terça-feira, 19 de novembro de 2024

A COP 29, a Cimeira do G20 e as guerras

Na presente semana realizaram-se ou estão a acontecer duas importantes cimeiras mundiais: a 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 29) que está a decorrer em Baku, no Azerbeijão, e a Cimeira do Grupo dos Vinte (G20), que decorre no Rio de Janeiro.
Significa que, para além do seu contacto permanente no quadro das Nações Unidas e dos seus canais diplomáticos bilaterais, os países e os líderes mais poderosos do nosso planeta vão estar em contacto próximo para encontrar soluções para os problemas da humanidade e, de entre eles, o gravíssimo problema das alterações climáticas, que a edição do jornal londrino The Guardian ilustrava na sua edição de ontem com uma expressiva fotomontagem, em que tendo por fundo a silhueta da cidade maravilhosa do Rio de Janeiro, se reconhecem seis cabeças prestes a afundar-se - Joe Biden, Xi Jinping, Ursula von der Leyen, Narendra Modi, Vladimir Putin e Shigeru Ishiba.
A COP 29 tem como objectivo assegurar o financiamento necessário para que os países em desenvolvimento enfrentem os impactos climáticos e a transição energética, com redução da sua dependência dos combustíveis fósseis e a utilização mais intensa das energias renováveis; a Cimeira do G20 tem como principais pontos de discussão o combate às injustiças sociais, à fome e à pobreza, bem como as questões da transição energética e do desenvolvimento sustentável.
Porém, como é evidente, serão as questões da guerra na Ucrânia e o seu desenvolvimento mais recente, mas também as outras guerras que se vão travando, que irão ocupar todas aquelas delegações, tanto em Baku como no Rio de Janeiro… e bom seria que encontrassem caminhos para a paz e para o progresso a que aspiram os seres humanos de todas as longitudes.

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Angola celebrou 49 anos de independência

No dia 11 de Novembro de 2024 a República Popular de Angola celebrou o 49º aniversário da sua independência e o Jornal de Angola deu o devido destaque a essa efeméride, numa altura em que o país vive um período de grande estabilidade política, dinamismo económico e afirmação internacional.
A luta armada pela independência de Angola teve início em 1961 com o assalto às cadeias de Luanda (4 de Fevereiro) e o ataque às fazendas do norte, onde foram mortas centenas de pessoas (15 de Março). Depois de alguma hesitação, no dia 13 de Abril, surgiu a famosa declaração de Salazar: 
“Para Angola, rapidamente e em força”. 
Começava a guerra entre as Forças Armadas Portuguesas e as forças nacionalistas da UPA, do MPLA e, mais tarde, da UNITA, que alastrou do Norte para o Leste do território angolano e se prolongou até 1974. Não há unanimidade quanto à avaliação do estado da guerra em Angola em 1974, pois há quem defenda que Portugal controlava militarmente a situação e que os movimentos de libertação estavam a perder em todas as frentes, numa altura em que Angola vivia um tempo de progresso e prosperidade, mas também há quem sustente que o isolamento internacional de Portugal estava a levá-lo à derrota militar. 
Com o 25 de Abril, iniciou-se um complexo processo de descolonização, fortemente condicionado pela existência de três movimentos de libertação com ideários e apoios internacionais diferentes. A independència veio a ser proclamada pela voz de Agostinho Neto ao princípio da noite de 11 de Novembro de 1975. Foi há 49 anos. Seguiram-se tempos muito difíceis, mas o povo angolano ultrapassou todas as adversidades e tem vindo a construir um grande país que os portugueses admiram.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Os novos complexos militares-industriais

