompetência e hesitação de 53 anos. O recuo foi uma humilhação política para o ministro e um sinal de descontrolo do governo. Tal como na Saúde ou na Justiça, na Educação ou na Administração Pública, a nau governativa parece andar à deriva e, nos tempos que correm, isso é muito mau.

quarta-feira, 29 de junho de 2022

Os franceses e a loucura do Tour de France

Nos últimos dias temos assistido impotentes ao aumento da escalada em que navega a generalidade dos líderes europeus, do Atlântico aos Urais, com a NATO a considerar a Rússia como a sua maior e mais directa ameaça e a Rússia a prometer resposta às decisões da NATO. A tensão está a aumentar e não há notícias quanto a possíveis diligências diplomáticas para terminar com a “operação especial” desencadeada por Vladimir Putin. 
Entretanto, a Ucrânia vai sendo destruída apesar de todo o armamento que recebe, enquanto o povo ucraniano continua a sofrer as consequências da guerra e a ser vítima de uma enorme tragédia humanitária. Nesse contexto, é bem curioso que, nas suas últimas edições, uma parte da imprensa francesa, nomeadamente o jornal Le Parisien, não tenha destacado como manchete a guerra da Ucrânia ou a cimeira da NATO, tendo-se centrado na 109ª edição do Tour de France, que se inicia na próxima sexta-feira. 
Esse destaque resulta do facto de Julian Alaphilippe, bicampeão mundial e estrela maior do ciclismo francês que corre pela equipa belga Quick-Step Alpha Vinyl, ter sido preterido da equipa que vai disputar o Tour por não estar ainda recuperado de uma queda que sofreu no dia 24 de Abril na clássica Liége-Bastogne-Liége, em que perfurou um pulmão, partiu duas costelas e teve um ombro deslocado. Os franceses parece estarem mais desolados com a ausência de Julian Alaphilippe do Tour, do que com o que se passa em torno da guerra na Ucrânia e, certamente, até ao dia 24 de Julho, não vão pensar noutra coisa que não seja o Tour, que é a sua maior loucura desportiva.

terça-feira, 28 de junho de 2022

A cimeira da NATO e a escalada da tensão

Iniciou-se hoje em Madrid a cimeira da NATO em que participam os chefes de estado ou os chefes de governo dos países membros e que ocorre quando a invasão russa da Ucrânia já dura há mais de quatro meses. Por isso, a Rússia vai estar no centro desta reunião como o “inimigo” e não deixa de ser curioso que em 2010, na cimeira de Lisboa, tinha sido considerada um “parceiro”. Como as coisas se alteraram em tão pouco tempo! 
Sobre a cimeira de Madrid o jornal francês Le Figaro escreve na sua edição de hoje que a NATO está em “conselho de guerra” perante a Rússia e, de facto, as declarações de vários dirigentes que estão presentes em Madrid mostram que estão dispostos a continuar a apoiar militarmente a Ucrânia e a resistir à invasão russa, num quadro operacional que se tem agravado e que é muito complexo, até porque acontece numa situação de crise económica em agravamento. 
A situação vem-se revelando cada vez mais como um confronto entre a Rússia e os Estados Unidos, ou entre a Rússia e a NATO, embora também haja quem inclua a China nesta equação e daí que a Austrália, o Japão e a Coreia do Sul também estejam presentes nesta cimeira da NATO como convidados. O falcão Jens Stoltenberg, que é o secretário-geral da NATO, tem-se desdobrado em declarações e tem anunciado que vai ser aprovado um novo conceito estratégico que deverá definir a Rússia como a maior e mais directa ameaça aos países da NATO, que deverá ser alargada a NATO com a adesão da Suécia e da Finlândia à organização e que vai ser aprovado o reforço de meios e forças de alta prontidão, sendo avançado o número de 300.000 soldados que serão colocados nas fronteiras orientais da NATO. 
Porém, o que o Stoltenberg não diz é que a China vai “estar” na cimeira, que voltamos à corrida aos armamentos e que os riscos de uma terceira guerra mundial são cada vez maiores. Chama-se a tudo isto uma preocupante escalada.

sábado, 25 de junho de 2022

Uma obra ímpar: os painéis de S. Vicente

Na História de Portugal há alguns assuntos menos esclarecidos que têm suscitado dúvidas e incertezas, dando origem a algumas teorias explicativas, mas que permanecem como enigmas. Os painéis de S. Vicente, atribuídos a Nuno Gonçalves, são um desses casos sobre o qual já se escreveram centenas de monografias e muitos milhares de páginas com hipóteses e interpretações múltiplas e discordantes.
O facto é que o famoso políptico que consta de seis painéis e que terá sido concluído por volta de 1470, é a mais importante pintura da arte portuguesa, representando a Corte e os vários estratos da sociedade portuguesa quinhentista, impressionando quem a vê em Lisboa, no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA). Os painéis foram acidentalmente descobertos em 1882 no Paço Patriarcal de São Vicente de Fora e, depois de restaurados, foram expostos pela primeira vez em 1910 na Academia de Belas Artes de Lisboa. Desde então surgiram inúmeras teses sobre os painéis e a sua origem, sobretudo em relação à iconografia e à identidade das 58 personagens cujos retratos constituem o essencial da obra, havendo centenas de propostas quanto à sua identificação. Os painéis tiveram duas operações de restauro global e várias intervenções pontuais ou selectivas, mas urgia estudá-los, conservá-los e restaurá-los.
A oportunidade do estudo e do restauro do políptico surgiu com a assinatura de um protocolo mecenático entre o MNAA, o Grupo de Amigos do MNAA, a Direcção-Geral do Património Cultural e a Fundação Millennium bcp, que vem sendo desenvolvido desde há dois anos com a coordenação de Joaquim Caetano, o director do MNAA. De acordo com o que já se sabe, os painéis que vão sair desta intervenção serão mais próximos dos originais e quanto à identificação das personagens, terão ficado dissipadas as dúvidas sobre a identidade do homem de chapéu à moda da Borgonha, que será mesmo o infante D. Henrique.
Em boa hora, a E - Revista do Expresso deu a conhecer esta iniciativa de grande interesse cultural e que, certamente, será inspiradora de muitos mais projectos desta natureza.

