quinta-feira, 6 de novembro de 2025

O Brasil de Marias, Josés, Silvas e Santos

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou os resultados de um estudo feito a partir dos resultados do XIII Recenseamento Geral do Brasil, mais conhecido como Censo 2022, que retrata a população brasileira no dia 1 de agosto de 2022. Uma parte desses resultados foi divulgada pelo jornal O Dia, que se publica no Rio de Janeiro e é muito curiosa, pois mostra aquilo que muitos brasileiros não gostam de saber, isto é, que as raízes do Brasil são portuguesas, como escreveu Sérgio Buarque de Holanda, mas que a marca portuguesa continua bem forte no Brasil contemporâneo, não só através da língua mas também através dos nomes. “Um país formado por milhões de Silvas”, como escreveu O Dia, ou o país das Marias e dos Silvas, dos Josés e dos Santos. 
De cada cem brasileiros, seis são Marias, isto é, o Brasil tem 12,3 milhões de Marias, mas nas cidades cearenses de Morrinhos e Bela Cruz, as Marias somam 22% da população. Já os Silva são 34 milhões de brasileiros ou 16% da população e, em seis cidades de Pernambuco e Alagoas, os Silva são mais de 60% da população. 
Os nomes mais frequentes nas mulheres são Maria (mais de 12 milhões), Ana, Francisca, Júlia e Antónia, enquanto nos homens os nomes mais habituais são José (mais de 5 milhões), João, António, Francisco e Pedro. Relativamente aos apelidos, os mais frequentes são Silva (mais de 34 milhões), Santos (21,3 milhões), Oliveira (11,7 milhões), Sousa (9,1 milhões), Pereira (6,8 milhões), Ferreira (6,2 milhões), Lima (6,0 milhões), Alves (5,7 milhões), Rodrigues (5,4 milhões) e Costa (4,8 milhões). 
É difícil encontrar sinais tão marcantes de portugalidade na identidade brasileira para além da própria língua, mas esta revelação feita pelo estudo do IBGE é realmente surpreendente pela forma como os brasileiros usam nomes de origem portuguesa.

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

A primeira derrota de Donald Trump

O sistema eleitoral americano é muito complexo e daí que haja diferentes ciclos eleitorais a nível federal, estadual e local, muito diferentes dos que acontecem na Europa.
Assim, na passada terça-feira, realizaram-se as primeiras grandes eleições do segundo mandato de Donald Trump e houve chamada às urnas em cerca de metade dos estados americanos. Donald Trump recebeu um grande cartão vermelho, porque os eleitores de toda a costa leste dos Estados Unidos deram aos Democratas uma vitória, ao elegerem os governadores da Virgínia e de Nova Jersey e, sobretudo, o mayor de Nova Iorque, sempre contra adversários apoiados por Trump, o que não o terá deixado nada satisfeito.
No estado da Virgínia, a moderada e ex-membro da Câmara dos Representante Abigail Spanberger de 46 anos de idade venceu, será a primeira mulher a governar o estado e teve o melhor desempenho democrata na história recente daquele estado.
No estado de Nova Jersey, a vitória também coube a outra moderada, a deputada Mikie Sherrill, de 53 anos de idade e ex-piloto da Marinha, que foi congressista durante quatro mandatos.
Em Nova Iorque foi eleito para mayor da cidade o jovem Zohran Mamdani, de 34 anos de idade, que é o primeiro muçulmano e o primeiro presidente de ascendência sul-asiática a governar a Big Apple, a maior cidade dos Estados Unidos.
A notícia destas eleições foi manchete nas edições de hoje de toda a imprensa americana, mas pela sua postura radical destacou-se o jornal nova-iorquino New York Post, que sempre apoiou Donald Trump. Hoje, esse jornal não hesitou em classificar o candidato democrata Zohran Mamdani como marxista, em apresentá-lo a erguer o símbolo do comunismo e a chamar à cidade de Nova Iorque a Red Apple, comportando-se como um vulgar e panfletário pasquim. 
Em Israel quem não apoia Netanyahu é terrorista e aliado do Hamas.
Nos Estados Unidos quem não apoia Trump é marxista ou comunista.
É assim que as ditaduras, mas também este tipo de democracias, tratam os seus adversários…