A edição de hoje do The Wall Street Journal destaca em primeira página e com uma fotografia a 4 colunas, o novo caça furtivo chunês Shenyang J-35A, que foi apresentado pela Força Aérea do Exército de Libertação Popular da China (PLAAF) no Air Show China 2024 realizado em Zhuhai.
Este caça de última geração representa um importante passo na modernização militar chinesa e é considerado um avanço no programa de armamento que visa igualar as capacidades dos caças furtivos dos Estados Unidos, nomeadamente o F-22 e o F-35, isto é, pretende “desafiar a influência americana naquela região asiática e reforçar as suas pretensões sobre Taiwan”. O caça J-35A é o resultado de uma década de pesquisa e desenvolvimento centrado na Shenyang Aircraft Corporation e junta-se ao caça J-20, que entrou ao serviço em 2017.
O novo caça foi apresentado na exibição aérea de Zhuhai, na qual também se exibiu o caça russo Sukhoi Su-57 o que, segundo os especialistas, “aponta para uma crescente cooperação militar entre a China e a Rússia”.
O mundo está a ficar muito perigoso. Antigamente “contavam-se espingardas”, mas nos tempos mais recentes contam-se aviões, mísseis e drones, enquanto se incentivam as indústrias do armamento, como se uma confrontação estivesse próxima. Os chamados complexos militares-industriais estão a ressuscitar e o investimento na defesa parece estar a aumentar um pouco por todo o lado.
Luís de Camões, no Canto IV de Os Lusíadas, pela voz do velho Restelo perguntava a Vasco da Gama quando em 1497 partia para a Índia:
                    A que novos desastres determinas
                    De levar estes Reinos e esta gente?
Será que os líderes mundiais pensam nos desastres a que podem conduzir os seus Reinos e as suas gentes?

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Contestação e violência em Moçambique

As eleições gerais moçambicanas foram realizadas no passado dia 9 de Outubro, com o propósito de eleger o novo Presidente da República, os 250 deputados da Assembleia da República e os membros das dez assembleias provinciais. Alguns dias depois, a Comissão Nacional de Eleições (CNE) anunciou que Daniel Chapo, o candidato do partido Frelimo que está no poder, tinha vencido as eleições com 71% dos votos e que o partido conquistara 195 dos 250 assentos parlamentares. A CNE informou, também, que o Partido Optimista pelo Desenvolvimento de Moçambique (Podemos) conquistara 31 assentos e que a Renamo conquistara 20 assentos parlamentares.
O Podemos contestou estes resultados com base na sua própria contagem de votos e reivindicou que o seu candidato Venâncio Mondlane vencera a corrida presidencial com 53% dos votos e que o partido conquistara 138 assentos parlamentares, ameaçando lançar uma greve e uma contestação nacional se a Frelimo fosse declarada vencedora. De facto, a oposição conseguiu mobilizar a população um pouco por todo o território nacional num movimento de contestação dos resultados eleitorais e, no dia 28 de Outubro, Venâncio Mondlane apelou à formação de um governo de unidade nacional em que participassem todos os partidos da oposição, para formar uma frente unida contra a Frelimo. Entretanto, aconteceram assassinatos, há violência nas ruas da capital, distúrbios em várias cidades, estão contabilizadas mais de três dezenas de mortos e muitos reclamam a “reposição da verdade eleitoral”. Há dois dias, o jornal O País informava que “manifestantes assaltam o centro de Maputo”, enquanto o semanário Savana, que é crítico da Frelimo, escolheu como título “Guerrilha urbana”, parecendo mais uma sugestão ou um apelo aos manifestantes do que uma notícia.
A realidade é que a situação é grave e que aqui esperamos que a razão e a pacificação cheguem depressa a Moçambique.

domingo, 10 de novembro de 2024

Vendée Globe: volta ao mundo solitária

Partem hoje de Les Sables-d’Olonne, no departamento francês de Vendée, situado na orla do golfo da Biscaia, os concorrentes à 10ª edição da Vendée Globe 2024. Trata-se de uma corrida à volta do mundo para navegadores solitários, em que contornarão à vela e sem escala nem assistência exterior, o cabo da Boa Esperança, o cabo Leeuwin e o cabo Horn, que são considerados os três grandes cabos do nosso planeta.
Serão quarenta velejadores - 34 homens e 6 mulheres - sobretudo franceses, mas também suiços e britânicos, havendo ainda um velejador de outras nacionalidades, nomeadamente americana, japonesa, chinesa, belga, alemã, italiana e holandesa. As embarcações monocascos de 18 metros (60 pés) são aprovadas pela regulamentação da International Monohull Open Class Association (IMOCA) e percorrerão cerca de 45 mil quilómetros à volta do mundo, numa prova que para além da competição desportiva, é um inacreditável desafio e uma formidável aventura humana. Na 8ª edição da Vendée Globe, realizada em 2016/2017, o vencedor foi o velejador francês Arnel Le Cléac'h que concluiu a prova em 74 dias, 3 horas e 36 minutos, isto é, em menos de 80 dias. É o record que persiste e que, naturalmente, todos querem bater.
Ontem, alguns jornais franceses como o Ouest France que se publica em Rennes, dedicaram a sua primeira página à Vendée Globe e ao entusiasmo que rodeava os preparativos da partida.
Que os ventos sejam favoráveis aos quarenta navegadores que, além de sabedoria e experiência náuticas, precisam de coragem física e mental para enfrentar este desafio.