A Ucrânia e a sua adesão à União Europeia

A actual União Europeia nasceu no dia 25 de Março de 1957 com o Tratado de Roma, que instituiu a Comunidade Económica Europeia e tinha apenas seis membros. Depois, com os sucessivos alargamentos chegou aos 28 membros mas, com a saída do Reino Unido, são agora 27. Desde 1986 que Portugal faz parte desse espaço de prosperidade, de tolerância e de ambiguidade, onde têm cabido diferentes culturas, línguas, histórias, religiões e níveis de desenvolvimento muito diversos. 
Porém, o projecto inicial de Jean Monnet e de Robert Schuman, que foi consolidado por homens como Konrad Adenauer, François Mitterrand, Helmut Kohl e Jacques Delors, sobredimensionou-se, atravessa evidentes dificuldades de coesão e vem-se desenvolvendo a várias velocidades. 
Para além dos 27, há actualmente cinco candidatos reconhecidos para a adesão, respectivamente a Turquia desde 1987, a Macedónia do Norte desde 2004, o Montenegro desde 2008 e a Albânia e a Sérvia desde 2009, havendo ainda dois países com o estatuto de potenciais candidatos: a Bósnia-Herzegovina e o Kosovo. Na sequência da invasão russa da Ucrânia e da teimosia com que as partes em conflito persistem naquela guerra, os 27 aprovaram o estatuto de candidatos à adesão da Ucrânia e da República da Moldávia o que, segundo o jornal catalão La Vanguardia, deu origem à frustração entre os líderes dos Balcãs ocidentais por verem os seus processos de adesão ultrapassados. 
Esta medida do Conselho Europeu tem natureza exclusivamente política, é demagógica e apenas pretende enganar os ucranianos, pois todos os 27 líderes europeus, incluindo o português António Costa, sabem que a entrada da Ucrânia na União Europeia iria alterar todo o actual contexto de equilíbrio, pois seria grande demais e o seu maior país, acrescentaria 40 milhões de habitantes com um produto per capita de 28,9% em relação à média europeia, o que tornaria a Ucrânia a principal beneficiária das ajudas comunitárias de pré e de pós-adesão. Mesmo que sejam solidários, muitos europeus dificilmente aceitariam que possam deixar de ser beneficiários das ajudas comunitárias de que agora beneficiam. Talvez daqui a trinta anos...

Aproximam-se as eleições gerais no Brasil

Faltam cerca de cem dias para a realização da primeira volta das eleições gerais no Brasil que estão agendadas para o dia 2 de Outubro e estima-se que 148 milhões de brasileiros irão às urnas, o que significa que este país é uma das maiores democracias do mundo.
Nessas eleições serão escolhidos o presidente, o vice-presidente e os deputados do Congresso Nacional, mas também os governadores, os vice-governadores e os deputados das assembleias legislativas estaduais, mas o interesse das eleições centra-se sobretudo na escolha do presidente da República. Nesta altura estão anunciadas doze pré-candidaturas, embora todas as sondagens indiquem que a luta eleitoral será entre o actual presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
De entre as inúmeras sondagens divulgadas destaca-se a que é regularmente apresentada pela Datafolha, o instituto de pesquisas do Grupo Folha a que também pertence o jornal Folha de S. Paulo, que na sua última edição revelou que actualmente Lula recolhe 47% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro se fica por 28%, o que mostra que Lula poderá ser eleito logo à primeira volta. No entanto, uma outra sondagem realizada pela PoderData, um instituto do grupo de comunicação Poder360, indica que na hipótese de uma segunda volta, o candidato Lula da Silva tem 52% de intenções de voto, contra 35% do actual presidente.
Porém, há outras sondagens como a do Instituto de Pesquisas Gerp de Niterói-RJ, que indica que os dois candidatos estão tecnicamente empatados com 39 e 37% das intenções de voto. Significa, portanto, que há sondagens para todos os gostos, embora pareça que Luiz Inácio Lula da Silva se encaminha para regressar ao Palácio do Planalto e volte a presidir aos destinos do Brasil.

sexta-feira, 24 de junho de 2022

BRICS falam para o mundo a uma só voz

Os BRICS são um grupo de cinco países ditos emergentes – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – que foi constituído em 2009, embora a África do Sul só nele tenha ingressado em 2011, os quais realizam uma cimeira anual em que cada um dos países participa através dos respectivos líderes de governo. O grupo não constitui um bloco económico nem uma associação de comércio, mas sobretudo um “clube político” ou uma "aliança", que visa converter o seu crescente poder económico numa maior influência geopolítica à escala mundial.
Actualmente, os BRICS são detentores de mais de 21% do PIB mundial, formando o grupo de países que mais crescem no planeta. Além disso, representam 42% da população mundial, 45% da força de trabalho e o maior poder de consumo do mundo, destacando-se também pela abundância dos seus recursos naturais e das condições favoráveis que atualmente apresentam para a sua exploração.
Este ano, a XIV Cimeira dos BRICS realizou-se em Pequim e ontem lá estiveram Xi Jinping, Vladimir Putin, Jair Bolsonaro, Narendra Modi e Cyril Ramaphosa. No actual quadro de guerra e de envolvimento euro-americano no conflito resultante da invasão russa da Ucrânia, esta "aliança" tem uma enorme importância. Pela primeira vez desde que ordenou a invasão da Ucrânia, Vladimir Putin encontrou-se com grandes líderes mundiais que, aparentemente, não o criticaram. Nenhum dos 75 pontos da Declaração de Pequim desta XIV Cimeira dos BRICS faz referências à invasão russa, nem critica Vladimir Putin. Naturalmente, o jornal chinês Global Times dá um grande destaque a esta Cimeira, à qual todos os agentes da geopolítica devem estar atentos.

