quinta-feira, 25 de setembro de 2025

ONU: a porta grande é só para alguns

Decorreu em Nova Iorque a 80ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, num momento que muitos consideram crítico porque a organização não tem sido capaz de resolver alguns dos conflitos em curso no mundo. Todos sabemos porquê: os Trumps e os Macrons, as Ursulas e as Melonis, bem como muitos outros dirigentes mundiais, não prescindem de protagonismo pessoal, nem da defesa dos seus interesses nacionais. Metem-se em tudo, fazem imensas cimeiras e até se atropelam.  Assim, o Secretário-Geral António Guterres pouco pode fazer para além de ser uma referência moral e de falar com clareza: “Agora é o momento de escolher. Pela paz. Pela dignidade. Pela justiça. Pela humanidade. Eu nunca, jamais desistirei”. 
Como já é de tradição, o presidente do Brasil foi o primeiro orador na Assembleia Geral e Lula da Silva (falando em português) reafirmou que a soberania do Brasil é inegociável, defendeu os valores democráticos, a importância do multilateralismo, o desenvolvimento sustentável, a luta contra as alterações climáticas e afirmou que “a única guerra de que todos podem sair vencedores é contra a fome e a pobreza”.
O presidente dos Estados Unidos fez um longo discurso e insistiu que a sua administração pôs termo a sete guerras em apenas sete meses, acrescentando que tal aconteceu “sem apoio da ONU”, ao mesmo tempo que, em relação à Ucrânia, substituía a sua tese da cedência de territórios ucranianos aos russos, por uma nova tese da reconquista ucraniana dos seus territórios ocupados pelos russos.
Filipe VI, o rei de Espanha, fez um notável discurso (falando em castelhano), que o diário El País disse “se situa en las antípodas del pronunciado por Trump”, ao afirmar directamente a Israel: “Detengan la masacre en Gaza. Es aberrante”. 
Nesse mesmo dia, também Marcelo Rebelo de Sousa (falando em inglês, o que muito se lamenta!), fez um discurso a “dar uma no cravo e outra na ferradura”, bem diferente dos corajosos discursos de Lula da Silva e de Filipe VI. Os jornais portugueses, ao contrário do que fizeram os jornais brasileiros e espanhóis, ignoraram o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa.
Afinal, também nas Nações Unidas, uns saem pela porta grande, mas outros saem pela porta pequena...

quarta-feira, 24 de setembro de 2025

A América da abundância e da violência

O assassinato de Charlie Kirk, um jovem influenciador e activista americano ligado ao Partido Republicano e, especialmente a Donald Trump, quando discursava num campus universitário no Estado de Utah, gerou uma onda de preocupação face à crescente violência que se verifica nos Estados Unidos, um país onde se estima que os civis possuam mais de 400 milhões de armas, um número que ultrapassa a população do país, que é de cerca de 340 milhões de habitantes.
Daqui resulta que a violência com armas de fogo nos Estados Unidos se traduz num aumento da criminalidade com alguns milhares de mortos todos os anos, o que gera uma crescente insegurança pública, que até já levou Donald Trump a decretar uma intervenção da polícia federal na capital americana e em outras cidades.
As estatísticas oficiais ressaltam essa realidade sombria, pois “somente em 2023, o Arquivo sobre Violência Armada registou 18.854 mortes por violência armada, excluindo suicídios”. Tiroteios nas ruas e até nas escolas têm-se tornado frequentes e há uma crescente sensação de insegurança pública, o que fez do crime violento uma das principais preocupações da sociedade americana e dos seus políticos.
Esta situação de proliferação da violência na sociedade mais abundante do planeta, mostra que há graves problemas na sociedade americana, designadamente a desigualdade económica e social, a pobreza, o racismo e a marginalização política.
Tudo isso tratou a última edição do jornal USA Today, que destacou em manchete que “o medo das armas afasta os turistas dos Estados Unidos”, o que configura não só um problema económico, mas que é, também, um retrato de um gravíssimo problema social na sociedade da abundância.

