quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Os temporais na costa norte de Espanha

Nos últimos dias o golfo da Biscaia esteve sob violento temporal que assolou a costa norte da Península Ibérica e afectou a orla marítima das comunidades autónomas espanholas do País Basco, Cantábria, Astúrias e Galiza. Os jornais das principais cidades desta região, sobretudo os diários de San Sebastián, Santander, Gijón e Oviedo, destacaram este temporal que teve uma invulgar violência e ilustraram as suas primeiras páginas com imagens impressionantes da fúria do mar. Assim aconteceu, por exemplo com o El Diario Vasco que se publica em San Sebastián, que apresenta uma imagem invulgar e impressionante das ondas a rebentar sobre a ponte de Kursaal, no centro da cidade.
Segundo a informação veiculada por esses jornais a agitação marítima foi desproporcionada, tendo sido registadas ondas com mais de 11 metros e ventos com velocidades superiores a 100 km por hora, de que resultaram danos materiais em algumas infraestruturas costeiras, o corte de estradas e a inactividade da pesca local. Houve pelo menos uma vítima mortal dos temporais no pequeno porto de pesca de Ondarroa, onde o temporal terá sido mais violento.
Como se costuma dizer, o mar é belo mas não se pode brincar com ele. 

A Ucrânia está em pé de guerra

Depois de cerca de dois meses de contestação e de um levantamento com grande apoio  popular nas ruas de Kiev e de outras cidades ucranianas com barricadas e ocupação de edifícios, a situação teve ontem uma evolução significativa, quando o governo se demitiu e o Parlamento revogou as leis que permitiram a repressão do protesto popular. Poderá, assim, abrir-se uma porta para o fim da crise ucraniana, embora a oposição continue a exigir a amnistia para os detidos nos protestos, a revisão da Constituição e a marcação de eleições presidenciais antecipadas, pois continuam sem confiar no Presidente Victor Yanukovich. O que está em causa parece ser uma clivagem profunda da sociedade ucraniana, dividida entre uma ligação preferencial à Rússia e a adesão à União Europeia, mas também muitas divergências quanto ao futuro do leste da Europa. A crise começou quando o presidente ucraniano Yanukovich decidiu não assinar um acordo de associação com a União Europeia, optando por uma união alfandegária proposta pela Rússia, o que provocou manifestações pró-europeias que alastraram e se têm agravado. Ontem a situação acalmou, mas a estabilidade da Ucrânia e da Europa continuam ameaçadas. Por isso, ontem o presidente russo Vladimir Putin esteve em Bruxelas e a comissária europeia Catherine Ashton esteve em Kiev. Tanto a União Européia como a Rússia têm interesse em que a situação se resolva com rapidez, antes que atinja proporções mais graves. Hoje, no Parlamento, o primeiro presidente do país desde a independência conquistada em 1991, Leonid Kravchuk, afirmou que a Ucrânia está “à beira de uma guerra civil” em consequência do confronto entre as autoridades e os opositores, generalizado a todo o país. Era a única coisa que ainda não tinha sido dita com tanta clareza.
A Ucrânia é um grande país com 600 mil km2 de superfície e mais de 45 milhões de habitantes. Geograficamente é um país distante, mas desde que mais de 40 mil ucranianos trabalharam ou trabalham em Portugal, todos ficamos mais inquietos com o que se está a passar e o que pode vir a acontecer naquele país, com cujas gentes nos habituamos a conviver.

domingo, 26 de janeiro de 2014

O cavaquinho até já tem um museu

Há menos de 6 meses e por iniciativa do músico Júlio Pereira, foi constituída em Lisboa uma associação denominada Associação Cultural e Museu Cavaquinho com o objectivo de documentar, preservar e promover a história e a prática do cavaquinho, ao mesmo tempo que em declarações públicas, o músico classificou o ano de 2014 como “o ano do cavaquinho”.
Não imaginei que houvesse algum interesse cultural na promoção da história do cavaquinho, nem que se justificasse a escolha do ano de 2014 como o ano do cavaquinho porque, por ignorância minha, julgava-o um instrumento menor e sem qualquer relevância cultural, para além pensar que tinha origem algarvia, quando afinal é de origem minhota.
Porém, eu estava enganado e o cavaquinho da notícia não é o que eu pensava. Fiz confusão. O cavaquinho é um instrumento musical tetracórdio – também chamado braguinha, braga, machete, machetinho ou machete-de-braga - que foi adoptado pela cultura popular portuguesa, mas que foi levado para várias regiões do mundo, sendo actualmente conhecidos mais de uma centena de modelos diferentes, por exemplo em Cabo Verde, no Brasil, nas ilhas Hawai e até na Indonésia.
O músico Júlio Pereira tem sido o grande divulgador do cavaquinho em Portugal, tendo editado em 1981 o seu primeiro álbum inteiramente dedicado ao instrumento e acaba de editar um livro/CD sobre o mesmo cavaquinho. A sua iniciativa de criar uma associação internacional e um museu é, portanto, muito meritória.
 

sábado, 25 de janeiro de 2014

Sacos azuis em tempos de austeridade

A edição de hoje do Correio da Manhã destaca que o “Governo tem saco azul de 523 milhões de euros”, com base no facto do Orçamento do Estado para 2014 incluir uma rubrica designada por “dotação provisional” que inclui essa verba sem estar associada a qualquer tipo de despesa. De acordo com a Lei de Enquadramento Orçamental, o orçamento do Ministério das Finanças inclui uma “dotação provisional” destinada a fazer face a despesas não previsíveis e inadiáveis. Porém, em 2013 essa rubrica foi dotada apenas com 20 milhões de euros e agora aumentou 26 vezes, tendo sido aprovada pelos deputados da maioria. Este escândalo  foi revelado em primeira mão na televisão pela antiga ministra Ferreira Leite, que então lhe chamou um enorme Fundo de Maneio. Ora isto é inexplicável e acontece quando se aproximam eleições, quando se intensificou o ataque aos pensionistas e aos funcionários públicos e quando é cada vez é mais evidente que o ataque às pensões e aos salários se insere num modelo ideológico que visa retirar rendimentos aos portugueses e empobrecer o país.
A troika e o governo bem poderiam cortar nas gorduras do Estado – que o amigo Catroga bem pode identificar – nas PPP, na EDP, na banca, nos estudos e pareceres dos advogados-tubarões, nos lucros das grandes empresas monopolistas, na multidão de assessores e consultores, nas viagens e nas comitivas e em tantas outras coisas mais. A austeridade só será compreendida se for necessária para reduzir a dívida ou o défice, mas deve atravessar toda a sociedade e não ser dirigida apenas aos mais fracos. Assim, tal como está a acontecer na Europa, também o nosso Portugal se afasta cada vez mais de um projecto de solidariedade. Haverá alguém que compreenda que se cortem pensões e salários em nome da redução da despesa e, simultaneamente, haja uma dotação provisional de 523 milhões de euros para despesas não previsíveis e inadiáveis, nas mãos de uma qualquer albuquerque? Tanto poder nem o Afonso de Albuquerque teve. Faz algum sentido? Terá relação com as eleições que se aproximam? Está quase a valer tudo.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Um Branquinho que gosta de dinheirinho

