sexta-feira, 30 de abril de 2021

A tragédia brasileira e a culpa do Jair

Nas suas edições de hoje quase toda a imprensa brasileira faz manchete com a frase “400 mil mortes” e, portanto, é um dia muito triste para o Brasil, a mostrar que o país está perante uma enorme catástrofe humanitária. Nas últimas 24 horas foram contabilizados 3.001 óbitos e 69.389 novos casos de infectados, o que coloca o Brasil em segundo lugar na lista dos países que tiveram mais óbitos, só superado pelos Estados Unidos. Com cerca de 2,7% da população mundial, o Brasil concentra 9,7% de todos os infectados e 12,6% de todos os óbitos.
Hoje o Correio Brasiliense pergunta como foi possível chegar a esta situação tão dramática e quem é que vai pagar por isso.
A primeira resposta parece encontrar-se na falta de vacinas para poder acelerar a imunização da população, mas o facto é que o vacinómetro apresentado pelo Conselho Nacional de Saúde do Brasil indica que já foram distribuídas 57 milhões de vacinas, das quais já foram aplicadas 41 milhões de doses, havendo quase 13 milhões de brasileiros, correspondentes a 6% da população, que já receberam as duas doses da vacina. Portanto, apesar das vacinas serem um recurso escasso em todos os países, não parece que seja esse o problema do Brasil, que ontem terá recebido as primeiras remessas da vacina produzida pela Pfizer. Assim, como sugerem vários jornais, o Brasil está a sofrer as consequências de ter um Presidente negacionista, que não tomou as medidas adequadas, que teve comportamentos condenáveis, que deu maus exemplos à população e que se revelou um irresponsável. Espera-se que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada para investigar as acções ou omissões das autoridades durante a pandemia e, em especial, a actuação de Bolsonaro, consiga resultados. O país que há bem pouco tempo era o exemplo mundial da luta contra a pobreza, está a passar agora por um período de desprestígio e de imagem negativa, provocados por um presidente incapaz, que envergonha a maioria dos brasileiros. Os americanos puseram Donald Trump na rua. Os brasileiros vão fazer o mesmo a Jair Bolsonaro.

quinta-feira, 29 de abril de 2021

O regresso breve do comércio luso-galego

O diário Atlántico que se publica na cidade galega de Vigo, insere na sua edição de hoje com destaque de primeira página, uma fotografia da Ponte Internacional da Amizade na qual é mostrada um enorme faixa com o apelo “EU Help. Open the border”. Este apelo em inglês é dirigido directamente às autoridades comunitárias, provavelmente porque o comércio dos dois lados da fronteira já esgotou todos os seus argumentos junto das autoridades portuguesas e espanholas, para que fosse reaberta a fronteira entre o Minho e a Galiza.
A Ponte Internacional da Amizade atravessa o rio Minho, tem 443 metros de comprimento e, desde 2004, liga os concelhos de Vila Nova de Cerveira e Tomiño. A ponte potenciou a cooperação entre os dois lados da fronteira e permitiu que surgissem novos negócios entre minhotos e galegos. Os espanhóis habituaram-se a vir aos restaurantes minhotos, enquanto os portugueses vão fazer compras nas lojas e nos supermercados galegos, para além de se abastecerem de combustíveis no lado de lá da fronteira.
Com a pandemia e com a fronteira encerrada, uma boa parte deste dinâmico intercâmbio foi suspenso e estima-se que os negócios transfronteiriços tenham caído cerca de 70%. “Sem os espanhóis não há negócio”, dizem os comerciantes portugueses de Vila Nova de Cerveira, mas também de Valença, de Monção e de Melgaço. Agora que a situação epidemiológica parece estar controlada dos dois lados da fronteira, todos anseiam pelo regresso à normalidade e esperam que os meses de Verão os ajudem.

Goa e a Índia sob a tempestade pandémica

A Índia anunciou hoje que, nas últimas 24 horas, se verificaram 379.257 novos casos de covid-19 e 3.645 óbitos, números que representam o maior aumento que aconteceu em todo o mundo num só dia. As notícias que nos chegam daquele país são assustadoras, pois mostram o desespero das populações e a enorme dificuldade para travar a pandemia, revelando que há falta de camas e de oxigénio nos hospitais. Com quase 1.400 milhões de habitantes, a Índia já registou mais de 18 milhões de pessoas infectadas das quais há actualmente cerca de 3 milhões de casos activos, tendo registado até agora 204.812 óbitos.
O pequeno estado de Goa (1,4 milhões de habitantes e capital em Pangim) faz fronteira com dois dos estados indianos onde a situação é mais grave, que são Maharashtra (114 milhões de habitantes e capital em Mumbai) e Karnataka (64 milhões de habitantes e capital em Bangalore), mas não tem nenhuma cerca sanitária que o proteja, pelo que está exposta ao fluxo turístico indiano que se dirige para Goa, seduzido pela especificidade cultural de uma região que é considerada “a Europa da Índia”. Daí resulta que, a situação em Goa também seja muito preocupante e que, nas últimas 24 horas, tenham sido anunciados 3.101 novos casos de covid-19 e 24 óbitos. 
Segundo revela a edição de hoje do centenário jornal Herald, as autoridades determinaram o confinamento quase geral a partir de hoje, mas apenas por cinco dias. Se pensarmos no que se passou em Portugal em Janeiro, facilmente concluímos que este lockdown, que começa hoje às nove horas da noite, é capaz de ser curto.

