domingo, 31 de julho de 2022

Cinco meses de dura guerra na Ucrânia…

A guerra na Ucrânia já decorre há mais de cinco meses, mas parece que está para durar e que as partes não estão interessadas num cessar-fogo, pois a sua retórica continua a ser de confrontação e de tentativa de domínio ou humilhação do seu adversário. A imprensa internacional deixou de acompanhar este conflito como tema relevante, sobretudo depois de verificar que se trata de um confronto entre dois blocos de interesses conflituantes que vem desde o tempo da 2ª Guerra Mundial e que “o caso da Ucrânia” é apenas um pretexto para ressuscitar a Guerra Fria e restaurar o conceito de “cortina de ferro”, expresso por Winston Churchill em 1946, para caracterizar as divisões políticas e ideológicas entre o Velho Continente.
Hoje, já é claro que o povo ucraniano podia ter sido poupado a esta catástrofe e a Europa a esta crise que atravessa, se os dirigentes mundiais tivessem sido inteligentes, ou se as indústrias do armamento não tivessem fome de vendas e sede de lucros. No terreno, a propaganda e a contrainformação têm sido armas tão letais quanto os mísseis, a artilharia, os tanques ou os aviões, daí resultando que pouco sabemos a respeito da verdade e do que se passa no terreno, mas também quanto às hipóteses de ser encontrada a paz.
Para além das ameaças e das provocações recíprocas que aconteceram anteriormente e da ilegalidade da invasão russa iniciada a 24 de Fevereiro, que foi enfrentada por uma inesperada resistência ucraniana, pouco sabemos sobre o conflito, até porque as televisões manipulam a audiência ao misturarem, demasiadas vezes, opinião com notícia que, por definição, umas são verdadeiras e outras falsas.
Parece que, de facto, o conflito está para durar. Sabemos que uma parte do mundo condena a Rússia, mas sabemos que outra parte se abstém, que haverá crimes de guerra, que há fornecimentos maciço de armamento a inundar o território ucraniano e a destruir o país, mas pouco mais sabemos.
Nesse quadro, é muito interessante o anúncio hoje feito pelo jornal catalão El Periódico, que nos próximos dias irá fazer uma “viaje a las fronteras rusas, com paradas en Finlandia, Letonia, Lituania y Polonia, donde más temor há generado la invasión de Ucrania”. A reportagem dessa viagem chama-se Las fronteras de la ansiedad ou Viaje a la frontera del expansionismo ruso, pois nesses países haverá muita ansiedade quanto a uma eventual invasão russa. Talvez esta reportagem nos ajude a compreender melhor a realidade.

O Reino Unido à procura de um novo líder

O Reino Unido é considerado a mais antiga democracia do mundo moderno e, só por isso, o mundo admira este país, apesar de não lhe faltarem inúmeras contradições e escândalos, como se viu por exemplo no processo do Brexit.
Com as suas excentricidades que envergonhariam Winston Churchill ou Margareth Tatcher, o actual primeiro-ministro Boris Johnson perdeu a confiança dos seus pares do Partido Conservador e foi obrigado a renunciar ao seu cargo, pelo que foi aberto o processo de sucessão e a corrida eleitoral para escolher o próximo líder do partido e próximo primeiro-ministro. Apareceram inicialmente onze deputados candidatos, mas com algumas desistências e com a votação que os parlamentares conservadores foram fazendo, estão actualmente na corrida Liz Truss e Rishi Sunak.
Liz Truss tem 47 anos de idade, está no Parlamento desde 2010, é a actual Secretária de Estado para os Assuntos Estrangeiros, da Commonwealth e Desenvolvimento e, no processo do Brexit, foi apoiante do remain, isto é, esteve contra o Brexit.
Rishi Sunak tem 42 anos de idade, está no Parlamento desde 2015 e foi Chanceler do Tesouro, cargo a que renunciou por divergências com Boris Johnson, daí resultando o início da actual crise.
Liz Truss e Rishi Sunak pertencem ao mesmo Partido Conservador e ambos fizeram parte do governo de Boris Johnson. Um deles será o próximo primeiro-ministro da Grã-Bretanha. Até ao dia 5 de Setembro, data em que termina a votação dos cerca de 160 mil membros do Partido Conservador e em que será anunciado o vencedor, tanto Truss como Sunak andarão numa roda-viva por todo o país à caça do voto.  Hoje o jornal The Independent recorda que serão os membros do Partido Conservador com quotas pagas – 0,34% do eleitorado britânico – que vão escolher o próximo líder do partido Conservador e o próximo primeiro-ministro do Reino Unido.
Embora o jornal não o afirme expressamente, sugere que é uma grande distorção da Democracia, pois 160 mil cidadãos vão "substituir" cerca de 50 milhões de eleitores.

sábado, 30 de julho de 2022

As eleições no Brasil com Lula na frente

As eleições gerais no Brasil estão marcadas para o próximo dia 2 de Outubro, o que significa que estamos a cerca de sessenta dias da sua realização. Nos tempos que correm, que são de grande instabilidade mundial, o Brasil precisa de uma presidência respeitada e coerente, para inspirar o progresso económico e social dos brasileiros e para fazer com que a sua voz seja ouvida internacionalmente.
Todas as eleições geram expectativas de mudança e o Brasil não escapa a essa regra, tudo se polarizando em torno de dois candidatos: o actual presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A campanha eleitoral já está na rua e as sondagens vão aparecendo, embora haja sondagens para todos os gostos, como se costuma dizer em Portugal. Porém, a sondagem do Instituto Datafolha publicada pelo jornal Folha de S.Paulo será, porventura, a mais credível de todas e se há um mês indicava que as intenções de voto eram de 47% para Lula e de 28% para Bolsonaro, a mais recente indica os mesmos 47% para Lula e 29% para Bolsonaro, significando que embora a distância percentual tivesse passado de 19 para 18 pontos percentuais, o candidato Lula mantém-se estável na frente da corrida eleitoral para o Palácio do Planalto. As sondagens colocam Ciro Gomes, o candidato do PDT, que é um partido de centro-esquerda, na terceira posição com 8% das intenções de voto, o que potencia um resultado favorável a Luiz Inácio Lula da Silva logo na 1ª volta, ou na 2ª volta, que se realiza a 30 de Outubro.
Os brasileiros saberão escolher. Deste lado do Atlântico é muito baixa a estima pelo Jair, enquanto é grande a simpatia por Luiz Inácio que é considerado um amigo de Portugal.