terça-feira, 23 de setembro de 2025

Portugal reconheceu o Estado da Palestina

Finalmente, depois de tantas hesitações, Portugal reconheceu o Estado da Palestina e passou a estar incluído no grupo de 157 países-membros das Nações Unidas que o reconhecem e que correspondem a 81,3% do seu plenário, como foi noticiado pelo jornal Público
Foi preciso que o território de Gaza fosse destruído pela desumanidade dessa figura verdadeiramente sinistra que é Benjamin Netanyahu, que tivessem sido mortas cerca de 65 mil pessoas e que cerca de dois milhões de palestinianos estejam a ser massacrados pela guerra e pela fome, para que o governo português tivesse reconhecido a Palestina. Porém, mais vale tarde que nunca e, por isso, esta decisão deve ser saudada.
O reconhecimento de um país por outro resulta da visão que este país tem da real situação do outro, isto é, se tem uma população permanente, se tem fronteiras territoriais bem definidas, se tem um governo efectivo e se tem uma organização política que assegure os direitos fundamentais dos cidadãos, a separação de poderes e a estabilidade social. Não é seguro que a Palestina cumpra todos esses critérios, até porque tem uma parte do seu território ocupado ou destruído por Israel, com os seus extremistas a praticar uma agressiva política de genocídio em Gaza, que constitui uma das maiores crueldades da história recente da Humanidade. 
Por isso, vários países como o Reino Unido, a França, o Canadá, a Austrália e Portugal, entre outros, cada dia mais pressionados pelas suas opiniões públicas e rendidos às evidências do cruel massacre do povo palestiniano e da violação dos seus direitos humanos, reconheceram a Palestina num acto simbólico, mas também num apelo para que Israel termine com a sua agressão desproporcionada e criminosa ao povo palestiniano. 
Porém, como se vê diariamente nas nossas televisões, o lobby israelita está activo e há quem, não tendo vergonha nem dignidade nenhuma, defenda a crueldade, a violência e a desumanidade de Netanyahu e dos seus seguidores. Se essa gente soubesse o que é a guerra e o sofrimento que provoca, teria certamente outra opinião.

domingo, 21 de setembro de 2025

A igualdade de género chegou às arenas

A contestação à tauromaquia e às touradas é um facto que se tem acentuado nos últimos anos no sudoeste da Europa e, numa sondagem realizada em 2024 com uma amostra de 7500 pessoas, das quais 2500 eram portuguesas, apurou-se que 77% dos inquiridos se afirmou contra as touradas por ser uma forma de maus tratos a animais e uma prática que lhes causa dor e sofrimento, isto é, a maioria dos portugueses, franceses e espanhóis é contra as touradas. A sondagem revelou, também, que apenas uma em cada cinco pessoas considera que as touradas são uma “tradição valiosa” e que só têm o apoio de 11% da população.
Neste panorama, é surpreendente a capa da edição de hoje do jornal madrileno ABC, que destaca a fotografia das novilleras Raquel Martin e Olga Casado, que actuaram na primeira corrida da Feira Taurina de Salamanca, incluída nas Festas Patronais em homenagem à Virgen de la Vega. 
Num mundo tradicionalmente ocupado por homens, pela primeira vez na Feira de Salamanca, o cartel que se apresentou na Plaza de Toros de La Glorieta foi composto unicamente por mulheres: a rejoneadora Lea Vicens e as já referidas novilleras Raquel Martin e Olga Casado. “Un paseillo para la historia” escreveu em título o jornal ABC, por terem sido as primeiras mulheres a actuar em conjunto nesta praça desde a sua inauguração no ano de 1893. Como sempre acontece nas corridas de touros espanholas, a crítica e o público atribuem troféus aos desempenhos. Assim, foi salientado que “una importante Olga Casado suma dos orejas que le conceden la Puerta Grande de La Glorieta”, isto é, a estreante Olga Casado saiu em ombros pela Porta Grande da emblemática Praça de Touros de Salamanca. 
Em tempo de contestação às touradas esta igualdade de género talvez tenha pouco sentido

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Aproxima-se a unidade árabe-islâmica?