Por vezes somos confrontados com pequenas coisas da vida política que só servem para nos incomodar e para nos tornarem mais cépticos em relação à viabilidade de um projecto colectivo gizado por um tal Afonso Henriques, que já leva quase nove séculos e se chama Portugal. Então não é que, apesar da austeridade e da necessidade de forte contenção orçamental imposta pelo governo em 2013 e 2014, um tal Branquinho ao ser nomeado secretário de Estado, optou por não abrir mão do seu subsídio de alojamento por não ter residência em Lisboa? Não lhe bastava o salário e as despesas de representação, mais as ajudas de custo e o subsídio de alimentação, as despesas de telefone, a viatura com motorista e o cartão de crédito. Etc. A sua ânsia de facturar levou-o a não prescindir destes 753 euros por mês! Esta pobreza de espírito e esta ganância por dinheiro faz-me uma azia, que nem o Kompensan me alivia. Mas quem é este Branquinho?
Branquinho foi um jota precoce e com 27 anos já era deputado, mas basta ver o seu currículo oficial para concluir que nunca exerceu uma profissão e que é um boy que tem vivido à custa do seu partido e dos contribuintes, tendo-se tornado conhecido por alguns casos muito confusos que envolvem muito dinheiro. Em 2002 era o único detentor da empresa de publicidade NTM à qual foi adjudicada uma campanha de comunicação para um programa de formação profissional autárquico gerido pelo seu guru Miguel Relvas, no valor de quase 450 mil euros, caso que está a ser investigado pelo Ministério Público. Mais tarde voltamos a ouvir falar dele quando foi contratado pela famosa Ongoing que, em dez meses, lhe pagou 200 mil euros pelos serviços prestados. Agora está no governo e requereu 753 euros por mês, a que tem direito como subsídio de alojamento. Podia recusar o subsídio e o ridículo, mas não o fez. É assim este Branquinho que gosta de dinheirinho, que é Agostinho mas que não passa de um coitadinho!

Os novos paraísos fiscais dos chineses

A página da ICIJ - International Consortium of Investigative Journalists na internet e as edições de vários órgãos de comunicação internacionais como a BBC, o Le Monde, o Washington Post, o The Guardian e o El País, entre outros, deram a notícia: há 37 mil chineses com activos em paraísos fiscais e, entre eles, há muitos familiares da élite comunista da China, assim como políticos, empresários de sucesso e grandes companhias estatais. Esta notícia resultou de uma demorada investigação em que participaram 86 jornalistas de 46 países que consultaram dois milhões de documentos em arquivo e revelou informações sobre as fortunas escondidas das élites chinesas e sobre a gigantesca rede de abusos, ilegalidades e corrupção que sustentam a segunda economia do mundo. É o Chinaleaks.
A China escolheu a liberalização da sua economia mantendo a ditadura do partido único segundo a fórmula de Deng Xiao Ping - um país, dois sistemas - e isto gerou algumas disfunções. A par de um impressionante crescimento económico que tirou milhões de chineses da pobreza e que enriqueceu a camada dirigente, acentuou-se um brutal crescimento das desigualdades sociais e geográficas, a corrupção alastrou em larga escala e até surgiu uma bolha imobiliária semelhante à que tanta desgraça causou no Ocidente. O enorme escândalo agora revelado por esta investigação da ICIJ até obrigou o governo chinês a bloquear a informação da internet sobre este caso.
O que é interessante é ver a forma como essa teia de corrupção e lavagem de dinheiro dos milionários chineses se estendeu à Europa, cada vez mais transformada num paraíso fiscal para os chineses. Portugal não ficou fora da rede e aqui compraram a EDP, a REN e a EDP Renováveis. Depois ficaram com a Caixa Seguros, o que significa que a Multicare também é chinesa. Já andam a namorar as águas, os mármores, a banca e a energia solar. Centenas deles já têm o visto gold. Pequeninos, muito pequeninos, alguns dos nossos dirigentes deslumbraram-se. Julgam que o dinheiro vale tudo. São uns vulgares vende-pátrias. O que dirão a isto o irrevogável Portas, o goldman Arnaut, o oriental Catroga, o eléctrico Mexia e a malta do Conselho Geral e de Supervisão da EDP?

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Síria: à procura da paz em Montreux

A desejada conferência de paz para a Síria começa hoje em Montreux, mas não se esperam quaisquer resultados imediatos. Depois de cerca de três anos de guerra cruel e sangrenta que matou mais de 130 mil pessoas, fez milhões de refugiados, devastou a economia e destruiu as cidades que antes eram prósperas, os representantes de mais de trinta países vão apelar às partes para negociarem uma solução para o conflito, a que se seguirá, o primeiro frente-a-frente entre os beligerantes ainda esta semana, apenas com a presença dos mediadores das Nações Unidas.
De um lado estarão o Governo Sírio de Bashar el-Assad e os seus aliados libaneses do Hezbollah. Do outro lado estarão os representantes do Estado Islâmico do Iraque e do Levante, dos extremistas da Jabhat Al-Nusra, da Frente Islâmica e do Conselho Superior Militar Sírio. Aparentemente, nenhuma das partes procura ou espera um fim rápido para o conflito, porque do lado do governo tem havido algumas vitórias militares no terreno que pretende consolidar e, do lado da oposição, continua a divisão e a conflitualidade, além de ainda estar longe de alcançar os objectivos mínimos a que se propõe, em especial o afastamento de Bashar el-Assad. Esta primeira ronda de negociações directas mediadas pela Rússia e pelos Estados Unidos vão decorrer durante sete a dez dias, a que se seguirá um curto período de reflexão e de consultas, esperando-se que os diplomatas saibam criar medidas de confiança e levar as partes a dar pequenos passos na direcção da paz, através de acordos de cessar-fogos locais e da abertura de corredores humanitários.
Entretanto, é preciso ter presente que o conflito evoluiu para uma “guerra por procuração” entre o Irão (xiita) e a Arábia Saudita (sunita), mas também entre os interesses da Rússia e dos Estados Unidos. As negociações são, por isso, demasiado complexas e, como diz hoje o Libération, é a paz impossível. Porém, é preciso que não seja assim.