sexta-feira, 29 de julho de 2022

O regresso de Napoleão à cidade de Rouen

Num tempo de férias e de poucas notícias para além dos calores e dos incêndios florestais, em que pouco sabemos sobre o conflito na Ucrânia, as eleições brasileiras ou a sucessão de Boris Johnson, desperta alguma curiosidade a notícia de que Napoleão regressa do exílio, que hoje foi veiculada na edição de Rouen do quotidiano Paris-Normandie.
Afinal trata-se simplesmente do retorno da estátua de Napoleão à praça do Hôtel de Ville de Rouen, ou se quisermos, à praça do Município ou da Prefeitura da cidade. A estátua equestre faz parte do património histórico da cidade e está colocada naquele local desde 1865, tendo sido fundida com o bronze dos canhões usados na batalha de Austerlitz que foi travada em 1805 e na qual o exército de Napoleão derrotou os exércitos austro-russos nos campos da Morávia.
Passados tantos anos, a autarquia decidiu proceder ao restauro da estátua que pesa sete toneladas, entregando o trabalho à Fonderie de Coubertin de Saint-Rémy-les-Chevreuse por 300 mil euros. Esse trabalho durou dois anos e ficou agora concluído. Ontem, numa operação inversa da desmontagem, a estátua chegou de madrugada e em duas partes: uma viatura pesada transportou o cavalo e o cavaleiro, enquanto a cabeça foi acondicionada e transportada numa viatura ligeira. Uma multidão de espectadores assistiu à chegada da estátua do imperador e, segundo refere o jornal, houve bandeiras, aplausos e palavras de ordem como “Viva o Imperador”, a saudar o regresso da estátua de Napoleão ao seu lugar.

quinta-feira, 28 de julho de 2022

Birmingham, XXII Commonwealth Games

A XXII edição dos Jogos da Commonwealth começam hoje na cidade inglesa de Birmingham e vão decorrer até ao dia 8 de Agosto.
Esta competição desportiva iniciou-se em 1930 como os Jogos do Império Britânico, mas a sua designação evoluiu ao longo dos tempos em função das circunstâncias internacionais, passando a ser designados como os Jogos do Império Britânico e da Commonwealth, depois como os Jogos da Comunidade Britânica e, actualmente, são designados como os Jogos da Commonwealth
São um importante acontecimento desportivo, embora nunca tenham adquirido o prestígio dos Jogos Olímpicos ou de outras competições mundiais. Este ano está anunciada a competição em 25 modalidades e a participação de 71 países ou regiões, nomeadamente da África (19), da Ásia (8), das Caraíbas e Américas (20), da Europa (10) e do Pacífico (14). Uma das curiosidades destes Jogos é o facto dos quatro países que constituem o Reino Unido (Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte) se apresentarem com equipas separadas, ao contrário do que acontece nos Jogos Olímpicos em que competem sob a bandeira da Grã-Bretanha.
Se estes Jogos são uma forma que os britânicos têm para afirmar a sua pretensa superioridade, também são uma forma de muitos antigos territórios coloniais mostrarem a sua igualdade, pelo que despertam muito interesse no antigo império britânico.
Hoje o famoso jornal The Times of India publica um anúncio de um quarto de página assinado pela Adani Sportsline a desejar os melhores resultados ao Team India e a celebrar “os nossos campeões”, não só pelas suas medalhas, mas pela sua dedicação de horas, dias, meses e anos “para trazer glória à Índia”.

terça-feira, 26 de julho de 2022

A visita do Papa Francisco ao Canadá

O Papa Francisco, também designado como Santo Padre, é o Bispo de Roma e é o líder mundial da Igreja Católica Apostólica Romana que, segundo as estatísticas divulgadas pelo Vaticano, conta com 1,34 mil milhões de fiéis em todo o mundo, o que representa cerca de 17,74% da população mundial.
O catolicismo é a religião com mais seguidores no mundo, seguida do islamismo, do hinduísmo e do budismo. No seu milenar historial, a Igreja Católica procurou expandir-se e levar a sua palavra a todos os seres humanos, acontecendo que os portugueses tiveram um importante papel na sua difusão, nomeadamente no Brasil e em várias regiões de África e da Ásia do Sul e Oriental. Nessa sua missão apostólica, a Igreja Católica desempenhou um importante papel civilizacional e, através das missões e dos missionários, fomentou o progresso educacional e económico em muitas regiões, embora por vezes tivesse levado longe demais a sua intolerância perante as outras religiões, ou perante os comportamentos desviantes dos chamados hereges, através da brutalidade das práticas inquisitoriais. Daí que, em nome de toda a Igreja Católica e dos cristãos, o Papa João Paulo II tenha pedido desculpa pelos actos menos dignos praticados pela Igreja e pelos seus membros. Depois, nas suas visitas papais, os Papas passaram a pedir perdão dos excessos dos seus membros.
O Papa Francisco está no Canadá desde o passado domingo e tratou de pedir desculpa aos povos indígenas em nome da Igreja Católica, reconhecendo "o abuso espiritual, cultural, emocional, físico e sexual" que foi praticado sobre cerca de 150 mil crianças nas escolas e internatos canadianos geridos pela Igreja, desde cerca de 1870 até ao fim do século XX. Chamou-lhe uma "visita penitencial" e, aparentemente, amenizou um trauma canadiano que o mundo não conhecia. Um novo tempo começa, foi o título escolhido pelo Toronto Star.