quarta-feira, 28 de abril de 2021

Portugal e o fim do estado de emergência

O Presidente da República decidiu não renovar o estado de emergência que vinha sendo prolongado desde há vários meses como forma de resistir à crise pandémica causada pelo covid-19. Assim, o país começa a abrir-se como sugere a ilustração do jornal i.
De uma forma geral, os portugueses cumpriram as regras determinadas pelo confinamento generalizado e os resultados foram muito positivos, o que desde já obriga ao reconhecimento e ao justo louvor às autoridades de saúde, por vezes injustamente atacadas por alguns comentadores incapazes e ignorantes que campeiam pelas nossas estações de televisão. A decisão do Presidente da República fundamentou-se na opinião dos especialistas e em dados objectivos, designadamente na estabilização do número de infectados, na descida do número médio de óbitos, na diminuição do número de doentes internados tanto em enfermaria como em unidades de cuidados intensivos e na redução do famoso Rt, a taxa de transmissibilidade de que todos os portugueses falam. No dia 26 de Abril não se registaram quaisquer óbitos por covid-19, o que já não acontecia desde o dia 3 de Agosto e esta é uma expressiva e animadora realidade.
A vida social e a economia vão abrir-se, mas apesar da situação muito favorável que atravessamos e da vacinação estar a decorrer de forma muito eficiente, a crise ainda não está vencida e é preciso continuar a monitorar e a controlar a situação, como aconselham as notícias que nos chegam de outros países e de outras partes do mundo. Os catorze meses em que estivemos sujeitos à pandemia causaram muitos estragos na nossa forma de viver e até na nossa saúde mental. Estamos menos confiantes, mas também estamos mais pobres. Temos mais desemprego, mais défice e mais dívida. Temos que fazer um esforço de coesão para sair desta prova difícil que enfrentamos.
O primeiro caso de covid-19 foi detectado no dia 2 de Março de 2020 e, cerca de catorze meses depois, foram contabilizados cerca de 834.638 casos e 16.965 óbitos. Foi uma dura prova de que esperamos estar mesmo de saída.

terça-feira, 27 de abril de 2021

Homenagem ao submarinista indonésio

No passado dia 21 de Abril o submarino KRI Nanggala desapareceu ao largo da ilha indonésia de Bali com 53 tripulantes e, três dias depois, quando começaram a aparecer alguns destroços à superfície, a Marinha da Indonésia começou a considerar que o submarino se perdera e, algum tempo depois, assumiu que o submarino naufragou.
Os acidentes com submarinos causam sempre grande impacto emocional no público, porque quando há informações de que não há notícia de um submarino, é porque alguma coisa muito grave aconteceu e normalmente não há sobreviventes. Desta vez, uma vez mais, assim aconteceu.
Este acidente segue-se a outras tragédias que têm acontecido com submarinos nos últimos anos, o último dos quais aconteceu em Novembro de 2017 com o ARA San Juan da Marinha da Argentina, no qual pereceram 44 tripulantes. Outros países que têm frotas submarinas, têm perdido alguns desses navios e, sem se pretender ser exaustivo nesta recolha histórica, salienta-se que os Estados Unidos perderam o USS Thresher (SSN 593) em 1963 com 129 tripulantes e, em 1968, o USS Scorpion (SSN 589) com 99 tripulantes. A França perdeu em 1968 o submarino Minerve (S 647) com 52 tripulantes e, em 1970, o submarino Eurydice (S 644) com 57 tripulantes. No ano de 2000 a Rússia perdeu o submarino Kursk com 118 tripulantes e em 2003 a China perdeu o Ming 361, com 70 tripulantes a bordo.
A edição de hoje do The Wall Street Journal associou-se à homenagem que a Marinha da Indonésia prestou aos submarinistas que pereceram a bordo do KRI Nanggala, publicando uma fotografia a quatro colunas do lançamento ao mar de uma coroa de flores em sua memória.

domingo, 25 de abril de 2021

Viva a Liberdade. Viva o 25 de Abril

Celebram-se hoje 47 anos sobre o dia 25 de Abril de 1974. Nesse dia, a que Sofia de Mello Breyner chamou “o dia inicial inteiro e limpo”, caiu o regime nascido do movimento de 28 de Maio de 1926, que se fortalecera com o poder pessoal e não democrático de Salazar, que viria a conservar-se no poder e a impor um regime de clausura durante mais de quatro décadas. Esse regime reprimia as liberdades, cultivava o analfabetismo e o obscurantismo da população, gerara o empobrecimento do país, impulsionara a emigração e tinha provocado o isolamento internacional de Portugal, ao prosseguir teimosamente e contra os ventos da história, uma política colonial e uma dura guerra em três frentes de luta. Era o “Portugal Amordaçado” de Mário Soares e “O Império com pés de barro” de José Freire Antunes.
O 25 de Abril foi “a madrugada que eu esperava”, como também escreveu Sofia, foi a grande festa da libertação e teve um apoio popular extraordinário. O antigo regime não teve quem o defendesse e caiu de podre. Foi um dia inesquecível para quem teve o privilégio histórico e emocional de o viver, porque devolveu a liberdade aos portugueses e acabou com treze anos de guerra, daí resultando o fim do mais antigo império colonial da história moderna e a conquista da liberdade e da independência pelos povos das colónias portuguesas. Acabou também com a PIDE, a zelosa polícia que oprimia pelo medo, que perseguia os cidadãos sempre suspeitos de atentarem contra a segurança do Estado, a quem torturava e metia na prisão arbitrariamente e sem quaisquer garantias de defesa. O 25 de Abril permitiu que o mundo abrisse as suas portas ao novo Portugal e, em especial, levou a que fosse possível a integração no espaço económico e social que hoje constitui a União Europeia.
O 25 de Abril cumpriu as suas grandes propostas – democratizar, descolonizar, desenvolver    continuando a ser uma data de que os portugueses se orgulham.
Viva o 25 de Abril!

