sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Tempos muito difíceis para Moçambique!

Moçambique é um país da costa oriental africana com fortes relações históricas e emocionais com Portugal, sendo governado pela Frelimo desde que o país conquistou a sua independência em 1975, mas o que se passa em Moçambique interessa aos portugueses no plano simbólico e no campo dos afectos.
No passado dia 9 de Outubro de 2024 realizaram-se as eleições presidenciais, em simultâneo com a eleição dos 250 deputados para a Assembleia da República e com a eleição dos membros das dez assembleias provinciais. No dia 16 de Outubro os relatórios preliminares mostravam que Daniel Chapo, um professor de Direito que foi o candidato da Frelimo, liderava a contagem dos votos. No dia 24, a Comissão Nacional de Eleições anunciou que Chapo vencera as eleições com 71% dos votos, que ganhara todas as eleições provinciais e que conquistara 195 dos 250 lugares de deputados. Vivendo o país em crise económica e com o desgaste de quase meio século de poder da Frelimo, aqueles resultados foram de imediato contestados pelo Partido Optimista pelo Desenvolvimento de Moçambique (Podemos) e pelo seu líder Venâncio Mondlane, que afirmaram que houve fraude eleitoral. 
Mondlane declarou-se vencedor e, poucos dias depois, eclodiram tumultos e muita violência por todo o território moçambicano, contestando os resultados eleitorais. Os confrontos entre a polícia e os manifestantes já provocaram quase três centenas de mortos e mais de cinco mil pessoas baleadas, segundo foi divulgado por diversas organizações não governamentais.
Apesar da contestação, Daniel Chapo foi investido como presidente de Moçambique no dia 15 de Janeiro, conforme noticiou o jornal O País que se publica no Maputo.
Porém, Mondlane não desiste e tem convocado manifestações em que a palavra de ordem é “matar um polícia por cada manifestante morto”, ou “dente por dente, olho por olho”, significando a vontade de continuar a contestação com violência e vingança.
Tempos muito difíceis para Moçambique!

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Bravo a Charlie Dalin, o ultra marinheiro

O primeiro concorrente da 10ª da Vendée Globe 2024 chegou ontem a Les Sables-d’Olonne e, tendo partido no dia 10 de Novembro, terminou ontem a sua volta ao mundo em solitário em 64 dias, 19 horas, 22 minutos e 49 segundos. Chama-se Charlie Dalin, é um velejador francês de 40 anos de idade, natural da cidade de Le Havre, que pulverizou o record desta prova ao terminá-la com menos 9 dias que o anterior record.
Na sua edição de hoje o jornal desportivo L’Équipe chama-lhe com muita propriedade o Ultra MarinDos 40 concorrentes que iniciaram a prova em Les Sables-d’Olonne até agora apenas se verificaram seis abandonos, mas enquanto o vencedor já chegou ao fim, há seis concorrentes que ainda não passaram o cabo Horn, havendo 27 veleiros que navegam no Atlântico em direcção à meta. Nesta altura em que Charlie Dalin se afirma “o homem mais feliz do mundo” e festeja o seu sucesso por ter percorrido em solitário cerca de 27.667 milhas à volta do mundo no Macif Santé Prévoyance à fantástica média de 17,8 nós, o segundo classificado que é Paprec Arkéa de Yoan Richomme aproxima-se da meta. Na 8ª posição e a cerca de 2800 milhas da meta navega a velejadora suiça Justine Mettraux, que é a concorrente feminina melhor classificada.
Les Sables-d’Olonne está em festa pelo enorme sucesso desportivo e social desta prova, em que Charlie Dalin bateu o anterior record de 74 dias, 3 horas e 36 minutos. Ele é mesmo um ultra marinheiro!

domingo, 12 de janeiro de 2025

A Venezuela aguentará Maduro até 2031?