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Donald vai ser o 47º presidente dos EUA

Donald Trump ganhou as eleições presidenciais americanas e os jornais de todo o mundo publicam nas suas edições de hoje a fotografia do homem que vai regressar à Casa Branca como o 47º presidente dos Estados Unidos, que passa a ter maioria no Congresso, no Senado e no Supremo Tribunal e que, portanto, se torna o homem mais poderoso, ou perigoso, do planeta. Tanto nos Estados Unidos como no estrangeiro, ninguém questiona a vitória de Donald Trump. O jornal The New York Times diz que “Trump storms come back” e o jornal espanhol El País escreve que ”Trump vuelve com todo el poder”, embora alguma imprensa se mostre preocupada, como por exemplo o jornal elPeriódico de Barcelona que escreve que “El huracán Trump inquieta a Europa” e o jornal Público pergunte “Como irá o mundo sobreviver a Trump?”.
Porém, o mais expressivo dos jornais hoje publicados no mundo, talvez seja o taz, a abreviatura do die tageszeitung, um jornal diário que se publica em Berlim. Em vez de publicar a foto do triunfante Donald, com ou sem a reaparecida Melania e o filho Barron de 2,06 metros de altura, o jornal escolheu uma fotomontagem que nos mostra muitas núvens sobre a Casa Branca, significando que pairam núvens sobre o futuro dos americanos e sobre todos nós. Diz-se que “uma imagem vale mais que mil palavras” e, neste caso, a capa do taz é um bom exemplo de jornalismo.
Depois de tudo o que vimos, ouvimos e lemos nos últimos meses sobre a política americana e sobre as personalidades dos candidatos, parece que mais do que a vitória de Donald Trump e dos Republicanos, o que aconteceu foi a derrota de Kamala Harris-Joe Biden e dos Democratas.
Agora há que dar tempo ao tempo para sabermos o que vai acontecer, sobretudo no Médio Oriente e na Ucrânia, mas também quanto ao real significado da prometida promessa do Donald - “Make America Great Again” - embora haja núvens no horizonte e, sobretudo, sobre a Casa Branca.
Lá como cá, nem sempre ganham aqueles que gostaríamos que ganhassem.

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Eleições americanas: incerteza até ao fim

A menos de dois dias das eleições presidenciais americanas, muitos jornais apresentam nas suas capas as fotografias dos dois candidatos, enquanto as sondagens indicam que estão empatados, o que significa uma grande incerteza para os Estados Unidos e para o mundo. A disputa entre Donald Trump e Kamala Harris tem sido centrada nas suas características pessoais e nas questões do aborto, da imigração, da economia, dos impostos, da inflação, do combate ao crime e das alterações climáticas. Esses são os temas que mais interessam os 244 milhões de eleitores anericanos, dos quais 75 milhões já votaram antecipadamente. 
Porém, para aqueles que no mundo acompanham as eleições americanas, as crises no Médio Oriente e na Ucrânia são, certamente, os temas mais importantes e sobre eles, ambos os candidatos têm sido muito cautelosos, tanto em relação ao eleitorado judeu, como em relação ao eleitorado árabe e palestiniano.
Na Europa, que tem sido politicamente irrelevante nestes conflitos e que tem lidado muito mal com eles, a personalidade truculenta, grosseira e inculta de Donald Trump é uma coisa que preocupa e assusta, pelo que Kamala Harris tem a preferência dos europeus, embora muitos critiquem o seu alinhamento umbilical com Israel e com a política prosseguida por Joe Biden, que continua a fornecer armamento ao regime brutal de Netanyahu e, implicitamente, a apoiar o gernocídio em Gaza e a destruição na Cisjordânia e no Líbano. 
Como escreve hoje o novaiorquino Daily News é uma fateful choice, mas se eu fosse americano, certamente que nunca daria o meu voto ao Donald, nem às suas boçalidades.