A França recupera as línguas regionais

A Europa foi sempre um mosaico de povos, de culturas e de línguas que, ao longo do processo histórico, se confrontaram ou se aculturaram, dando origem a uma enorme variedade de nações e línguas nacionais.  A França é um exemplo dessa evolução, pois no território francês viveram (e vivem) povos com línguas e dialectos distintos, como sucede com o bretão, o occitano, o provençal, o corso, o basco, o catalão, o baixo-alemão e alguns mais. Com o tempo, o dialeto da região de Paris – o franciano – acabou por suplantar os outros dialetos e transformou-se na base da língua oficial da França, num processo semelhante ao que sucedeu em Espanha com o castelhano, que se transformou na língua espanhola. A unificação linguística acentuou-se em França com o Decreto de Villers-Cotterêts de 1539, com o qual o Rei Francisco impôs o francês como a língua oficial  da Corte e dos procedimentos administrativos, em vez do latim que era usado até então.
O francês impôs-se mundialmente e é a língua oficial de três dezenas de países de vários continentes e, na Europa, é falado na Bélgica, Suíça, Luxemburgo e Mónaco. Porém, quando o fenómeno da globalização se acentua e tende a unificar padrões culturais, comportamentos e línguas, está a verificar-se um interesse renovado pelas línguas regionais da França, algumas das quais a UNESCO classifica como línguas em extinção.  O jornal La Croix trata hoje desse problema e revela que o governo francês aposta e apoia a promoção dessas línguas e que o número de escolas bilingues está a aumentar, sobretudo na Bretanha e na Córsega, mas também na Alsácia e no País Basco francês. Contudo, este interesse pelas línguas regionais não parece estar associado a movimentos separatistas.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Os bifes do Café Império

No número 205 da Avenida Almirante Reis, em Lisboa, localiza-se o famoso Café Império, num edifício de traço arquitectónico modernista que foi projectado por Cassiano Branco em 1947. Esse edifício foi concluído em 1952, embora o café só tivesse sido inaugurado em 1955, tendo sido classificado em 1966 como imóvel de interesse público pelo IPAR - Instituto Português do Património Arquitectónico. O Café Império tornou-se então um importante espaço de convívio da vida lisboeta, sobretudo para quem estudava ou para quem conspirava naquele tempo da ditadura. Havia a imponente escadaria de acesso ao café, as inúmeras mesas redondas, os empregados de calça preta e jaqueta branca, os engraxadores e a sala dos bilhares mas, sobretudo, havia muitas tertúlias. O café fechava às duas e meia da madrugada e pela noite dentro servia os famosos "bifes à Império"que lhe trouxeram fama e rivalidade com os bifes da Portugália, cada qual com os seus adeptos e o seu apreciado molho.
Um dia a IURD adquiriu todo o edifício onde também existia o Cinema Império, encerrou o café e iniciou obras para o transformar num local de culto, mas a contestação levou a que a obra fosse embargada pela Câmara Municipal. Nessas circunstâncias, a IURD viu-se obrigada a trespassar o café a uma empresa de restauração que manteve os empregados da casa e renovou o estabelecimento com o objectivo recuperar a qualidade e o simbolismo que no passado havia sido reconhecido. O Café Império abriu ao público em 2006 com assinalável sucesso, voltando a reunir tertúlias e a servir os bifes que lhe deram fama e, agora, junto à sua porta, decidiu publicitar esses mesmos “bifes à Império”, sobretudo para quem está “farto de Coelho”. A clientela vai certamente aumentar!

Sobre o estado da nação

Depois de mais de trinta meses de governação da actual maioria e a quatro meses de terminar o programa de ajustamento que foi acordado com a troika, é altura de se começarem a fazer balanços, até porque se aproximam as eleições europeias. O governo e a sua gente querem passar a ideia de que o programa foi um sucesso e até parece estar a ser criado um ambiente de euforia. É bom que se contenham e que não ofendam quem passou e está a passar mal por causa da sua insensibilidade e do seu fanatismo ideológico. A troika vai-se embora, mas os problemas acumulados desde há muitos anos ficam cá, com um país mais triste, mais desigual e mais envelhecido. Porém, é preciso recordar quem chumbou o PEC4 e chamou a troika, dizendo que o seu programa era o programa da troika e que iria surpreender por ir mais longe do que as imposições da dita troika. Nem se pode esquecer a promessa de resolver o problema das Finanças Públicas com o corte nas “gorduras do Estado”, nem a declaração pré-eleitoral mais simbólica de Passos: "Nós calculámos e estimámos e eu posso garantir-vos que não será necessário em Portugal cortar mais salários nem despedir gente para poder cumprir um programa de saneamento financeiro".
Foi uma enorme mentira. Sem qualquer pudor, o governo foi ao bolso dos mais pobres e cortou salários e confiscou pensões. Não tocou nos interesses instalados. Não corrigiu o défice público que continua excessivo. Fez aumentar substancialmente a dívida pública. Atacou as políticas sociais e, em especial, cortou na saúde e na educação. Privatizou sem cuidar do interesse nacional. Humilhou as Forças Armadas. Tentou repetidamente violar a Constituição.
Como consequência das suas políticas, o produto nacional regrediu e o desemprego tornou-se um grave problema social. Foram destruídos mais de 300 mil postos de trabalho líquidos. Aumentaram as desigualdades, as injustiças e a pobreza. Foram empurradas mais de 200 mil pessoas para a emigração, incluindo jovens altamente qualificados. O aparelho de Estado foi ocupado por “assessores de aviário”, uns ex-jotas ambiciosos e impreparados para os quais não faltam bons salários, nem Audi, nem BMW.
Para saber o que se passa nem é preciso consultar estatísticas. Basta observar ou, então, escutar o que dizem Bagão Félix, Ferreira Leite ou Pacheco Pereira.