domingo, 24 de julho de 2022

O rio Tejo e as alterações climáticas

Na sua mais recente edição, o semanário Nascer do Sol dedica uma grande reportagem ao rio Tejo que está a ser vítima da seca severa que afecta toda a península Ibérica e que, naturalmente, é uma consequência das alterações climáticas que estão a modificar o modo de vida no nosso planeta. O jornal escolheu para título de primeira página que o “Tejo já se atravessa a pé em Santarém”, acrescentando que há “pescadores sem peixe, agricultores sem água, barqueiros que são obrigados a alterar trajectos e atletas de canoagem que precisam de fugir às pedras”. Aparentemente o caudal do rio nunca foi tão baixo e há zonas em que parece ser possível atravessá-lo a pé. Porém, um velho habitante da margem do rio disse ao citado jornal que “o rio sempre esteve assim”, acrescentando que “há anos que isto acontece, não é novidade nenhuma”. Ao ler-se este título e esta notícia fica-se na dúvida sobre a real situação do rio Tejo e sobre o rigor desta informação, pois parece ser demasiado sensacionalista. 
O facto é que as ondas de calor dos últimos meses têm provocado graves danos económicos e ambientais por todo o território nacional, em que se destacam a vaga de incêndios florestais, a falta de água nos rios, os problemas no regadio e a diminuição da produção de energia hidroeléctrica.
Das suas cinco barragens, o rio Tejo tem duas em Portugal (Fratel e Belver), mas suspeita-se que o caudal na parte portuguesa do rio esteja a ser cortado algures em Espanha, o que é um problema sério que carece da atenção das autoridades ibéricas.
Com uma extensão de cerca de mil quilómetros, o rio Tejo é o maior rio da península e a sua bacia hidrográfica tem cerca de 80 mil quilómetros quadrados, o que significa que é quase do tamanho de Portugal. Para além dos seus aspectos económicos e ambientais, o rio Tejo é também uma memória histórica e cultural para os portugueses e para os seus poetas. 
A pensar na gesta da expansão marítima portuguesa, Fernando Pessoa escreveu que “pelo Tejo vai-se para o mundo”, enquanto Luís de Camões pediu inspiração às tágides, ou ninfas do rio Tejo, para compor a sua obra Os Lusíadas.
Portanto, cuidemos do rio Tejo!

sexta-feira, 22 de julho de 2022

Tour de France: desportivismo exemplar

A Volta à França em bicicleta, ou simplesmente Tour de France, realiza-se desde 1903 e é um dos maiores espectáculos desportivos do mundo, pois desperta o entusiástico interesse dos franceses, como se pode observar nas transmissões televisivas diárias de grande qualidade.
No corrente ano disputa-se a 109ª edição da prova e à partida, entre os favoritos encontravam-se à partida o esloveno Tajed Pogacar (UAE-Emirates), de 23 anos de idade e que venceu as duas últimas edições da prova, juntamente com o dinamarquês Jonas Vingegaard (Jumbo-Visma), de 25 anos de idade e que na última edição ficou em segundo lugar.
Nas primeiras 17 etapas do Tour eles justificaram o favoritismo que lhes era atribuído e estavam destacados nos dois primeiros lugares da classificação geral. Ontem, nos Altos Pirinéus, disputou-se a 18ª etapa entre Lourdes e a estância de esqui de Hautacam, com passagem pelo Col d’Aubisque e pelo Col de Spandellese. Era o confronto mais esperado entre os dois rivais. A cerca de 20 quilómetros da meta Pogacar e Vingegaard seguiam juntos na descida que antecede a última montanha, quando o esloveno caiu. O dinamarquês podia ter atacado, mas desacelerou até que o rival recuperasse e o alcançasse. Quando Pogacar chegou junto do seu adversário agradeceu-lhe com um aperto de mão. Foi um bonito gesto de fair-play a mostrar que mesmo numa competição de enormes interesses comerciais e financeiros, há espaço para o desportivismo e que “não vale tudo”, como acontece na maioria dos desportos-negócios. Pouco depois os dois ciclistas iniciaram a temível subida para Hautacam e a três quilómetros da meta, Jonas Vingegaard arrancou e foi mais forte, ganhando a etapa. No domingo será certamente o dinamarquês a triunfar na Volta à França e, provavelmente, o esloveno será o segundo classificado, mas estes dois jovens ganharam ambos em desportivismo e deram uma lição a muita gente. 
Assim é que é o desporto! Muitos jornais franceses publicaram hoje a fotografia de Jonas Vingegaard a cortar a meta no alto de Hautacam e chamaram-lhe o novo rei do Tour.

quinta-feira, 21 de julho de 2022

O encontro entre Rússia, Turquia e Irão

O presidente iraniano Ebrahim Raisi recebeu em Teerão o presidente russo Vladimir Putin e o presidente turco Recep Tayyip Erdogan e este encontro, que não suscitou o interesse da imprensa internacional, foi de grande importância política, pois juntou os líderes de três poderosos actores da cena internacional. Cada um destes países tem interesses próprios na Ásia Ocidental e no Médio Oriente e, cada um a seu modo, procura maior protagonismo internacional e mostra desconfiar e resistir às influências ocidentais.
A Rússia está envolvida na sua “operação militar especial” na Ucrânia, o Irão mantém um apertado braço de ferro com a Arábia Saudita a propósito do Iémen e a Turquia, que é membro da NATO, parece estar a planear a sua própria “operação militar especial” no Curdistão sírio.
Na agenda deste encontro parece ter estado a proposta apoiada pela ONU para a retoma das exportações de cereais ucranianos através do Mar Negro, para aliviar a crise alimentar mundial, mas terá sido o conflito na Síria, onde os três países se envolveram para combater o terrorismo do Estado Islâmico e de outros grupos radicais, que dominou a reunião.
Poucos dias antes, também o presidente Joe Biden esteve em Israel e na Arábia Saudita, que são aliados dos Estados Unidos e os principais rivais do Irão, para reforçar os laços de cooperação americanos com esses países e, certamente, para vender equipamento militar.
Assim vai este mundo, onde parece que se andam a “contar espingardas”, esquecendo-se os urgentes problemas das alterações climáticas, da pobreza e da fome, entre muitos outros. Como referiu o secretário-geral das Nações Unidas António Guterres, temos uma escolha: acção colectiva ou suicídio colectivo.
Este encontro de Teerão não se inscreve na lógica de António Guterres, mas quebrou algum isolamento internacional da Rússia e fez com que Vladimir Putin recebesse o apoio firme do líder supremo iraniano Ali Khamenei. A fotografia publicada pelo jornal espanhol El País mostra como foi politicamente importante o encontro de Teerão.

terça-feira, 19 de julho de 2022

Devoção marinheira à Virgen del Carmen

O dia 16 de Julho é, para os espanhóis, o Dia de Nuestra Señora del Carmen, padroeira das gentes do mar, isto é, da Armada, da Marinha Mercante e das Marinhas de Pesca, Desportiva e Científica. É um dia de grande devoção das comunidades e das corporações marítimas, conforme se observa através da alargada cobertura que a imprensa espanhola e, em especial, aquela que se publica nas comunidades autónomas mais ligadas ao mar, dedicam a esta festividade.
A devoção das gentes do mar à Virgen del Carmen tem raízes históricas que remontam ao século XVI, mas a veneração e a prática devota evoluíram de forma diversa nas diferentes comunidades espanholas, embora tenham como pontos comuns as verbenas ou festas populares laicas, as procissões marítimas e os hinos de homenagem à Virgen marinera ou à Estrella de los mares
Depois de terem estado suspensas durante três anos por causa da pandemia, as festividades regressaram com forte aposta nas procissões marítimas de devoção à Virgen marinera para abençoar as águas do mar, tendo havido comunidades que as promoveram depois de muitos anos de interregno. São essas procissões marítimas que dão um carácter de tradição popular às festividades em honra da Virgen del Carmen, que este ano foram realizadas em muitas localidades, designadamente nas Astúrias, Cantábria, Galiza, Andaluzia, Canárias e em Ceuta.
A Armada espanhola veio a proclamar a Virgen del Carmen como a sua padroeira em 1901, oficializando uma tradição que já tinha profundas raízes populares, tendo adoptado como seu hino a Salve marinera:

Salve! Estrella de los mares, de los mares iris, de eterna ventura.

