segunda-feira, 19 de abril de 2021

A paz e o gás sob ameaça em Cabo Delgado

O ataque à vila moçambicana de Palma, realizado no dia 24 de Março e dias seguintes pelo grupo jihadista conhecido por chabab que tem ligações ao Estado Islâmico, provocou dezenas de mortos e milhares de desalojados, tendo alertado a comunidade internacional para a gravidade da situação por que passa a província de Cabo Delgado. Vários países têm oferecido a sua cooperação ao governo moçambicano que, até agora, tem afirmado que pode controlar a situação.
A acção desencadeada sobre Palma é mais uma face de um grave problema que afecta as populações moçambicanas que, no plano humanitário e desde 2017, já contabiliza cerca de 2.600 mortos e quase 700 mil pessoas desalojadas, que se têm concentrado sobretudo na cidade de Pemba.
Porém, na sua última edição, o semanário francês Le Monde ignora ou desvaloriza o problema humanitário das populações e destaca que “os sonhos do império do gás estão ameaçados pelos chabab”. De facto, estão reunidos em Moçambique vários consórcios apostados na exploração do gás natural, em que participam empresas americanas, japonesas, francesas, italianas, coreanas, indianas, tailandesas, chinesas, sul-africanas e de outras origens, incluindo a portuguesa Galp. São muitos milhões de euros de investimento que podem alterar para melhor o futuro de Moçambique. Na bacia do Rovuma, o complexo de Afungi situado bem perto de Palma, estava em fase muito adiantada o investimento de 16.000 milhões de euros do consórcio liderado pela petrolífera francesa Total, que inclui a japonesa Mitsui, a tailandesa PTTEP e algumas empresas indianas. Por falta de segurança foi tudo abandonado por agora e está tudo ameaçado. 
Porém, com tantos interesses multinacionais apostados no gás moçambicano, é de esperar uma reacção internacional que garanta a paz e também o gás em Cabo Delgado.

Sem comentários:

Enviar um comentário