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Os drones: da vigilância a arma de guerra

A guerra na Ucrânia teve início no dia 24 de fevereiro de 2022, quando Vladimir Putin ordenou uma “operação militar especial”, concretizada através de invasão que apenas veio intensificar a tensão e o estado de guerra que se vivia no território ucraniano oriental desde 2014, sobretudo nas regiões separatistas de Lugansk e Donetsk.
Desde há cerca de 45 meses que, todos os dias, somos massacrados com notícias, umas verdadeiras outras falsas, para além de ouvirmos um sem número de comentadores especializados, mas o facto é que não sabemos o que realmente se passa no terreno, embora se perceba que as partes estão cansadas, que desejam o fim do morticínio e da destruição e que não estão disponíveis para aceitar a vitória do outro.
No campo especificamente do confronto militar, porque os recursos humanos e materiais são escassos, os dois adversários transformaram a utilização de drones — veículos aéreos não tripulados, tanto civis como militares — numa ferramenta estratégica e simbólica que passou a marcar o ritmo, a eficácia e até a moral das tropas. Pelo seu baixo custo, precisão e autonomia os drones tornaram-se elementos cruciais naquele conflito, onde o controlo do espaço aéreo é essencial e é disputado pela tecnologia, pela inteligência artificial e pela logística.
À medida que o conflito se prolonga, os drones evoluíram de ferramentas de vigilância para armas ofensivas e plataformas de guerra psicológica, substituindo-se aos disparos da artilharia, aos bombardeamentos aéreos e aos mísseis. O uso intensivo de drones, tanto por russos como por ucranianos, responde à necessidade de reduzir perdas humanas e de compensar as deficiências da logística, mostrando que o futuro das guerras já não depende apenas do factor humano mas, cada vez mais, da capacidade de possuir e programar drones.
A última edição do jornal catalão ara que se publica em Barcelona, dedica uma desenvolvida reportagem à la guerra dels drons.

A inauguração do Grande Museu Egípcio

O Grande Museu Egípcio (GEM na sua sigla em inglês) foi inaugurado no passado sábado na cidade do Cairo, numa cerimónia faraónica que a edição de domingo do jornal Kuwait Times classificou como “luxuosa”. Parece que o caso não era para menos, pois nela estiveram presentes dezenas de chefes de Estado e de Governo, bem como membros de casas reais de vários países.
O GEM ocupa uma área de 47 hectares e tem cerca de 100 mil artefactos, reunindo as mais emblemáticas peças da história egípcia como a colossal estátua de Ramsés II, com 83 toneladas, que dá as boas-vindas aos visitantes no átrio principalo lendário Barco Solar do Rei Khufu, a colecção completa do Rei Tutankhamon, composta por 5.398 objetos, os tesouros da Rainha Hetepheres, entre muitas outras raridades que fazem do GEM o maior museu arqueológico do mundo.
A sua construção iniciou-se no ano de 2005, durante a presidência de Hosni Mubarak mas, por circunstâncias imprevistas como a turbulência política durante e após a Primavera Árabe de 2011, a pandemia de covid-19 e as guerras na Ucrânia e em Gaza, o projecto sofreu atrasos e a sua construção demorou vinte anos. 
Trata-se de um investimento de 1.000 milhões de dólares, que é dedicado à antiga civilização egípcia e tem como objectivo impulsionar a indústria do turismo e a economia da República Árabe do Egipto, que espera que o museu atraia sete milhões de turistas por ano e se torne um dos mais visitados museus do mundo.
Entre os convidados do presidente egípcio Abdul Fatah Khalil Al-Sisi encontrava-se o presidente Marcelo Rebelo de Sousa, mas não é conhecida a composição da sua comitiva, nem como se deslocou.