sábado, 18 de janeiro de 2014

O impacto da tecnologia sobre o emprego

Na sua última edição, a revista The Economist escolheu as questões da tecnologia e do emprego como tema central, ilustrando-o com a imagem de um tornado a destruir um escritório. É uma imagem eloquente. Na realidade, o efeito das tecnologias sobre o emprego foi sempre muito importante e se na Revolução Industrial substituiu os tecelões artesanais pelos teares mecânicos, também na Revolução Digital dos nossos dias está a destruir muitos dos postos de trabalho que sustentaram a classe média no século XX. Há cem anos, nos países industrializados, a agricultura ocupava um terço da mão-de-obra, mas actualmente a agricultura ocupa apenas 2% da população e produz muito mais. Porém, esses trabalhadores excedentários não foram para o desemprego, tendo sido absorvidos por outros empregos mais sofisticados e mais bem pagos. A sociedade desenvolveu-se e o ser humano passou a viver melhor.
O que se passa actualmente é semelhante pois estão a desaparecer postos de trabalho em consequência da inovação tecnológica, caso dos dactilógrafos, dos vendedores de bilhetes, dos caixas dos bancos e de muitos outros intervenientes nas linhas de produção. Até agora, os postos de trabalho mais vulneráveis ​​às novas tecnologias eram os que envolviam tarefas repetitivas de rotina, mas graças ao aumento exponencial da capacidade de processamento e à presença da informação digitalizada, os computadores são cada vez mais capazes de realizar tarefas complexas de forma mais barata e eficaz do que as pessoas. Assim se gera o desemprego e se acentua um desemprego estrutural de efeitos sociais imprevisíveis. Por isso, o The Economist afirma que é preciso mais investimento na educação, nomeadamente em educação pré-escolar, uma vez que as capacidades cognitivas e sociais que as crianças aprendem nos seus primeiros anos definem grande parte do seu potencial futuro, enquanto os adultos vão precisar cada vez mais de formação continuada. Segundo aquela revista, é preciso mais inovação e uma renovada capacidade para inventar novos bens e serviços para empregar os milhões de pessoas que cairam no desemprego mas, ainda segundo o The Economist, os governos não estão preparados para isso.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Goa recebe os III Jogos da Lusofonia

A terceira edição dos Jogos da Lusofonia iniciam-se amanhã em Goa e decorrerão até ao dia 29 de Janeiro, com a participação de cerca de 1500 atletas provenientes de 12 países - Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor (membros plenos da ACOLOP - Associação dos Comités Olímpicos de Língua Oficial Portuguesa) e Guiné Equatorial, Índia (Goa) e Sri Lanka (membros associados da ACOLOP).
Os Jogos da Lusofonia são um evento desportivo entre os países de língua portuguesa, constituindo a versão portuguesa dos Jogos Olímpicos, dos Jogos da  Commonwealth ou dos Jeux de la Francophonie. As duas primeiras edições dos disputaram-se em Macau (2006) e em Lisboa (2009), tendo os resultados desportivos favorecido o Brasil (133 medalhas), Portugal (125), Macau (26), Angola (19) e Cabo Verde (13). Nesta edição Portugal vai estar representado por 57 atletas que participarão apenas em seis das dez modalidades presentes nos Jogos, designadamente nas provas de atletismo, judo, taekwondo, ténis de mesa, voleibol de praia e wushu, mas não vai estar presente nas provas de basquetebol, voleibol, desporto para deficientes e, sobretudo, no torneio de futebol, o que constitui uma desilusão para os goeses, uma vez que o futebol é o desporto-rei de Goa.
É lamentável que as nossas autoridades desportivas e até governamentais não tenham actuado no sentido de que fosse apresentada uma representação mais numerosa e mais credenciada, uma vez que só uma atleta olímpica estará em Goa (a judoca Yahima Ramirez). O atraso nas datas dos Jogos da Lusofonia, deslocados de Novembro para Janeiro devido a atrasos verificados na construção de novos recintos desportivos, terá alterado a programação da representação portuguesa e desviado os principais nomes do desporto nacional, muitos deles subsidiados pelo Estado. Porém, isso não é razão suficiente para justificar este desinteresse e esta presença tão pobre. A memória portuguesa em Goa merecia um outro tipo de representação.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

A minha Pátria é a língua portuguesa

A cerimónia de entrega do prémio de melhor futebolista do mundo a Cristiano Ronaldo, ontem transmitida pela televisão a partir de Zurique, foi vista por muitos milhões de espectadores em todo o planeta. Hoje, tive a curiosidade de observar as primeiras páginas de um grande número de jornais que se publicam em todo o mundo e verifiquei que essa notícia é destacada em muitas dezenas deles e que é ilustrada com expressivas fotografias. Não há memória de alguma vez, designadamente nesta era da globalização da informação, o nosso país ter estado envolvido num acontecimento mediático desta envergadura.
Um dos aspectos mais curiosos da espectacular Gala da FIFA foi o facto de ter sido falada em várias línguas, com destaque para o inglês e o português. A língua portuguesa esteve em evidência por ter sido utilizada nos emocionados agradecimentos de Pélé (que recebeu um prémio honorário que homenageia a sua carreira) e por Cristiano Ronaldo que recebeu a Bola de Ouro 2013. O Correio Braziliense aproveitou esse facto e "clonou" um futebolista ideal que fala português, meio-Pélé e meio-Ronaldo. Além disso, também as velhas glórias brasileiras que subiram ao palco para promover o Mundial de 2014 utilizaram o português, tal como a apresentadora Fernanda Lima que alternou as suas intervenções entre o inglês e o português.
A imprensa brasileira reparou em tudo isto e utilizou alguns títulos muito sugestivos:
     O português é a língua da bola (Correio Braziliense)
     Os génios falam português (revista Lance)
     Festa em português (O Globo)
Os prémios de Cristiano Ronaldo e Pélé acabaram por prestar um relevante serviço à língua portuguesa e razão tinha Fernando Pessoa quando, pela pena do seu heterónimo Bernardo Soares, escreveu que “a minha Pátria é a língua portuguesa”.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Ronaldo conquistou o Ballon d’Or 2013