sábado, 24 de abril de 2021

Na Galiza também se evoca o 25 de Abril

O diário Nòs Diario é um jornal galego nascido no dia 2 de Janeiro de 2020 e que se publica na cidade de Santiago de Compostela, afirmando-se como um “xornal de intereses galegos”. Num país com 17 regiões autónomas e com ideias independentistas com peso em algumas delas, é uma novidade a existência de um jornal regional que utiliza a língua galega e que defende interesses galegos. Já havia jornais da Catalunha em catalão, jornais do País Basco em basco e, agora, há um jornal da Galiza em galego.
Porém, o aspecto mais curioso da edição de hoje do Nòs Diario é a evocação que é feita do 25 de Abril, com a imagem de um cravo vermelho que é o símbolo daquela data que foi libertadora para o Portugal de Marcelo Caetano e, indirectamente, para a Espanha de Francisco Franco que, por acaso, era galego do Ferrol. Na sua evocação o jornal diz que o 25 de Abril é “unha data que segue viva 47 anos despois”.
Por acaso, também dois jornais do longínquo território de Macau assinalaram o 25 de Abril nas suas edições de ontem, com a imagem do simbólico cravo vermelho. Não sei que evocações serão feitas pela imprensa portuguesa de amanhã, mas as polémicas e as politiquices parece terem tomado conta dessa data libertadora, que deveria ser de unidade e festa.
“As portas que Abril abriu”, o inspirado verso de José Carlos Ari dos Santos, ainda estão abertas e não podem ser só para alguns.

A Espanha já constrói os seus submarinos

Diversos jornais espanhóis destacaram ontem a cerimónia do lançamento à água nos estaleiros da Navantia em Cartagena, do novo submarino espanhol Isaac Peral que, segundo algumas notícias é “la nueva joya de las Fuerzas Armadas”, ou mesmo “el más potente del mundo”. A nova unidade teve por madrinha a princesa Leonor, a filha mais velha do rei Filipe VI.
Sem dúvida que se trata de uma aposta importante da indústria naval espanhola, resultante de cerca de 16 anos de investimento, em que participaram mais de nove mil pessoas. Segundo o director do estaleiro, a Espanha passa a fazer parte do reduzido grupo de dez países do mundo com capacidade para desenhar e construir submarinos. Esta unidade tem 80 metros de comprimento, terá 32 tripulantes e poderá alojar oito elementos de forças especiais. Uma das suas capacidades é a possibilidade, única no quadro dos submarinos convencionais dos países da NATO, de lançamento de mísseis de ataque a terra. O submarino Isaac Peral (S81) estará operacional em 2023, seguindo-se a entrega de três outras unidades em 2024, 2026 e 2028, que já estão em construção. Estes quatro submarinos servirão para “corrigir una situación precaria de la flota española, que solo cuenta com dos naves, el Tramontana y el Galerna, encontrándose esta última en un proceso de inspección que suele durar unos dos años”. 
Entretanto, a Navantia apresentou-se num concurso internacional em que se candidata à construção de seis submarinos para a Marinha da India, o que a ter sucesso representará uma grande vitória para a indústria naval espanhola.

sexta-feira, 23 de abril de 2021

A alarmante situação pandémica da Índia

Depois de um ano de preocupações e de incertezas a respeito da pandemia mundial de covid-19 que tanto nos tem afectado, vive-se em Portugal um período de alguma calma e de acrescida confiança. Os sinais de regresso à normalidade vão-se sucedendo, com as escolas e os comércios a retomarem a sua actividade. Os números de novos contágios e de óbitos têm-se mantido em níveis moderados, ao mesmo tempo que o plano de vacinação da população tem decorrido com muita normalidade. Os níveis de confiança da população portuguesa estão muito elevados, mas a pandemia não está vencida e é necessário continuar a cumprir as regras de prevenção que têm sido prescritas pelas autoridades sanitárias. 
Porém, esta normalização que se vive em Portugal não está a acontecer em todo o mundo e de vários países chegam notícias alarmantes. O caso da Índia é o mais significativo. Ontem registaram-se 2.014 óbitos num só dia e verificaram-se 314.835 novos casos de covid-19, que foram os números diários mais elevados de todos os países do mundo desde o início da pandemia e, segundo refere a imprensa indiana, o sistema de saúde está à beira do colapso, sem camas, sem oxigénio e sem medicamentos suficientes para acudir a esta situação. Este incremento de contágios está a ser atribuído a uma nova variante do vírus, mas também a um relaxamento das medidas de contenção e confinamento, bem como às grandes aglomerações de gente em festividades religiosas.
O estado de Maharashtra que tem cerca de 115 milhões de habitantes e tem fronteira com o estado de Goa, está no centro desta alarmante situação. Daí que, para além dos relatos da imprensa e de algumas imagens televisivas, nos cheguem relatos directos de Goa com informações muito preocupantes sobre a pandemia.

