quinta-feira, 30 de junho de 2022

Novo aeroporto revela uma “nau à deriva”

Esta manhã o país foi surpreendido com uma notícia sobre o novo aeroporto de Lisboa veiculada pelo jornal Público, que informava que o governo “quer o Montijo em 2026 e Alcochete em 2035” e publicava uma fotografia aérea da área aeroportuária do Montijo. Assim, segundo anunciava o jornal com base num despacho do Ministério das Infraestruturas, a intenção é avançar com as obras no Montijo para que em 2026 possa ser uma infraestrutura complementar da Portela, ao mesmo tempo que se começa a avançar com uma nova infraestrutura aeroportuária a construir de raiz no Campo de Tiro de Alcochete para concluir em 2035, altura em que o aeroporto da Portela será encerrado e libertará a cidade de Lisboa dos seus indesejáveis efeitos ambientais. O mesmo despacho indicava que o processo de Avaliação Ambiental Estratégica em curso passava a ser da responsabilidade do Laboratório Nacional de Engenharia Civil.
A notícia deixou-me optimista, porque era o início do fim de um problema que se arrasta há 53 anos! De facto, foi através do Decreto-lei 48.902, de 8 de Março de 1969, que o governo de Marcello Caetano criou o Gabinete do Novo Aeroporto de Lisboa (GNAL) destinado "a empreender, promover e coordenar toda a actividade relacionada com a construção do novo aeroporto de Lisboa". Desde então avançou-se e recuou-se, envolveram-se interesses contraditórios, perdeu-se tempo e gastou-se dinheiro, houve um incontável número de opiniões expressas por especialistas e não especialistas e até houve soluções tão diversas como a Ota e Beja, Alverca, Alcochete e o Montijo.
Parecia que, finalmente, o problema ia agora começar a ser resolvido. Aleluia, pensei eu! Porém, foi sol de pouca dura. O despacho do Ministério das Infraestruturas foi precipitado e rapidamente foi revogado. Aparentemente, nem o 1º Ministro, nem o Presidente da República, nem os partidos da oposição foram ouvidos numa matéria de relevante interesse nacional. Uma gaffe monumental a manchar ainda mais esta história de incompetência e hesitação de 53 anos. O recuo foi uma humilhação política para o ministro e um sinal de descontrolo do governo. Tal como na Saúde ou na Justiça, na Educação ou na Administração Pública, a nau governativa parece andar à deriva e, nos tempos que correm, isso é muito mau.

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