Ainda as festas de São João e as fogueiras

A noite de São João decorreu com grande animação e, através de longas transmissões televisivas, todos puderam acompanhar os festejos que ocorreram no Porto e em Angra do Heroísmo. Em tempos de grande preocupação pela crise económica que se desenha e da agitação social que sempre a acompanha, mas também pelo prolongamento da guerra e da tensão nas fronteiras europeias e das suas imprevisíveis consequências, é caso para dizer que “tristezas não pagam dívidas” e daí que o povo se tenha divertido a ver as marchas e os fogos-de-artifício, a bater com martelinhos e com alhos-porros, a comer sardinhas assadas e outros petiscos, sempre a cantar e a dançar. Foi, segundo pudemos ver na televisão, uma grande festa popular, que até levou ao Porto o senhor Presidente da República para se divertir e conviver com o seu povo.
Porém, os festejos de São João são diferentes em todas as comunidades mas, no imaginário popular, as fogueiras são um elemento essencial e são mesmo o traço comum de todos os festejos joaninos, sobretudo nas pequenas comunidades rurais que ainda sabem conservar as tradições ancestrais. Curiosamente, sabe-se lá porquê, as fogueiras de São João são pouco mencionadas no noticiário português, ao contrário do que acontece na Galiza, onde a imprensa publica fotografias e textos alusivos. 
Hoje na sua primeira página, o jornal Faro de Vigo publica uma fotografia a quatro colunas de “La noche más corta… y esperada”, acrescentando que “las hogueras atraen a miles de personas y plantan cara al mal tiempo en el primer San Xoan multitudinario desde que estalló la pandemia”.
Ainda bem que as memórias das fogueiras de São João da nossa infância não se perdem, ao menos na vizinha Galiza!

quinta-feira, 23 de junho de 2022

Sanjoaninas 2022, a grande festa de Angra

Amanhã, dia 24 de Junho, é o Dia de São João e a próxima noite é a Noite de São João.
O nascimento de João Baptista é uma festa cristã que celebra aquele que profetizou o advento ou a chegada do Messias na pessoa de Jesus Cristo, tendo-o baptizado. É uma festa religiosa marcada por grande devoção e por missas e procissões, mas que evoluiu para um festival pagão de características populares, com práticas diferentes em cada comunidade. Alguns desses festivais enraizaram-se no gosto popular e tornaram-se elementos identitários de algumas comunidades, como por exemplo as festas das cidades do Porto, de Braga ou de Angra do Heroísmo.
É muito ingrato escrever sobre estas festas, sobretudo porque têm características muito diferentes, mas atrevo-me a salientar as famosas Sanjoaninas, que se realizam na cidade de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, que envolvem, com grande entusiasmo, uma cidade e uma ilha. Durante alguns dias as Sanjoaninas têm de tudo, incluindo torneios desportivos e mostras de artesanato, concertos e espaços gastronómicos, desfiles de filarmónicas, fogo-de-artifício, bailes populares e muitas outras iniciativas em que participam milhares de pessoas. Porém, são as touradas de praça e à corda e, sobretudo, as marchas de São João, que mais caracterizam as Sanjoaninas de Angra do Heroísmo, a competir em criatividade e entusiasmo popular com as Festas da Senhora da Agonia e com tantas outras festas populares em que Portugal é rico.
O desfile das marchas de São João é realmente uma manifestação de grande animação e criatividade popular e a televisão nunca deixa de as transmitir em directo.

quarta-feira, 22 de junho de 2022

Chuvas e inundações a perturbar a China

A edição de hoje do jornal Shanghai Daily publica uma impressionante fotografia da parte inundada da cidade de Shangrao, na província chinesa de Jiangxi. Esta província, tal como o sul e o leste da China, sobretudo as províncias de Guangdong e Fujian, estão a ser afectadas pelas mais intensas chuvas dos últimos decénios, tendo provocado inundações, deslizamentos de terras e forçando à evacuação de centenas de milhares de pessoas. As chuvas fortes e persistentes atingiram o nível mais alto desde 1961 e têm continuado a encher os rios que transbordam e inundam vastíssimas áreas.
A extensão das áreas inundadas e os prejuízos económicos levaram o governo chinês a destinar fundos de emergência para apoiar os governos locais no controlo das inundações e no socorro às populações que foram desalojadas das suas casas.
Esta ocorrência veio juntar-se a muitas outras que vêm afectando o nosso planeta, algumas das quais aqui temos referido, que resultam das alterações climáticas. Assim, em diferentes partes do mundo sucedem-se as anomalias climáticas sob diversas formas, pelo que as inundações na China são mais um alerta para que sejam universalmente tomadas as medidas políticas necessárias para “salvar o nosso planeta”, enquanto é tempo.  

A retoma do turismo de navios de cruzeiro

As cidades portuárias das orlas atlânticas e mediterrânicas europeias têm beneficiado da indústria do turismo dos cruzeiros que se desenvolveu nos últimos decénios, mas esse tipo de turismo esteve inactivo devido às restrições sanitárias que foram adoptadas durante a pandemia de covid que surgiu em 2019. 
Neste ano de 2022, essa actividade parece ter recuperado todo o seu dinamismo e a procura parece estar a ultrapassar as melhores expectativas e a superar a procura dos tempos anteriores à pandemia. O jornal El Correo que se publica em Bilbao, a capital da comunidade autónoma do Euskadi ou País Basco, na sua edição de hoje dá notícia da presença simultânea de três navios de cruzeiro de grandes dimensões no Puerto de Getxo, na periferia da cidade de Bilbao, respectivamente o MSC Virtuosa (331 metros), o Enchanted Princess (330 metros) e o Seabourn Ovation (221 metros). Segundo o jornal, “la estampa inusual de los tres barcos juntos ne se volverá a repetir hasta el 4 de octubre” e houve oito mil pessoas, das quais cinco mil eram turistas e três mil tripulantes, que estiveram no porto de Getxo.
Um elevado número de autocarros recolheu os passageiros que se inscreveram para as várias excursões, com destaque para a visita ao Museu Guggenheim e à cidade de Bilbau, mas também para outros circuitos, como Gernika e San Sebastian.
As autoridades portuárias e turísticas bascas estão eufóricas. Este ano, houve 32 navios que já visitaram o Euskadi, mas até ao fim do ano esperam-se oito dezenas de navios de cruzeiro que, a verificar-se, baterá o recorde histórico de 59 navios de cruzeiro que, num só ano, atracaram no Puerto de Getxo.