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Angola e a preservação do seu património

A propósito da passagem do 39º aniversário do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, que foi instituído em 1982 pelo Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMS) e que foi adoptado pela UNESCO no ano seguinte, o Jornal de Angola destacou na sua edição de hoje a necessidade de serem preservados os monumentos e sítios angolanos susceptíveis de classificação, isto é, de proteger e conservar o património cultural. Actualmente as autoridades nacionais angolanas já classificaram 280 bens culturais como património cultural imóvel e em 2017 tinham visto os vestígios de Mbanza Kongo, a antiga capital do reino do Kongo, serem inscritos pela UNESCO na sua lista do Património Cultural da Humanidade. 
Porém, enquanto a maioria dos bens identificados como Património Cultural Nacional necessitam de urgentes intervenções de conservação e restauro, o trabalho de preservação dos vestígios de Mbanza Kongo que têm sido realizados pelas autoridades angolanas, foram recentemente elogiados pela UNESCO.
O destaque que o Jornal de Angola dá a este tema serve para estimular a reflexão de todos os agentes públicos e privados angolanos quanto às suas responsabilidades na preservação do património, até porque o Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente já inventariou 1.357 bens culturais que estão pré-seleccionados para serem estudados e eventualmente classificados.
Naturalmente, haverá nesses bens culturais alguns de origem portuguesa e essa circunstância é uma consequência da História. Tal como no canto sudoeste da Europa, que hoje se chama Portugal, houve a ocupação romana, a árabe e outras, que trouxeram benefícios culturais à sociedade portuguesa, também Angola beneficiou culturalmente da presença portuguesa. A História é exactamente assim, isto é, um fluxo de interacções culturais entre diferentes povos e em diferentes circunstâncias temporais e espaciais, que nem sempre foram pacíficas.

A paz e o gás sob ameaça em Cabo Delgado

O ataque à vila moçambicana de Palma, realizado no dia 24 de Março e dias seguintes pelo grupo jihadista conhecido por chabab que tem ligações ao Estado Islâmico, provocou dezenas de mortos e milhares de desalojados, tendo alertado a comunidade internacional para a gravidade da situação por que passa a província de Cabo Delgado. Vários países têm oferecido a sua cooperação ao governo moçambicano que, até agora, tem afirmado que pode controlar a situação.
A acção desencadeada sobre Palma é mais uma face de um grave problema que afecta as populações moçambicanas que, no plano humanitário e desde 2017, já contabiliza cerca de 2.600 mortos e quase 700 mil pessoas desalojadas, que se têm concentrado sobretudo na cidade de Pemba.
Porém, na sua última edição, o semanário francês Le Monde ignora ou desvaloriza o problema humanitário das populações e destaca que “os sonhos do império do gás estão ameaçados pelos chabab”. De facto, estão reunidos em Moçambique vários consórcios apostados na exploração do gás natural, em que participam empresas americanas, japonesas, francesas, italianas, coreanas, indianas, tailandesas, chinesas, sul-africanas e de outras origens, incluindo a portuguesa Galp. São muitos milhões de euros de investimento que podem alterar para melhor o futuro de Moçambique. Na bacia do Rovuma, o complexo de Afungi situado bem perto de Palma, estava em fase muito adiantada o investimento de 16.000 milhões de euros do consórcio liderado pela petrolífera francesa Total, que inclui a japonesa Mitsui, a tailandesa PTTEP e algumas empresas indianas. Por falta de segurança foi tudo abandonado por agora e está tudo ameaçado. 
Porém, com tantos interesses multinacionais apostados no gás moçambicano, é de esperar uma reacção internacional que garanta a paz e também o gás em Cabo Delgado.

domingo, 18 de abril de 2021

A tourada regressou às praças espanholas

Como todo o mundo sabe, a Espanha é o país por excelência da fiesta brava e as touradas atraem muitos milhares de pessoas, que constituem a afición cujo entusiasmo quase chega ao fanatismo. Tal como acontece por cá, também em Espanha há um forte movimento de contestação a esse espectáculo que para uns é uma prática cultural e uma nobre arte, enquanto para outros é um espectáculo degradante, bárbaro e atentatório dos direitos dos animais. Existe uma verdadeira guerrilha de argumentos a favor e contra as touradas que se arrasta há muitos anos, não se vislumbrando uma solução para essa polémica. Com as limitações impostas pela pandemia do covid-19, toda a época taurina de 2020 foi cancelada e, depois de tantos meses, a afición já desesperava.
Ontem, na Plaza de Toros “El Pino” de Sanlúcar de Barrameda, um município da província de Cádis, a fiesta brava voltou a animar os aficionados e o jornal La Voz de Cádiz dedicou-lhe hoje toda a sua primeira página, porque o assunto lhe pareceu importante. Na praça que tem capacidade para seis mil pessoas, sentaram-se 1.200 espectadores, separados por metro e meio de distância, enquanto na arena foram lidados touros de Juan Pedro Domecq, muito bravos segundo relata o jornal. Os artistas foram o valenciano Enrique Ponce (palmas), o madrileno Manuel Díaz “El Cordobés” (orelha e volta à arena) e o estremenho Emílio de Justo (duas orelhas e ovação). 
Nas touradas espanholas é sempre escolhido um triunfador e essa tradição manteve-se nesta primeira corrida da época. Emilio de Justo, natural de Torrejoncillo, na província de Cáceres, que com 38 anos de idade era o mais jovem dos três matadores, foi eleito o triunfador da corrida que assinalou o regresso da fiesta às praças espanholas. 