O ataque que no dia 9 de Setembro os israelitas fizeram a uma delegação do Hamas, que estava reunida em Doha, no Qatar, para discutir uma proposta de cessar-fogo apresentada por Donald Trump para o conflito de Gaza, causou uma enorme onda de repulsa, não só porque constituiu uma grave violação das fronteiras de um país soberano, mas também porque veio demonstrar que os extremistas israelitas de Netanyahu não querem paz nenhuma e apenas estão a cumprir, passo a passo, o seu plano de extermínio do povo palestiniano em Gaza.
Israel invadiu Gaza em resposta ao brutal ataque do Hamas de 7 de Outubro de 2023, mas desde então, com a cumplicidade dos Estados Unidos e da União Europeia, atacou diversos grupos hostis e países vizinhos, nomeadamente o Líbano, Síria, Iémen, Irão e, agora, o Qatar. Apesar dos países árabes não serem um conjunto homogéneo e terem alinhamentos internacionais bem diversos, as mortes de quase 64.000 palestinianos e a completa destruição do território de Gaza têm enfurecido os países do Médio Oriente, com um ressentimento que tem aumentado, o que preocupa os Estados Unidos devido aos seus compromissos com Israel, mas também com os países árabes do Golfo, salientando-se que a maior base militar americana na região está exactamente no Qatar.
Neste complexo quadro, no dia 15 de Setembro, os líderes árabes e islâmicos realizaram uma cimeira de emergência no Qatar para discutir o recente ataque a líderes do Hamas em Doha. Na sua declaração final, a cimeira apelou aos estados para “tomarem todas as medidas legais e eficazes possíveis para impedir que Israel continue as suas ações contra o povo palestiniano” e “apelou a todos os países que amam a paz no mundo para que condenem os crimes israelitas no Qatar, Gaza e nos restantes territórios palestinianos”.
O jornal argelino Le Quotidien d’Oran deu destacada notícia desta cimeira árabe-islâmica e, em primeira página, publicou uma foto de família e salientou que a Cimeira de Doha “recomendou uma frente unida contra a ameaça sionista”. 
É a unidade árabe-islâmica que se aproxima?

quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Isaac Nader: o algarvio campeão mundial

Ninguém conhecia Isaac Nader até que se tornou campeão do mundo dos 1500 metros no World Athletics Championships que estão a decorrer em Tóquio e a edição de hoje do jornal Público prestou-lhe uma justa homenagem, ao publicar a sua fotografia a toda a largura da primeira página, o que nenhum jornal desportivo português fez porque estavam todos envolvidos com a mexeriquice à volta do novo treinador de futebol do Benfica que, durante várias horas, monopolizou toda a atenção da comunicação social portuguesa. Só aqueles que "viram, ouviram e leram" sabem bem que a cobertura em espaço e em tempo que foi dada ao treinador Mourinho é um caso notável de provincianismo e de mediocridade jornalística.
O desconhecido Isaac Zambujeiro Nader nasceu em Faro, tem 26 anos de idade e é filho de um futebolista marroquino que jogou futebol em Portugal e da portuguesa Ana Zambujeiro. Habituados, como ainda estamos, a lembrar os campeões olímpicos Carlos Lopes, Rosa Mota e Fernanda Ribeiro e alguns poucos mais atletas, talvez já estivéssemos conformados com o não aparecimento de um atleta capaz de ser campeão mundial numa corrida de pista, mas ele aí está. Com humildade e confiança ganhou a sua prova com autoridade e fez com que A Portuguesa se ouvisse na capital do Japão. 
Entretanto, já declarou que trabalha todos os dias para chegar a 2028 na sua melhor forma física e psicológica, o que significa que aposta numa vitória nos próximos Jogos Olímpicos, que vão realizar-se em Los Angeles.
Aqui felicitamos o nosso campeão mundial Isaac Nader e lhe desejamos boa sorte para o seu sonho desportivo de 2028.