A Venezuela é um país onde vive uma significativa comunidade portuguesa e luso-descendente, estimando-se que existam entre 400.000 e 1,3 milhões de pessoas de ascendência portuguesa. Com cerca de 30 milhões de habitantes, o seu território possui as maiores reservas de petróleo do mundo, correspondentes a cerca de 18% do total de reservas provadas.
A história recente do país foi marcada por Hugo Chávez, um militar que organizou uma tentativa falhada de golpe em 1992, mas que veio a ser eleito presidente em 1998 e ocupou a presidência entre 1999 e 2013. Com s sua morte, sucedeu-lhe o seu delfim Nicolás Maduro, que desde 2013 tem ocupado a presidência do país e governado sob o signo do chavismo, com poder absoluto e com repressão por vezes violenta da oposição.
No passado dia 28 de Julho realizou-se a eleição presidencial e Nicolás Maduro concorreu para um terceiro mandato, contra o diplomata Edmundo González Urrutia que se apresentou ao sufrágio porque Maria Corina Machado, a líder da oposição, foi proibida pelo governo de participar. O governo anunciou a vitória de Nicolás Maduro, mas tudo parece indicar que González venceu com ampla vantagem. A apreciação das actas das assembleias de voto poderia esclarecer quanto aos resultados, mas o govermo nunca as mostrou, apesar da pressão internacional para que o fizesse. 
Tanto Maduro como González se declararam vencedores, mas os Estados Unidos, a União Europeia a e generalidade dos países sul-americanos recusa-se a aceitar a vitória de Maduro, que tomou posse no dia 10 de Janeiro e, como refere o jornal El País, “se autoproclama presidente sin mostrar las actas”.
As fronteiras com o Brasil e com a Colômbia estão fechadas, aumentam as sanções económicas contra o regime chavista e a oposição não se desmobiliza no combate à ditadura de Maduro, que tem um mandato até 2031. Porém, não é provável que o consiga cumprir devido ao crescente descontentamento popular, à hostilidade internacional e à convicção generalizada que houve grossa fraude nas eleições de 28 de Julho.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

Marcelo foi despedir-se de Jimmy Carter

Jimmy Carter, que foi o 39º presidente dos Estados Unidos entre 1977 e 1981, faleceu no dia 29 de Dezembro de 2024 na sua casa em Plains, no estado da Geórgia. Tinha 100 anos de idade e um enorme prestígio nacional e internacional, porque lhe foram sempre reconhecidos os esforços para aliviar tensões em pontos críticos do mundo, designadamente nas Coreias e no Médio Oriente, bem como na procura da paz na Bósnia e no Sudão. Quando em 1980 perdeu a sua reeleição para o seu adversário Ronald Reagan, afirmou que não iria usar o seu passado político para enriquecer. Assim, em 1982 fundou o Carter Center, uma organização não-governamental e sem fins lucrativos, com o objectivo de aprofundar os direitos himanos e aliviar o sofrimento humano em mais de oitenta países. Em 2002 foi distinguido com o Prémio Nobel da Paz em reconhecimento pelas suas décadas de esforços para encontrar soluções pacíficas para os conflitos internacionais. 
O presidente Joe Biden decretou um funeral de estado, que se realizou ontem na Catedral Nacional de Washington e que teve a presença de todos os cinco ex-presidentes vivos dos Estados Unidos — Bill Clinton, George W. Bush, Barack Obama, Donald Trump e Joe Biden — mas também de algumas (poucas) personalidades internacionais: Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá; Yoshihide Suga, ex-primeiro-ministro do Japão; Marcelo Rebelo de Sousa, presidente de Portugal; Prince Edward, Duque de Edimburgo, representando o rei Carlos III; Gordon Brown, ex-primeiro-ministro do Reino Unido; António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas.
Significa que Marcelo Rebelo de Sousa foi o único presidente do mundo a despedir-se de Jimmy Carter. Marcelo não se ficou por funerais em Odemira, não resistiu e foi a Washington. Então não há por lá um embaixador de Portugal que nos possa representar?
A edição de hoje do jornal Toronto Star escreveu que “chefes de estado e ex-líderes se reúnem para prestar homenagem a Jimmy Carter”. Não é verdade, pois só lá esteve um presidente não americano. Foi Marcelo Rebelo de Sousa, que continua a gastar-nos o dinheiro com estes exageros de representação e que se vê na fotografia publicada no jornal, a olhar embevecido para Donald Trump.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