sábado, 1 de novembro de 2025

jtm: 43 anos em prol da Língua Portuguesa

A mais recente edição do jtm – Jornal Tribuna de Macau anuncia, com grande destaque na primeira página, a passagem do seu 43º aniversário, isto é, de “43 anos em prol de Macau e da Língua Portuguesa”. Esse desígnio distingue-o da generalidade dos jornais que no estrangeiro se publicam em português, pois nenhum outro jornal da diáspora portuguesa, ou dos países de língua oficial portuguesa, se apresenta como defensor da língua portuguesa.
O Jornal Tribuna de Macau é um dos três diários em língua portuguesa da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) da República Popular da China, tendo aparecido nas bancas pela primeira vez no dia 28 de Outubro de 1982 com o título Jornal de Macau, ainda no tempo em que o território estava sob soberania portuguesa.
Entretanto, já passaram cerca de 26 anos desde “o regresso de Macau à China” e o jornal continua a ser um farol da língua portuguesa no território.
O jornal é considerado um diário, embora não se publique aos sábados, domingos e feriados, imprimindo habitualmente 16 páginas. A sua última edição tem o número 7275, o que bem atesta o serviço que o jornal tem prestado à língua e à cultura portuguesa nos seus 43 anos de vida.
Está de parabéns Sérgio Terra, o seu director e principal sócio.

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Se Donald e Xi falam, a confiança aumenta

A imprensa internacional de referência, incluindo a edição internacional do The New York Times, destaca hoje como notícia de primeira página o encontro havido na cidade sul-coreana de Busan entre Donald Trump e Xi Jinping.
Os dois presidentes não se encontravam desde há seis anos e este encontro de 90 minutos, que aconteceu após alguns meses de muita tensão entre os dois países devido às tarifas comerciais impostas por Donald Trump, foi muito positivo, até porque houve um trabalho preparatório feito por responsáveis americanos e chineses, que criou uma base de entendimento sobre as relações entre americanos e chineses e sobre temas estratégicos que interessam ao mundo.
Os dois líderes usaram um tom conciliatório e o encontro foi classificado como um sucesso, abrindo o caminho para terminar com a actual beligerância comercial e para a discussão de outros assuntos de interesse comum, como as exportações chinesas de terras raras e semicondutores, as exportações americanas de soja, as taxas portuárias em ambos os países, ou o controlo directo que os americanos desejam ter no seu território da actividade do TikTok, uma plataforma de vídeos curtos que é muito popular na Ásia e nos Estados Unidos. Porém, o encontro entre Donald Trump e Xi Jinping não se terá esgotado nos temas económicos e terá abordado a questão de Taiwan e, provavelmente, o problema da Ucrânia. Mais importante que tudo o que foi discutido, é o reforço da confiança e a manutenção do diálogo entre o Xi e o Donald!
O encontro foi tão bem sucedido que o Donald deverá visitar oficialmente a China em 2026, devendo Xi retribuir a visita. Assim é que é. 
Entendam-se e deixem-se de guerras.

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Melissa, uma “tempestade monstruosa”

A passagem devastadora do furacão Melissa pela Jamaica causou graves prejuízos, atravessou a ilha de Cuba com muita destruição e está a movimentar-se em direção às Bahamas.
É uma “tempestade monstruosa”, como se lhe refere a edição de hoje do diário nova-iorquino Daily News, pois atingiu a categoria 5, isto é, gerou ventos superiores a 252 quilómetros por hora na Jamaica, tendo sido a tempestade tropical mais forte e mais devastadora que atingiu a ilha na história moderna. A destruição provocada e o número de mortes ainda estão por apurar, tanto na Jamaica como na vizinha ilha da Hispaniola que é repartida por dois países: o Haiti e a República Dominicana.
Na passagem por Cuba, que aconteceu esta manhã, o furacão Melissa diminuiu a sua intensidade e passou à categoria 3, isto é, com ventos entre 178 e 208 quilómetros por hora, mas também provocou “danos significativos” e isolou cerca de 140 mil pessoas devido à subida do caudal de alguns rios.
Estes ciclones são gerados em águas tropicais quentes. No caso das Caraíbas chamam-se hurricanes ou furacões, sendo caracterizados por ventos muito fortes, chuvas intensas e elevação temporária do nível do mar, o que provoca muita destruição e inundações incontroláveis, deslizamento de terras nas encostas, telhados arrancados de prédios e palmeiras arrancadas.
As alterações climáticas que tornam os oceanos e a atmosfera mais quentes, fazem com que os furacões se tornem mais intensos e daí que os ventos provocados pelo furacão Melissa tenham atingido velocidades superiores às do furacão Katrina que, no ano de 2005, foi uma das piores tempestades da história dos Estados Unidos, devastando Nova Orleans e matando 1.392 pessoas. Porém, o número de mortos que vem sendo anunciado devido ao furacão Melissa é bem menor do que aquele que foi apurado há 20 anos com o furacão Katrina.