Como sabemos, algumas comunidades marítimas portuguesas também cumprem as suas devoções em procissões marítimas, desde Viana do Castelo aos Açores.

segunda-feira, 18 de julho de 2022

O calor chegou aos 41ºC no Reino Unido!

Não é habitual que nos inspiremos no noticiário da prensa amarilla, ou imprensa cor-de-rosa, para seleccionar os temas tratados na ruadosnavegantes, não só porque essa imprensa se dedica a assuntos de menor interesse social e de ética do jornalismo, mas também porque cultiva o sensacionalismo e o voyeurismo. Daí que nunca tivéssemos aqui trazido o The Sun, um jornal diário de formato tablóide e de grande circulação, que se publica no Reino Unido e na República da Irlanda. 
Porém, a anormal onda de calor que tem afectado e provocado inúmeros incêndios florestais na península Ibérica, na França e na Itália, também chegou às ilhas Britânicas, pelo que os serviços meteorológicos britânicos, o chamado Met Office, accionaram pela primeira vez o alerta vermelho pois as temperaturas previstas aproximavam-se dos 40ºC. 
O jornal The Sun foi feliz no título que escolheu para a sua edição de ontem, pois classificou a situação que está a afectar o Reino Unido como escaldante e escreveu: mais quente que o Sahara… a Índia… o Paquistão… a Argélia… e a Etiópia.
Segundo os meteorologistas europeus, a onda de calor que tem afectado a península Ibérica vai alastrar para o norte e para o leste europeus, esperando-se que dê origem a máximos históricos de temperaturas em vários países, nomeadamente na Alemanha e nos Países Baixos, mas também na região balcânica. As alterações climáticas são cada vez mais evidentes e, realmente, ninguém esperava que os termómetros marcassem 41ºC em Londres.

domingo, 17 de julho de 2022

Grandes naus, grandes tormentas!

Ao presidente dos Estados Unidos pode aplicar-se, com grande a propósito, o provérbio português “grande nau, grande tormenta”, porque são enormes os problemas internos e externos do complexo militar-industrial americano ou da mais poderosa nação do mundo. Nos últimos tempos, os Estados Unidos têm sido confrontados com a guerra no centro da Europa, com o constante interesse chinês pelo controlo do mar da China, com a perda da sua tradicional hegemonia na América Latina e, obviamente, com o problema do Médio Oriente.
O Médio Oriente é uma área muito sensível devido à conflitualidade israelo-árabe e às tensões que foram reveladas na guerra da Síria, sobretudo entre o Irão e a Arábia Saudita, pelo que os Estados Unidos tiveram necessidade de restabelecer ou reforçar as suas alianças, num tempo de agravamento dos preços do petróleo e de eventual crescimento da hostilidade iraniana. Daí a primeira visita do presidente Joe Biden a Israel, aos territórios palestinianos e à Arábia Saudita, que é um grande produtor de petróleo, o maior comprador de armamento aos Estados Unidos e o exemplo universal de desrespeito pelos direitos humanos. Porém, Joe Biden tinha acusado a Arábia Saudita do assassínio de um jornalista dissidente saudita e o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman de ser um pária e o mandante desse assassínio, o que fez arrefecer as relações entre os dois países. O aumento dos preços do petróleo convenceu Joe Biden, que se esqueceu de tudo o que disse antes e que, apenas quatro semanas antes da visita, tinha afirmado que não se encontraria com o príncipe herdeiro saudita. 
Hoje, a edição do The Wall Street Journal e outros jornais americanos, publicam a fotografia de Joe Biden a cumprimentar Mohammed bin Salman. Assim vai a política internacional! Há quem chame a isto a realpolitik, mas parece que tudo isto acontece devido à mediocridade de muitos líderes mundiais.

sexta-feira, 15 de julho de 2022

O surto inflacionário afecta a economia

O mundo está a passar por situações muito complexas, desde a guerra no centro da Europa onde parece não haver vontade de a acabar, até às alterações climáticas e os seus efeitos sobre o ambiente, a natureza e a vida humana, mas também a persistência das epidemias, as crises políticas com recurso à violência e o agravamento das desigualdades e da pobreza no mundo, entre outros problemas. Como denominador comum de todas estas coisas está a economia e, de entre as suas múltiplas variáveis, está a inflação que, nos últimos tempos, se tornou notícia em todo o mundo.
A inflação é o aumento geral dos preços dos bens e serviços e mede-se pela sua variação percentual anualizada, que é a taxa de inflação. Com a mesma moeda, compra-se mais ou menos, conforme se tem menos ou mais inflação, o que significa que a taxa de inflação afecta o poder de compra das famílias, a capacidade de investimento das empresas e, de uma forma geral, a evolução da economia, do emprego e da estabilidade social.
Há diferentes teorias para explicar as causas da inflação, mas a mais aceite tem por base o desfasamento ou a desproporção entre o crescimento da economia e o crescimento da oferta de moeda.
Depois de muitos anos em que as autoridades monetárias controlaram a inflação, os acontecimentos da Ucrânia e os seus efeitos sobre o custo da energia, provocaram o seu disparo e, nos últimos 12 meses, a taxa de inflação na Zona Euro atingiu 8,6%, o nível mais alto de sempre. A Estónia (22,0%) e a Lituânia (20,5%) registam as taxas mais altas, tendo Malta (6,1%) e a França (6,5%) as taxas mais baixas, enquanto a Espanha atingiu 10,2% e a estimativa para Portugal é de 9,0%, o que já não se verificava desde há cerca de quarenta anos. Nos Estados Unidos, também a imprensa de referência anuncia hoje que a taxa de inflação chegou aos 9,1%, o seu mais alto valor desde 1981.
O surto inflacionário que está a afectar as economias mundiais é muitíssimo preocupante e é mais uma alínea na listagem das nossas incertezas. Com o título “Castigo ao bolsillo”, a edição de ontem do jornal espanhol ABC procurou explicar a evolução das diversas componentes do cabaz utilizado em Espanha para calcular a taxa de inflação.