A calamidade está a abalar Los Angeles

O estado norte-americano da Califórnia está a ser afectado por uma enorme calamidade de natureza meteorológica, que parece ser mais uma consequência das alterações climáticas, um dos problemas mundiais a que, curiosamente, as administrações americanas não têm dado importância. As imagens que as televisões nos mostram dos incêndios florestais que estão a afectar os arredores da cidade de Los Angeles são terríveis e catastróficas. Anunciam-se cinco mortes e mais de 200 mil pessoas já foram retiradas das suas casas devido às chamas que ameaçaram ou invadiram algumas zonas residenciais dos arredores da cidade, algumas delas bem conhecidas como Beverly Hills, Hollywood, Palisades, Malibu, Pasadena e outras. 
O jornal Chicago Tribune escolheu como título “Inferno em L.A.” e o The Sacramento Bee optou pela manchete “Winds Fuel South State Infernos”, enquanto o Los Angeles Times escolheu “Like a Thousand Fires”, isto é, anuncia que parecem mil incêndios.
Mais de 400 mil pessoas no estado da Califórnia estão em casa sem electricidade por causa dos incêndios e algumas áreas, como a Sunset Boulevard, uma das avenidas mais populares do país, está em ruínas, como se tivesse sido duramente bombardeada, mas muitos outros bairros já foram devorados pelas chamas, que já devastaram mais de 27 mil hectares. As condições meteorológicas são extremas, com rajadas de vento de direcção variável, que ontem atingiram 160 quilómetros por hora, a transportar materiais incandescentes a longas distâncias e a multiplicar os focos de incêndio.
A calamidade que está afectar o Condado de Los Angeles é realmente brutal e não tem precedentes na história da Califórnia. Toda a imprensa americana noticia o enorme drama que está assolar o estado californiano e tem acentuado que arderam as multimilionárias mansões de várias celebridades dos meios cinematográficos.
A cidade que recebeu os Jogos Olímpicos de 1984, prepara-se para receber os próximos Jogos Olímpicos de 2028.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

O Donald "avança" com a Donroe Doctrine

Numa mensagem ao Congresso dos Estados Unidos proferida em 1823, o presidente James Monroe definiu os pontos essenciais da política americana contra a interferência europeia no continente americano. Esses princípios ficaram consagrados na história como a Doutrina Monroe e estabeleciam que os países do continente americano “não podem ser susceptíveis de colonização por nenhuma potência europeia”, ou mais simplesmente, anunciavam a "América para os americanos". 
Nos finais do século XIX, os Estados Unidos tornaram a Doutrina Monroe num instrumento do seu imperialismo e passaram a intervir militar, política e economicamente um pouco por todo o continente e, sobretudo, na região das Caraíbas. Assim nasceu o conceito de “quintal dos Estados Unidos”, significando a sua área de influência e de interesse estratégico na América Latina. Depois da 2ª Guerra Mundial este conceito evoluiu e os interesses dos Estados Unidos tornaram-se globais.
Agora, ainda antes de assumir a presidência dos Estados Unidos, veio o Donald Trump mostrar apetência pela compra da Gronelândia (our land), pela anexação do Canadá (51st state), pela ocupação do canal do Panamá (Panamaga) e pela mudança de nome do Golfo do México (Gulf of America).
A edição de hoje do jornal New York Post chama Donroe Doctrine a estes apetites, ou a esta Trump’s vision for the hemisphere, isto é, a esta mistura da Doutrina Monroe com as ideias do Donald.
Assim vão as coisas, ainda antes que Donald Trump tome posse e ocupe a Casa Branca.

terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Trump já provocou a queda de Trudeau?