terça-feira, 21 de junho de 2022

A reforma do Serviço Nacional de Saúde

Nos últimos tempos o espaço mediático português tem sido dominado pelas notícias relativas ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), com manchetes sensacionalistas em que é destacado o encerramento de serviços de urgência hospitalares de várias especialidades.
O SNS foi criado em 1979 na sequência de um preceito constitucional aprovado em 1976, que garantia o direito à proteção da saúde, a prestação de cuidados globais de saúde  e o acesso a todos os cidadãos, independentemente da sua condição económica e social. O SNS tem sido referido como um dos maiores sucessos da Democracia portuguesa e há quem o considere um dos melhores da Europa, mas é uma grande nau que navega por águas nem sempre mansas, apesar de nunca ter tido tantos profissionais nem tantos recursos como tem actualmente. Porém, as coisas não correm bem nos hospitais públicos e vários serviços de urgência têm estado encerrados, o que significa que não há um regular funcionamento destas instituições democráticas, enquanto os hospitais privados engordam.
Desde há muito tempo que é sabido que o SNS precisa de reformas, porque tanto os profissionais como os utentes mudaram muito nos últimos anos. Todo o mundo é composto de mudança e, enquanto utentes, “vemos, ouvimos e lemos” e não podemos ignorar, como se acentuam as diferenças entre os serviços hospitalares públicos e privados. O SNS está debilitado devido à péssima gestão hospitalar, à enorme promiscuidade entre o serviço público e o privado, à baixa produtividade de alguns hospitais e serviços, à concorrência dos hospitais privados, ao absentismo de algumas classes profissionais da área da saúde e aos incontornáveis interesses corporativos envolvidos.
Nada disto é novo, mas tudo isto tem demorado muito tempo a ser corrigido, sem se saber exactamente porquê. Tal como na Justiça, na Educação e noutras funções sociais, é necessário reformar e adaptar aos novos tempos, mas os sucessivos governos e os grandes partidos preferem fazer como a avestruz e esconder a cabeça na areia. 

segunda-feira, 20 de junho de 2022

A democracia e a alternância de poder

Ontem realizaram-se importantes eleições em Espanha, na França e na Colômbia, todas elas a mostrar que, como um dia disse Winston Churchill, “a democracia é o pior dos regimes, à excepção de todos os outros". De facto, ao contrário da Autocracia e da Oligarquia, a Democracia permite que, através do voto, os cidadãos escolham periodicamente aqueles que os devem representar no exercício do poder, o que significa que “o povo é quem mais ordena” ou a possibilidade da alternância e da moderação desse poder. Assim aconteceu ontem em três diferentes países.
Na Andaluzia, que é a segunda maior comunidade autónoma espanhola e a mais populosa com quase nove milhões de habitantes, realizaram-se as eleições regionais e o Partido Popular conseguiu eleger 59 deputados, o que lhe garante a maioria absoluta no parlamento andaluz, onde têm assento 109 deputados. Foi claramente derrotado o PSOE, o partido tradicionalmente mais votado e que governou a Andaluzia desde 1982 até 2018, pois apenas conseguiu eleger 30 deputados. A democracia funcionou e houve alternância de poder.
Em França realizaram-se as eleições parlamentares para eleger os 577 deputados para a Assembleia Nacional, com a coligação Ensemble!, que apoia o presidente Macron, a conseguir a maioria ao eleger 245 deputados, mas ficando longe da maioria absoluta de 289 deputados. As surpresas vieram da NUPES, a coligação de esquerda de Mélenchon que elegeu 131 deputados e da União Nacional de Marine le Pen, que elegeu 89 deputados. Por isso, os próximos tempos não serão fáceis para Macron. A democracia funcionou e houve alternância de poder.
Na Colômbia realizou-se a 2ª volta das eleições presidenciais e mais de 22 milhões de colombianos deram a vitória a Gustavo Petro, um economista e ex-combatente do grupo armado M-19 que obteve 50,47% dos votos e que, dessa forma, se tornou o primeiro presidente de esquerda do país. A democracia funcionou e houve alternância de poder.
Para ilustrar estas vitórias da Democracia escolhemos a capa do jornal el Colombiano que se publica em Medellin, a segunda maior cidade da Colômbia.

sexta-feira, 17 de junho de 2022

Scholz, Macron, Draghi e a visita a Kiev

Como hoje alguém escrevia no jornal Expresso e embora seja cruel afirmá-lo, “já estamos todos fartos da guerra na Ucrânia”, bem como das aparições diárias de Zelensky a pedir armas, das professoras-comentadoras que falam nas televisões e dos repetitivos serviços dos enviados especiais dos diferentes canais televisivos. Porém, a visita que os líderes da Alemanha, da França e da Itália ontem fizeram a Kiev veio lembrar-nos que a guerra continua e que os riscos de uma escalada bélica persistem. A deslocação de Scholz, Macron e Draghi foi um acontecimento político importante, não só porque aparenta ser a retoma da iniciativa europeia neste conflito, mas também porque significa “a homenagem da Europa à coragem ucraniana”, como salientava hoje o jornal Le Figaro.
Naturalmente que a deslocação destes três líderes não foi apenas para mostrar solidariedade e para prometer apoio militar e à reconstrução do país, além do seu acordo para uma futura adesão à União Europeia. A sua missão teve um outro objectivo que não foi revelado. Eles foram os porta-vozes dos europeus, cujos pontos de vista eles necessariamente conhecem, através de uma sondagem feita pelo European Council on Foreign Relations (ECFR) que foi realizada em dez países europeus. Essa sondagem foi divulgada na edição de 15 de Julho do jornal Público e mostra que existe um grande consenso entre os europeus na identificação do principal responsável pela guerra na Ucrânia. Assim, para 73% dos inquiridos o principal responsável pelo conflito é a Rússia, embora 15% considerem que o principal responsável pela guerra é a própria Ucrânia, ou a União Europeia, ou os Estados Unidos. 
No que respeita ao desejável fim do conflito na Ucrânia, a sondagem mostra que a Europa está dividida entre uma paz rápida (ou campo da paz) com 35%, ou a punição da Rússia pela guerra (ou campo da justiça) com 20%. Nos limites extremos encontram-se a Itália com 52% dos inquiridos no campo da paz e 16% no campo de justiça e a Polónia com 16% dos inquiridos no campo da paz e 41% no campo da justiça, enquanto em Portugal há 31% de inquiridos no campo da paz e 21% no campo da justiça.
Certamente que a sondagem da ECFR, que traduz as posições da opinião pública europeia, esteve presente no encontro de Olaf Scholz, Emmanuel Macron e Mario Draghi com Volodymyr Zelensky. 