quarta-feira, 13 de julho de 2022

O Universo e uma nova era da Astronomia

Depois de uma viagem no espaço de mais de um milhão de quilómetros, o Telescópio Espacial James Webb (James Webb Space Telescope ou JWST) captou o seu primeiro conjunto de imagens coloridas do universo, que ontem foram difundidas numa sessão especial presidida por Joe Biden, o presidente dos Estados Unidos. A comunidade científica mundial e, em especial, o mundo dos astrónomos, entrou em euforia por poder conhecer galáxias que eram desconhecidas, que povoam a imensidão cósmica. A imprensa mundial publicou algumas dessas fotografias e dedicou grandes espaços ao acontecimento, destacando-se o título escolhido pelo jornal USA Today: “new era of astronomy”.
O Telescópio Espacial James Webb foi lançado no dia 25 de Dezembro de 2021 a partir do Centro Espacial de Kourou, na Guiana Francesa, sendo o mais poderoso telescópio que alguma vez partiu da Terra. Foi imaginado há várias décadas e foi desenvolvido em parceria entre a National Aeronautics and Space Administration (NASA), a Agência Espacial Europeia (ESA) e a Agência Espacial Canadiana (CSA), tendo custado cerca de dez mil milhões de dólares. O seu principal objectivo é substituir o Telescópio Espacial Hubble que funcionava desde 1990 e a sua missão é pesquisar, estudar e compreender o espaço cósmico. Em 2002 foi decidido baptizá-lo em honra de James Edwin Webb, um antigo administrador da NASA.
Segundo foi divulgado, o telescópio James Webb vai produzir imagens cada vez mais profundas do cosmos, “extraindo segredos da escuridão e revelando realidades que os homens nunca viram ou sequer imaginaram”, o que também vai melhorar o nosso conhecimento do nosso universo, do nosso sistema solar e talvez da própria vida. Demasiado complexo e enigmático para os comuns mortais.

Calor, muito calor e incêndios florestais

Há uma onda de calor que está a afectar o território continental português e para o dia de hoje estão previstos máximos históricos para diversos locais, anunciando-se temperaturas de 46 ou mesmo 48 graus, num país em que a temperatura mais alta de que há registo aconteceu no dia 1 de agosto de 2003, quando os termómetros atingiram os 47,4 graus na Amareleja, no distrito de Beja. Ontem, diversas localidades como Monção, Vila Real e Viseu atingiram os seus máximos históricos de temperatura. A situação é deveras alarmante e se notarmos que o máximo europeu foi registado em 2021 na ilha Sicília com 48,8 graus, ficamos com uma ideia mais correcta da situação crítica que atravessamos.
Os incêndios florestais e a generalizada falta de água nas albufeiras e nos rios são as marcas mais graves da emergência climática que atravessamos, que fez com que grande parte do território continental estivesse sob alerta laranja e, nas últimas horas, tivesse entrado em alerta vermelho. Há incêndios activos em quase todos os distritos continentais e a luta das corporações dos Bombeiros e dos elementos da Protecção Civil tem sido muito corajosa, como por vezes se pode observar nas imagens televisivas, sobretudo quando não aproveitam estas situações para fazer reivindicações corporativas. Há sobressalto, inquietação e dor nas populações mais isoladas, impotentes para se defenderem das chamas que cercam as suas casas. Naturalmente, trata-se de uma consequência das profundas alterações climáticas que se estão a verificar no nosso planeta, a que se juntarão muitas outras causas, como o mau ordenamento florestal, mas não só.
Todos os anos, reúnem-se as autoridades administrativas e os especialistas, designadamente em debates televisivos, para diagnosticar a situação e para propor medidas que evitem ou atenuem a calamidade dos incêndios florestais, mas parece que em cada ano a situação se agrava. Não sei o que se possa fazer.

segunda-feira, 11 de julho de 2022

Boris Johnson caricaturado no Der Speigel

A demissão de Boris Johnson, que um jornal escocês considerou o pior primeiro-ministro britânico de sempre, gerou os mais diversos comentários de alguma imprensa, não só no Reino Unido, mas também no estrangeiro.
Na sua última edição a revista alemã Der Spiegel utilizou alguns títulos e subtítulos de primeira página como “Foi demasiada mentira”, e “O palhaço vai, mas o caos permanece” e “O legado tóxico de Boris”. O primeiro-ministro Boris Johnson era a excentricidade em Downing Street, o que é alguma coisa que não se ajusta à política do Reino Unido. Por isso, a revista alemã foi inspirar-se em Alfred E. Neuman, a mascote da revista humorística americana Mad que foi criada em 1952 por Harvey Kurtzman, cujos traços faciais desalinhados e sardentos, a falta de um dente incisivo, mais o seu aspecto irreverente e o seu sorriso despreocupado, ilustravam a maioria das capas daquela revista que fez história na imprensa humorística americana. A linguagem textual e gráfica da revista americana (que cessou a sua publicação em 2019) assentava na crítica satírica às figuras dominantes da política e da sociedade americanas tanto da esquerda como da direita e nenhuma lhe escapava.
Assim, a subtil ideia da revista Der Spiegel de criticar Boris Johnson com uma ilustração que manipula a sua imagem com a imagem ficcional de Alfred E. Neuman, que foi a marca identitária da revista humorística Mad é, em si mesma, uma curiosa e oportuna notícia.

