quarta-feira, 31 de agosto de 2022

R. I. P. Mikhail Gorbachev

Mikhail Gorbachev, o último presidente da antiga União Soviética, morreu ontem em Moscovo com 91 anos de idade e a imprensa mundial dedica enormes elogios à sua acção política, que conduziu ao fim da Guerra Fria e à abertura do antigo bloco soviético ao mundo ocidental.
Tendo sido eleito secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética em 1985, tornou-se aos 54 anos de idade no líder do maior país do mundo em área territorial e rival ideológico dos Estados Unidos. A partir de então as palavras glasnost (transparência) e perestroika (reestruturação) entraram na vida política soviética e no léxico dos países ocidentais, como símbolos das políticas reformistas de Gorbachev. Como presidente da União Soviética, Mikhail Gorbachev enfrentou a estagnação da era de Leonid Brejnev, abriu-se à comunidade internacional, fez uma grande aposta na democratização e modernização do país, na reforma da economia e da sociedade soviéticas, incluindo uma maior liberdade de expressão e a liberalização da imprensa. Porém, não foi capaz de conter os protestos por maior liberdade que se geraram em várias repúblicas soviéticas, que a partir de 1991 exigiam o fim do comunismo e a independência, tendo acabado por assistir à desintegração do bloco de países do Leste e do seu próprio país, durante os dois anos seguintes.
Por isso, alguns grandes acontecimentos mundiais como a queda do muro de Berlim, a reunificação alemã, as independências dos estados bálticos e a queda dos governos pró-soviéticos na Europa de Leste foram possíveis pela acção directa ou indirecta de Gorbachev. Em 1990 foi-lhe atribuído o Prémio Nobel da Paz. 
Quem sabe se a sua morte não foi acelerada pela mágoa e pela dor provocadas pelo que está a acontecer actualmente na martirizada Ucrânia.
Mikhail Gorbachev é, seguramente, uma das mais relevantes personalidades da segunda metade do século XX, a par de John Kennedy, Charles de Gaulle, François Mitterrand, Margaret Thatcher, Helmut Kohl ou Nelson Mandela. 

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

A euforia viajante do Presidente Marcelo

O jornal moçambicano O País anuncia na sua edição de hoje que Moçambique e Portugal realizam uma cimeira na próxima semana em Maputo e publica a fotografia dos presidentes dos dois países em caloroso abraço. Desde que no dia 9 de Março de 2016 tomou posse do cargo para que foi eleito, o presidente da República Portuguesa realizou 97 viagens presidenciais a 44 diferentes países, destacando-se Espanha (16 visitas), França (12 visitas), Estados Unidos (8 visitas), Brasil (6 visitas), Cabo Verde e Itália (5 visitas), Angola (4 visitas), Andorra, Bélgica, Grécia, Moçambique, Reino Unido e S. Tomé e Príncipe (3 visitas), Alemanha, Bulgária, Rússia e Vaticano (2 visitas) e, com apenas uma visita, Afeganistão, Áustria, China, Colômbia, Costa do Marfim, Croácia, Cuba, Egipto, Eslovénia, Guatemala, Guiné-Bissau, Hungria, Índia, Israel, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Marrocos, México, Países Baixos, Panamá, República Centro-Africana, Senegal, Suíça, Timor-Leste e Tunísia. Tantas viagens a tantos países, fazem de Marcelo Rebelo de Sousa o mais viajado presidente da História de Portugal que, no corrente ano, já fez viagens a França, Países Baixos, Moçambique, Espanha, Timor-Leste, Reino Unido, Andorra, Brasil e Angola. 
Começa a ser altura de se fazer uma avaliação custo/benefício de tantas viagens porque, aparentemente, delas pouco mais fica do que os afectos populares que recebe e as selfies, além das repetitivas entrevistas espontâneas que lhe são feitas pelos jornalistas seus acompanhantes. Até o jornal O País se rende a esta euforia do presidente português, ao assumir que vai fazer mais uma visita a Moçambique, mas não sabemos se a notícia é falsa ou verdadeira. Porém, se recordamos que Marcelo Rebelo de Sousa esteve em Moçambique em Março, podemos perguntar o que há de novo a justificar esta viagem, se realmente ela estiver para ser feita. Temos tantos problemas por cá, que não se sabe que sentido ou que utilidade têm tantas viagens, para além de não sabermos quem compõe as suas comitivas, nem quanto custa tudo isto aos contribuintes portugueses.

domingo, 28 de agosto de 2022

Filipe Neri Ferrão, o novo cardeal de Goa

O Papa Francisco presidiu ontem na Cidade do Vaticano a um Consistório Ordinário, isto é, uma reunião de cardeais que é destinada a assistir ou ajudar o Papa nas suas decisões. Foi o oitavo Consistório do seu pontificado e nele foram criados 20 novos cardeais, dos quais 16 eleitores e 4 eméritos (não eleitores), com a particularidade de terem sido criados os primeiros cardeais oriundos de Timor-Leste, do Paraguai e de Singapura. Dos 16 novos cardeais eleitores destacam-se o cardeal Filipe Neri António Sebastião do Rosário Ferrão, arcebispo de Goa e Damão e Patriarca das Índias Orientais, e o cardeal Virgílio do Carmo da Silva, arcebispo de Dili. Ambos são falantes de português e ambos dirigem dioceses historicamente ligadas à Igreja de Portugal.
A diocese de Goa foi a primeira diocese asiática da Cristandade, foi criada em 1533 pelo Papa Clemente VII, era inicialmente sufragânea da diocese do Funchal e estendia-se espacialmente desde o cabo da Boa Esperança até à China e ao Japão. 
A diocese de Dili foi criada em 1940 como sufragânea da arquidiocese de Goa, numa altura em que o território de Timor estava ocupado pelas forças japonesas.
Para aqueles que se identificam com a herança cultural portuguesa nascida da sua expansão marítima pelo mundo, ou para aqueles que se orgulham da lusofonia, católicos ou não católicos, a criação destes novos cardeais lusófonos, a que se juntam os dois novos cardeais brasileiros (os arcebispos de Manaus e de Brasília), é um motivo de grande satisfação cultural.
O jormal oHeraldo que se publica em Goa, onde o hinduísmo é a religião dominante, deu um grande destaque à elevação do seu Arcebispo ao Cardinalato e nós, que bem o conhecemos, também aqui expressamos o nosso regozijo.