quarta-feira, 15 de junho de 2022

Os efeitos das alterações climáticas

Nas suas edições de hoje, diversos jornais franceses e espanhóis destacam em primeira página a vaga de calor que está a afectar estes países do sudoeste da Europa, com temperaturas da ordem dos 40 graus. Esta vaga de calor é a maior que a Europa enfrenta nos últimos vinte anos e, no caso de Espanha e da França, esperam-se recordes históricos com temperaturas bem acima dos 40 graus.
Nos jornais espanhóis há títulos como “la peor ola de calor en décadas”, ou “trabajar a 40 grados” ou, ainda, “a 43 grados el sábado”, enquanto nos jornais franceses se podem ler títulos como “qu’il va faire chaud!”, ou “chaleur: attention à la vague” ou, também, “toujours plus chaud, toujours plus tôt”.
Na sua edição de hoje o jornal La Dépêche de Toulouse destaca que “o pior está para vir” e refere que aumentam a seca com todos os seus efeitos e os riscos de incêndios florestais, mas também salienta as medidas que devem ser tomadas pelas autoridades e por cada pessoa para melhor suportar esta situação.
Hoje já ninguém duvida que as alterações climáticas estão a ameaçar o nosso planeta e a “testar os limites da capacidade de sobrevivência humana”. As notícias do sudoeste da Europa juntam-se a outras de igual natureza, como por exemplo as que chegaram da Índia e do Paquistão, onde no passado mês de Maio foram enfrentadas ondas de calor recorde desde que há registos. Da mesma forma, também a Austrália atingiu em Janeiro deste ano a maior temperatura da história do país e do hemisfério sul.
Estas notícias são realmente alarmantes, pois mostram como as alterações climáticas continuam por atenuar ou regredir, o que significa que o Acordo de Paris de 2015 que visava a redução da emissão de gases que intensificam o efeito de estufa originado por algumas actividades humanas a fim de conter o aquecimento global, não estão a produzir resultados, como mostram as ondas de calor mais recentes um pouco por todo o mundo.

terça-feira, 14 de junho de 2022

Sobre a escolha política dos franceses

No passado domingo realizou-se a primeira volta das eleições parlamentares francesas, a que concorreram cerca de 6.000 candidatos com idades compreendidas entre os 18 e os 92 anos, que procuravam ser escolhidos para os 577 lugares de deputados na Assembleia Nacional francesa. Havia cerca de 48,7 milhões de eleitores inscritos, mas houve uma abstenção de 52,5%, que foi a maior de sempre em eleições parlamentares.
O imprevisto aconteceu: a coligação Ensemble! que agrega os aliados centristas do presidente Emmanuel Macron e a NUPES (Nova União Popular, Ecológica e Social), uma frente unida de esquerda liderada por Jean-Luc Mélenchon, obtiveram ambos 25,7% dos votos, pelo que ambos reclamaram vitória. O Rassemblement National, o partido de Marine Le Pen, obteve 18,95% dos votos, enquanto a coligação de direita moderada que inclui os Republicanos, conseguiu 10,5% dos votos.
Na segunda volta, que vai ser disputada no próximo domingo, o presidente Macron não tem garantida a maioria parlamentar de 289 deputados para o apoiar nos próximos cinco anos e esse será um facto político surpreendente, pelo que Mélenchon até já veio afirmar que vai ser o próximo primeiro-ministro de França.
Hoje o jornal Le Monde publica um mapa com os resultados eleitorais da primeira volta, onde se vê como a França está dividida e desinteressada da política, não só pelo nível histórico da abstenção, mas também por ameaçar a maioria absoluta do presidente Emmanuel Macron, o que pode gerar instabilidade em França e alterar o quadro político da União Europeia, sobretudo num tempo de grandes incertezas. 

Os roteiros de Marcelo são uma roda-viva

Marcelo Rebelo de Sousa, o nosso venerando Chefe do Estado, tem andado numa roda-viva e em ambiente de euforia, como ele tanto gosta. Nos últimos dias encheu as nossas televisões com discursos, declarações e comentários sobre tudo, informou sobre o estado de saúde de António Costa e irradiou satisfação como se tudo estivesse a correr bem no país e como se os tempos que aí vêm não fossem muito preocupantes. É saudável que o país tenha um presidente que irradia felicidade e que procura incentivar a autoestima da “arraia miúda”, mas tem que haver proporcionalidade e contenção nos beijinhos, nas selfies, nas gargalhadas e nos elogios que faz aos seus concidadãos. Somos bons, sim senhor, mas talvez não sejamos os melhores do mundo, como o nosso presidente gosta de repetir e até haja quem acredite nisso.
No dia 10 de Junho, Marcelo Rebelo de Sousa esteve em Braga a celebrar o Dia de Portugal, mas no dia 12 à noite já estava em Lisboa nos festejos de Santo António. Entre estes dois eventos que lhe deram um enorme tempo de antena como ele tanto gosta, ele visitou a comunidade portuguesa de Londres, onde conviveu com “as várias centenas de cristianos-ronaldos que Portugal enviou para a Inglaterra” e condecorou o enfermeiro Luís porque, por mero acaso, foi ele que tratou o Boris quando ele teve covid-19, mas essa visita não teve qualquer impacto nos media ingleses. Depois, o supremo magistrado da Nação voou para Andorra, onde anunciou coisas que não lhe competem, como por exemplo o estabelecimento de um consulado-geral em Andorra la Vella e a desejável activação de um voo directo entre Lisboa e o principado. O jornal El Periòdic d’Andorra foi apenas um dos jornais que destacaram a visita do Presidente da República de Portugal, com fotografia de primeira página
Tudo isto me parece um exagero e faz-me lembrar um provérbio popular português: Quem não aparece esquece, mas quem muito aparece, tanto lembra que aborrece.