sábado, 9 de julho de 2022

Worst PM ever: Boris Johnson sai de cena

Alexander Boris de Pfeffel Johnson demitiu-se das suas funções de primeiro-ministro do Reino Unido e de líder do Partido Conservador, cargos que desempenhava desde 2019. Nesse ano, ele liderou um movimento para afastar Theresa May do nº 10 de Downing Street e para ocupar o seu lugar, mas agora também foram os membros do seu próprio partido que levaram ao seu afastamento. No caso de Theresa May foi o Brexit que a derrotou, com Boris Johnson parece que foram as mentiras, os escândalos e. pensamos nós, as suas excentricidades que o seu partido não suportou. 
O Reino Unido é uma potência mundial e tem um inquestionável prestígio internacional, mas parece que passa por uma crise muito acentuada em vários domínios, numa altura em que relativamente à política internacional e ao conflito russo-ucraniano, tem procurado disputar protagonismo à União Europeia, de que se desligou no dia 31 de Janeiro de 2020. 
A imprensa internacional destacou o pedido de demissão de Boris Johnson, não tanto pelas alterações que possam surgir nas políticas interna ou externa britânica, mas sobretudo pela necessidade de dar maior credibilidade à governação errática do Reino Unido e, quem sabe, se não foi também pelo excesso de despesa com os generosos auxílios  ao regime de Kiev.
Nessa imprensa destacou-se o Daily Record, um tablóide escocês de circulação nacional que se publica em Glasgow e que foi o primeiro jornal europeu que foi impresso a cores. “Worst PM ever” ou, o pior primeiro-ministro de todos os tempos, foi a manchete escolhida pelo jornal que é verdadeiramente demolidora para Boris Johnson, embora a marca escocesa desta manchete nos obrigue a naturais reticências. Talvez a rainha Isabel II, que já conheceu 15 primeiros-ministros, nos possa dizer quem foi realmente o pior...

sexta-feira, 8 de julho de 2022

Uma boa vitória da diplomacia angolana

O Jornal de Angola anunciou na sua edição de ontem que, com a mediação do presidente João Lourenço, a República Democrática do Congo (RDC) e o Rwanda tinham acordado o cessar-fogo imediato.
Uma parte da RDC (que tem 90 milhões de habitantes e a capital em Kinshasa) e o Rwanda (que tem 13 milhões de habitantes e a capital em Kigali) localizam-se na região dos Grandes Lagos, que é uma área geográfica africana de abundantes recursos minerais, mas também de muitas tensões étnicas, pelo que tem havido conflitos armados nessa região desde há várias décadas. Recentemente, os guerrilheiros do Movimento 23 de Março (M23), que têm o apoio do Rwanda e que há alguns anos já tinham sido derrotados pelas tropas da RDC, retomaram a sua luta e ocuparam a localidade congolesa de Bunagana, na região do Kivu Norte, que faz fronteira com o Rwanda.
Ambos os países se acusaram mutuamente de apoio a grupos rebeldes, ambos aumentaram as suas ameaças em relação ao rival e as forças armadas nacionais de ambos os países intervieram. Foi o início da guerra. Foi então que João Lourenço, o presidente da República Popular de Angola, foi mandatado pela União Africana para mediar o conflito. Os presidentes Félix Tshisekedi da RDC e Paul Kagame do Rwanda vieram a Luanda e a acção do presidente João Lourenço foi bem sucedida.
Que pena não haver líderes europeus tão prestigiados e tão eficazes como foi João Lourenço, para mediar o doloroso e destruidor conflito que decorre no território ucraniano.

Pamplona iniciou as famosas Sanfermines

Os festejos em honra de San Fermin ou Los Sanfermines que se realizam todos os anos entre os dias 6 e 14 de Julho na cidade espanhola de Pamplona, a capital da Comunidade Foral de Navarra, estiveram suspensos durante dois anos devido à crise pandémica, mas iniciaram-se ontem como “los más esperados”, segundo escreveu hoje o diário El Correo, na sua edição da Bizkaia. Como é da tradição, as festas iniciaram-se com o chupinazo, o momento em que, ontem ao meio-dia em ponto, foi lançado um foguete de uma varanda da sede do município. Nessa altura, a multidão vestida de branco e de vermelho e em grande euforia, segura sempre lenços vermelhos acima da cabeça com ambas as mãos e… estão iniciados Los Sanfermines.
Uma das actividades mais apreciadas e mais famosas de Los Sanfermines são os encierros, imortalizados por Ernest Hemingway, que são largadas de seis touros que percorrem em correria um percurso de 849 metros por três ruas do centro histórico da cidade de Pamplona e que terminam na sua praça de touros. Os encierros realizam-se às oito horas da manhã, todos os dias entre 7 e 14 de Julho e, normalmente, duram três a quatro minutos. Envolvem muitas centenas de pessoas que correm à frente dos touros e constituem um perigoso exercício, pois todos os anos ficam feridas entre duzentas a trezentas pessoas, devido sobretudo a quedas, se bem que a maior parte sem gravidade. Contudo, há um registo de 15 pessoas que morreram entre 1922 e 2009 nos encierros de Los Sanfermines.
Los Sanfermines é uma festa célebre mundialmente que, numa cidade com cerca de 200 mil habitantes, atrai sempre mais de um milhão e meio de visitantes.

quinta-feira, 7 de julho de 2022

A boa prestação portuguesa em Oran 2022

Terminaram os XIX Jogos do Mediterrâneo – Oran 2022 – organizados sobre a égide do Comité Olímpico Internacional, sendo de salientar que os atletas portugueses subiram mais vezes ao pódio do que na anterior edição – Tarragona 2018. 
Portugal só foi admitido como membro de pleno direito nos Jogos do Mediterrâneo no ano de 2017 e, na sua primeira participação realizada na cidade catalã de Tarragona, apresentou-se com 221 atletas e conquistou 24 medalhas (3 de ouro, 8 de prata e 13 de bronze). Nesta sua segunda participação na cidade argelina de Oran, os 159 atletas portugueses conquistaram 25 medalhas (7 de ouro, 10 de prata e 8 de bronze), o que significa uma ligeira melhoria no desempenho desportivo dos atletas portugueses.
Na edição dos Jogos do Mediterrâneo de 2022 participaram cerca de 4500 atletas de 26 países e verifica-se que 24 desses países conquistaram medalhas, com destaque para a Itália (159), a Turquia (108) e a França (81). Também a Espanha (66), a Argélia (53), o Egipto (51), a Sérvia (31) e a Grácia (31), conseguiram mais medalhas do que os atletas portugueses que, no tradicional medalheiro, se classificaram em 9º lugar com 25 medalhas que, entre os 26 países ditos mediterrâneos, nos dá a ideia correcta da dimensão desportiva portuguesa
Alguns dirigentes entrevistados pela televisão declararam-se muito satisfeitos com os resultados conseguidos pelos atletas portugueses, sobretudo na natação, no atletismo e no ténis de mesa, com nove, oito e quatro medalhas, respectivamente. Um facto saliente e lamentável é a total ausência de referências aos Jogos do Mediterrâneo e às prestações portuguesas nas primeiras páginas da imprensa desportiva ou generalista que se publica em Portugal.