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

EUA e Brasil, rumo ao desejado diálogo

Depois de alguma tensão que nos últimos meses se tem verificado entre os presidentes dos EUA e do Brasil, de que resultou a aplicação de elevadas taxas alfandegárias sobre os produtos brasileiros importados pelos EUA, o encontro entre Donald Trump e Lula da Silva, ontem realizado em Kuala Lumpur, deve ser saudado porque “abre novos rumos à relação Brasil-EUA”, como hoje noticia o jornal Correio Brasiliense.
O mundo tornou-se muito interdependente e, cada vez mais, é uma aldeia global. Por isso, é bem natural que Donald Trump tivesse começado a perceber que as medidas tarifárias que tomou em relação a muitos países também penalizam os EUA e daí que venha “metendo a viola no saco”.
Segundo foi relatado pela imprensa, foi a primeira vez que os presidentes Trump e Lula da Silva se encontraram oficialmente para conversar sobre as tarifas impostas pelos EUA às exportações brasileiras. A reunião durou 50 minutos e ambos declararam que tinha sido um encontro muito positivo, para além de terem trocado alguns elogios recíprocos e confirmado que vai ser iniciado um processo negocial.
Embora o principal tema do encontro tivesse sido a negociação das tarifas impostas às exportações brasileiras, soube-se que a situação do ex-presidente Jair Bolsonaro não foi discutida na reunião e que Lula da Silva se dispôs a ser um interlocutor no desejável diálogo entre os EUA e a Venezuela, de forma a encontrar soluções mutuamente aceitáveis para os dois países.
Naturalmente, este apaziguamento e este diálogo entre os EUA e o Brasil é relevante para os dois países, mas também é importante para a paz e a harmonia no mundo.

ASEAN acolhe Timor-Leste como membro

No dia 20 de Maio de 2002 foi declarada a independência da República Democrática de Timor-Leste, numa cerimónia realizada em Tasi Tolu, nos arredores de Dili, na qual estiveram presentes Kofi Annan, Secretário-Geral da Nações Unidas, Xanana Gusmão, o primeiro Presidente da nova República Democrática de Timor-Leste, Megawati Sukarnoputri, Presidente da Indonésia, Jorge Sampaio, Presidente da República Portuguesa e Bill Clinton, Presidente dos Estados Unidos, para além de delegações de mais de nove dezenas de países. O novo país foi de imediato acolhido na CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa) e foi reconhecido como observador na ASEAN (Association of Southeast Asian Nations), uma organização intergovernamental regional do sueste asiático, que promove a cooperação entre os seus membros, mas também a integração económica, política, militar, educativa e cultural entre os seus membros e outros países asiáticos.
No dia 4 de Março de 2011 o governo timorense apresentou oficialmente o seu pedido de adesão à ASEAN, mas a aceitação plena da sua integração só aconteceu ontem em Kuala Lumpur, durante a 47ª Cimeira da ASEAN. Para o mais jovem país do Sueste Asiático, a sua condição de 11º estado-membro da ASEAN é a concretização de uma vontade de afirmação no panorama internacional, pois passa a ter como parceiros o Brunei, Camboja, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Myanmar, Singapura, Tailândia e Vietname que, juntos, representam 680 milhões de habitantes.
Na “fotografia de família” que é publicada com destaque na edição de hoje do centenário diário filipino Manila Bulletin estão presentes 17 personalidades políticas, entre as quais Xanana Gusmão (primeiro-ministro de Timor-Leste), José Ramos-Horta (presidente de Timor-Leste), António Costa (presidente do Conselho Europeu) e António Guterres (secretário-geral das Nações Unidas).
Quem podia imaginar que na Cimeira da ASEAN estivessem quatro individualidades cuja língua-mãe é o português!