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

O salto à vara e o fenómeno Duplantis

Está a decorrer em Tóquio até 21 de Setembro o World Athletics Championships, em que o atleta sueco Armand Duplantis saltou 6,30 metros e voltou a bater o record mundial do salto à vara pela 14ª vez na sua carreira. O jornal L’Équipe dedicou-lhe a sua primeira página com uma expressiva fotografia e classificou-o como galáctico, mas a imagem do salto de Duplantis a passar a fasquia com elegância e segurança ilustrou muitos jornais internacionais, rendidos à sua capacidade atlética, que aparenta ser única na sua geração.
Nasceu nos Estados Unidos de mãe sueca e pai norte-americano, mas dele se pode dizer que “filho de peixe sabe nadar”, pois os seus pais já eram atletas de bom nível e o pequeno Armand parece que aos 4 anos de idade já saltava à vara.
O facto é que aos 25 anos de idade, é bicampeão olímpico com triunfos em Tóquio 2021 e Paris 2024, mas também é tricampeão mundial com títulos conquistados em em 2022 em Eugene/Estados Unidos, em 2023 em Budapeste e agora em 2025 em Tóquio.
A primeira vez que Duplantis bateu o recorde do mundo foi em Fevereiro de 2020 com um salto de 6,17 metros, mas desde então bateu o seu próprio recorde 14 vezes e, centímetro a centímetro, já vai em 6,30 metros.
Armand Duplantis é realmente um fenómeno do desporto, mas também um artista, que optou pela nacionalidade da mãe nas competições internacionais. No entanto, a sua conta bancária deve ser bem mais pequena do que a conta de qualquer futebolista ou tenista de segunda categoria, para não referir os pilotos da Formula 1, os futebolistas de topo ou os basquetebolistas da NBA.
Com as actuais varas de fibra de vidro o salto à vara já não é o que era, mas Duplantis é realmente muito grande!

terça-feira, 16 de setembro de 2025

A Espanha mostra solidariedade com Gaza

Apesar de serem cada vez mais as vozes que que se levantam contra a agressão desproporcionada e o criminoso genocídio com que os radicais do governo de Netanyahu estão a exterminar o povo de Gaza, nada parece travá-los, sobretudo porque têm a cumplicidade de Donald Trump e de muitos líderes europeus, que parecem ignorar o que são Direitos Humanos, bem como a indignação e a repulsa dos seus cidadãos pelo que sofrimento que vêm todos os dias nas televisões.
A Espanha e o governo de Pedro Sánchez têm sido uma honrosa excepção ao vergonhoso comportamento dos líderes europeus, desprovidos de coragem, sem dignidade e muito amedrontados com o discurso ameaçador dos israelitas, merecendo toda a gratidão do mundo civilizado pela forma como têm denunciado a violência verdadeiramente terrorista, com que o governo de Benjamin Netanyahu está a conduzir a sua criminosa campanha de terror e de morte contra o povo palestiniano, a pretexto de libertar alguns reféns.
Durante a realização da Volta a Espanha 2025, uma das mais importantes provas do calendário ciclista internacional, houve uma continuada exibição de bandeiras da Palestina ao longo do percurso e algumas tentativas de bloquear a corrida, por vezes com algum sucesso. Poderia ser uma acção organizada de marketing político a favor da causa palestiniana sem suporte popular, mas o que aconteceu em Madrid no último dia da prova, que é destacado pelo jornal El País, quando milhares de espanhóis protestaram contra o facto de haver uma equipa israelita em prova e apoiaram o povo palestiniano, foi o maior grito de revolta até agora surgido na Europa contra o terror de Netanyahu.
Desportivamente, o nosso João Almeida terminou num brilhante segundo lugar, mas essa destacada classificação foi abafada pelo protesto da capital espanhola por Gaza.