sábado, 17 de abril de 2021

Telma Monteiro, grande campeã europeia

A judoca Telma Monteiro triunfou ontem no seu combate final e, pela 6ª vez na sua carreira, tornou-se Campeã da Europa de Judo na categoria de menos de 57 quilos. Foi um notável resultado desportivo, embora a atleta tenha um tão vasto currículo de resultados desportivos que, por vezes, a imprensa e a opinião pública a esquecem. No entanto, ela ganhou uma medalha olímpica no Rio de Janeiro em 2016, foi vice-campeã mundial por quatro vezes e foi Campeã da Europa por seis vezes, além de ter conquistado mais três medalhas de prata e sete de bronze nesses mesmos Campeonatos da Europa. Hoje, o jornal A Bola dedicou-lhe muito justamente a sua primeira página e escreveu que Telma Monteiro “conquistou em Lisboa a sua 15ª medalha em… 15 Europeus”, mas cometeu um lapso porque foram 16 medalhas em 16 Campeonatos da Europa.
Telma Monteiro faz parte do grupo de 1.115 praticantes desportivos de alto rendimento, isto é, aqueles que “obtém classificações e resultados desportivos de elevado mérito, aferidos em função dos padrões desportivos internacionais”, que são certificados pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Naturalmente, os resultados desportivos que Telma Monteiro tem apresentado desde 2004, justificam todos os apoios e benefícios que tem recebido do Estado, enquanto praticante desportiva de alto rendimento.
Porém, a existência de mais de mil praticantes classificados como “atletas de alta competição”, que são abençoados pelo pote dos dinheiros públicos, parece-me um exagero ou mesmo um abuso. Ficamos surpreendidos quando vemos que há 1.115 praticantes desportivos de alto rendimento em Portugal, alguns dos quais praticam modalidades como o automobilismo, a motonáutica, a orientação, o campismo, o golfe, o tiro, ou o surf. 
Portugal deve ser um país muito rico e eu não sabia disso. 

O perigoso estado do Reino Unido

Na sua mais recente edição a revista The Economist usa um trocadilho no seu título e, em vez de escrever United Kingdom, troca a posição de duas letras e escreve Untied Kingdom e, dessa forma, em vez de se referir a um reino unido, refere-se a um reino desatado ou desligado.
O caso tem a ver com os protestos violentos que surgiram na Irlanda do Norte, primeiro em Londonderry e depois em Belfast, que estão a comprometer o acordo entre os republicanos e os unionistas, que está em vigor desde 10 de Abril de 1998. Depois da entrada em vigor do Brexit e apesar das promessas feitas quanto ao regime das fronteiras, nem os republicanos (que defendem a união com a República da Irlanda), nem os unionistas (que defendem a permanência do país no Reino Unido), estão satisfeitos. O problema é histórico, mas agravou-se a partir dos anos 1960 quando a comunidade católica que coincide com a ideia republicana reagiu às perseguições que estavam a ser feitas aos seus membros, no emprego público, nas escolas, nas práticas religiosas. Foi uma verdadeira guerra urbana de grande violência, que durou quase trinta anos e que agora se teme que se possa reacender. A juntar a este conflito histórico ainda estão os resultados do Brexit, pois 55,8% dos eleitores da Irlanda do Norte votaram pela permanência na União Europeia e viram gorada a sua pretensão de estarem mais próximos de Dublin e de Bruxelas, do que do poder de Londres que consideram autoritário e colonial.
Porém, The Economist também lembra que 62% dos escoceses votaram contra o Brexit e que a sua vontade de se desligarem de Londres continua muito forte, pelo que considera perigoso o estado do Reino Unido e utiliza a expressão Untied Kingdom. Portanto, como sugere a capa da revista, a corda pode mesmo partir-se.

sexta-feira, 16 de abril de 2021

Um novo capítulo na história do Brasil

No passado dia 8 de Março um juiz do Supremo Tribunal do Brasil de nome Edson Fachin, decretou a anulação das duas condenações do ex-presidente Lula da Silva que, dessa forma, viu serem-lhe restituídos todos os seus direitos políticos. Com essa decisão ficou evidente que a Polícia Federal e o Ministério Público brasileiros cometeram ilegalidades e exorbitaram na instrução do processo, pelo que a condenação de Lula foi um instrumento de uma estratégia política para impedir a sua candidatura à Presidência da República. O executante dessa estratégia foi o juiz Sérgio Moro que, possivelmente como prémio, foi nomeado Ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro. A decisão agora tomada pelo Supremo Tribunal Federal por oito votos contra três, veio confirmar a decisão do Juiz Fachin.
Lula da Silva governou o Brasil entre 2003 e 2010 e a sua acção foi reconhecida no plano internacional como muito positiva, mas veio a cumprir 580 dias de prisão entre Abril de 2018 e Novembro de 2019, no contexto da Operação Lava Jato, que serviu para apoiar a eleição de Jair Bolsonaro. Não sei o que poderá acontecer agora, mas com Bolsonaro em brutal queda de popularidade, são muito fortes as hipóteses de Lula da Silva voltar à Presidência do Brasil. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que é provavelmente “o mais português dos presidentes do Brasil desde há muitos anos”, já afirmou que em 2022 votará em Luiz Inácio Lula da Silva contra Jair Bolsonaro porque o considera “menos ruim” e elogia Lula da Silva como um homem “calejado pela vida” e que “não é nenhum principiante”, afirmando que “ele tem jeito para a coisa. O Lula não é de esquerda nem de direita. O Lula é ele”.
A imprensa destaca esta decisão favorável a Lula que aparenta ser muito importante para o futuro. O Brasil está a passar por uma grande crise sanitária, económica e de confiança, mas a decisão agora tomada pelo Supremo Tribunal Federal abre um novo capítulo na sua história.