quarta-feira, 6 de julho de 2022

Índia: um país emergente e em ascensão

A República da Índia, ou simplesmente Índia, é uma federação de 28 estados e oito “territórios da União” que, no seu conjunto, é o segundo país mais populoso do mundo e o sétimo maior em superfície territorial. É um dos herdeiros do Império Britânico, a chamada Jóia da Coroa, da qual obteve a independência em 1947 sob a liderança de Jawaharlal Nehru e a inspiração de Mohandas Gandhi, sendo uma sociedade culturalmente pluralista, multilingue e multiétnica. Actualmente tem cerca de 1400 milhões de habitantes, é uma economia em acelerado crescimento e dispõe de uma classe média em rápida ascensão, embora tenha elevadas taxas de pobreza que cohabitam com armas nucleares e programas espaciais. 
Foi nesse país que, em 1868, o empresário Jamsetji Tata fundou uma empresa comercial que, ao longo dos tempos, deu origem ao Grupo Tata, com sede em Bombaim (Mumbai), que actualmente é o maior grupo empresarial da Índia e é reconhecido e respeitado em todo o mundo. Os seus interesses encontram-se nas áreas da energia, aço, automóveis, tecnologias de informação, comunicação, transporte aéreo, hotelaria e chá, dominando algumas marcas mundiais de grande notoriedade como a Jaguar, Land Rover e Daewoo (automóveis), AIG (seguros), ThyssenKrupp (siderurgia), Tetley Tea (chá) e Air India (transporte aéreo), entre outras.O Grupo Tata é um caso raro de gestão familiar, uma vez que os presidentes das suas principais empresas e grupos de empresas são, quase sempre, membros da família Tata.
No ranking das maiores empresas do mundo, uma das empresas do grupo Tata, a Tata Consulting Services (TCS) ocupa o 83º lugar. É exactamente essa empresa que, conforme anunciou o jornal Toronto Sun, escolheu a cidade canadiana de Toronto para expandir a sua actividade no Canadá e instalar um centro de inovação, que se espera venha a criar 5000 empregos em todo o país nos próximos anos, além de concretizar investimentos em universidades canadianas para o apoio de programas de pesquisa e de natureza filantrópica. 
Costuma falar-se dos tigres asiáticos e dos novos tigres asiáticos que estão a transformar a economia e o comércio internacionais, por vezes através da exploração intensiva de mão-de-obra, mas não é habitual incluir a Índia nessa categoria, mas o domínio das tecnologias da informação e da comunicação, bem como o dinamismo do Grupo Tata, mostram que a Índia é um país emergente e em ascensão.

terça-feira, 5 de julho de 2022

World needs better leaders, diz Kissinger

O jornal USA Today, que é o diário de maior circulação por todo o território dos Estados Unidos, destaca na sua edição de hoje como principal notícia de primeira página, o tiroteio que ocorreu ontem durante o desfile do 4 de Julho em Highland Park, nos arredores de Chicago, de que resultaram “seis mortos e dúzias de feridos”. Porém, na mesma primeira página e com semelhante destaque, há uma referência a uma entrevista a Henry Kissinger em que o antigo secretário de Estado americano, agora com 99 anos de idade, diz que “world needs better leaders”.
A entrevista surgiu na sequência do seu 19º livro, uma obra de 499 páginas que foi lançada ontem em Nova Iorque e que tem como título Leadership: Six Studies in World Strategy. Nesse livro, Henry Kissinger mostra-se preocupado com o seu país e com o mundo, descrevendo o perfil de seis líderes que viveram tempos tumultuosos, mas que souberam ajudar a construir uma nova ordem mundial no século XX: Konrad Adenauer (Alemanha), Charles de Gaulle (França), Richard Nixon (Estados Unidos), Anwar Sadat (Egipto), Lee Kuan Yew (Singapura) e Margaret Thatcher (Reino Unido). Questionado sobre se actualmente vê algum líder comparável àqueles, capaz de enfrentar as exigências dos tempos actuais, Kissinger respondeu com uma única palavra “Não” e, após uma breve pausa, acrescentou “Doloroso”.
A propósito da Ucrânia, várias vezes tenho pensado que eram necessários melhores líderes que tivessem evitado a guerra, que negociassem o cessar-fogo, que evitassem a brutalidade das destruições e que travassem a escalada da guerra que nos pode levar a maiores tragédias. Porém, eles ficam-se pela “espuma dos dias”, ou por umas visitas a Kiev, permitindo que seja um funcionário de nome Stoltenberg que, em seu nome, atire gasolina para a fogueira. 
Henry Kissinger tem razão: “world needs better leaders”.

A violência armada na grande América

O 4 de Julho ou Dia da Independência é um feriado federal nos Estados Unidos que comemora a data em que, no ano de 1776, os delegados das treze colónias rebeldes americanas adoptaram a Declaração de Independência, um documento elaborado por Thomas Jefferson, que veio a ser o terceiro presidente dos Estados Unidos. É um dia de grande festa em que se celebra o nascimento da nação americana de formas muito diversas, com grandes desfiles militares e sociais, fogos-de-artifício, concertos e espectáculos, além de tradicionais e alargadas reuniões familiares. Porém, um desfile do Dia da Independência que ontem decorreu em Highland Park, um subúrbio a cerca de 40 quilómetros do centro de Chicago, no estado de Illinois, foi interrompido por um tiroteio de que resultaram pelo menos seis mortos e 31 feridos. A edição de hoje do jornal Chicago Tribune destaca este acto com o título “Holiday Horror” pois, mesmo em dia de festa nacional, a aterradora e brutal violência armada não faltou, como vem acontecendo em escolas, supermercados, igrejas e outros locais, como consequência de uma cultura de violência e de uma política de livre venda de armas a particulares.
Recentemente, na sua edição de 25 de Maio, o jornal Diário de Notícias tinha noticiado que, desde o início do ano, pelo menos 17.196 pessoas tinham morrido baleadas, segundo a organização Gun Violence Archive, incluindo homicídios e suicídios. Em média morrem por ano 40.620 pessoas nos Estados Unidos vitimadas por armas de fogo o que significa que acontecem 111 mortes violentas por dia. 
No país que lidera o mundo, tanto económica como tecnologicamente, há alguns aspectos civilizacionais que mancham a imagem dos Estados Unidos e, seguramente, que a violência armada é um deles.