O incerto destino de um porta-aviões

O jornal Diario de Avisos, que se anuncia como el periódico de Tenerife, destaca na sua última edição a fotografia do porta-aviões brasileiro São Paulo e, com alarmismo, informa que “cruza águas canárias com material radioactivo”.
O navio que desloca 32 mil toneladas e tem 265 metros de comprimento, foi construído em França e entrou ao serviço da Marinha Francesa em 1963 com o nome de FS Foch (R99), mas no ano de 2000 foi vendido ao Brasil, onde tomou o nome de São Paulo. Foi o navio-chefe da Marinha do Brasil, mas teve inúmeros problemas e nunca esteve operacional por períodos superiores a três meses, até que em 2017 foi abatido ao efectivo. Em 2021 o seu casco foi vendido para ser desmantelado e transformado em sucata num estaleiro do porto turco de Aliaga, no mar Egeu.
O navio está contaminado com um indeterminado mas elevado número de toneladas de amianto, altamente cancerígeno e nocivo para o meio ambiente. Daí que as associações ambientalistas brasileiras tenham procurado impedir, sem sucesso, a saída do navio por ser contrária à lei internacional, pois nem o Brasil pode exportar produtos tóxicos, nem a Turquia os pode importar. Porém, no dia 4 de Agosto o São Paulo deixou o Rio de Janeiro a reboque do rebocador holandês Alp Centre e, nesta altura, está na área das ilhas Canárias a navegar em direcção ao estreito de Gibraltar. Entretanto, há dois dias, sob pressão das suas associações ambientalistas, mas também de muitas outras de diferentes países, as autoridades turcas revogaram a autorização de entrada do São Paulo nos seus portos.
Agora, como diz o Diario de Avisos, “una colossal montaña de material tóxico y radioactivo” navega entre as ilhas de Gran Canaria e Fuerteventura, “sin que conste finalmente cuál será su destino”. O jornal lançou o alarme nas ilhas Canárias. O navio foi uma glória da França, mas agora todos o rejeitam.

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Ucrânia: vuelve la liga, sigue la guerra

No passado fim-de-semana teve início a Premier League 22/23 na Ucrânia, em que participam 16 equipas, algumas das quais com nomes que incluem palavras que nos são familiares nos últimos meses. Assim acontece com as equipas do FC Dynamo Kyiv, Shakhtar Donestsk, Zorya Luhansk, FC Metalist Kharkiv, FC Lviv, SC Dnipro ou Chornomorets Odesa, entre outras. Com a sua iniciativa de começar o seu campeonato de futebol, as autoridades ucranianas procuram restabelecer alguma normalidade na sua vida com o regresso do futebol, apesar de não ter público e ter abrigos em todos os estádios para prevenir qualquer acção ofensiva russa.
Isto faz-me lembrar os Jogos Olímpicos da Antiguidade que se realizavam em Olímpia, na Grécia Antiga, em honra de Zeus. Quando os Jogos se disputavam, havia arautos que anunciavam a realização dos Jogos e espalhavam pelo país um convite aos atletas e aos espectadores para que neles participassem. Esses arautos também anunciavam uma trégua sagrada, que proibia a guerra durante a realização das Olímpiadas, com o objectivo de assegurar a protecção dos atletas e dos espectadores nas suas deslocações entre as suas terras e Olímpia. Era a celebração da paz num mundo em guerra.
É uma pena que este exemplo não inspire o mundo moderno e que o futebol na Ucrânia não assegure uma trégua e, depois da trégua, a paz.
O jornal espanhol ABC publicou a fotografia do autocarro do Shakhtar Donestsk Football Club a caminho do estádio num cenário de edifícios destruídos e escreveu: vuelve la liga, sigue la guerra.

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Ucrânia: 6 meses de guerra e de incerteza