quinta-feira, 15 de abril de 2021

A retirada americana do Afeganistão

Depois dos tempos de Donald Trump e da sua controversa presidência, o presidente Joe Biden começa agora a tomar medidas importantes. Entre elas, encontra-se a decisão de retirar as tropas americanas do Afeganistão e acabar com a “guerra mais longa da América”.
Esse processo vai iniciar-se no próximo dia 1 de Maio e deverá estar concluído antes de 11 de Setembro, quando se perfazem vinte anos sobre os ataques às Torres Gémeas. Depois desses ataques, o presidente George W Bush mandou tropas americanas para o Afeganistão para derrubar o regime talibã, que dava abrigo a Osama bin Laden e à Al-Qaeda. Desde então e durante cerca de vinte anos de guerra contra os talibãs, morreram 2.488 americanos e 20.722 ficaram feridos.
Num discurso proferido na Casa Branca, Joe Biden declarou que “sou o quarto presidente americano que assiste à presença de tropas americanas no Afeganistão”, acrescentando: “Dois republicanos. Dois democratas. Não vou passar essa responsabilidade para um quinto”.
O número de soldados americanos no Afeganistão atingiu em 2010 um pico de mais de cem mil, mas esse número era de cerca de dez mil em 2015 e, actualmente, é de cerca de 2500 soldados. A NATO solidarizou-se com os Estados Unidos e tem cerca de dez mil soldados em território afegão, fortemente dependentes da infraestrutura americana, mas também anunciou que vai começar a retirar o seu pessoal. Entre eles há 175 militares portugueses que talvez nem saibam o porquê daquela guerra. 
A decisão de Joe Biden foi considerada um erro grave por alguns sectores políticos porque entendem que é uma retirada diante de um inimigo que ainda não foi vencido. Por isso, a publicitação da decisão de Biden foi enquadrada na imprensa, nomeadamente no influente The Washington Post, com uma fotografia do presidente em visita à Secção 60 do Arlington National Cemetery, onde estão sepultados os soldados americanos mortos no Iraque e no Afeganistão.
Naturalmente, foi uma visita cirúrgica para ter um efeito preciso - o apoio emocional dos americanos à sua decisão.

Cabo Verde: eleições e o voto da diáspora

No próximo domingo, dia 18 de Abril, vão realizar-se as eleições legislativas em Cabo Verde, um país onde se fala português, onde se pode dizer que cada um é do Sporting ou do Benfica e que goza da fama de ser um dos mais estáveis países africanos.
O país proclamou a sua independência no dia 5 de Julho de 1975, mas só em 1991 se normalizou a sua vida política e se realizaram as primeiras eleições democráticas.
Cabo Verde é um arquipélago com dez ilhas e com cerca de 500 mil habitantes, mas uma boa parte dessa população está emigrada e, por isso, a diáspora cabo-verdiana é conhecida como a 11ª ilha do arquipélago, sendo uma das principais fontes de receita do país. Por isso, os cabo-verdianos da diáspora vão votar para eleger os seus 72 deputados no próximo domingo.
Haverá 61 mesas de voto em Portugal, distribuídas por todo o território, destacando-se a Amadora (10), Sintra (8), Lisboa (4) e Almada, Loures, Oeiras e Seixal, com três mesas em cada um destes concelhos. Porém, os cabo-verdianos também vão a votos em vários países europeus, nomeadamente no Luxemburgo, onde cerca de 1600 nacionais terão quatro mesas para votar, o que o jornal Le Quotidien destaca em primeira página na sua edição de hoje. É um sinal da simpatia, de respeito e de sentido inclusivo para com a comunidade cabo-verdiana.
Nas eleições do próximo domingo os principais partidos concorrentes são o Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) com posições de centro-esquerda e o Movimento para a Democracia (MpD) com posições de centro-direita.

terça-feira, 13 de abril de 2021

Evocando o voo espacial de Yuri Gagarin

Há sessenta anos, no dia 12 de Abril de 1961, o cosmonauta soviético Yuri Gagarin tornou-se o primeiro ser humano a viajar pelo espaço a bordo do Vostok 1 e o Izvestia, foi um dos jornais russos que assinalou a efeméride, ao publicar a fotografia do sorridente cosmonauta com grande destaque na sua primeira página. O jornal foi fundado em 1917 em São Petersburgo como diário oficial da União Soviética, mas quando esta foi dissolvida em 1991, o jornal passou por diversas soluções accionistas e hoje é controlado pela Gazprom.
O facto histórico é que Yuri Gagarin ficou conhecido por todo o planeta como o pioneiro da era espacial e a sua façanha inscreveu-se como um feito ímpar na disputa espacial soviético-americana, que foi parte do período que ficou conhecido como a Guerra Fria. Essa situação só começou a ser revertida quando os americanos lançaram a Apollo 11 em 1969 e o astronauta Neil Armstrong se tornou o primeiro homem a pisar a superfície lunar.
Com o decorrer dos anos as duas superpotências passaram a cooperar e o primeiro projecto de cooperação entre os Estados Unidos e a União Soviética aconteceu em 1975 com o Apollo-Soyuz. Depois surgiram as estações espaciais como a Salyut, a Almaz, a Skylab, a Mir e a Estação Espacial Internacional (ISS). A cooperação venceu as rivalidades e o interesse científico impôs-se. Porém, a figura sorridente de Yuri Gagarin a regressar do primeiro voo espacial, há sessenta anos, nunca mais foi esquecida.