sábado, 13 de setembro de 2025

Catalunha esqueceu ideal independentista

A Diada ou a Diada de l’Onze de Setembre, é o Dia Nacional da Catalunha, a grande festa nacionalista dos catalães, que a celebram todos os anos com grande entusiasmo, sobretudo os sectores políticos e sociais independentistas.
O problema da independência da Catalunha teve um ponto alto quando, no dia 27 de Outubro de 2017, o Parlamento da Catalunha declarou a separação da Espanha e a independência da República Catalã, na sequência de acção política nas ruas, de um referendo ilegal e de uma declaração unilateral de independência de Carles Puigdemont, que então era o presidente da Generalitat de Catalunya. A partir de então e sem apoios internacionais e a firme oposição do governo espanhol, o ideal independentista catalã perdeu fulgor e, todos os anos, esse facto tem sido referido pela imprensa.
Neste ano de 2025, a Generalitat de Catalunya, agora presidida por Salvador Illa i Roca, membro do Partido Socialista da Catalunha, decidiu promover a Diada como a festa mais apetecida dos catalães, tratando de publicar na primeira página dos vários jornais da Catalunha um anúncio mobilizador, inspirado na obra gráfica do catalão Joan Miró.  Porém, a independência catalã já não é o que era e, nas manifestações em Barcelona, Girona e Tortosa, terão participado apenas 40 mil pessoas. Na cidade de Barcelona, segundo os Mossos d'Esquadra, participaram 28 mil pessoas, o número mais baixo da última década e metade do número de participantes em 2024.
No entanto, a manifestação de Barcelona foi intensa e apelou à desobediência, encerrando com a tradicional queima das bandeiras da Espanha e da França, à qual se juntou a bandeira israelita, sob o slogan "Nem França nem Espanha, Países Catalães".
Como escreveu o El País, “la Diada expone la falta de movilización secesionista”.

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Os golpistas brasileiros foram condenados

Numa decisão inédita da História do Brasil o Supremo Tribunal Federal (STF) reunido em Brasília condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete réus, entre os quais cinco militares, sendo três generais, um almirante e um tenente-coronel.
O ex-presidente foi condenado a 27 anos de prisão e quatro dos sete réus foram condenados a penas entre os 20 e os 26 anos de prisão, tendo essa notícia feito manchete na imprensa brasileira, como por exemplo na Folha de S.Paulo. Foi a primeira vez que a Justiça brasileira puniu militares por terem atentado contra a Democracia e por organizarem um golpe de Estado, mas esse facto é ainda mais relevante porque, nos últimos 80 anos, só na Coreia do Sul, na Turquia e no Uruguai aconteceram condenações semelhantes. 
Esta condenação significa que o poder judicial brasileiro é independente e soberano, exactamente como deve ser num Estado de Direito, apesar de ter estado, e continuar a estar, sujeito a pressões e ameaças, inclusive dos Estados Unidos e do seu controverso presidente Donald Trump. Com este julgamento, o Brasil e o seu STF deram uma lição de maturidade  democrática aos Estados Unidos e ao mundo.
Porém, o sistema judicial brasileiro reconhece aos condenados o direito de interpor recurso das penas, isto é, impugnar as decisões judiciais que considerem injustas, pelo que se espera que Bolsonaro e os outros condenados recorram da sentença do STF.
Entretanto, a popularidade do presidente Lula da Silva subiu e 33% dos brasileiros consideram boa ou excelente a sua presidência, embora 38% a consideram má ou péssima.
Como se diz aqui em Portugal, parece que até ao lavar dos cestos é vindima…

terça-feira, 9 de setembro de 2025

A RPC e o desafio da nova ordem mundial

The Week é uma revista semanal que foi fundada no Reino Unido em 1995 e que a partir de 2001 passou a ter uma edição nos Estados Unidos, mas que não tem grande divulgação fora do espaço anglo-americano. Caracteriza-se por publicar notícias e colunas de opinião originalmente publicadas em órgãos de comunicação estrangeiros e em idiomas diferentes do inglês e, desta forma, a revista pretende mostrar-se imparcial e mostrar as “duas faces de qualquer moeda”, ao publicar textos que abrangem uma ampla gama de perspectivas.
Os seus textos e notícias são curtas para terem uma leitura rápida, cobrem todo mundo e são ilustradas com fotografias e gráficos explicativos, o que deve agradar aos seus leitores que, cada vez menos suportam textos longos e muito rebuscados.
Uma das mais curiosas características da revista são as excelentes ilustrações que habitualmente utiliza nas suas capas e que, quase sempre, “valem mais do que mil palavras”.
Na sua edição mais recente que foi divulgada no passado sábado, a capa tem como título Xi’s new world order, a challenge to the West e mostra o líder chinês Xi Jinping segurando o mundo com ambas as mãos. Trata-se de uma chamada de atenção para a 25ª Cimeira da Organização de Cooperação de Xangai que juntou na RPC duas dezenas de líderes mundiais, entre os quais Narendra Modi e Vladimir Putin, que já tinha sido classificada “uma frente anti-ocidental liderada pela China”.
Como já aqui referimos noutra oportunidade, a Ásia e o seu dinamismo económico e tecnológico, bem como a sua força demográfica, marcam pontos e o mundo já não é o que era… 
Entretanto, os líderes europeus fazem reuniões e passeiam as suas vaidades.