Cristiano Ronaldo conquistou a Bola de Ouro de 2013, o que significa que foi eleito como o melhor jogador de futebol do mundo e que deu uma enorme alegria a todos os portugueses, que têm poucas oportunidades para ver internacionalmente reconhecido o mérito dos seus filhos. Numa época em que o futebol se globalizou e se tornou no maior fenómeno social de massas, esta distinção premeia as superiores qualidades e talentos futebolísticos de Ronaldo, o seu profissionalismo e a sua dedicação, mas também a sua correcta atitude perante os interesses que o rodeiam, nomeadamente o complexo mundo do futebol e as sofisticadas máquinas publicitárias. 
Evidentemente que a Bola de Ouro tem um valor simbólico e que há muitos outros futebolistas talentosos, mas no prolongado período de empobrecimento económico e social por que passamos, aquela distinção constitui um prémio que emociona toda a nossa sociedade, em especial os mais desfavorecidos e aqueles que cantam “A Portuguesa” nos estádios e andam vestidos com a camisola 7 da selecção nacional. Para além de levar o nome de Portugal a todo o mundo por muitas e boas razões, o prémio de Ronaldo e as circunstâncias emocionais como o recebeu na gala de Zurique da FIFA também encheram de orgulho os portugueses da diáspora e os novos emigrantes que agora procuram um rumo para a sua vida, dando-lhes um acrescido motivo de satisfação, mas são também uma pequena resposta para aqueles que na esfera internacional nos têm subvalorizado e humilhado.
Cristiano Ronaldo está de parabéns. Os portugueses merecem este Ronaldo e é uma pena não termos muitos mais Ronaldos, espalhados pelos nossos centros de decisão, para nos darem alegrias como esta. 

 

domingo, 12 de janeiro de 2014

Arnaut premiado pelos serviços prestados

O antigo ministro Arnaut, que também foi secretário-geral do partido que nos governa, acaba de ser nomeado para o conselho consultivo internacional do banco americano Goldman Sachs, uma assembleia de 18 consultores especializados em relações promíscuas e contratos especulativos com alguns governos, conforme um filme recente bem evidenciou. Foi óptimo para ele, mas também para nós porque nos livramos das suas aparições televisivas a transpirar de vaidade.
Esta nomeação acontece quando está em curso um programa de privatizações que o governo tem seguido desde 2011 com vista à redução da dívida pública, mas também para cumprir uma orientação ideológica que visa afastar o Estado da actividade económica. Nessas privatizações destacou-se o escritório de advogados CSM Rui Pena & Arnaut e o seu sócio J. L. Arnaut, que estiveram envolvidos em todas elas, além de terem contado com o lobbying feito nas televisões pelo mesmo Arnaut, embora disfarçado de comentador. Arnaut começou por estar na privatização da EDP, seguiu-se a privatização da REN (para onde foi depois nomeado administrador) e depois a privatização da ANA (onde fez aconselhamento jurídico à empresa francesa Vinci e onde passou a ser presidente da Assembleia Geral). Esteve depois na falhada privatização da TAP (onde fez assessoria jurídica) e, depois na venda em bolsa dos CTT, em que a Goldman Sachs se tornou o seu maior accionista.
Arnaut é um exemplo da promiscuidade entre o interesse público e o interesse privado. Uma vezes esteve com o Estado, outras vezes com as empresas vendidas e outras, ainda, com as entidades compradoras. Esteve sempre com quem lhe pagou melhor. Sempre em completa confusão entre política e negócios. Sem o mínimo pudor. Representou os interesses de bancos como o Goldman Sachs e o JP Morgan nas negociações com os swaps, foi contratado pelo governo português para assessorar a emissão de dívida pública e acusou os juízes do Tribunal Constitucional de quererem manter privilégios. Tudo isto está escrito nos jornais. Todos esses serviços foram agora premiados com a sua nomeação para o conselho dos abutres.
 

sábado, 11 de janeiro de 2014

A RTP e o perspicaz Maduro

A programação televisiva que temos é geralmente uma desgraça e a nossa RTP, que é uma máquina que funciona com o dinheiro dos nossos impostos e que alimenta e faz favores a muita gente que por aí anda, é o melhor exemplo dessa desgraça.
Antes de chegar ao poder, o nosso primeiro anunciou que a RTP devorava um milhão de euros por dia e prometeu acabar com esse forrobodó, tendo encarregado dessa tarefa o um homem que era o seu braço direito e que ficou famoso pelas emboscadas políticas em que caiu. Chamava-se Relvas, estará ausente no Brasil, eventualmente a estudar.
O nosso primeiro foi então buscar alguém a Vila Nova de Poiares. Um Poiares Maduro! Um homem com um currículo maior do que ele, um talento, uma sumidade. Porém, os meses passaram e a RTP tem andado de mal a pior. Agora o ministro Maduro actuou e, depois de vários meses de estudo, veio dizer-nos que a RTP tem demasiados gastos com os seus trabalhadores. Uma inesperada e surpreendente novidade! Uma perspicácia madura!
Entretanto, o ministro Maduro também nos disse que pela prestação do serviço público, a RTP vai deixar de receber a habitual indemnização compensatória a partir da transferência do Orçamento do Estado, para passar a receber financiamento público apenas por via da contribuição para o audiovisual, que os portugueses pagam através da factura da electricidade. Uma atrevida esperteza que faz com que os mesmos continuem a pagar! Uma perspicácia madura!
E nós, contribuintes ávidos de verdadeiras reformas e de verdadeiras correcções ao que precisa de ser corrigido, ficamos estupefactos com mais este Maduro a juntar a tantos outros que por aí circulam.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