Perfizeram-se hoje seis meses sobre a data em quer Vladimir Putin deu ordem às suas tropas para avançarem sobre Kiev e muitos jornais europeus evocaram esse triste acontecimento nas suas edições de hoje. Passaram-se seis meses e a Ucrânia resistiu, unida e determinada, o que causou a admiração do mundo. Os ucranianos esqueceram as suas rivalidades e as suas diferenças e uniram-se perante a guerra. 
É esse o título que o jornal francês La Croix escolheu para a sua edição de hoje.
Porém, os títulos e as imagens escolhidas pela generalidade da imprensa servem para todos os gostos, mas nenhum deles se atreve a prever o que vai acontecer no terreno nas próximas semanas, isto é, se a contraofensiva ucraniana tem algum sucesso ou, se pelo contrário, a ofensiva russa consegue consolidar as suas posições. No que respeita aos efeitos desta guerra sobre a economia europeia e sobre as posições das opiniões públicas, alguns jornais destacam que a Europa se aproxima da recessão, com o euro a desvalorizar-se face ao dólar, com a quebra da economia alemã, com o aumento do preço do gás, com os efeitos da seca e, ainda, com a imprevisibilidade das eleições italianas.
A Ucrânia parece resistir aos ataques russos e a Rússia não mostra interesse em negociar. Nem o Papa, nem Guterres, nem Erdogan, conseguem quaisquer avanços para que as partes se sentem à mesa das negociações. Ambos apostam na derrota do seu opositor e, por isso, o solo ucraniano parece um gigantesco paiol de armamento. É cada vez mais evidente que a saída para este conflito e para o fim da tragédia que está a arrasar o povo ucraniano, passa por soluções políticas e diplomáticas, onde deverão ser discutidas e arbitradas as questões em disputa. 
Há cada vez mais o receio de estarmos perante um longo conflito de grande desgaste e todos estamos sujeitos às suas incertezas. Tal como nas guerras em que Portugal esteve envolvido na década de 1960 do século XX, a solução destas guerras é política e não militar. 

terça-feira, 23 de agosto de 2022

Democracia e paz nas eleições em Angola

Cerca de 14 milhões de eleitores vão escolher amanhã o novo presidente da República Popular de Angola e, também, os deputados que irão sentar-se na Assembleia Nacional.
Angola é um grande país com profundas relações históricas e culturais com Portugal e possui a maior população lusófona do mundo depois do Brasil, o que faz com que as eleições angolanas sejam acompanhadas em Portugal com grande interesse. O país viveu duas grandes guerras: a primeira de libertação nacional entre 1961 e 1974 e, logo a seguir à independência, uma guerra civil travada entre 1975 e 2002, em que se enfrentaram o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e a União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita).
O MPLA está no poder desde 1975, primeiro com Agostinho Neto, depois com José Eduardo dos Santos e actualmente com João Lourenço que, nas eleições de amanhã, procura a sua reeleição, numa disputa com Adalberto Costa Júnior, um engenheiro electrotécnico formado em Portugal, que é deputado à Assembleia Nacional e líder da Unita.
Todos os analistas consideram que as eleições de amanhã são as mais disputadas de sempre da história política angolana e que, apesar de um ou outro incidente menor, a campanha eleitoral foi esclarecedora e decorreu com elevação. Não há tradição de sondagens em Angola e é grande a incerteza quanto ao resultado. Porém há indicações, ou mesmo duvidosas sondagens, que indicam que João Lourenço pode ser reeleito com 50 a 60% dos votos, enquanto Adalberto Costa Júnior poderá conseguir cerca de 40% dos votos, o que representa uma enorme subida do seu partido. A partir de Lisboa, o jornal de Negócios diz que é tempo de incerteza. O que nos interessa, qualquer que seja o resultado, é que as eleições sejam democráticas, justas, pacíficas e que abram a porta a mais progresso para os angolanos.

domingo, 21 de agosto de 2022

Europa: o calor, a seca e os rios sem água

A água é a fonte da vida humana, além de conservar os ecosistemas e regular o clima, mas é um recurso finito, -embora essa realidade nem sempre seja percebida pelas pessoas habituadas a rodar a torneira e ter a água a correr sob pressão.
A importância da água é uma realidade muito antiga e até originou guerras em muitas regiões do mundo, mas a Europa da abundância tem ignorado esse problema. Porém, a escassez da água chegou à Europa e os europeus têm agora que aprender a conhecer o seu valor, porque dela dependem as comunidades, as economias e os ecosistemas. Com o aumento das temperaturas médias devido ao aquecimento global e às alterações climáticas, que se tem verificado nos últimos anos, é esperado que o problema da escassez de água se agudize. As condições extremas de calor e seca estão a afectar a Europa, mas também os Estados Unidos e a China. É um problema global que está a agravar o modo de vida das populações e as economias, pelo que são necessárias medidas para fazer face a este problema.
Na Europa, o símbolo maior desta ameaça é o rio Reno, um dos seus principais rios, enquanto rota fluvial de comércio e espaço de turismo, pois os níveis de água têm baixado significativamente. Porém, o mesmo está a acontecer com nosso rio Tejo, com o Danúbio, outro grande rio europeu, mas também com o rio Colorado nos Estados Unidos e com o rio Yang-tse na China, entre muitos outros.
Hoje o jornal espanhol ABC apresenta uma grande reportagem a que deu o título Europa se seca e ilustra a capa da edição com uma fotografia do rio Loire, o maior rio da França, que desagua próximo de Nantes na costa atlântica francesa. A expressão “uma imagem vale mais que mil palavras” tem aqui muito cabimento.

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Portugal é a nova Califórnia da Europa

