Decorreu em Nova Iorque a 80ª sessão
da Assembleia Geral das Nações Unidas, num momento que muitos consideram
crítico porque a organização não tem sido capaz de resolver alguns dos
conflitos em curso no mundo. Todos sabemos porquê: os Trumps e os Macrons, as
Ursulas e as Melonis, bem como muitos outros dirigentes mundiais, não
prescindem de protagonismo pessoal, nem da defesa dos seus interesses
nacionais. Metem-se em tudo, fazem imensas cimeiras e até se atropelam. Assim, o Secretário-Geral António Guterres pouco
pode fazer para além de ser uma referência moral e de falar com clareza: “Agora é o momento de escolher. Pela paz. Pela
dignidade. Pela justiça. Pela humanidade. Eu nunca, jamais desistirei”.
Como
já é de tradição, o presidente do Brasil foi o primeiro orador na Assembleia
Geral e Lula da Silva (falando em português) reafirmou que a soberania do
Brasil é inegociável, defendeu os valores democráticos, a importância do
multilateralismo, o desenvolvimento sustentável, a luta contra as alterações
climáticas e afirmou que “a única guerra de que todos
podem sair vencedores é contra a fome e a pobreza”.
O presidente dos
Estados Unidos fez um longo discurso e insistiu que a sua administração pôs
termo a sete guerras em apenas sete meses, acrescentando que tal aconteceu “sem
apoio da ONU”, ao mesmo tempo que, em relação à Ucrânia, substituía a sua tese
da cedência de territórios ucranianos aos russos, por uma nova tese da
reconquista ucraniana dos seus territórios ocupados pelos russos.
Filipe VI, o rei
de Espanha, fez um notável discurso (falando em castelhano), que o diário El País disse “se situa en las antípodas
del pronunciado por Trump”, ao afirmar directamente a Israel: “Detengan la
masacre en Gaza. Es aberrante”.
Nesse mesmo dia,
também Marcelo Rebelo de Sousa (falando em inglês, o que muito se lamenta!),
fez um discurso a “dar uma no cravo e outra na ferradura”, bem diferente dos
corajosos discursos de Lula da Silva e de Filipe VI. Os jornais portugueses, ao
contrário do que fizeram os jornais brasileiros e espanhóis, ignoraram o
discurso de Marcelo Rebelo de Sousa.
Afinal, também nas Nações Unidas, uns saem pela porta grande, mas outros saem pela porta pequena...