O governo ataca os pensionistas de novo

Num exercício de cegueira política e de chocante insensibilidade social, o governo decidiu atacar uma vez mais aqueles que constituem a camada mais débil da nossa sociedade e, com um ar triunfante, anuncia as medidas tomadas. Não foi isso que prometeram em campanha eleitoral. Mentiram. Não merecem o nosso respeito!
Com mais esta violência vão arranjar duas ou três centenas de milhões de euros para reduzir o défice público em 0,2%, quando o mesmo resultado poderia ser conseguido por diversas outras vias, desde uma negociação com a troika, até ao corte de uma pequena fatia dos lucros da EDP. Os antigos ministros Bagão Félix e Ferreira Leite já explicaram como poderia ter sido evitado este ataque ao bolso e aos direitos dos pensionistas, porque as pensões não são um subsídio nem um favor. São um direito e resultam da regular entrega ao Estado de valores que as pessoas retiraram dos seus rendimentos salariais para receberem quando se reformam. O direito à pensão tem uma legitimidade igual ao direito à propriedade privada e, com estas decisões governamentais, o Estado está a perder a confiança dos cidadãos. Ao proceder ao confisco das pensões, o Estado deixa de ser uma pessoa de bem e mostra-se cada vez mais tomado por interesses e por promiscuidades, sem vontade de corrigir as desigualdades gritantes que atravessam a nossa sociedade, nem procurar servir o interesse público, nem o bem comum. O Jornal de Notícias informa hoje que 401.858 pensionistas, dos quais 262.577 pertencentes ao regime da CGA e 139.281 pertencentes ao regime da Segurança Social, vão ser afectados pela CES (Contribuição Extraordinária de Solidariedade), que vai passar a ser aplicada às pensões superiores a mil euros. Não são os mais pobres da sociedade, mas é para a pobreza que esta gente os quer atirar.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A grande guerra dos licores nacionais

No passado ano de 2013 aconteceu uma pequena guerra jurídica entre dois licores portugueses, protagonizada pelo “velho” Licor Beirão (da Lousã) e o “novíssimo” Licor Nacional (da Anadia). O Licor Beirão nasceu no século XIX e adoptou, desde 1940, o slogan “o licor de Portugal”, enquanto o Licor Nacional foi lançado no mercado pelas Caves da Montanha em 2012.
Perante esta ameaça comercial a empresa do Licor Beirão reagiu e requereu ao Tribunal de Propriedade Intelectual que a nova marca fosse impedida de ser fabricada, engarrafada, distribuída, promovida e vendida, alegando que estavam a ser apropriados os valores nacionais que considerava serem seus, além de que a expressão “licor de Portugal” e o nome Licor Nacional poderiam ser confundidos pelo consumidor. O Tribunal considerou que a expressão "o licor de Portugal” não pode ser considerada de uso exclusivo pelo Licor Beirão, pelo que nada impede que o Licor Nacional utilize expressão igual ou semelhante na composição do seu slogan. A decisão judicial reforça, ainda, que não se verifica qualquer semelhança gráfica, fonética ou outra que induza o consumidor médio de bebidas espirituosas em erro ou confusão entre as marcas Licor Nacional e Licor Beirão.
Com base nesta decisão, o Licor Nacional desencadeou uma campanha publicitária em vários suportes, nomeadamente em cartazes, com uma dimensão como já se não via em Portugal há muito tempo. Segundo a marca, a campanha pretende mostrar que Portugal é feito de coisas boas e escolheu a artista de telenovela Rita Pereira para bem representar esses bons valores, ou seja, para mostrar aos consumidores que o que é português é bom ou “É Daqui”.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Temporal violento na costa portuguesa

Toda a costa continental portuguesa desde Caminha a Vila Real de Santo António, foi assolada por um temporal de magnitude pouco habitual e com forte agitação marítima. Muitas pessoas disseram nunca ter visto ondas tão grandes e chamaram-lhes “ondas gigantes”. As televisões mostraram as imagens das ondas e dos seus efeitos. O Instituto Hidrográfico registou na sua rede de ondógrafos as ondas de 19 metros de altura e os ventos de 107 quilómetros por hora ao largo da Nazaré. Ao largo de Sines registaram-se ondas de 17,5 metros de altura, o que corresponde ao maior valor registado naquela zona nos últimos 25 anos. Foram ainda registadas ondas de 15,6 metros de altura em Leixões e de 9,1 metros de altura em Faro. A forte agitação marítima provocou avultados estragos na generalidade das praias portuguesas, tendo sido destruídos muros de protecção, embarcações, estabelecimentos, mobiliário urbano e árvores. A Foz do Douro foi uma das áreas mais afectadas, tendo sido arrastadas e danificadas pelo mar algumas dezenas de carros.
A agitação marítima proporciona sempre imagens muito atraentes e o jornal i não perdeu a oportunidade, tendo utilizado a espectacular fotografia do mar a saltar sobre o farol da Foz do Douro para ilustrar a primeira página da sua edição de hoje.

O dilema espanhol: canhões ou manteiga

O economista americano Paul Samuelson ficou famoso por ter sido o primeiro americano a ganhar o Prémio Nobel da Economia, mas também por ter escrito Economics, um livro que se tornou um clássico e que ensinou os fundamentos da ciência económica à maioria dos estudantes de economia da segunda metade do século XX. Nesse livro, ele explica a fronteira das possibilidades de produção através do exemplo dos canhões e da manteiga, isto é, porque o dinheiro é um bem escasso, há que decidir se o dinheiro do contribuinte é usado na compra de armamentos ou na produção de alimentos. Na crise que alguns países europeus atravessam, este paradigma de Samuelson está a revelar-se demasiado verdadeiro. Assim acontece com a Espanha.
Segundo a edição de ontem do jornal ABC, a Marinha espanhola adaptou-se à crise por que passa o país e, desde 2008, abateu 25 dos seus navios que foram substituídos por sete de maior capacidade, enquanto foi cancelada a construção de diversas unidades e foram suspensos alguns projectos futuros, como a construção das fragatas da classe F-110. Esses navios que deveriam ser construídos pela Navantia, obrigaram aqueles estaleiros estatais a procurar e a conseguir encomendas no estrangeiro, tendo-as conseguido na Noruega e na Austrália. Um dos navios abatido, depois de 25 anos de serviço, foi o porta-aviões “Príncipe das Astúrias”, o navio-chefe da Armada espanhola, porque “España no pude sosternelo”, uma vez que a sua modernização e manutenção custaria cem milhões de euros anuais. A Espanha teve que escolher “a produção de manteiga” em vez do “fabrico de canhões”, porque a crise obrigou a que o seu orçamento da Defesa se reduzisse em 32%, pois passou de 8.491 milhões de euros em 2008 para 5.745 milhões de euros em 2014, dos quais 77% se destinam a pagamentos ao pessoal.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