O Courrier International destaca na sua última edição uma reportagem intitulada Portugal – la Californie de l’Europe, que foi traduzida de uma reportagem publicada pelo Jornal de Notícias no passado mês de Junho.
O tema da ”nova Califórnia da Europa” tem sido abordado nos mass media portugueses e um jornal espanhol também já escrevera que Portugal era “o novo refúgio dos famosos que compram casas no país atraídos pela tranquilidade e segurança da Califórnia europeia”. Mais recentemente, também a revista Visão se interessou pela “Califórnia da Europa” e quis saber porque estão os norte-americanos a chegar em força a Portugal. Porém, foi a tradução francesa do artigo de Pedro Emanuel Santos, publicado na edição de 23 de Junho do Jornal de Notícias que o Courrier International escolheu para divulgar este verdadeiro fenómeno que é haver cada vez mais californianos a escolherem Portugal para viver. O autor da reportagem falou com seis californianos que escolheram Portugal para viver e que se sentem como se estivessem na Califórnia, que é quatro vezes maior do que Portugal em área e em população. Os seus nomes são Jen Wittman, Thomas Murray, Paulina Gallardo, Peter Wentzel, Meghana Kamdar e Todd Greentree, cujos discursos são muito semelhantes: fogem da agitação dos dias americanos, da insegurança e do custo de vida elevado, tendo encontrado em Portugal uma inesperada tranquilidade e um país seguro, barato e sem radicalismos como os que estão a aparecer nos Estados Unidos, onde a cultura da violência lhes é insuportável. Todos acrescentam que os portugueses são pessoas acolhedoras, que há bons cuidados médicos, que predomina uma mentalidade inclusiva, que há uma gastronomia de excelência e uma comunidade multicultural.
Não é vulgar aparecer uma tão elogiosa reportagem sobre Portugal numa publicação de grande prestígio internacional.

O cessar-fogo na Ucrânia pode esperar…

O encontro de Lviv entre o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, o secretário-geral das Nações Unidas António Guterres e e o presidente da Turquia Recep Tayyip Erdoğan foi um grande acontecimento político e um passo no sentido de ser encontrada uma solução política para o conflito que se arrasta há cerca de seis meses e que está a destruir a Ucrânia e a transtornar o mundo. O encontro é, em si mesmo, uma boa notícia, pois representa a vontade de encontrar a paz, com Erdoğan e Guterres a quererem replicar o acordo de exportação de cereais para um acordo mais geral que conduza a um cessar-fogo e a negociações, pois a via militar revela-se cada vez mais como uma não-solução. A lógica do desgaste ou da humilhação do adversário, bem como a vontade de derrotar o agressor ou o provocador, não fazem qualquer sentido perante a enorme tragédia a que assistimos diariamente e dos riscos do conflito se poder internacionalizar ainda mais do que já está, com armamentos e combatentes de tão diferentes origens.
É por isso que, com o apoio de Guterres, Erdoğan terá oferecido a sua mediação para um encontro entre os líderes russo e ucraniano e proposto um cessar-fogo na Ucrânia, mas Zelensky terá posto como primeira condição que os russos abandonem os territórios ocupados, o que significa que não será fácil sair deste imbroglio. Como hoje assinalava um jornal português, o presidente Volodymyr Zelensky desafinou ao ouvir os cânticos de paz de Erdoğan e de Guterres, até porque o seu nacionalismo e a sua determinação parecem ser estimulados ou dirigidos por Washington e Londres.
Há que reconhecer os esforços de Erdoğan e Guterres e esperar que não desistam, mas aqueles que querem a paz parece que ainda têm muito que esperar.

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

A guerra continua a destruir a Ucrânia

Na sua edição de hoje, o jornal The Washington Post inclui um extenso artigo em que historia o longo processo político e diplomático que deu origem ao actual conflito militar na Ucrânia, com o expressivo título “Road to war”. É um artigo extenso e muito bem documentado, em que os principais protagonistas desta triste história – Putin, Biden e Zelensky – têm direito a fotografia na primeira página do jornal.
Os argumentos de ambas as partes são conhecidos e se nos lembrarmos que Putin e Biden falaram ao telefone durante uma hora no dia 12 de Fevereiro, ficamos perplexos por não terem chegado a acordo e terem cedido às suas ambições pela liderança mundial. Nessa altura haveria cerca de cem mil soldados russos nas fronteiras ucranianas e foi com essas forças que Putin mandou avançar as suas tropas mas, segundo refere o jornal, os Estados Unidos, o Reino Unido e outros membros da NATO tinham passado anos a treinar e a equipar os militares ucranianos, enquanto os Estados Unidos tinham estabelecido uma linha de comunicação directa dos militares ucranianos ao comando militar americano na Europa.
Significa que todos, nomeadamente russos e americanos, se tinham preparado para a guerra e que todos foram incapazes de a evitar, tendo desvalorizado as suas trágicas consequências para o povo ucraniano, que é a principal vítima desta tragédia. São passados quase seis meses sem que haja sinais de cessar-fogo, de negociações e de paz, havendo pelo contrário alguns sinais que agravam a situação.
De facto, nos últimos dias a iniciativa ucraniana desafiou a Rússia com ataques a objectivos militares na Crimeia, um território que Putin considera “sagrado”. Primeiro foi um ataque a uma base aérea russa que destruiu vários aviões e, mais recentemente, foi um ataque a um depósito de munições realizado por uma unidade militar de elite ucraniana a operar atrás das linhas inimigas. Foram duas vitórias para Zelensky e para o seu patrono Biden, mas foram dois golpes dolorosos para Putin e para o seu orgulho.
Amanhã Guterres vai conversar com Zelensky, na companhia de Erdogan. 
O mundo espera que a conversa corra bem.