Os nomes e as imagens dos mais importantes líderes democráticos mundiais são tantas vezes repetidos nos mass media que se tornam familiares para a opinião pública e, por vezes, até parece que têm “mandatos perpétuos”, embora sejam resultantes do processo democrático e do voto popular.
Quando Helmut Kohl foi chanceler da Alemanha durante 16 anos parecia que nunca mais abandonaria o lugar, mas depois veio Angela Merkel que também ocupou aquela função dirante 16 anos. O cargo de primeiro-ministro no Reino Unido foi desempenhado por Margaret Thatcher durante 11 anos e por Tony Blair durante 10 anos, enquanto Felipe Gonzalez foi primeiro-ministro da Espanha durante 14 anos. Kohl, Merkel, Thatcher, Blair e Gonzalez são apenas alguns dos líderes que quase parecia que tinham “mandatos perpétuos”.
Justin Trudeau, que chefia o Partido Liberal e é o primeiro-ministro do Canadá, também parecia ser um caso de “mandato perpétuo”, pois ocupa esse cargo há 9 anos. Porém, ele e o seu governo tornaram-se impopulares devido à inflação de 6,8% em 2022, ao contínuo agravamento do custo de vida, à crise na habitação e dos serviços públicos, sobretudo a saúde. A eleição de Donald Trump também perturbou a política canadiana, quando este afirmou que o Canadá “vive de subsídios dos Estados Unidos” e que os canadianos “adoram a ideia de se tornarem no 51º estado americano”. 
Justin Trudeau tem 53 anos de idade e não resistiu à pressão interna, nem às ”ameaças” de Trump (que também quer dominar a Gronelândia e o Panamá). Demitiu-se e a sua demissão fez hoje a manchete de toda a imprensa canadiana, nomeadamente do jornal The Gazette que se publica em Montreal. Como se não bastassem as tensões que ocorrem por esse mundo, podemos ter mais esta...

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

A grande festa das cabalgatas de Sevilha

A Cabalgata de Reyes Magos é uma tradição natalícia que consta de um ruidoso e animado desfile de carros alegóricos, que se realiza no dia 5 ou no dia 6 de Janeiro na generalidade das cidades espanholas, em Andorra-a-Velha e em Gibraltar, mas também em algumas cidades polacas, checas, mexicanas e venezuelanas e, também, na portuguesa vila de Monção.
A tradição das cabalgatas é recente. A primeira realizou-se em 1866 no município de Alcoy, na província de Alicante da Comunidade Valenciana, mas rapidamente se estendeu por toda a Espanha, sendo uma representação da chegada dos Reis Magos – Melchior, Gaspar e Baltazar e os seus pajens – que em vistosos carros alegóricos percorrem as ruas das cidades, lançando caramelos e guloseimas para as crianças.
A cidade de Sevilha parece ser aquela onde as cabalgatas actualmente despertam mais entusiasmo, “con casi una veintena de cabalgatas”, que percorrem as ruas da cidade durante mais de três horas, sob o entusiástico aplauso de muitos milhares de pessoas, segundo anunciava o Diario de Sevilla na sua edição de ontem.
Porém, as cabalgatas também têm sido muito criticadas por se terem transformado num “produto turístico”, perdendo todo, ou grande parte, do seu significado religioso. Hoje, as cabalgatas são discutidas nesse “parlamento popular” que são as redes sociais. E se alguns protestam porque as cabalgatas perderam o seu sentido religioso e dizem “qué sacrilegio!”, outros respondem dizendo que "en esta ciudad, somos así, y que nadie nos cambie", ou que "la ciudad de la alegría, de las ganas de vivir, de la pasión. Sevilla en estado puro".

domingo, 5 de janeiro de 2025

Baixa do Cassange: massacre há 64 anos

O dia 4 de Janeiro é o Dia dos Mártires da Repressão Colonial em Angola e, na sua edição de ontem, o Jornal de Angola prestou tributo às vítimas dos acontecimentos que ficaram registados na história como o “massacre da Baixa do Cassange”.
Aconteceu que nos primeiros dias do ano de 1961 os trabalhadores agrícolas das plantações algodoeiras da Companhia Geral de Algodões de Angola (Cotonang), uma sociedade luso-belga com actividade na Baixa do Cassange, um território localizado entre os distritos de Malange e da Lunda-Norte, decidiram protestar contra as suas condições de trabalho, armaram-se de catanas e canhangulos e desafiaram as autoridades portuguesas, destruindo plantações, casas e pontes. A reacção dos colonos portugueses foi violenta e teve apoio militar, designadamente da Força Aérea Portuguesa, que bombardeou a região e provocou baixas entre os manifestantes.
Controlada pela censura, a imprensa portuguesa da época não noticiou estes acontecimentos, mas houve quem tivesse estudado o assunto e publicado (Revista Militar, nº 2517, Outubro, 2011). Esse estudo conclui que “teria havido entre duzentas e trezentas mortes entre os revoltosos, muitos das quais poderiam ter sido evitadas se não fosse a histeria inicial de que estavam imbuídos e cerca de uma centena de feridos, tratados no Hospital de Malange”.
Porém, o MPLA tem aproveitado estes acontecimentos para condenar o regime colonial, para justificar a sua luta de libertação e para fortalecer a unidade nacional do país. Assim, instituíu o Dia dos Mártires da Repressão Colonial, afirmando que “o heróico feito de 4 de janeiro de 1961 deve ser transformado em fonte de inspiração para todos os cidadãos, de Cabinda ao Cunene” e considerando que “o exército colonial matou milhares de camponeses”. Porém, parece que em boa verdade, o condenável massacre colonial da Baixa do Cassange, que aconteceu há 64 anos, atingiu algumas centenas e não milhares de trabalhadores.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