domingo, 12 de junho de 2022

O trumpismo também ameaça o Canadá

As recentes revelações feitas pela comissão parlamentar de inquérito, que está a investigar as responsabilidades de Donald Trump no assalto ao Capitólio, em Washington, ocorrido no dia 6 de Janeiro de 2021, parecem ter deixado a opinião pública americana muito apreensiva e na expectativa do que poderá vir a seguir, não só no curto prazo, mas também quanto à possibilidade de Trump voltar a candidatar-se à Casa Branca.
A apreensão pelo trumpismo e pelo seu significado anti-democrático, populista e com ligações à extrema-direita americana violenta, ultrapassou as fronteiras americanas e, segundo hoje mostra a edição dominical do jornal The Toronto Star, a ameaça do trumpismo já paira sobre o Canadá. Na sua primeira página, aquele jornal mostra a sombra de Trump sobre o território canadiano e diz que “Donald Trump não é apenas o líder, mas a personificação de uma marca política de extremismo direitista, que está presente no seu mundo mediático e ideológico”, acrescentando que o trumpismo também pode ser em breve um problema sério para o Canadá.
Quando a Europa estás a passar por uma crise muito séria e de imprevisível solução, as notícias que se esperava que chegassem do outro lado do Atlântico deveriam ser um sinal de estabilidade, mas estão a ser um sinal de alguma preocupação. As revelações que têm sido tornadas públicas, a propósito do comportamento de Trump nos acontecimentos de 6 de Janeiro de 2021, mostram que o impensável podia ter acontecido e que os Estados Unidos, tal como o Canadá, ainda não estão livres do trumpismo.

sábado, 11 de junho de 2022

A Cimeira das Américas vale muito pouco

Decorreu em Los Angeles a Cimeira das Américas, uma reunião entre os estados americanos do norte, do sul e das Caraíbas, que se realizou pela primeira vez em 1994 por iniciativa do presidente Bill Clinton. Segundo foi divulgado, os principais temas a abordar nesta Cimeira eram a pandemia do covid-19, as migrações, as alterações climáticas e a segurança alimentar, mas as notícias que foram transmitidas mostram que a reunião foi um fiasco e que os Estados Unidos se afastaram do principal objectivo destas Cimeiras das Américas que é, sobretudo, o fortalecimento da coesão entre os países do continente. 
Assim, houve sete países que não participaram na Cimeira em protesto contra o facto de os Estados Unidos não terem convidado Cuba, Nicarágua e Venezuela, com o argumento de que não eram regimes democráticos. Entre os países que mais criticaram o autoritarismo da opção americana estiveram o México, a Bolívia, o Chile, a Argentina e as Honduras que, explícita ou implicitamente, rejeitaram a postura hegemónica ou neo-colonial dos americanos. 
Aparentemente, os americanos incentivaram a desunião latino-americana, mas conseguiram reafirmar a sua liderança do continente, enquanto os líderes dos países participantes ficaram satisfeitos com a sua fotografia ao lado de Joe Biden, o que lhes bastou para impressionar as suas próprias opiniões públicas no regresso a casa. À margem deste encontro que constituiu a IX Cimeira das Américas, o Brasil esteve em destaque, pois Jair Bolsonaro – que foi fotografado com Joe Biden – garantiu-lhe que sairá da presidência do Brasil de forma democrática, se for esse o sentido do voto popular, o que foi destacado pelo jornal Folha de S. Paulo. Por outro lado, houve sete dezenas de organizações não-governamentais que acusaram Bolsonaro de mentir em relação à protecção ambiental, à segurança alimentar mundial e à preservação da Amazónia, isto é, a IX Cimeira das Américas parece ter sido uma grande operação de Relações Públicas e pouco mais. 

O golpe de Trump e o assalto ao Capitólio

Nas eleições presidenciais americanas realizadas no dia 3 de Novembro de 2020, o candidato Joe Biden conseguiu eleger 306 delegados para o Colégio Eleitoral, enquanto o então presidente Donald Trump só conseguiu 232 delegados. No contexto de todo o território americano, Biden recolheu 51,4% dos 155 milhões de votos e Trump ficou-se pelos 46,9%. Porém, Donald Trump não aceitou o resultado eleitoral e afirmou terem sido contados votos fraudulentos, mas a recontagem dos votos não revelou quaisquer irregularidades substantivas. Vieram dezenas de processos judiciais a impugnar os resultados, mas Trump perdeu-os todos. Depois repetiu exaustivamente a acusação de fraude eleitoral e procurou impedir a vitória de Joe Biden, mas em meados de Dezembro o Colégio Eleitoral confirmou-a. Até que chegou o dia 6 de Janeiro de 2021, em que o Congresso dos Estados Unidos ratificou oficialmente a vitória de Biden, ao mesmo tempo que Donald Trump e os seus apoiantes se concentravam em Washington, provocavam tumultos e decidiam invadir o Capitólio, a casa da democracia americana, onde reúnem o Senado e a Câmara dos Representantes. Houve falhas de segurança e com muita violência os invasores destruíram o que encontraram e ameaçaram quem encontraram. Houve cinco mortos e dezenas de feridos.
Agora, uma comissão parlamentar de inquérito que está a investigar o papel de Trump nesse assalto ao Capitólio, veio revelar que não foi um momento espontâneo, mas um attempted coup, isto é, uma tentativa de golpe de estado. Naturalmente, esta conclusão preliminar está a ter um efeito devastador nos princípios democráticos americanos e na herança das convenções de Filadélfia de 1776 e de 1787. Era impensável que isto acontecesse. Porém, Donald Trump já veio declarar que “o seis de Janeiro não foi apenas um protesto, pois foi um dos maiores movimentos da História do nosso país para tornar a America great again”.
Os Estados Unidos já têm muitos problemas e bem podiam evitar esta indesejável perturbação da sua Democracia, que tanto inspira muitas outras democracias por este mundo. America is watching escreve o Daily News, mas nós também observamos com preocupação estes sinais de instabilidade política no mais poderoso país do mundo.