terça-feira, 16 de agosto de 2022

Começou a campanha eleitoral no Brasil

Começou ontem oficialmente a campanha eleitoral para as eleições presidenciais brasileiras que serão realizadas no dia 2 de Outubro, nas quais cerca de 156 milhões de cidadãos brasileiros irão às urnas. Porém, muito antes do início oficial da campanha já se acumulavam demasiadas polémicas, com as declarações dos dois principais candidatos a aproximarem-se do insulto. Jair Bolsonaro e Lula da Silva, o actual e o ex-presidente que o desafia, representam dois projectos políticos e dois estilos bem diferentes, como é bem diferente o prestígio internacional de cada um deles. 
As sondagens vão aparecendo, muitas das quais com pouca seriedade e grandes margens de erro, mas é a única forma que temos de acompanhar a campanha. Há cerca de duas semanas referimos aqui a sondagem da Datafolha de S. Paulo, em que Lula recolhia 47% e Bolsonaro 29% das intenções de voto. Hoje o jornal O Globo publica a sondagem do Ipec do Rio de Janeiro, em que Lula recolhe 44% e Bolsonaro 32% das intenções de voto. Cada sondagem utiliza amostras e métodos de recolha de informação diferentes, pelo que os resultados não são comparáveis, embora possamos verificar que Lula continua na frente, mas que reduziu o seu avanço sobre Bolsonaro de 18 para 12 pontos percentuais, o que é muito significativo.
Nas intenções de voto relativas a uma eventual 2ª volta que seria disputada no dia 30 de Outubro, o ex-presidente Lula da Silva lidera a disputa com 51%, enquanto Bolsonaro tem 35%.
Estes resultados têm sido muito contestados e os apoiantes das duas principais candidaturas acusam as empresas de sondagens de manipular os resultados consoante estão ou não alinhados com os seus objectivos, especialmente os bolsonaristas que, assustados pela alta probabilidade de serem derrotados, acusam a Datafolha de fabricar fake news, chamando-lhe Datalula
A campanha eleitoral é bem longa e os brasileiros desejarão que corra com serenidade e com esperança em dias melhores para o país.

sábado, 13 de agosto de 2022

O esconderijo secreto de Donald Trump

A luta política e a procura do poder acontecem em todos os regimes e em todo o mundo, embora com intensidades variáveis. No caso dos Estados Unidos, bem nos lembramos da última eleição presidencial de 2020 em que Donald Trump, o presidente então em exercício, não aceitou a derrota na disputa com Joe Biden, o candidato do Partido Democrata.
Agora, com as próximas eleições presidenciais já marcadas para o dia 5 de Novembro de 2024, a política americana começa a movimentar-se. O presidente Joe Biden já anunciou que pretende recandidatar-se numa altura em que contará 82 anos de idade, mas a maioria dos eleitores democratas entendem que o Partido Democrata devia nomear um outro candidato. No que respeita a Donald Trump e embora ainda não tenha anunciado a sua intenção de se candidatar, a maioria dos Republicanos também deseja um outro candidato, apesar das sondagens indicarem que Trump baterá Biden, se ambos disputarem a presidência. Parece, portanto, que o eleitorado não quer Biden nem Trump e há muitas vozes a defender uma terceira via.
Entretanto, o Departamento de Justiça tem estado a investigar o paradeiro de alguma informação classificada como ultrasecreta, que Trump levou para a sua mansão de Mar-a-Lago, no estado da Florida, depois de deixar a Casa Branca. O jornal Daily News chamou-lhe “o esconderijo secreto de Donald”. O FBI foi mandatado para efectuar buscas na referida mansão e “apreendeu onze conjuntos de documentos”, cujo conteúdo “pode causar danos excepcionalmente graves à segurança nacional dos Estados Unidos”, mas Trump nega quaisquer irregularidades e afirma que os documentos em causa não eram classificados. Uns aproveitam para demonstrar que Trump não pode voltar a ser presidente e outros condenam as buscas e afirmam que se trata de perseguição política. Independentemente do caso cujos contornos são pouco conhecidos, o facto é que a campanha eleitoral de 2024 para a Casa Branca já começou.

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Sem chuva e com calor, toda a Europa seca

A Europa está a atravessar um período de seca severa, devido à conjugação das altas temperaturas que fazem evaporar a humidade dos solos e à falta de precipitação. Os efeitos destas circunstâncias estão a ser muito preocupantes, não apenas na península Ibérica onde já eram habituais em algumas zonas, mas em vários países do centro da Europa.
Na sua edição de hoje o jornal holandês nrc apresenta um estudo sobre a situação e, para ilustrar a sua primeira página, escolheu uma série de imagens que mostram a evolução da seca na Europa nos últimos meses. Depois, o texto do estudo é acompanhado por elucidativos gráficos, para cuja interpretação não é preciso saber holandês. O estudo mostra que o solo de quase toda a Europa perdeu humidade e secou, mas também mostra que a falta de chuvas tem sido anormalmente alta. Nos Países Baixos já está declarada oficialmente uma escassez de água, ao mesmo tempo que as capturas de água no rio Reno estão afectadas pela redução do seu caudal e pelo aumento da sua salinidade, enquanto a navegação naquele rio começa a ser limitada e a perturbar o transporte de carvão destinado à produção de energia. A produção de electricidade também está seriamente afectada, não só nas barragens hidro-eléctricas, mas também nas instalações nucleares devido à falta de água de resfriamento. A procura de água excede a oferta e, consequentemente, o preço aumenta, arrastando consigo uma onda inflacionária por toda a Europa.
Estas são as notícias de hoje do nrc de Amesterdão, mas as consequências do calor e da seca, os incêndios florestais e a crise energética, estão hoje nas primeiras páginas de muitos jornais europeus, desde o Reino Unido à Polónia e à Roménia.