segunda-feira, 4 de julho de 2022

As alegres viagens do presidente Marcelo

A Bienal Internacional do Livro de S. Paulo, este ano na sua 26ª edição, é um evento literário de grande importância na vida cultural brasileira que teve Portugal como convidado de honra, razão porque registou a presença de mais de duas dezenas de escritores portugueses e lusófonos. O Presidente da República Portuguesa decidiu participar na inauguração desse evento, mostrando o seu apoio aos escritores e aos editores portugueses, mas também o seu empenho no reforço da amizade entre Portugal e o Brasil. Nesta sua deslocação, Marcelo Rebelo de Sousa viajou para o Brasil num voo especial da TAP para celebrar a primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul realizada há cem anos por Gago Coutinho e Sacadura Cabral, tendo participado numa cerimónia pública no Rio de Janeiro em que foi descerrada uma placa comemorativa alusiva a essa viagem. Segundo foi noticiado, Marcelo foi nadar na praia da Copacabana com os jornalistas à sua volta como tanto gosta, ofereceu uma recepção à comunidade portuguesa do Rio de Janeiro e, depois em S. Paulo, ofereceu mais uma recepção à comunidade portuguesa desta cidade, bem como um almoço aos editores e escritores portugueses presentes na Bienal. Encontrou-se com os antigos presidentes Fernando Henrique Cardoso, Luis Inácio Lula da Silva e Michel Temer, mas Jair Bolsonaro, o actual presidente do Brasil, desconvidou-o para um encontro com almoço em Brasília que estivera programado.
Através das fotografias divulgadas pela própria presidência, vemos que a viagem foi bem divertida e animada, com as cenas popularuchas do costume, as selfies, os abraços e os incontáveis microfones à volta. Ao mesmo tempo pudemos ver como era alargada a comitiva presidencial e como foi elevado o número de jornalistas que o acompanharam nesta viagem. Não se justifica tanta gente neste tipo de viagens, porque tudo isso é pago com os nossos impostos que são bem altos. O presidente sabe isso, mas actua como se o recurso orçamental fosse inesgotável.
Foi dito que esta viagem foi “a oportunidade para se falar mais de Portugal”, mas o exemplo do jornal Estado de S. Paulo mostra que não foi assim, pois este jornal dedica um grande espaço da sua capa à 26ª Bienal Internacional do Livro, mas refere apenas um português que é o escritor Valter Hugo Mãe e não Marcelo Rebelo de Sousa.

domingo, 3 de julho de 2022

A Airbus e os seus "contratos do século"

Os portugueses gostam da França, apesar das invasões napoleónicas de 1808-1811, mas há que reconhecer que os franceses são demasiado chauvinistas e que, para eles, la France está sempre acima de todas as coisas. Por isso, os sucessos aeronáuticos da Airbus SE, até porque comparam com a sua rival americana Boeing, estão sempre a ser anunciados pela imprensa francesa.
Ontem, o jornal La Dépêche du Midi que se publica em Toulouse, a cidade onde se localizam as principais fábricas da Airbus SE e as linhas de montagem finais dos aviões A320, A330, A350 e A380, noticiou que quatro companhias aéreas chinesas tinham encomendado 292 aviões A320neo por 37 mil milhões de dólares e classificou este contrato como “la commande du siècle”, ou “le contrat du siècle”. A mesma notícia indica que nos primeiros cinco meses do corrente ano a Airbus já produziu 237 aviões, o que corresponde a uma produção média mensal de cerca de 50 unidades. A notícia é deveras curiosa, pois os “contrat du siècle” são frequentemente anunciados pela imprensa francesa, como verificamos numa breve pesquisa feita na internet.
Em 2021 tinha sido anunciado que o grupo Air France-KLM encomendara 100 aviões A320neo para equipar as frotas da KLM e da Transavia e mals 60 unidades suplementares, o que foi classificado pela imprensa francesa como o “contrat du siècle”. Em 2019, no salão aeronáutico do Dubai, a companhia indiana IndiGo encomendou 255 A321neo por cerca de 30 mil milhões de euros e esta encomenda recebeu a classificação de “contrat pharaonique”. Em 2017 tinha sido anunciado um “contrat historique” e “la commande du siècle” quando foi anunciado que um fundo de investimento americano encomendara 430 aviões A320 e A321 por 42 mil milhões de euros. Em 2013 a companhia indonésia Lion Air encomendou 234 aviões da família A320 por 18,4 mil milhões de euros e, nessa altura, o ministro Arnaud Montebourg afirmou que era o “contrat du siècle”.
Como se vê, a Airbus é um sucesso tecnológico e comercial, mas a chauvinista imprensa francesa não se cansa de anunciar sucessivos “contrats du siècle”-

sexta-feira, 1 de julho de 2022

Um governo de distraídos e acomodados

O actual governo português é o XXIII Governo Constitucional que resultou da vitória do Partido Socialista por maioria absoluta nas eleições de 30 de Janeiro de 2022, tendo tomado posse no dia 30 de Março seguinte. O elenco governativo foi constituído por 17 ministros e 38 secretários de Estado que estão em funções há três meses e dos quais há uma boa parte com experiência política e governativa. O governo tem uma maioria parlamentar que o apoia e tem uma economia que está em franca recuperação, enquanto o país vive uma significativa estabilidade social, isto é, o governo tem tudo o que precisa para fazer reformas e para se adaptar aos novos tempos e às novas exigências, para mudar o que está mal e para aperfeiçoar o que não está bem. É isso que se deve exigir de um governo com maioria absoluta.
No seu discurso de posse, o primeiro-ministro tinha dito: “Os portugueses desejam um Governo que trabalhe afincadamente, já a partir de hoje, para que o país proteja os seus cidadãos, garanta a sua liberdade e segurança, os mobilize no esforço coletivo de modernizar Portugal”. Era isso que se esperava na Saúde e na Justiça, onde existem graves distorções que afectam os cidadãos, mas também em outros sectores da nossa sociedade, designadamente na Educação e na Defesa. Porém, assistimos a um aumento da degradação dos serviços públicos, ao aumento do custo de vida, a uma descrença que se instala na sociedade e a uma crescente incerteza quanto ao futuro.
Hoje a imprensa portuguesa destaca as fotografias do primeiro-ministro António Costa e do ministro Pedro Nuno Santos que, sendo pessoas respeitáveis, protagonizaram nas últimas horas uma trapalhada política inimaginável e lamentável, que nos deve deixar apreensivos quanto ao futuro. Que este triste episódio sirva, pelo menos, para acordar aqueles que se deixaram adormecer ou se acomodaram no desempenho das funções governativas que lhes foram confiadas e que passem a trabalhar afincadamente, como prometeu o primeiro-ministro.