A paz no mundo deve começar em nós…

Na altura da passagem do ano é costume fazerem-se balanços sobre o ano que findou e formularem-se votos para o novo ano, sendo frequente expressarem-se desejos de saúde, paz, harmonia, prosperidade e outras coisas boas. Os jornais não fogem a essa regra, pois fazem balanços do ano que findou e relatam as festas do fim do ano, mostrando as imagens do fogo-de-artifício em Sydney, em Kuala Lumpur, no Dubai e em muitos outros locais do mundo.
Na sua primeira edição do novo ano de 2025, para além das imagens do fogo-de-artifício, a generalidade dos jornais internacionais noticiou o atentado terrorista de New Orleans, tentou perspectivar o que vai ser a presidência de Donald Trump nos Estados Unidos, divagou sobre o futuro das guerras na Europa Oriental e no Médio Oriente e, poucas vezes, tratou a paz com o devido destaque.
O Correio Brasiliense, o principal jornal de Brasília, foi uma singular excepção, ao publicar uma pomba da paz na sua primeira página e ao escolher para manchete a frase “A paz deve começar em nós…” e, acrescentando depois, “… Não importa qual a sua fé, o que importa é a vontade de lutar para um mundo melhor, essa é a mensagem de religiosos de vários credos ouvidos pelo Correio aos brasilienses. Devemos sempre manter a capacidade de largar o ódio, pois essa pode ser a única maneira de pacificar nosso planeta. É preciso recomeçar. Afinal, o caminho da vida é o da liberdade e da beleza… Feliz 2025!”
Esta mensagem que diz que a paz deve começar em nós e que é preciso recomeçar, apelando à paz e ao fim do ódio, bem precisava de chegar aos ouvidos de meia dúzia de dirigentes mundiais, mas também aos dirigentes menores que continuam a incitar ao ódio, mas também àqueles que, nomeadamente na Europa, se calam e que, por isso, consentem.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Há que condenar todos os terrorismos

O novo ano de 2025 começou de forma muito dolorosa para os Estados Unidos devido a uma acção de grande violência ocorrida na cidade de New Orleans, que as autoridades já classificaram como terrorista. Às primeiras horas do dia 1 de Janeiro, quando uma enorme multidão celebrava a chegada do novo ano na Bourbon Street, uma das mais importantes e mais frequentadas ruas de New Orleans, no estado da Luisiana, um motorista lançou a sua pick-up Ford Ranger a alta velocidade sobre as pessoas, daí resultando 15 mortos e 35 feridos.
O autor deste criminoso acto era um cidadão americano de 42 anos de idade, veterano do Exército, tendo sido encontrados armas e explosivos na sua viatura, além de uma bandeira do grupo terrorista Estado Islâmico, também designado por ISIS e por Daesh.
A grave ocorrência e as cenas de horror que se seguiram foram relatadas por toda a imprensa americana e por muita imprensa internacional, que condenaram de forma unânime esta brutal acção terrorista, que pode significar que aquela organização não morreu no Médio Oriente e ainda vive, inclusive nos Estados Unidos. O lamentável e desumano acto que ceifou muitas vidas inocentes, veio mostrar que o terrorismo, enquanto acção de violência extrema contra tudo e contra todos, acontece por toda a parte e obriga a alterar o modo de vida de cada comunidade. 
O terrorismo é criminoso, não faz discriminação religiosa e não é de esquerda nem de direita. Os ataques terroristas de Londres, Paris, Nice, Estocolmo, Manchester ou Barcelona, visaram atingir sempre o maior número possível de vítimas. Ontem, nas Twin Towers de Nova Iorque, nas bombas humanas dos Tigres Tamil do Sri Lanka, no atentado de Paris contra o Charlie Hebdo ou, mais recentemente, no cruel massacre que ocorre em Gaza e na Bourbon Street de New Orleans, a Humanidade deve condenar com firmeza todos os tipos de terrorismo.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Pico, ou a beleza no coração do Atlântico