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

R.I.P. Francisco Pinto Balsemão

Com 88 anos de idade faleceu Francisco Pinto Balsemão, uma das mais importantes figuras da democracia portuguesa, pois foi um dos fundadores do PPD/PSD e exerceu as funções de primeiro-ministro de Portugal entre Janeiro de 1981 e Junho de 1983, quando sucedeu a Sá Carneiro após o desastre de Camarate. Porém, para além de ter sido um político de grande destaque, Francisco Pinto Balsemão também foi jornalista e empresário da comunicação social. Começou por trabalhar no Diário Popular e, em 1973, foi o criador do semanário Expresso, que desde logo se afirmou como uma referência na imprensa portuguesa e um inspirador de uma nova sociedade que se vinha desenhando desde as eleições legislativas de 1969.
Nessas eleições, acontecidas já nos últimos anos do Estado Novo, o marcelismo tinha mostrado alguma abertura ao rígido e monolítico regime herdado de Salazar e aceitara a constituição de uma Ala Liberal na Assembleia Nacional, de que fizeram parte como deputados os jovens Pinto Balsemão, Sá Carneiro, Miller Guerra, Pinto Leite, Magalhães Mota e Mota Amaral, entre outros, que se afirmaram numa linha política que já reclamava a democracia. Por isso, o dia 25 de Abril de 1974 foi vivamente saudado pelos homens da Ala Liberal, num tempo em que as outras referências da democracia portuguesa ainda estavam ausentes do país, pelo que uma das suas primeiras iniciativas foi exactamente a criação do PPD/PSD.
Em 1987, já afastado da política activa apesar de continuar a ser uma referência do seu partido, Francisco Pinto Balsemão criou a SIC, um projecto televisivo de grande sucesso e, nesse mesmo ano, teve a iniciativa da criação do Prémio Pessoa, um prémio atribuído anualmente a pessoas de nacionalidade portuguesa que durante esse período, e na sequência de atividade anterior, se tenham distinguido como protagonistas na vida científica, artística ou literária.
Eu nunca conheci Francisco Pinto Balsemão, mas é unânime o elogio à sua personalidade, aos seus ideais democráticos e à sua obra inovadora.
Em 2011 foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.

quarta-feira, 22 de outubro de 2025

A ponte romana de Alcântara e nova ponte

A Ponte Romana de Alcântara que atravessa o rio Tejo na província de Cáceres, próximo da fronteira portuguesa, foi construída no ano 106 por ordem do imperador Trajano e com traço do arquitecto Caio Júlio Lacer. Durante dois mil anos, esta ponte que tem 194 metros de comprimento e cujo tabuleiro assenta sobre seis arcos assimétricos apoiados em cinco pilares com diferentes alturas sobre o terreno, serviu as populações fronteiriças. Porém, com a intensificação do tráfego rodoviário que se tem verificado nos últimos anos, surgiu a necessidade de construir uma alternativa que aliviasse a pressão e o desgate da milenária ponte romana de Alcântara e que permitisse melhorar a sua conservação. Assim surgiu o viaducto del Embalse de Alcántara, uma ponte em arco com cerca de 270 metros de comprimento que, para além de evitar o desgaste da ponte romana, também vai permitir a circulação da linha ferroviária de alta velocidade Madrid-Extremadura, que atravessa a albufeira de Alcântara e o curso do rio Tejo.
O jornal el Periódico de Extremadura que se publica em Cáceres, fez uma desenvolvida reportagem da inauguração desta infraestrutura que aconteceu recentemente, tendo a presidente do governo autónomo da Extremadura afirmado que estão em curso os trâmites para solicitar à UNESCO a classificação da ponte romana de Alcântara como Património Cultural da Humanidade, para juntar aos 44 sítios já classificados em Espanha.