sábado, 10 de abril de 2021

Um dia bem negro da Justiça portuguesa

A decisão instrutória da Operação Marquês foi conhecida ontem, foi lida em directo na televisão pelo juiz Ivo Rosa e as teses do Ministério Público foram arrasadas, pelo que dos 28 arguidos apenas cinco vão a julgamento, enquanto dos 189 alegados crimes económico-financeiros apenas 17 vão ser julgados. Como alguém já escreveu “a montanha pariu um rato”. Evidentemente que vai haver recursos para os nossos tribunais superiores, mas também irão entrar em acção outras instâncias judiciárias como o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.
O processo iniciou-se em 2014 e dele se encarregaram o procurador Rosário Teixeira e o juiz Carlos Alexandre, com as suas equipas, os seus assessores, os seus seguranças e os seus motoristas. No final do processo apareceram 146 volumes com 56.238 folhas. É um caso inacreditável de insensatez, de irrealismo e de incompetência e, como referiu o juiz Ivo Rosa, há incoerência, falta de rigor, especulação e fantasia na formulação das acusações. O Justiça não pode ser isto. O Teixeira e o Alexandre fizeram um mau trabalho, desprestigiaram a nossa Justiça, promoveram criminosas fugas ao segredo de justiça e tudo fizeram para que houvesse, mesmo que injusta, uma condenação na praça pública e nos telejornais. Gastaram muito tempo e muito dinheiro dos meus impostos, sempre com o apoio da televisão e da imprensa, por forma a criar a narrativa que mais lhes interessava. Nos últimos dias, essa gente voltou a pressionar e a procurar influenciar os acontecimentos, sem nunca apelar à descoberta da verdade, mostrando uma vez mais que houve fortes motivações políticas, manipulação e viciação neste processo. A corrupção era a principal acusação, mas o Ministério Público e os seus aprendizes de carrascos, não perceberam que a prova desse crime não são as fugas de informação ou as notícias dos jornais, mas as provas objectivas que não conseguiram reunir. Disse o juiz: “Esta é uma decisão correcta, independente, imparcial. Não é a favor nem contra ninguém. Obedece à lei. A pressão pública não pode colocar em causa os princípios fundamentais e as garantias dos arguidos”.
A Justiça portuguesa foi condenada, especialmente, as práticas abusivas de alguns agentes do Ministério Público. Depois de tanto barulho e de tanta dedução criativa e malévola, apenas cinco dos 28 arguidos vão a julgamento por dezassete crimes. Tanto tempo e tanto dinheiro gasto para isto! Foi um dia muito negro para a nossa Justiça, como escreveu o semanário Sol.

R.I.P. Filipe, Duque de Edimburgo

Faleceu Filipe Mountbatten, o Duque de Edimburgo, que completava cem anos no próximo dia 10 de Junho. 
Filipe nasceu em 1921 na ilha grega de Corfu e descendia das casas reais grega e dinamarquesa, mas a sua família foi expulsa do país no ano seguinte, na sequência de um violento golpe de estado. Estudou em vários países e em 1939, com 18 anos de idade, alistou-se como cadete no Royal Naval College of Dartmouth, onde obteve a melhor classificação do seu curso. O mundo estava em guerra e em 1940, como guarda-marinha da Royal Navy, seguiu para a ilha de Ceilão onde embarcou no cruzador HMS Ramilles, tendo servido seis meses no oceano Índico. Foi destacado depois para o cruzador HMS Valiant no Mediterrâneo, mas pouco tempo depois, já como subtenente, regressou às ilhas Britânicas para frequentar alguns cursos técnicos de especialização. Embarcou de seguida no destroyer HMS Wallace, baseado em Rosyth, tendo estado empenhado nas escoltas aos comboios que atravessavam o Atlântico. Foi promovido a 1º tenente, tornou-se o oficial imediato daquele mesmo navio que veio a tomar parte no desembarque aliado na Sicília. Serviu depois no destroyer HMS Whelp no Índico e no Pacífico e esteve com esse navio na baía de Tóquio, quando os japoneses assinaram a sua rendição. 
Depois de uma intensa actividade como oficial da Royal Navy, que incluíu alguns combates navais, no dia 20 de Novembro de 1947 casou com Isabel, a filha mais velha do rei Jorge VI, recebendo o estilo de Sua Alteza Real e o título de Duque de Edimburgo. Continuou no serviço activo da Marinha e foi promovido a oficial superior, mas retirou-se em 1952, quando Isabel subiu ao trono. A partir de então e durante 69 anos foi o príncipe consorte da Rainha, que acompanhou com uma presença discreta, sorridente e bem-humorada, que conquistou a simpatia do povo britânico, de meio mundo e até de um republicano como eu. 
A notícia da sua morte e a sua fotografia estão hoje nos jornais do mundo inteiro.

sexta-feira, 9 de abril de 2021

Portugal, o Brasil e a pandemia do covid

A pandemia em Portugal tem estado muito controlada e, desde há vários dias, que o número de óbitos se situa abaixo de uma dezena e que o número de novos contágios se situa um pouco acima das cinco centenas, quando em fins de Janeiro chegou a atingir três centenas de óbitos e quinze mil novos casos. O país está em desconfinamento a conta-gotas e já foram aplicadas dois milhões de vacinas. Tudo parece seguir no bom caminho e os níveis de confiança da população estão a aumentar. No entanto, o que se passa em Portugal é diferente do que se passa em alguns países europeus e, sobretudo, no Brasil.
O jornal Correio Braziliense anunciou ontem que, pela primeira vez, o Brasil registou “mais de quatro mil mortos em um dia”, o que mostra que o país está a passar por uma situação muito difícil e que parece ter sido escolhido pela pandemia para se instalar. Actualmente já estão contabilizados 345 mil óbitos no país, o que coloca o Brasil no segundo lugar dos países com mais óbitos por covid-19, superando o número de mortos de países mais populosos que o Brasil, como por exemplo a China, a Índia, a Indonésia ou o Paquistão.
A animadora situação portuguesa e a preocupante situação brasileira não acontecem por acaso, pois estão relacionadas com os comportamentos sociais e culturais das populações e com as políticas sanitárias que são executadas pelas autoridades. Hoje não estou com vontade de falar a respeito do fanfarrão Bolsonaro, mas aproveito para elogiar mais uma vez a forma como tem sido conduzida a política sanitária em Portugal, apesar das pressões irresponsáveis de algumas corporações e de outros interesses.