A revista Volta ao Mundo é uma referência no que respeita à divulgação de destinos turísticos e na sua edição de Janeiro de 2025 destaca a ilha do Pico, referindo-se-lhe como uma “[ilha] de beleza no coração do Atlântico”. Ao escolher a ilha do Pico entre “12 destinos para amantes de séries e filmes”, entre os quais se incluem a cidade de Budapeste e as ilhas Canárias, a revista presta uma boa homenagem àquela ilha açoriana que designa como “a ilha baleeira, a ilha de pedra, a ilha cinzenta, a ilha sofredora, de cujo ‘chão roto’ um frei tirou um vinho ímpar, vai para séculos”. Para quem gosta da ilha ou nela tenha raízes familiares ou culturais, esta reportagem é uma excelente maneira de iniciar o ano de 2023. 
Porém, a leitura da reportagem deixa uma sensação de vazio ao leitor. De facto, a própria reportagem anuncia que “a Volta ao Mundo viajou a convite da Alma do Pico Nature Residence”, um empreendimento localizado na vila da Madalena e, naturalmente, tem o formato editorial que se classifica como publireportagem, isto é, um texto de publicidade que elogia um produto ou serviço, por vezes de forma exorbitante e desproporcionada, que é publicado para parecer um artigo jornalístico objectivo, independente e verdadeiro. Dessa forma, ao comprar a revista, o leitor e o potencial visitante estão a comprar gato por lebre. Evidentemente que o texto se fundamenta na verdade e na recolha de depoimentos de vários residentes mas, como escreveu o poeta popular António Aleixo (1899-1949), “pra mentira ser segura e atingir profundidade, tem que trazer à mistura qualquer coisa de verdade”.
E há tanta coisa grandiosa, interessante, atraente e verdadeira na ilha do Pico, que não é necessário recorrer a este tipo de reportagens por encomenda.

sábado, 28 de dezembro de 2024

A catastrófica “riada” de Valência de 2024

No passado dia 29 de Outubro o território da Comunidade Valenciana, sobretudo os arredores de Valência e a própria cidade, foram atingidas por um violento temporal com uma pluviosidade extrema e, em apenas oito horas, choveu o equivalente a um ano, dando origem a inundações que se revelaram catastróficas. Em 69 municípios da comunidade, a água e a lama inundaram as casas e as ruas, destruíram infraestruturas e arrastaram centenas de viaturas, provocando ainda 225 mortes e um número ainda indeterminado de desaparecidos.
Em 1957 tinha acontecido a Gran Riada de Valencia, que também foi catastrófica e provocou muitas mortes, levando o governo do general Franco a avançar com um megaprojecto denominado Proyeto Sur, que “retirou” o leito do rio Turia do centro da cidade, o que agora se revelou importante pois poupou o centro urbano dos efeitos das inundações e das enxurradas de lamas.
Toda a gente atribuíu a catástrofe ao efeito das alterações climáticas. Porém, a construção de edifícios, autoestradas e outras infraestruturas nos arredores da cidade, muitas vezes sem qualquer planeamento e sob o efeito da especulação imibiliária, contribuíram para a impermeabilização de extensas áreas urbanas, o que agravou a situação de calamidade, pois as águas pluviais não foram retidas pelos solos.
Cerca de dois meses depois o diário Las Provincias que se publica em Valência, evoca na sua edição de hoje a catástrofe de Outubro e publica uma impressionante fotografia de centenas de automóveis destruídos pelo temporal, escolhendo como título “um tsumani de sucata”.
A imagem é impressionante e aqui está como, muitas vezes, uma imagem vale mais que mil palavras.