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

A “implosão francesa” e o roubo do Louvre

A revista semanal francesa Le Nouvel Observateur, vulgarmente conhecida como Le Nouvel Obs, é a revista de informação de maior circulação em França, tem uma linha editorial moderada e centrista, sendo considerada “a revista dos intelectuais franceses”. Na sua última edição tem como tema de destaque “a implosão francesa” e uma fotografia do presidente Emmanuel Macron entristecido, preocupado e envelhecido. De facto, a França que é a segunda maior economia da União Europeia (EU), está a viver uma profunda crise económica, social e política.
No aspecto económico o país tende para a estagnação, com a dívida pública a ultrapassar os 114% do produto interno bruto (PIB), sendo superada apenas pela Grécia e pela Itália. O seu défice orçamental é da ordem dos 5,5%, que é o mais elevado da EU. Para atingir a meta dos 3% exigida pelas regras comunitárias é necessário economizar muito, mas isso não é viável, nem politica nem socialmente, o que faz com que os mercados financeiros aumentem as suas taxas de risco sobre os títulos da dívida pública francesa e a espiral da dívida ameace o horizonte dos franceses.
Paralelamente e segundo relata a imprensa, a situação das famílias continua a deteriorar-se, com as desigualdades a aumentar, a pobreza a progredir e os salários a estagnar, o que torna insustentável o descontentamento popular e a pressão nas ruas.
Esta crise está na origem do impasse político e, neste seu último mandato, desde Maio de 2022, Macron já teve cinco primeiros-ministros, todos eles incapazes de aprovar as medidas de austeridade necessárias.
Para agravar esta situação e porque “uma desgraça nunca vem só” o emblemático Museu do Louvre foi assaltado, tendo sido roubadas oito jóias de valor incalculável, incluindo a coroa da imperatriz Eugénia, esposa de Napoleão III, constituída por 1.354 diamantes e 56 esmeraldas.
A esta hora, Emmanuel Macron estará a pensar no que de mais lhe irá acontecer.

sábado, 18 de outubro de 2025

A reconciliação nacional em Angola

Aproxima-se a data em que a República de Angola celebra os 50 anos da sua independência, que aconteceu depois de cerca de 13 anos de luta de libertação nacional contra o colonialismo português, na qual os movimentos que combateram as tropas portuguesas eram o MPLA dirigido por Agostinho Neto, a FNLA dirigida por Holden Roberto e a UNITA dirigida por Jonas Savimbi.
Estes três movimentos tinham origens diferentes e eram rivais, não tinham implantação nacional e tinham ideários e apoios internacionais distintos, pelo que algumas vezes se combateram entre si, o que acabou por auxiliar indirectamente as tropas portugueses. Porém, como se verificou com o movimento do 25 de Abril, o problema de Angola era político e não militar, pelo que em face da pressão interna e internacional, o Estado Português se limitou a reconhecer o direito à autodeterminação e independência de Angola. Porém, durante o período de transição da soberania, os três movimentos de libertação combateram-se intensamente, mas foi possível chegar aos Acordos do Alvor assinados no dia 28 de Janeiro de 1975 entre o Estado Português e os três movimentos de libertação, em que era aceite que o governo de Angola seria exercido por um Alto-comissário português em conjunto com representantes de cada movimento. As rivalidades acentuaram-se e à guerra de libertação nacional, sucedeu-se a guerra civil que durou até 2002 e terminou com a vitória do MPLA. Os derrotados foram proscritos mas, lentamente, tanto a FNLA como a UNITA foram integrados na democracia angolana.
Com a aproximação da festa dos 50 anos da independência e de acordo com o jornal O País, o presidente João Lourenço decidiu condecorar a título póstumo os homens que assinaram os Acordos do Alvor, num gesto de reconciliação nacional que vence muitos tabus da história recente de Angola e está em linha com a verdade histórica.
O progresso e o futuro dos 35 milhões de angolanos também passa por este tipo de medidas.