sexta-feira, 10 de junho de 2022

R.I.P. Paula Rego

Com 87 anos de idade faleceu em Londres a pintora Paula Rego que, juntamente com Maria Helena Vieira da Silva, que como ela também nasceu em Lisboa, são as mais apreciadas artistas portuguesas a nível internacional.
Incentivada pelo seu pai que a queria ver longe do regime salazarista, entre 1952 e 1956 estudou na Slade School of Fine Art da University College London (UCL), onde desenvolveu os seus talentos na pintura e nas artes visuais, tornando-se um nome de referência no movimento estético modernista. Entre 1957 e 1970 viveu na Ericeira e foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian, mas o apreço pelo seu trabalho não a entusiasmou, pelo que regressou a Londres com o marido e os seus três filhos. A partir de 1975 a sua produção passou a inspirar-se no universo literário dos contos populares portugueses e, como acontece com os artistas de eleição, passou por outros ciclos e outras inspirações zoomórficas e fantasistas. Em meados dos anos 1980 teve o reconhecimento da crítica e as grandes galerias internacionais abriram-lhe as portas, enquanto de Portugal veio o convite para expor na Fundação Gulbenkian e na Fundação de Serralves, bem como uma proposta da Câmara Municipal de Cascais para reunir em Cascais uma parte da sua obra, assim nascendo a Casa das Histórias de Paula Rego, que foi inaugurada em 2009. As homenagens que muitas universidades lhe fizeram ao conferirem-lhe doutoramentos honoris causa e as condecorações que lhe foram atribuídas, nomeadamente pela Rainha Isabel II e por dois presidentes da República Portuguesa, constituem distinções muito raras no panorama artístico português, onde o reconhecimento internacional é uma barreira quase inultrapassável. Não sou crítico de arte mas apenas um apreciador e, por isso, sempre que possível vi a obra de Paula Rego em Lisboa, no Porto e em Cascais. 
A morte de Paula Rego originou que fosse decretado luto nacional em Portugal e a notícia da sua morte foi destacada na primeira página do jornal londrino The Guardian.

terça-feira, 7 de junho de 2022

A história do galeão espanhol San José

Iván Duque, o presidente da República da Colômbia anunciou ontem que uma equipa especializada da Marinha colombiana tinha conseguido localizar e filmar, a cerca de 600 metros de profundidade, os destroços do galeão espanhol San José, afundado em 1708 nas proximidades de Cartagena das Índias na batalha de Barú por acção de navios ingleses. Durante a batalha foram atingidos os paióis da pólvora do San José que explodiu, salvando-se apenas onze dos seus seiscentos tripulantes e passageiros.
O galeão San José tinha sido construído em 1698 no País Basco, tinha três mastros e 64 canhões e estava carregado com ouro, prata, esmeraldas e outras riquezas, que actualmente se avaliam em 17 mil milhões de dólares.
O interesse pelo San José e pelas riquezas que transportava é muito antigo e teve muitos interessados, mas os seus destroços só terão sido localizados em 1981 por uma organização caça-tesouros denominada Sea Search Armada. No entanto, entre promessas e compromissos, o governo colombiano acabou por não aceitar a proposta de repartição do espólio e não autorizou as operações para a sua recuperação. Mais tarde, em 2015, também a Woods Hole Oceanographic Institution (WHOI), um centro de pesquisas americano privado e, estatutariamente, sem fins lucrativos, se interessou pelo San José. A Espanha também mostrou interesse no assunto, “solo para honrar el cementerio de los marinos españoles”. Porém, só agora e após a localização dos destroços pela Marinha colombiana é que a Colômbia reivindicou o galeão San José como parte do seu património submerso, estando constitucionalmente obrigada a proteger e preservar o navio e todo o seu conteúdo, tendo classificado a sua exacta localização como segredo de Estado. Para trás fica um enorme contencioso entre o governo colombiano e várias organizações caça-tesouros, mas para a frente poderá estar um case study no que respeita à defesa e protecção do património submerso contra a sua delapidação por estes corsários dos tempos modernos.
O jornal El Universal que se publica em Cartagena das Índias, destaca hoje essa notícia e ilustra-a com várias fotografias.

segunda-feira, 6 de junho de 2022

Nadal ganha e a Espanha entra em euforia

A selecção nacional de futebol ganhou ontem à Suiça por 4-0, mas podiam ter sido mais golos, pois os atacantes portugueses estiveram muito perdulários. A imprensa desportiva portuguesa entusiasmou-se com a vitória e o Cristiano Ronaldo, que marcou dois golos e falhou alguns mais, voltou a ver a sua fotografia nas primeiras páginas dos jornais portugueses e a ouvir os elogios de que já não estava habituado. Um jornal desportivo português até escolheu o título "Ronaldo infinito", o que é simplesmente despropositado.
Porém, o grande acontecimento desportivo de ontem foi a vitória de Rafael Nadal no Torneio de Roland Garros, o famoso torneio de ténis que se realiza em Paris desde 1891, pois foi a 14ª vez que Nadal venceu esta prova, o que é verdadeiramente notável. Com este triunfo, Rafael Nadal passou a ter 22 vitórias nos torneios do Grand Slam (Australian Open, Roland Garros, Wimbledon e US Open), o que supera os vinte troféus conquistados pelo suiço Roger Féderer e pelo sérvio Novak Djokovic. 
A imprensa espanhola tratou este sucesso de Nadal com uma enorme euforia e, se nos últimos dias a imprensa britânica só viu a Rainha Isabel, agora é a imprensa espanhola que só vê o Rei Rafael. 
O jornal El País, que é uma referência internacional do jornalismo, publicou uma fotografia de Rafael Nadal a toda a largura da sua primeira página, em homenagem àquele que será o maior atleta espanhol de todos os tempos e que aos 36 anos de idade promete que vai continuar a procurar vitórias.