Os obscenos lucros da banca portuguesa

A manchete da edição de ontem do Diário de Notícias destaca que a “banca portuguesa vai ter ano mais lucrativo de sempre em 2024”, o que parece ser uma boa notícia, pois todos se recordam dos tempos difíceis por que passou a banca depois da falência do banco norte-americano Lehman Brothers, acontecida em 2008.
Aquela falência deu origem a uma grande crise financeira internacional que chegou a Portugal e afectou a débil banca portuguesa, daí resultando a falência do BPN (2008), do BPP (2010), do BES (2014) e do BANIF (2015), ainda agravadas por gestão fraudulenta ou incompetente. Seguindo a orientação preconizada pelas instituições financeiras internacionais, os sucessivos governos portugueses trataram de inscrever anualmente nos Orçamentos do Estado uma previsão de despesa para salvar ou apoiar a banca. Estima-se que, até agora, os contribuintes portugueses já tenham avançado com mais de 20 mil milhões de euros. No caso da CGD que precisou de se capitalizar em 2017, a ajuda do Estado ascendeu a 2.500 milhões de euros que, segundo foi divulgado, já foram totalmente pagos.
Significa, portanto, que a banca portuguesa está a cumprir o seu papel na relação entre a Economia e a Sociedade ou a servir a população, ao assegurar a gestão dos depósitos bancários e das poupanças, articulando-os com o crédito bancário e o financiamento dos investimentos.
Porém, quando se anunciam 6,6 mil milhões de lucros no terceiro trimestre de 2024, com destaque para os 1,4 mil milhões de euros apresentados pela CGD, o maior banco português e que é público, ficamos perplexos, pois é uma quase obscenidade num país onde ainda há tanta pobreza. Embora uma boa parte deste lucro regresse ao accionista Estado sob a forma de dividendos, a CGD comporta-se como um vulgar banco comercial, pois retira-se das pequenas localidades porque “não são rentáveis” e castiga os seus clientes, não lhes pagando juros justos pelos seus depósitos, enquanto lhes cobra exorbitantes valores por manutenção de contas. Um abuso! Ocorre-me o “Poemarma”, o poema de 1967 que Manuel Alegre incluíu n’O Canto e as Armas e que diz:
- Que [o poema] chegue ao banco e grite: abaixo a pança!

sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Aproxima-se o ponto de viragem ou o fim?

A edição de hoje do jormal francês La Dépêche du Midi mostra as fotografias de Zelensky, Trump e Putin e, como manchete, pergunta se o ano de 2025 será o ponto de viragem, isto é, se é o ano do fim da guerra na Ucrânia. Era bom que a resposta fosse positiva, que terminasse a guerra, que fosse aliviado o sofrimento dos ucranianos e que os europeus e o mundo respirassem de alívio.
A guerra na Ucrânia já dura há quase três anos e é uma vergonha civilizacional para a Europa, que deveria ter presentes as catástrofes de 1914-1918 e de 1939-1945. Porém, em vez de procurar os caminhos da paz, as partes só falam de guerra e de mais guerra, de armas e de mais armas, usando uma preocupante retórica belicista, com a qual a indústria do armamento lucra escandalosamente.
No seu actual formato, a guerra foi iniciada no dia 24 de Fevereiro de 2022 com a invasão russa da Ucrânia. Nesse dia, o regime de Putin deu início a uma “operação militar especial”, embora já se verificasse uma tensão separatista e de guerra desde há alguns anos nas regiões orientais ucranianas, devido à luta das autoproclamadas independências de Donetsk e Lugansk. O regime de Kiev reagiu à invasão russa com o apoio militar de vários países ocidentais e da própria NATO e, na realidade, a possível integração da Ucrânia na NATO tornou-se o factor determinante da guerra e da paz, pois passou a ser considerada uma ameaça para Moscovo.
Agora com a eleição de Donald Trump para a Casa Branca e com a sua repetida promessa de “acabar com a guerra em 24 horas”, as expectativas subiram e fica claro que o que está em jogo não são apenas o fim da guerra e a satisfação das aspirações autonomistas de algumas regiões orientais da Ucrânia. Fica evidenciado que, com esta guerra, estão confrontadas as rivalidades entre as superpotências americana e russa, com a China a espreitar e com a velha e preguiçosa Europa de cócoras, sem ter opinião própria. Talvez o Donald consiga acabar com esta situação catastrófica que está a destruir a Ucrânia, a abalar as economias europeias e a ameaçar a paz no mundo.