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Que haja sensatez entre a China e Taiwan

O Global Times é um jornal tablóide criado em Pequim no ano de 1993, com posições próximas do Partido Comunista Chinês no que respeita às questões internacionais e que, a partir de 2009, passou a ter uma versão em inglês. Nas suas últimas edições, o jornal tem tratado da problemática relativa à visita de Nancy Pelosi à ilha de Taiwan e dos exercícios militares chineses no estreito de Taiwan, repetindo a tese da reunificação e do regresso de Taiwan à mãe-pátria.
Na sua última edição, o jornal trata do terceiro white paper sobre a questão de Taiwan agora difundido, recordando que em 1993 houvera um primeiro white paper sobre “A questão de Taiwan e a reunificação da China” e que em 2000 houve um segundo white paper sobre “O princípio de uma só China e a questão de Taiwan”. Este terceiro white paper actualiza os anteriores e reafirma “a determinação do Partido Comunista da China (CPC) e do povo chinês, bem como o seu compromisso com a reunificação nacional”, constituindo um aviso ao Partido Progressista Democrático (DPP) de Taiwan, que é secessionista e que actualmente governa a ilha, mas também destaca “o papel perigoso dos Estados Unidos na interrupção do processo de reunificação chinês”.
O white paper publicado pelo Global Times afirma que o CPC está comprometido com a missão histórica de resolver a questão de Taiwan e realizar a reunificação completa da China e diz: “Somos uma China e Taiwan é uma parte da China. Este é um fato indiscutível apoiado pela história e pela lei. Taiwan nunca foi um estado; seu status como parte da China é inalterável”.
O jornal que divulga o terceiro white paper tem a sua primeira página ilustrada com um mapa da República Popular da China (9.597.000 km2), que é 265 vezes maior do que a ilha de Taiwan (36.197 km2), estando ambas a cerca de 130 quilómetros de distância.
Entretanto, os comandos militares chineses avisaram que vão observar de perto a situação no estreito de Taiwan e que organizarão regularmente patrulhas de segurança e de prontidão para combate no estreito, para salvaguardar a soberania nacional e a integridade territorial. 
Que haja muita sensatez entre a China e Taiwan!

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Il Vaticano dice que dialogare è possibile

O jornal L’Osservatore Romano é publicado diariamente no Vaticano e é propriedade da Santa Sé, embora não seja a sua publicação oficial, nem seja “a voz do Papa”. As opiniões veiculadas pelo jornal são livres e da responsabilidade de quem as assina, mas são sempre interpretadas como sendo a voz da Igreja Católica.
Na sua última edição o jornal publica a fotografia do Razoni, que foi o primeiro navio mercante que saiu dos portos ucranianos do mar Negro desde o início da guerra, após negociações bem sucedidas que foram mediadas pela Turquia e pelas Nações Unidas. Antes já houvera alguns acordos para trocas de prisioneiros, para o estabelecimento de corredores de segurança, para a evacuação de populações e até para a rendição das forças do Batalhão Azov cercadas no complexo siderúrgico Azovstal, em Mariupol.
Com base nos resultados já havidos em algumas questões pontuais, é lícito pensar que é possível dialogar e ir mais além na busca do cessar-fogo e da paz na Ucrânia, embora seja evidente que há forças e interesses das duas partes que, teimosamente, apostam na continuação da guerra para desgastar ou derrotar a outra parte. A propaganda tem sido orientada para prolongar a guerra e não para procurar a paz, ao mesmo tempo que as indústrias do armamento enriquecem e os cofres públicos de alguns países vão ficando mais vazios. A diplomacia e a negociação podem fazer muito para que Zelensky e Putin cheguem a um acordo honroso e possam libertar o povo ucraniano da violência da guerra e poupar os europeus das suas consequências económicas, que se vão agravando com a crise energética e com outras.
O L’Osservatore Romano diz que “dialogare è possibile” e, de facto, assim tem que ser, ou antes, deveria ter sido antes do dia 24 de Fevereiro de 2022.

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

O novo caminho do povo da Colômbia

A Colômbia é uma república da América do Sul que faz fronteira com a Venezuela, o Brasil, o Equador e o Peru, sendo banhada a ocidente pelo oceano Pacífico e a oriente pelo oceano Atlântico. Resultou da independência do Vice-Reino de Nova Granada que se separou da Espanha em 1819 e depois se fragmentou, dando origem a vários países, entre os quais a República da Colômbia. Hoje tem cerca de 50 milhões de habitantes, sendo por isso o país mais populoso da América do Sul, depois do Brasil.
Na sua história mais recente a Colômbia esteve confrontada com a acção das FARC, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, uma organização paramilitar de inspiração marxista-leninista criada em 1964 que desenvolveu uma luta de guerrilhas contra o governo colombiano. Nessa luta estiveram envolvidos interesses ideológicos, muitas vezes capturados pelo chamado narco-latifundismo, daí resultando cerca de 262 mil mortos, sobretudo civis.
Depois de cerca de 50 anos de guerra e em consequência dos esforços do presidente Juan Manuel Santos, as FARC anunciaram em 2016 o cessar-fogo e o abandono da luta armada e, em Junho de 2017, o braço armado das FARC entregou as suas armas às Nações Unidas.
Depois de ter ganho as recentes eleições presidenciais, tomou posse ontem como presidente da República da Colômbia o economista Gustavo Francisco Petro, um antigo guerrilheiro das FARC, que fundou o movimento Colombia Humana e, com ele e como sua vice-presidente, também foi empossada Francia Márquez, uma activista afro-colombiana. No podemos fallar foi a frase escolhida pelo jornal colombiano El Espectador para anunciar a tomada de posse do novo presidente colombiano, cuja missão é muito complexa e está a gerar a atenção de todo o continente americano.