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

É preciso acabar com a guerra na Ucrânia

A notícia foi dada ontem depois de “uma longa chamada telefónica” entre ambos e, na sua edição de hoje, o jornal The Independent confirma que Donald Trump e Vladimir Putin se vão encontrar brevemente em Budapeste, para uma segunda cimeira sobre a guerra na Ucrânia, depois de se terem encontrado no Alaska no dia 16 de Agosto.
O encontro directo e presencial entre os homens que comandam as duas principais potências nucleares do nosso planeta é sempre positivo, embora na agenda destes encontros esteja apenas o problema da Ucrânia.
Há dois meses a reunião entre Trump e Putin foi cordial, mas inconclusiva. A pretensão russa para que fosse reconhecida a anexação dos territórios ucranianos ocupados não foi aceite e, para além disso, os Estados Unidos deram o seu apoio ao ataque ucraniano às infraestruturas energéticas russas. Não se sabe como evoluíram as visões de Trump e de Putin sobre o conflito e que cedências estão as partes dispostas a fazer. Porém, haverá mais de um milhão de baixas dos dois lados, há milhões de ucranianos afectados pela guerra, há uma enorme destruição do património construído e parece haver um impasse na linha da frente. O apoio à Ucrânia de Zelensky está a ser um pesado fardo para os seus amigos ocidentais e Donald Trump, com o apoio de Ursula von der Leyen e de Mark Rutte, já enviou essa factura aos europeus para que a paguem.
Os líderes europeus que deveriam ter sido os intermediários e os moderadores desta crise, foram incompetentes, desastrados e convenceram Zelensky que podia ganhar. Erraram, tornaram-se actores secundários e, agora, são simples espectadores.
Trump disse várias vezes que “essa guerra nunca teria começado se fosse presidente” e Putin confirmou que “se Trump fosse presidente em 2022 não haveria guerra na Ucrânia”. 
É a altura de resolverem este imbróglio.

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Venezuela: Maduro está na mira de Trump

Os principais jornais brasileiros – Folha de S. Paulo, O Globo e O Estado de S. Paulo – destacaram em manchete nas suas edições de hoje a mesma notícia, ao informarem que Donald Trump autorizou uma acção secreta da CIA na Venezuela para derrubar Nicolas Maduro e que, além disso, estava a considerar a hipótese de atacar alvos terrestres no interior do território venezuelano.
É bem conhecida a hostilidade entre os Estados Unidos e o regime autoritário de Nicolas Maduro, que se agravou desde que Donald Trump chegou à Casa Branca. Nas últimas semanas, a pretexto de combaterem na fonte as redes de narcotráfico que abastecem os Estados Unidos, os americanos posicionaram vários navios de guerra nas proximidades das águas territoriais venezuelanas, afundaram várias embarcações alegadamente envolvidas no narcotráfico e puseram os seus bombardeiros a sobrevoar o território venezuelano. Agora, Donald Trump autorizou a CIA a operar secretamente na Venezuela, afirmando que “agora estamos pensando em terra, porque já temos o mar sob controlo” e que “estava considerando atacar alvos terrestres dentro do território venezuelano”.
Todos os sinais apontam para a realização de uma grande operação militar das tropas americanas com o objectivo de derrubar o regime de Nicolas Maduro, provavelmente através de ataques aéreos a alvos importantes para desarticular o quotidiano dos venezuelanos, a que se seguirá uma revolta popular apoiada na força militar. Dizem os analistas que não está claro o que os americanos estão a planear, mas que “estamos na iminência de um ataque em larga escala e que, a ser assim, “será a primeira vez que os Estados Unidos atacam militarmente um país da América do Sul”.
Se uma intervenção destas se concretizar, será uma grosseira violação do Direito Internacional, Trump revela-se igual a Putin e o Prémio Nobel da Paz nunca será para ele.