domingo, 7 de setembro de 2025

Vergonha! ...o justo grito dos europeus

A capa da mais recente edição da revista italiana L’Espresso vale mais que mil palavras e o título escolhido – vergonha – exprime o sentimento de muitos europeus, certamente muitos milhões de homens e mulheres indignados com a forma desumana e assassina como os extremistas de Israel estão a castigar os palestinianos em Gaza, mas também pela insensibilidade, calculismo e cumplicidade como a União Europeia e alguns dos seus dirigentes mais destacados têm calado e consentido o genocídio que está a ser praticado. É uma vergonha, escreveu em título a revista italiana, pois os continuados silêncios de António Costa, de Ursula von der Leyen, de Kaja Kallas, de Roberta Metsola e de outros dirigentes, não são outra coisa.
Todos os dias somos confrontados com imagens de mais violência e mais destruição e com notícias de mais mortes, mais fome, mais desumanidade e mais sofrimento. A ideia sinistra de fazer de Gaza uma Riviera do Mediterrâneo Oriental parece estar em marcha, mas os dirigentes europeus assobiam para o lado e continuam hipocritamente a apresentar-se como os grandes defensores dos direitos humanos, havendo alguns dos seus países que continuam a alimentar o genocídio ao abastecer os extremistas israelitas com armas e munições.
Porém, a cumplicidade europeia para com Israel não é unânime. Alguns países europeus já tinham reconhecido o estado da Palestina antes de ingressar na União Europeia (Bulgária, Polónia, Chéquia, Eslováquia, Hungria, Roménia, Chipre e Suécia) e outros reconheceram-no em 2024 (Irlanda, Espanha e Eslovénia). Mais recentemente, alguns países anunciaram que neste mês de Setembro também o iriam reconhecer (França, Malta e Bélgica). Veremos.
Neste quadro de vergonha, salienta-se a dignidade da Espanha e do governo de Pedro Sánchez que, não só reconheceu o estado da Palestina, como tem defendido a exclusão de Israel de todas competições internacionais, desportivas e outras, comparando a situação com a exclusão da Rússia após a invasão da Ucrânia.

sábado, 6 de setembro de 2025

João Almeida brilhou no cimo do Angliru

Que os desportistas portugueses me desculpem, sobretudo os que apreciam os sucessos dos nossos futebolistas, canoístas, hoquistas, andebolistas e outros praticantes desportivos de alta notoriedade e, por vezes, de grande valor, mas o desempenho ciclista de João Almeida na Vuelta a España 2025 que está a decorrer e que diariamente podemos acompanhar em directo através das transmissões televisivas, está a ser simplesmente notável.
Ontem, nas montanhas do Principado das Asturias, o ciclista João Almeida dominou e venceu a 13ª etapa da prova, corrida entre Cabezón de la Sal e o mítico Alto de L’Angliru, cujo troço final com 12,4 quilómetros tem um declive médio de 9,8%, o que faz deste troço a a escalada mais famosa e mais temida da Vuelta.
O jornal A Bola, provavelmente recordado dos êxitos de Joaquim Agostinho na Vuelta a España (2º em 1974) e no Tour de France (3º em 1978 e 1979), destacou a exibição de João Almeida que, realmente, “brilhou nas alturas” e deu uma grande alegria aos milhares de portugueses que o incitaram com bandeiras e aplausos ao longo da íngreme subida.
A escalada do Alto de L’Angliru só entrou na Vuelta em 1999, mas desde logo os seus vencedores adquiriram um estatuto especial, com os seus nomes a serem gravados num obelisco apropriado que foi instalado no local. Assim, o nome de João Almeida vai ficar gravado nesse obelisco pela vitória brilhante, em que percorreu a subida num excepcional tempo, pois gastou apenas mais um segundo do que o melhor tempo alguma vez feito por um ciclista naquela subida. 
Parabéns ao grande atleta de A-dos-Francos, no concelho das Caldas da Rainha!