domingo, 7 de agosto de 2022

Europa sob uma crise de falta de água

Há uma grande inquietação por toda a Europa devido à seca extrema que está a afectar muitos países e o jornal La Voix du Nord, que se publica na cidade francesa de Lille, destaca na sua última edição “une crise de l’eau historique”. Numa altura em que as consequências da guerra na Ucrânia e, em especial, os efeitos das sanções impostas à Rússia aceleraram o processo inflacionário e a crise energética que já afectavam a normalidade económica da Europa, surgiu a maior seca dos últimos anos. 
A seca hidrológica aumentou na península Ibérica, França, Roménia, Alemanha ocidental e várias regiões do Mediterrâneo, incluindo o sul e o centro da Itália, o sul da Grécia, a Croácia e a Bósnia-Herzegovina. Algumas zonas já tinham sido afectadas pela seca na passada Primavera, como sucedeu no norte da Itália, no sueste da França e em algumas áreas da Roménia e da Hungria, mas nas últimas semanas a situação agravou-se nessas regiões. Na origem da seca severa que está a afectar a Europa está o défice de precipitação registado no Inverno e na Primavera, que foi agravado mais recentemente pelo efeito de várias ondas de calor que ocorreram a partir de Maio. A falta de precipitação fez com que se reduzisse de forma significativa a quantidade de água no solo, o desenvolvimento de várias colheitas agrícolas, o caudal de muitos rios e o armazenamento de água nas barragens. Há vários rios europeus cujo caudal está reduzido a mínimos históricos e, se os portugueses referem o Tejo, os italianos citam o Pó e os franceses o Garona. 
“De Este a Oeste, a seca que assola a Europa é histórica”, refere o jornal francês. Não há memória de uma seca desta dimensão e ninguém arrisca prever quando esta situação poderá ser ultrapassada, sendo inúmeras as restrições ao consumo da água, designadamente em municípios portugueses, espanhóis e franceses. 
Costumava-se falar em crises da água em África e no Médio Oriente, mas agora essa crise chegou à Europa que, aparentemente, não estava preparada para que a água lhe faltasse.

sábado, 6 de agosto de 2022

R.I.P. Jô Soares

Jô Soares, de seu nome verdadeiro José Eugénio Soares, faleceu ontem em São Paulo com 84 anos de idade e a sua morte provocou muita comoção no Brasil e teve muita repercussão em Portugal. A notícia da sua morte encheu a primeira página de alguns jornais brasileiros como o Extra, do Rio de Janeiro, mas também foi destacada em Portugal. 
Era um homem de grande talento com um importante currículo na televisão, no teatro e na literatura, sendo membro da Academia Paulista de Letras desde 2016, mas impôs-se sobretudo como um humorista muito criativo.
A partir de 1981 tornou-se conhecido em Portugal quando a televisão pública transmitiu o seu programa humorístico Viva o Gordo! e, a partir de então, Jô Soares passou a ser uma figura com presença regular no espaço mediático português, fazendo rir o país com o seu humor muito inteligente. Passou a ser uma visita frequente do nosso país e, a par de Chico Buarque, Roberto Carlos, Caetano Veloso, Elis Regina, Maria Bethânia e tantos outros, tornou-se um verdadeiro embaixador da cultura brasileira em Portugal, procurando sempre estreitar os laços culturais e afectivos entre Portugal e o Brasil.
Homens como Jô Soares fazem sempre muita falta no panorama das relações luso-brasileiras.

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Marilyn Monroe é um mito já com 60 anos

Marilyn Monroe foi encontrada morta no dia 4 de Agosto de 1962 na sua casa em Los Angeles, em consequência de uma overdose de barbitúricos, quando tinha 36 anos de idade e era um ícone do cinema americano. 
Nascida em 1926 foi baptizada como Norma Jeane Mortensen, começou por ser cantora e modelo, tendo sido as suas fotografias publicadas por diversas revistas que lhe abriram as portas de Hollywood, onde adoptou o nome artístico de Marilyn Monroe e se tornou conhecida como um sex-symbol, mas também pelo seu cabelo louro platinado e os seus casos amorosos. Na sua carreira cinematográfica destacou-se nos filmes “Os homens preferem as louras” e “Quanto mais quente melhor”.
A sua morte, acontecida em circunstâncias ainda consideradas misteriosas, chocou o mundo da arte cinematográfica e transformou-a numa lenda de Hollywood, muito semelhante às lendas que envolvem outras figuras contemporâneas, como o músico John Lennon ou, noutro plano, o guerrilheiro Che Guevara. Um seu retrato da autoria de Andy Warhol foi vendido em 1964 por 195 milhões de dólares num leilão em Nova Iorque, tornando-se na obra mais cara do século XX, que foi vendida num leilão.
A sua morte aconteceu há sessenta anos, mas os seus muitos fãs homenagearam-na hoje no Passeio da Fama, em Los Angeles. Porém, o Kleine Zeitung que é o segundo jornal de maior audiência na Áustria e se publica na cidade de Graz, deixou para segundo plano a guerra da Ucrânia, a tensão em Taiwan, a pressão inflacionista, a crise energética e os outros grandes problemas do mundo,  para também homenagear Marilyn Monroe, a quem dedicou a capa da sua edição de hoje com uma das suas mais famosas fotografias e o título Mythos Marilyn. 