sábado, 2 de novembro de 2024

Cultura e tradição lusitana na Califórnia

houve um desfile, uma tourada, apresentação de folclore, várias missas católicas, procissões e uma ampla oportunidade de partilhar a comida, a língua e a cultura da comunidade portuguesa, que é “muito poderosa” e que “vive escondida nas terras agrícolas da Califórnia” e, em especial, no seu Vale Central. Curiosamente, a reportagem é ilustrada com uma fotografia de uma tourada em que intervém o matador mexicano Israel Tellez, embora o texto também refira a actuação de um grupo de forcados.
Na actual conjuntura política americana, os votos da comunidade portuguesa da Califórnia valem muito – são um pouco mais de 350 mil portugueses e lusodescendentes, de acordo com o censo dos Estados Unidos de 2020. Por isso, os deputados John Duarte, David Valadao e Jim Costa não faltam às festas portuguesas e recordam ao povo as suas raízes familiares lusitanas, sobretudo açorianas,

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

A inquietação global e “le défi chinois”

O jornal Global Times é um tablóide publicado sob a orientação do Partido Comunista Chinês e que, no Ocidente, é considerado como um instrumento da propaganda chinesa. Na sua última edição, o jornal destaca a fotografia de uma força naval do Exército de Libertação Popular da China (Chinese People’s Liberation Army ou PLA), em que se destacam os porta-aviões Liaoning e Shandong.
Segundo refere o jornal, estas unidades encontraram-se em Outubro pela primeira vez num exercício de treino conjunto realizado no Mar Amarelo, no Mar da China Oriental e no Mar da China Meridional, salientando que “a capacidade de combate de um grupo de dois porta-aviões é maior do que a simples soma de dois porta-aviões”. A fotografia publicada mostra que a força naval incluia pelo menos 11 unidades navais de escolta, designadamente contratorpedeiros, fragatas e navios de reabastecimento, para além de caças multifuncionais Shenyang J-15 embarcados nos porta-aviões, que a fotografia mostra a voarem em formação sobre a força naval.
Na actual conjuntura mundial, em que a Ocidente e a Oriente se acumulam fricções e declarações que inquietam o mundo, com os Estados Unidos a viver sob uma grande incógnita eleitoral, com a Europa desunida e em contínua desagregação e com os BRICS a levantarem a sua voz a reclamar uma nova ordem mundial, esta “reportagem encomendada” do Global Times pretende mostrar ao mundo o crescente poderio militar da República Popular da China.
Em 1967 o jornalista francês Jean-Jacques Servan-Schreiber publicou o livro “Le défi américan”, que foi um best-seller desse tempo com milhões de exemplares vendidos. Se fosse vivo, 57 anos depois, talvez Servan-Schreiber escrevesse agora o ”Le défi chinois”…  

quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Valência sob anomalias meteorológicas

Na noite de terça para quarta-feira da corrente semana, ou de 29 para 30 de Outubro, chuvas torrenciais inundaram o sul e o leste da Espanha, sobretudo na Comunidade Valenciana e na Andaluzia. Nas suas edições de hoje, os jornais espanhóis escolheram para título das suas primeiras páginas, palavras como drama, apocalipse, tragédia, dilúvio, catástrofe, hecatombe, devastação e luto, escrevendo que foi “um ano de chuva em oito horas”, que matou pelo menos 95 pessoas, embora haja dezenas de pessoas desaparecidas e outras isoladas em locais inacessíveis. De acordo com as notícias, haverá ainda 1200 pessoas presas nas estradas e cerca de cinco mil veículos bloqueados. 
O jornal Hoy de Badajoz publica a fotografia de uma rua da localidade de Picaña, na comarca de Huerta Sur, na periferia da cidade de Valência, que mostra os efeitos catastróficos das cheias. Essa fotografia “diz mais que mil palavras” e foi escolhida por quase todos os jornais espanhóis para ilustrar esta tragédia valenciana.
Caíram mais de 400 litros de chuva por metro quadrado e este fenómeno meteorológico também já tem acontecido em várias regiões de Portugal, designadamente em Novembro de 1967 na região de Lisboa, que causou cerca de 700 mortos e a destruição de cerca de 20 mil casas, constituindo a pior catástrofe na região de Lisboa desde o grande terramoto de 1755.