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

A tragédia que se abateu sobre Lisboa

Ao fim da tarde do dia 3 de Setembro, a notícia correu rápida a anunciar a tragédia: o centenário Elevador da Glória, que através da Calçada da Glória faz a ligação entre o Bairro Alto e a Praça dos Restauradores, em Lisboa, teve um gravíssimo acidente quando o seu cabo estrutural de segurança se partiu e o elevador descarrilou do seu trilho e deslizou a grande velocidade no percurso descendente da calçada, até se desfazer contra a parede na única curva do percurso. A íngreme calçada tem cerca de 275 metros de extensão e um acentuado declive de cerca de 17%, pelo que a velocidade do elevador foi muito elevada e a colisão foi brutal.
Foi uma enorme tragédia que abalou o país e que teve grande repercussão internacional, como se observa por exemplo no diário holandês NRC, pois nela perderam a vida 16 pessoas – portugueses (5), britânicos (3), sul-coreanos (2), canadianos (2), suiço (1), ucraniano (1), americano (1) e francês (1) – além de 23 feridos, dos quais seis deles se encontram em estado grave.
O Elevador da Glória está classificado desde 2002 como Monumento Nacional e é operado pela Companhia Carris de Ferro de Lisboa, uma empresa municipal que é tutelada pela Câmara Municipal de Lisboa. Porém, até ao momento ninguém assumiu responsabilidades técnicas ou políticas pela tragédia, surgindo as mais diversas explicações por parte dos especialistas a que as televisões recorrem, enquanto o presidente Carlos Moedas já está calado há 48 horas.
Foi uma grande tragédia que evidencia situações muito graves e que urge esclarecer, mas muitos lembram que Moedas reclamou a demissão do seu antecessor Medina por situações bem menos graves…

terça-feira, 2 de setembro de 2025

A ambição por uma nova ordem mundial

A 25ª Cimeira da Organização de Cooperação de Xangai decorreu na cidade chinesa de Tianjin durante dois dias a convite de Xi Jinping, tendo juntado duas dezenas de dirigentes mundiais, entre os quais o indiano Narendra Modi, o russo Vladimir Putin e o iraniano Massoud Pezeshkian, mas também o secretário-geral das Nações Unidas António Guterres, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan e o primeiro-ministro eslovaco Robert Fico, com a particularidade destes serem membros da NATO e um deles membro da União Europeia.
Na sua edição de hoje o jornal Le Monde escolheu como título “La Chine au centre d’un front anti-Occident” porque, com esta cimeira, a China procurou intensificar a cooperação económica, energética e digital entre aqueles países, mas também apresentar-se e ser reconhecida como o motor de um multilateralismo “não ocidental”. Em Tianjin estiveram representados quase quatro mil milhões de pessoas que correspondem a cerca de 50% da população mundial e os seus dirigentes ouviram o presidente chinês denunciar a “mentalidade da guerra fria e as acções intimidatórias dos Estados Unidos e dos seus aliados” e apelar “à união das forças do Sul Global”, posicionando-se como o líder desse movimento. Uma das maiores surpresas desta cimeira foi a presença em Tianjin de Narendra Modi, antes rival e agora parceiro de Xi Jinping porque, segundo afirma o jornal, “humilhada por Trump, a India aproxima-se de Pequim”. 
A ambição por uma nova ordem mundial é evidente e, depois da Cimeira de Tianjin, o presidente Xi Jinping vai mostrar ao mundo em Pequim, uma grande parada militar para assinalar o 80º aniversário da rendição do Japão no final da Segunda Guerra Mundial no Oriente, a que assistirão a maioria dos dirigentes que participaram na cimeira e, ainda, o norte-coreano Kim Jong-un. 
A Ásia e o seu dinamismo marcam pontos e o mundo já não é o que era…