segunda-feira, 5 de abril de 2021

Cambridge e Oxford conservam a tradição

A equipa do clube de remo da Universidade de Cambridge venceu ontem a 166ª edição da habitual regata em que defronta a equipa do clube da Universidade de Oxford e fez a dobradinha, pois ganhou a prova masculina e a prova feminina. O interesse por esta histórica prova desportiva é enorme e o The Independent foi um dos jornais que deu notícia desse evento, tendo publicado uma destacada fotografia da regata na capa da sua edição de hoje.
Esta regata amadora disputa-se desde 1829, com as excepções dos períodos das duas grandes guerras mundiais e do ano de 2020 devido à crise pandémica causada pelo covid-19, sendo uma das mais antigas e mais populares competições do desporto moderno. A prova disputa-se no curso do rio Tamisa, na área metropolitana de Londres, numa distância aproximada de 6.800 metros e as embarcações utilizadas são o shell de 8 (remadores) com timoneiro, que têm cerca de 20 metros de comprimento.
Ontem a equipa de Cambridge conseguiu a sua 85ª vitória, contra as 80 vitórias já obtidas pela equipa de Oxford, tendo havido um empate em 1877. Porém, a partir de 1927 a regata entre as duas universidades também passou a ser disputada entre equipas femininas. Ontem, a equipa feminina de Cambridge também venceu e os registos passaram a indicar que Cambridge tem 45 vitórias, enquanto Oxford se fica pelas 30 vitórias.
Resumindo, as equipas de Universidade de Cambridge levam vantagem em masculinos por 85-80 e em femininos por 45-30. Começa a ser um grande diferencial!

sábado, 3 de abril de 2021

Cabo Delgado e o doloroso caso de Palma

Nunca a província de Cabo Delgado nem o distrito ou a vila de Palma, que se situam no extremo nordeste de Moçambique, tinham sido tão falados como nos últimos dez dias. A vila de Palma foi atacada e ocupada por insurgentes ou terroristas inspirados nas práticas do Daesh, tendo havido um número indeterminado de mortes, vítimas de grande crueldade. A população fugiu em direcção ao cabo Afungi e ao complexo industrial que a petrolífera francesa Total ali vem construindo, situados a cerca de vinte quilómetros. Uma parte dessa população já chegou à cidade de Pemba, a bela cidade que no tempo colonial se chamava Porto Amélia, onde já se concentram muitos milhares de refugiados provenientes das zonas de Cabo Delgado onde os insurgentes afectos ao Daesh têm atacado desde 2017. As notícias são muito contraditórias e os relatos tanto indicam que os insurgentes dominam a vila, como afirmam que as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique continuam a disputar o controlo da vila. A Total terá suspenso os trabalhos em curso no complexo de gás e o seu pessoal, onde haveria cerca de cinquenta portugueses, foi retirado do local onde apenas terá ficado a segurança privada das instalações a cargo de uma empresa sul-africana de segurança.
O semanário Savana, que se publica na cidade de Maputo, destaca na sua última edição os acontecimentos de Palma e, tal como muitos observadores, aponta as principais responsabilidades à inacção das autoridades governamentais, ao presidente Filipe Nyusi e à Frelimo. Para quem conheceu tão bem aquela área que a natureza privilegiou com uma paisagem marítima lindíssima, são muito dolorosas as imagens que nos chegam de Palma e de Pemba que, por vezes, mostram locais que nos foram familiares.

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Uma grande festa basca na Copa del Rey

El Correo de Bilbao e El Diario Vasco de San Sebastian
Amanhã, na cidade de Sevilha vai disputar-se a final da Copa del Rey da época de 2019-20, que foi retardada de 349 dias devido à crise pandémica que tanto nos preocupa. 
A Copa del Rey é uma competição futebolística que acontece desde 1902 e que teve várias designações como a Copa de España, a Copa del Generalíssimo e, agora, a Copa del Rey, mas sempre com o mesmo formato nas 114 edições que já se disputaram. O actual detentor do troféu é o Valencia Club de Fútbol, mas no pódio dos grandes vencedores estão o Barcelona com 30 vitórias, o Athletic de Bilbao com 24 vitórias e o Real Madrid com 19 vitórias.
Amanhã vão defrontar-se duas equipas bascas: o Athletic Club (Bilbao) e a Real Sociedad de Fútbol (San Sabastian). É a primeira vez que se encontram estas duas equipas, uma oriunda da província da Biscaia e outra proveniente da província de Guipúscoa. Apenas cem quilómetros separam estas duas cidades, ambas fortemente ligadas aos ideais autonomistas bascos. O Athletic não ganha desde 1984 e a Real Sociedad, que só tem duas vitórias, não ganha desde 1987. Amanhã, cerca de dois milhões de bascos que são apenas 5% da população espanhola, vão vibrar com aquele jogo e vão exibir as suas rivalidades. Os jornais de Bilbao exigem que aos rojo y blancos que regressem para a Biscaia com a taça, enquanto os jornais de San Sebastian incitam a equipa azul celeste para honrar a história de Guipúscoa.
Que seja uma festa bonita e que o orgulho basco seja satisfeito, independentemente da taça ir para Bilbao ou para San Sebastian.