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Quem semeia ventos, colhe tempestades

Muitos jornais internacionais destacam hoje como principal notícia a visita que Nancy Pelosi, a presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos e terceira figura na hierarquia política americana, iniciou ontem a Taiwan, a ilha do mar da China a que os portugueses chamaram ilha Formosa.
Quando em 1949 os comunistas de Mao Tse-Tung triunfaram na guerra civil chinesa, o antigo governo chinês e o seu presidente general Chiang Kai-shek refugiaram-se na ilha, não aceitando a derrota militar. Porém, a nova República Popular da China também nunca aceitou a situação e sempre perseguiu o objectivo de fazer regressar a ilha rebelde à mãe-pátria. Depois de Hong Kong em 1997 e de Macau em 1999, as autoridades de Pequim têm reivindicado que Taiwan deve regressar à China, pela força se necessário, considerando-a uma província separatista. Todo o mundo sabe desse desígnio de Pequim, daí resultando uma tensão continuada entre os Estados Unidos e a China.
Acontece que no tempo de incerteza em que vivemos já há demasiados conflitos e tensões por todo o planeta, pelo que deverá ser evitado tudo o que possa aumentar a tensão. Apesar deste quadro, Nancy Pelosi decidiu visitar Taiwan e outros países asiáticos para reafirmar o compromisso dos Estados Unidos com os seus amigos e aliados na Ásia Oriental. A China considerou esta visita uma provocação e, numa recente conversa telefónica entre Xi Jinping e Joe Biden, o chinês avisou o americano para não brincar com o fogo.
O jornal USA Today utilizou essa frase para anunciar, ou criticar, essa visita de Pelosi a Taiwan, mas há um ditado português que também ilustra essa visita: quem semeia ventos, colhe tempestades. Será que, com a sua visita, Pelosi foi semear ventos?
A China tinha afirmado que a visita de Pelosi era uma grande provocação e ameaçou os Estados Unidos de retaliação. Os Estados Unidos já disseram estar preparados para uma resposta chinesa. Assim vai o mundo.

terça-feira, 2 de agosto de 2022

Acordo russo-ucraniano é uma esperança

O navio mercante Razoni largou ontem de Odessa com 26.000 toneladas de milho, tornando-se no primeiro navio comercial que saiu daquele porto ucraniano desde o início da guerra. Esta saída e a utilizaçáo de um corredor marítimo de segurança no mar Negro, foram negociados durante vários meses entre os governos russo e ucraniano, sob a mediação da Turquia e das Nações Unidas. Esse acordo abriu caminho para a Ucrânia exportar 22 milhões de toneladas de cereais e outros produtos agrícolas que ficaram retidos nos seus portos do Mar Negro devido à invasão russa, tendo com contrapartidas a possibilidade da Rússia também exportar cereais e fertilizantes. 
O navio mercante Razoni arvora o pavilhão da Serra Leoa e escalará hoje o porto de Istambul onde, nos termos do acordo de 22 de Julho, vai ser inspeccionado no centro de coordenação e controlo criado nos termos do acordo, após o que navegará para o porto de Tripoli, no Líbano. Desta forma, parece estar em curso o início do alívio da crise alimentar mundial que já se desenhava, sobretudo na África e na Ásia. 
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, saudou “calorosamente” a saída deste primeiro navio com cereais ucranianos e elogiou as delegações da Rússia, da Ucrânia e da Turquia que estiveram envolvidas nas negociações do acordo, que permitiu que o primeiro navio mercante tivesse saído de Odessa. António Guterres disse, ainda, que “esta guerra tem de acabar e a paz tem de ser estabelecida, em conformidade com a Carta das Nações Unidas e o Direito Internacional". 
A saída do Razoni, que hoje é destacada pelo jornal El País, é um bom exemplo do que podem fazer a Diplomacia e as negociações, mostrando como essa via é inspiradora e esperançosa, pelo que deve ser seguida para acabar com a tragédia da guerra em que todos perdem. Porém, Guterres parece estar sozinho, pois o que vemos é muita gente a lançar gasolina para a fogueira.

segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Futebol feminino em alta de entusiasmo

A fase final do UEFA Women’s Euro, ou Campeonato Europeu de Futebol Feminino, disputou-se na Inglaterra entre os dias 6 e 31 de Julho e teve a participação de 16 equipas, entre as quais Portugal.
Nos doze campeonatos anteriores a Alemanha tinha sido a grande triunfadora com oito vitórias, seguindo-se a Noruega com duas vitórias e a Suécia e os Países Baixos com uma vitória cada. Tal como acontecera em 2017, a grande favorita que era a Alemanha voltou a não ganhar. No jogo da final disputado em Londres, após prolongamento, a Inglaterra bateu a Alemanha por 2-1 e foi o delírio no estádio de Wembley, onde 87.192 pessoas assistiam ao jogo. Nunca uma final masculina ou feminina destes campeonatos tinha tido tantos espectadores e, como reflexo desse enorme entusiasmo, toda a imprensa britânica também se entusiasmou com o êxito desportivo da equipa inglesa e publicou nas suas primeiras páginas a fotografia dos festejos das novas campeãs europeias. O jornal The Guardian é apenas um dos jornais de referência ingleses que hoje se rendeu ao futebol feminino e esqueceu a guerra na Ucrânia, a crise política na Itália, a recessão nos Estados Unidos, a luta pela sucessão de Boris Johnson, o balanço da viagem do Papa ao Canadá, ou as alterações climáticas e os fogos florestais.
A equipa portuguesa teve um comportamento modesto e o melhor que conseguiu foi um empate com a equipa suiça, mas ao observarmos os resultados das 16 equipas participantes na fase final do UEFA Women’s Euro England 2022, verificamos que a Finlândia e a Irlanda do Norte só tiveram derrotas e que, tal como a equipa portuguesa, também a Itália e a Suiça só conseguiram um empate.
Por isso, a equipa portuguesa ficou no pelotão da rectaguarda, mas não esteve só... e até jogou bem.