O triste caso dos estaleiros de Viana

A edição de ontem do jornal Público destacou a situação por que passa a indústria da construção naval no noroeste da Península Ibérica que, tendo atravessado um prolongado período de crise, parece estar agora a entrar numa fase de renovado dinamismo. Em título de primeira página, o jornal escreve: “Estaleiros da Galiza com trabalho e a crescer em contraste com Viana”. A leitura deste título dá vontade de chorar! De facto, com imaginação, inteligência e diálogo democrático, os galegos procuraram soluções para salvar a sua indústria da construção naval, tendo conseguido um consenso político e social em que participaram as autoridades centrais e regionais, os patrões e os sindicatos, mas também alguns investidores, como foi o caso da petrolífera mexicana Pemex. Acendeu-se uma luz ao fundo do túnel e um sindicalista galego afirmou que “há oito meses não era demagogia falar do risco de desaparecimento desta actividade em Espanha, aliás nos últimos quatro anos a construção naval praticamente desapareceu na Andaluzia e em Valência”. Actualmente, a construção e reparação naval na Galiza, Astúrias e País Basco representam 87 mil postos de trabalho, dos quais 25 mil são empregos directos, enquanto a previsão para 2014 é recuperar os níveis de actividade e os postos de trabalho da última década.
A cem quilómetros de distância de Vigo estão os Estaleiros de Viana do Castelo e é o contraste, que nos envergonha e nos entristece. Segundo um sindicalista galego citado pelo Público, os estaleiros de Viana “têm as melhores instalações, pelo menos as maiores, de toda esta faixa atlântica”, mas o governo concessionou-as ao grupo Martifer, o que significa o lamentável fim da construção naval em Portugal. Porquê?
No dia 17 de Dezembro de 2013, a Rua dos Navegantes já abordara este assunto e escrevera: “Ao contrário das autoridades espanholas que encontraram uma boa solução para o seu problema, o governo português e o ministro Branco não quiseram ou não foram capazes de encontrar uma solução”.

 


 

R. I. P. Eusébio

Eusébio da Silva Ferreira foi um dos mais talentosos futebolistas portugueses de todos os tempos e faleceu ontem com 71 anos de idade. Natural da antiga cidade de Lourenço Marques onde nasceu em Janeiro de 1942, veio para Lisboa em finais de 1960 para ingressar na equipa do Sport Lisboa e Benfica. Em Maio de 1961 fez o primeiro jogo oficial pela sua nova equipa, em Outubro desse ano estreou-se pela selecção nacional e em Maio de 1962 sagrou-se campeão europeu frente ao Real Madrid. Divulgadas pela recém aparecida televisão, as vitórias internacionais do Benfica e os golos de Eusébio tornaram-se um motivo de orgulho para todos os portugueses, sobretudo para aqueles que haviam emigrado.
Porém, o momento porventura mais emocionante da carreira futebolística de Eusébio terá acontecido no dia 23 de Julho de 1966 no Goodison Park em Liverpool, no jogo dos quartos-de-final do Campeonato do Mundo. Portugal defrontava a Coreia do Norte que, em 25 minutos de jogo já marcara três golos. Foi então que Eusébio comandou uma reviravolta ao marcar quatro golos que asseguraram uma vitória sobre os norte-coreanos, um feito que ainda hoje perdura na memória dos portugueses desse tempo.
Eusébio foi, contudo, muito mais do que um futebolista genial. Ele tornou-se um símbolo e um verdadeiro embaixador ao tornar conhecido o nome de Portugal no mundo, num tempo em que não havia comunicação de massas à escala global e em que Portugal era ignorado no concerto das nações. Portugal e Eusébio tornaram-se sinónimos para milhões de pessoas em todo o planeta e, sem nunca ter renegado as suas origens moçambicanas, ele mostrou sempre grande orgulho em ser português.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Um acontecimento cultural relevante

Na sequência de um acordo formalizado entre o Museu Nacional do Prado e o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), estão em Lisboa 57 pinturas de grandes mestres da paisagem do século XVII pertencentes ao museu madrileno, que integram a exposição Rubens, Brueghel, Lorrain - A Paisagem Nórdica do Museu do Prado. Trata-se da primeira exposição apresentada em Lisboa que é composta exclusivamente por obras do Museu do Prado, o mais importante museu de Espanha e um dos mais importantes do mundo e esse facto, por si só, constitui um acontecimento cultural relevante.
A importante exposição inclui algumas das obras mais significativas dos grandes mestres da pintura do norte da Europa, sobretudo dos Países Baixos, que naquela época os italianos designavam por “nórdicos”. Em finais do século XVI verificara-se uma mudança nas temáticas escolhidas pelos pintores “nórdicos” e, entre os novos temas, encontrava-se a paisagem, que acabou por se tornar num género pictórico independente.
A exposição percorre algumas tipologias da pintura de paisagem que surgiram na Flandres e na Holanda ao longo de todo o século XVII, incluindo montanhas, bosques, navios e marinhas, terras exóticas, o quotidiano campestre ou os jardins palacianos, as paisagens geladas do norte ou a luz meridional das paisagens italianas. Porém, o título da exposição é um pouco enganador, porque para nós a palavra “nórdico” refere-se aos países escandinavos, enquanto os pintores e as pinturas apresentadas se referem ao centro da Europa
A exposição foi inaugurada no dia 3 de Dezembro e estará patente ao público até ao dia 30 de Março de 2014. 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Uma crise que não é para todos

Os porta-vozes do governo têm utilizado a palavra ténue para classificar os sinais positivos de recuperação económica que se estarão a verificar. De facto, ainda não se vislumbram sinais inequívocos de uma retoma económica sustentada, apesar do país ter saido da recessão em que estava mergulhado desde finais de 2010, da produção nacional ter crescido no segundo e no terceiro trimestres de 2013 e do desemprego ter diminuido ligeiramente, ao mesmo tempo que as exportações e o turismo têm registado um comportamento favorável. Ontem foram conhecidos mais alguns sinais que apontam para a referida recuperação económica ténue, através da divulgação das estatísticas das vendas de automóveis ligeiros de passageiros em 2013.
De acordo com a Associação Automóvel de Portugal (ACAP), o número de veículos comercializados em 2013 totalizou 113 435 – entre ligeiros de passageiros, comerciais ligeiros e veículos pesados (camiões e autocarros) – mas esse número ainda ficou abaixo de metade das mais de 275 mil unidades que se comercializavam anualmente em Portugal antes da crise. Porém, depois das vendas terem batido no fundo em 2012, este ano iniciou-se uma ligeira recuperação com uma subida de 11,7%, o que representou a comercialização de mais 13 249  veículos do que no ano anterior, em que se verificara uma queda anual de quase 41%.
Porém, as estatísticas da ACAP revelam um paradoxo que resulta da política de enriquecer os ricos e de empobrecer a classe média: a crise no sector automóvel não afectou a venda de carros de luxo que aumentou 23,3%, com as marcas Porsche, Jaguar, Lexus, Aston Martin, Ferrari, Bentley, Lamborghini e Lotus a venderem 632 veículos, isto é, mais 120 unidades do que em 2012. Outro dado curioso refere-se à marca BMW que vendeu 7629 unidades, número que se traduziu num aumento de 20% face a 2012 e levou esta marca à sua melhor quota de mercado de sempre (7,2%) e a manter-se na 4ª posição no ranking das marcas de automóveis ligeiros de passageiros mais vendidos em Portugal, depois da Renault, da Volkswagen e da Peugeot. Estes números só mostram que a crise não é para todos e deviam fazer corar de vergonha os nossos governantes.