terça-feira, 29 de outubro de 2024

Bolas de ouro e troféus são para os outros

Em finais de Outubro de cada ano, o mundo do futebol reúne-se para escolher o melhor jogador do futebol masculino e feminino da última temporada, que recebem o Ballon d’Or, um troféu patrocinado pelo jornal France-Football em parceria com a UEFA.
Neste ano de 2024, na festa realizada no Théâtre du Châtelet em Paris, o futebol espanhol ganhou ambos os troféus através de Rodri Hernández que joga no Manchester City e Aitana Bonmati que joga no FC Barcelona. A Espanha está em festa, a imprensa espanhola mostrou-se eufórica e o jornal desportivo as escolheu para título de primeira página que “España es de oro”.
Os futebolistas portugueses também foram votados mas obtiveram votações bem modestas, pois nos 30 melhores só aparecem Rúben Dias do Manchester City (23º) e Vitinha do PSG (27º). Longe vão os tempos em que os vencedores foram Eusébio (1965), Figo (2000) e Cristiano Ronaldo (2008, 2013, 2014, 2026 e 2017).
Nesta gala também foram escolhidos os vencedores do Troféu Yachine e do Troféu Kopa. O Troféu Yachine é destinado ao melhor guarda-redes e coube ao argentino Emiliano Martinez, ficando o português Diogo Costa em 8º lugar; o Troféu Kopa distingue o melhor futebolista jovem e foi atribuido ao espanhol Lamine Yamal, tendo o português João Neves ficado classificado no 6º lugar dessa tabela. Ainda foi atribuido o Troféu Johan Cruyff ao melhor treinador e o escolhido foi o italiano Carlo Ancelotti, não havendo qualquer português na respectiva tabela classificativa.
Em síntese, por vezes julgamos que somos muito bons em futebol – e somos - mas parece haver outros que são bem melhores

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Um voo de Lisboa a Macau há 100 anos

O ponto final é um jornal que foi fundado em 1991 e que é um dos três jornais diários em língua portuguesa que se publicam na Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China. Na sua última edição, o jornal evoca com uma grande reportagem a primeira viagem aérea entre Portugal e Macau, que se realizou há 100 anos e, na sua primeira página, publica a fotografia do Pátria, o aeroplano no qual os aviadores Sarmento de Beires, Brito Paes e Manuel Gouveia ligaram Portugal a Macau por via aérea em 1924. Gago Coutinho e Sacadura Cabral já tinham ligado Portugal ao Brasil em 1922 e essa viagem aérea inspirou aquele trio para fazer uma viagem comparável na dimensão e no arrojo, voando para Oriente, não sobre o mar, mas sobre a terra.
O governo português não financiou a viagem e o projecto veio a ser financiado pela fortuna pessoal de Brito Paes e por subscrições públicas. Num pequeno monomotor biplano, o Breguet 16 Bn2, chamado Pátria, os aviadorers partiram da Amadora no dia 2 de Abril de 1924 e, depois, de Vila Nova de Milfontes no dia 7 de Abril. Escalaram várias cidades do norte de África, atravessaram o Líbano, chegaram ao Paquistão e depois a Jodhpur, na Índia, onde o aparelho foi destruído numa aterragem de emergência, devido ao vento. Adquiriram então um novo avião, um De Havilland 9A a que chamaram Pátria II e prosseguiram viagem. A aventura terminou com sucesso na aldeia chinesa de Shum-Chum, a poucos quilómetros de Hong Kong, no dia 20 de Junho de 1924, depois de terem voado 16.380 quilómetros em dois aviões.
Na sua desenvolvida evocação histórica, o jornal ponto final destaca ainda a calorosa recepção com que Macau recebeu os aviadores portugueses.

sábado, 26 de outubro de 2024

Don ou Harris? Americanos que escolham.

Aproxima-se o dia em que os americanos vão votar para escolher o sucessor ou a sucessora de Joe Biden e a incerteza é enorme. O processo eleitoral americano é complexo e as sondagens não são credíveis, pelo que o resultado final se afigura imprevisível. Os Republicanos e os Democratas parecem estar empatados e o jogo eleitoral não permite que os candidatos – Donald Trump e Kamala Harris – digam tudo o que pensam sobre a forma como vão enfrentar os desafios com que a América e o mundo estão confrontados, nem a forma como se vão libertar dos grupos de pressão internos que tanto têm condicionado a política americana.
Porém, tanto nos Estados Unidos, como um pouco por todo o mundo, as eleições americanas são o assunto mais importante do momento, como se verifica na mais recente edição da revista Newsweek e pode afirmar-se que o próximo presidente dos Estados Unidos, vai ser decisivo para o futuro do mundo, pois as suas posições vão ser determinantes, ou não, para a construção da paz e da harmonia na comunidade internacional. É tempo de acabar com as guerras, sobretudo na Ucrânia e no Médio Oriente, que destroem e matam, que consomem recursos que fazem falta para o combate à pobreza e à fome, às alterações climáticas e ao subdesenvolvimento.
O que se espera do voto dos americanos é uma escolha presidencial que afirme os Estados Unidos como o grande defensor da paz, da concórdia e da democracia e, naturalmente, que faça com que a sua voz volte a ser respeitada no mundo, o que não tem acontecido nos últimos anos com Joe Biden e Antony Blinken, provavelmente os maiores responsáveis pela galopante queda do prestígio internacional do país de Thomas Jefferson e de George Washington.
Pela primeira vez desde 1988, o jornal The Washington Post não vai apoiar nenhum dos candidatos à Casa Branca. Eu também não.