sábado, 4 de junho de 2022

Os 100 dias de brutal guerra na Ucrânia

A guerra na Ucrânia chegou ao seu centésimo dia e continuamos a saber pouco sobre o que se passa no terreno. Há muitas informações contraditórias e cada uma das partes afirma que vai ganhar a guerra, mas hoje é evidente que são as duas superpotências que se defrontam numa guerra por procuração, como mostra a recente declaração de Antony Blinken a pedir a Vladimir Putin que cesse imediatamente o conflito.
Enquanto isto, as televisões massacram-nos com directos e com demasiados comentadores que pouco nos esclarecem. O rigor e a exactidão, bem como muitas outras regras deontológicas, são grosseiramente ignoradas. Não se percebe onde acaba a notícia e começa a opinião, nem se distingue claramente o que é informação e o que é propaganda. Chama-se a isto a batalha da informação que, aparentemente, é tão violenta quanto a guerra das armas e dos tiros.
As opiniões públicas, tal com as partes directamente envolvidas no conflito, parecem estar cansadas da guerra e das suas consequências na vida das comunidades.
Durante muitas semanas, aqui desejamos o fim da guerra, um cessar-fogo e o início de negociações, mas as últimas semanas mostraram que esse cenário está mais difícil. Os russos intensificaram o seu assalto ao Donbass, enquanto os americanos disponibilizaram aos ucranianos mais um pacote de armamento, com mísseis antitanque Javelin, mísseis antiaéreos Stinger, artilharia pesada e rockets de precisão, radares, drones, helicópteros Mi-17 e munições, embora Joe Biden e Antony Blinken tenham avisado os ucranianos de que aquele material apenas deve ser usado no campo de batalha da Ucrânia. Perante este anúncio, os russos vieram afirmar que os Estados Unidos estão deliberadamente a deitar gasolina para a fogueira.
Significa, portanto, que será entre Washington e Moscovo que a guerra se vai resolver e que as outras partes, incluindo a União Europeia e a Ucrânia, pouco terão a dizer. Isso mesmo se pode concluir da primeira página da edição de ontem do jornal francês Le Parisien, a propósito do 100º dia de guerra, ao publicar a fotografia de Volodymyr Zelensky e o título - héroïques… jusqu’à quand? – insinuando que a resistência ucraniana durará enquanto  os Estados Unidos estiverem dispostos a apoiá-la. Porém, nestas coisas não são as amizades nem as alianças que contam, mas apenas os interesses...

sexta-feira, 3 de junho de 2022

O Reino Unido em festa por Isabel II

O Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, ou simplesmente Reino Unido, está a celebrar o Jubileu de Platina da Rainha Isabel II com um vasto conjunto de cerimónias que comemoram os setenta anos do seu reinado. Essas cerimónias decorrerão em muitas cidades das ilhas Britânicas e nos 54 países membros da Commonwealth e, segundo foi anunciado, será realizado “um show espectacular, único numa geração, que combinará o melhor do esplendor da realeza britânica com a arte e as tecnologias de ponta”. A imprensa britânica esqueceu a guerra da Ucrânia, as excentricidades de Boris Johnson e os desvios protocolares de alguns filhos e netos de Isabel II, para se concentrar no elogio da Rainha de 96 anos de idade, a quem não tratam por Her Majesty, porque preferem, com muito afecto, tratá-la apenas por Ma’am.
Ninguém, mesmo aqueles que não gostam das realezas nem dos regimes monárquicos, fica indiferente a esta rainha que trabalhou com catorze primeiros-ministros, que conheceu treze presidentes dos Estados Unidos e quatro Papas, que visitou mais de cem países, com destaque para o Canadá e a França, que visitou 22 e 13 vezes, respectivamente.
Isabel II subiu ao trono em 1952 por morte do seu pai Jorge VI e, em Fevereiro de 1957 visitou Portugal. Foi há 65 anos e eu estive à beira da estrada por onde ela passava e via-a a acenar de dentro da sua viatura, num tempo em que ainda não havia televisão. Ela gostou do país e voltou em 1985. Quem sabe se não veio em penitência pelos males feitos pela sua antepassada Isabel I e os seus corsários, que tantas desgraças nos trouxeram... mas isso são coisas de finais do século XVI.
Como se referiu, toda a imprensa britânica destaca as cerimónias do Jubileu da Rainha e publica a sua fotografia, designadamente com a família real na varanda do Palácio de Buckingham, mas são muito raros os jornais estrangeiros que destacam a festa britânica. Um deles é um jornal francês de Nancy e, curiosamente, chama-se L’Est Républican, o que significa que até os jornais republicanos têm apreço pela figura de Isabel II.

quarta-feira, 1 de junho de 2022

Aplauso pelo novo Museu do Tesouro Real

Foi inaugurado na tarde de hoje com a devida pompa, o novo Museu do Tesouro Real que está instalado na nova ala do Palácio da Ajuda em Lisboa e que será aberto ao público a partir de amanhã. Desta forma se concretiza uma ideia antiga que era a de expor ao público as jóias da Casa Real portuguesa, muitas das quais nunca foram mostradas e que, nalguns casos, estiveram guardadas em cofres durante muitas dezenas de anos. Trata-se, portanto, de um grande acontecimento cultural que só pode orgulhar os portugueses, que a edição do jornal Público justamente destacou.
O novo museu representa um investimento de 31 milhões de euros, que foi financiado por uma parceria em que participaram o Ministério da Cultura, a Câmara Municipal de Lisboa e a Associação do Turismo de Lisboa, podendo afirmar-se que é menor do que o investimento que fazem muitos clubes de futebol portugueses com a compra futebolistas.
Das notícias divulgadas destacam-se as informações relativas aos aspectos museológicos, uma vez que a exposição permanente começou a ser pensada há seis anos por uma equipa de especialistas, mas também à segurança do conteúdo expositivo. Este foi, porventura, o maior desafio para o projecto de arquitectura da nova ala do Palácio da Ajuda, inacabada há 226 anos. Nele está “incrustada” uma caixa-forte que é uma das maiores do mundo, com 40 metros de comprimento por 10 de largura e 10 de altura. A caixa-forte dispõe de duas portas blindadas de 5 toneladas cada uma, à entrada e à saída. Quando estas portas estão abertas, a entrada e a saída na caixa-forte é protegida por portas com vidros à prova de bala. Para entrar no Museu do Tesouro Real os visitantes terão de passar por um controlo de segurança semelhante aos dos aeroportos, que é inédito nos museus portugueses.
A caixa-forte guarda de forma permanente 736 peças, entre as quais a Coroa Real mandada fazer por D. João VI, bem como 22 mil pedras das quais 18 mil são diamantes, mas o conteúdo das 76 vitrinas da exposição, que também estão protegidas por vidros à prova de bala, contém inúmeras e belas peças a a guardar a nossa contemplação.