A mentira e o ataque aos pensionistas

Prossegue a saga da manipulação discursiva e da mentira descarada que o governo tem usado e, nesse aspecto, é bom lembrar as declarações feitas no dia 1 de Abril de 2011 em Vila Franca de Xira pelo então candidato a primeiro-ministro:
- Vai tirar os subsídios de férias aos nossos pais?
- Nós nunca falámos disso. Isso é um disparate!
Com a vitória eleitoral, a mentira instalou-se no discurso governamental. Passou a valer tudo, contrariando-se os programas e as promessas eleitorais, aceitando-se a humilhação perante a troika e desafiando-se muitas vezes o próprio Tribunal Constitucional (TC). Quase três anos de austeridade e sacrifício não resolveram as nossas dificuldades. Agora, para tapar o "buraco" orçamental de 388 milhões de euros (0,2% do PIB) criado pelo chumbo do TC à convergência de pensões do sistema público com o privado, o governo decidiu alargar a base de incidência da Contribuição Extraordinária de Solidariedade (CES) e reforçar o autofinanciamento da ADSE, isto é, atacar sempre os mesmos. É uma obcessão e um fanatismo esta perseguição aos pensionistas. Podiam ir aos lucros monumentais da EDP e similares, às PPP da Mota-Engil, do grupo Espírito Santo e do grupo Mello, às rendas excessivas, aos swaps e, para dar o exemplo, cortar no despesismo dos gabinetes ministeriais e do parlamento. Mas não. Insistem na mesma austeridade contra os mesmos. O irrevogável ministro esqueceu tudo o que disse em Maio sobre “a fronteira que não posso deixar passar” e sobre “o cisma grisalho”. Vale tudo. A mentira continua e é cada vez mais sofisticada, porque o governo anuncia que não haverá mais aumento de impostos, mas na realidade o que ontem foi anunciado é um segundo imposto sobre o rendimento pessoal dos pensionistas, violando assim o preceito constitucional de este imposto ser único.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Emigrantes para fugir à pobreza

Foram hoje levantadas as restrições que vigoravam em nove países comunitários e que impediam que romenos e búlgaros pudessem livremente circular e trabalhar na União Europeia, de que são membros desde 2007. O fim destas restrições está a causar alguma preocupação no Reino Unido e na Alemanha, para onde se espera larga movimentação de emigrantes provenientes daqueles dois países que, conjuntamente, têm cerca de 29 milhões de habitantes. No Reino Unido há quem fale em “invasão” e, de facto, o problema é muito complexo, como revela hoje o The Daily Telegraph, num artigo intitulado “Passport to UK for Europe’s poorest”.
A Roménia e a Bulgária estão situados no sudeste da Europa, onde as fronteiras nacionais mudaram várias vezes ao longo dos séculos. Desse processo histórico resultaram laços muito íntimos entre os países daquela região e, sobretudo, um conceito de nacionalidade muito abrangente. Assim, como cidadãos comunitários, os romenos e os búlgaros têm o direito a circular na Europa e a ter emprego no Reino Unido, ou noutro qualquer país da União Europeia. Porém, os moldavos (porque são quase romenos) e os macedónios (porque são quase búlgaros) também sentem esse direito, enquanto pelas mesmas razões históricas, também há muitos sérvios, ucranianos e turcos que entendem ser elegíveis para possuir passaportes que lhes permitam trabalhar em qualquer parte da União Europeia. Como noticia o jornal inglês, a estação ferroviária internacional de Sofia já tem mais movimento de gente que foge à pobreza e que tudo arrisca, mas aos pedidos de passaporte dos romenos e dos búlgaros, vão juntar-se os pedidos dos cidadãos dos países vizinhos que têm ou reivindicam ter nacionalidade romena ou búlgara. Mais um problema para a Europa ou não?

Um novo ano

Chegou o novo ano de 2014 e, um pouco por toda a parte, houve festa para animar as populações e atrair turistas, com gente muito eufórica e muita música, muita cor e muito fogo-de-artifício. A exuberância com que algumas cidades festejam a passagem do ano é um seu ex-libris e assim acontece com a cidade australiana de Sydney, onde a festa costuma ser uma das mais imponentes e que é sempre muito destacada pelas cadeias de televisão internacionais, até porque é uma das primeiras a entrar no novo ano. Por isso, todos os jornais australianos a noticiam com grandes fotografias, como hoje fez o The Daily Telegraph de Sydney.
A festa, porém, também foi imponente em Kuala Lumpur, em Moscovo, Londres, Rio de Janeiro e outras cidades como o Funchal, incluindo o  Dubai, que este ano decidiu entrar no Guiness World Records com o maior festival pirotécnico alguma vez apresentado na passagem do ano.
Um novo ano convoca-nos para exprimirmos alguns desejos e, assim, de uma forma sintética e deixando de lado objectivos pessoais, destaco nove desejos:
  1. Uma governação mais competente e mais séria do nosso país
  2. Uma economia que crie mais emprego e mais riqueza
  3. Uma Justiça eficaz para punir os corruptos, os ladrões e os especuladores
  4. Uma luta eficaz contra a pobreza e a desigualdade
  5. Uma Europa mais solidária, mais pacífica e mais próspera
  6. Uma Europa que preserve e reforce o seu modelo social
  7. O fim da guerra na Síria e de todas as outras guerras
  8. A defesa da língua e da cultura portuguesa no mundo
  9. Um brilharete português no Mundial de Futebol