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

BRICS reclamam nova ordem mundial

A edição de hoje do jornal hojemacau exibe uma fotografia em que se reconhecem Narendra Modi, Vladimir Putin e Xi Jinping, sobre a qual se encontra o título “Olhos em Kazan”, isto é, olhos na 16ª Cimeira dos BRICS.
Esta cimeira de Kazan e estes homens recordam-nos a Cimeira de Bandung realizada em 1955, na qual se salientaram Nehru, Nasser, Tito e Sukarno, que criaram o Movimento dos Não-Alinhados e aprovaram como princípios políticos, a luta contra o colonialismo, o direito de todos os povos à autodeterminação, a luta pela independência nacional e a liberdade de escolha por cada estado dos seus próprios sistemas políticos. Com a Cimeira de Bandung o mundo mudou muito e, cerca de 69 anos depois, a Cimeira de Kazan mostra algumas analogias bem curiosas, no número de participantes, na notoriedade dos promotores, nas reivindicações explícitas ou implícitas e, naturalmente, na procura de uma nova ordem internacional, a começar pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.
A Declaração de Kazan, ontem divulgada, consta de 134 pontos e parece ter de tudo um pouco no sentido do “fortalecimento do multilateralismo para uma ordem mundial mais justa e democrática”, mas o que sobressai é a contestação à actual ordem mundial saída da II Guerra Mundial, o desafio à actual hegemonia do chamado Ocidente Alargado e a procura do fim do subdesenvolvimento do Sul Global. A Cimeira mostrou que a Rússia não está isolada, enquanto António Guterres mostrou grande coragem em ter estado em Kazan. Curiosamente ou não, os mass media ocidentais quase ignoraram a Cimeira de Kazan, ao contrário da imprensa do ”outro lado do mundo”, como se viu com o hojemacau. É muito significativo.
Depois desta cimeira vai ser necessário pensar muito ou, o que é a mesma coisa, ter os "olhos em Kazan"…

Olinda restaura o seu património histórico

A edição de ontem do jornal Folha de Pernambuco publica uma fotografia do Mosteiro de São Bento, na cidade de Olinda do estado brasileiro de Pernambuco, destacando a informação de que vai ser objecto de restauro. A fotografia é apresentada a toda a largura da primeira página do jornal e desperta o interesse daqueles que defendem o valor histórico e cultural do património arquitectónico de origem portuguesa que se conserva em várias regiões do mundo, designadamente no Brasil.
O centro histórico de Olinda foi inscrito em 1982 na Lista do Património Histórico da Humanidade da Unesco e inclui cerca de duas dezenas de conventos e igrejas barrocas, incluindo o Mosteiro de São Bento, cuja igreja foi elevada à dignidade de Basílica Menor pelo Papa Joáo Paulo II.
O mosteiro foi construído pelos Beneditinos e ficou concluído em 1599, constituindo actualmente um dos mais importantes complexos arquitectónicos barrocos do Brasil e um pólo turístico muito procurado pelo turismo no estado de Pernambuco. Por isso, o governo e a governadora Raquel Lyra avançaram com um projecto de restauro orçamentado em 15,3 milhóes de reais e que ficará concluído em Maio de 2027. O projeto prevê que todos os bens artísticos decorativos que integram a nave, a sacristia, o coro, a capela-mor, a capela do santíssimo, a capela abacial e a sala capitular da Igreja do Mosteiro de São Bento passem por serviços de restauração e conservação. 
A governadora Raquel Lyra afirmou que “estamos trabalhando de maneira muito intensa para devolver a Pernambuco o que representa a sua identidade, buscando fortalecer o nosso turismo, mas também podendo garantir a perpetuação da sua história”. Naturalmente, aqui fica registado o nosso aplauso pela iniciativa do governo de Pernambuco.