sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Macau é uma pérola na palma da mão

Tanto a imprensa da República Popular da China (RPC) como a imprensa da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) destacaram nas suas últimas edições a visita que o presidente Xi Jinping está a fazer ao território de Macau, a propósito da celebração do 25º aniversário da sua transferência da soberania portuguesa de Macau para a soberania da RPC, que aconteceu no dia 20 de Dezembro de 1999.
Os portugueses estabeleceram-se na pequena península de Macau em meados do século XVI e, apesar de diversas contingências sucedidas ao longo de cerca de 450 anos, o território e a sua população conservaram sempre relações amistosas com a China. Depois de negociações entre Portugal e a RPC acontecidas após a democratização portuguesa, a “Declaração Conjunta Sino-Portuguesa sobre a Questão de Macau”, assinada no dia 13 de Abril de 1987, veio definir Macau como um “território chinês sob administração portuguesa” e agendar a transferência da soberania para o já referido dia 20 de Dezembro de 1999. Esse documento incluía uma série de compromissos e garantias que permitiam um considerável grau de autonomia a Macau, bem como a conservação das suas especificidades, incluindo a manutenção da língua portuguesa e o modo de vida macaense. Após 25 anos de soberania chinesa, vários indicadores mostram que perdura e é respeitada a memória portuguesa em Macau e que há um grande esforço para preservar a língua portuguesa.
O jornal Global Times, um jornal diário alinhado com o Partido Comunista Chinês, destacou a visita de Xi Jinping a Macau e escolheu para manchete a sua expressiva declaração: 
“Macau é uma pérola na palma da mão da Pátria”.

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Prémio Sakharov e a oposição venezuelana

A edição de hoje dos principais diários portugueses, casos do Jornal de Notícias, do Público e do Correio da Manhã, incluiu um anúncio publicitário de uma página, pago pelo Parlamento Europeu, em homenagem aos laureados com o Prémio Sakharov 2024, respectivamente María Corina Machado, líder das forças democráticas da Venezuela, e Edmundo González Urrutia, presidente eleito do país.
María Corina Machado que foi escolhida como representante da Plataforma Unitária Democrática para disputar as eleições presidenciais de 2023 contra o chavista Nicolas Maduro, foi impedida pelas autoridades venezuelanas de se apresentar à eleição, vindo a ser substituída pelo diplomata Edmundo González Urrutia. 
As eleições realizaram-se no dia 28 de Julho e Nicolas Maduro auto-proclamou-se vencedor, ignorando as acusações de grossa fraude eleitoral, mas o provável vencedor González Urrutia foi internacionalmente reconhecido como vencedor.
O povo festejou nas ruas a sua vitória, mas Nicolas Maduro não reconheceu a sua derrota e nunca aceitou a divulgação das actas eleitorais, tratando de perseguir os oposicionistas, que enfrentaram a repressão chavista do regime de Nicolas Maduro. González Urrutia acabou por se exilar em Espanha, mas María Corina Machado permaneceu na Venezuela por vontade própria. Agora, o Parlamento Europeu veio reconhecer a justeza e a coragem da sua luta pela democracia na Venezuela.
O Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento foi instituído em 1988 pelo Parlamento Europeu, quando o físico nuclear e dissidente russo Andrei Sakharov estava exilado em Gorky, sendo atribuído anualmente a personalidades ou entidades que se esforçam por defender os direitos humanos e as liberdades fundamentais. 
O prémio foi hoje entregue pela presidente do Parlamento Europeu numa cerimónia realizada em Estrasburgo, na qual González Urrutia esteve presente e María Corina Machado foi representada pela filha.
Tal como o Parlamento Europeu, também aqui prestamos homenagem àqueles que na Venezuela lutam pela democracia.

domingo, 15 de dezembro de 2024

Síria: indefinição, apreensão e incerteza

Decorreu apenas uma semana desde a fuga do ditador Bashar al-Assad e a entrada em Damasco dos rebeldes do Hayat Tahir-al Shams (HTS) e do seu líder Abu Mohammad al-Jowlani.
Segundo as imagens que nos chegam, a cidade de Damasco está em festa com a sua libertação do regime dos Assad e uma onda de esperança e de optimismo alastra pelo país. A diáspora síria também festeja e muitos querem regressar, embora também haja algumas minorias que desconfiam dos novos poderes e querem abandonar o país.
A situação é de euforia como mostra a capa da mais recente edição da revista Der Spiegel, mas o mais elementar bom senso mostra que o mundo deve estar apreensivo. A Síria viu-se livre de Bashar al-Assad, mas ninguém se atreve a adivinhar o futuro, que tanto pode ser de estabilidade, como de mais uma dura guerra. A Síria é uma manta de retalhos de etnias, de religiões e de grupos armados rivais. O Estado sírio implodiu, grande parte do país está destruido e as ambições dos vizinhos são ilimitadas. A Turquia viu-se livre dos Assad e vê agora uma boa oportunidade para resolver a seu favor a questão curda. Israel não disfarça a sua política agressiva para com o vizinho sírio para o atemorizar e, provavelmente, para ocupar uma parte do seu território. Os Estados Unidos já trataram de mandar para a região o seu enviado especial Antony Blinken. A Rússia e o Irão, aparentemente derrotados, continuam silenciosos e sem justificar porque deixaram cair Bashar al-Assad. Este é o sombrio panorama sírio, que a alegria da libertação parece esconder.
Entretanto, o líder Abu Mohammad al-Jowlani começou a usar a sua verdadeira identidade – Ahmed al-Sharaa – certamente para mudar a sua imagem radical e torná-la mais moderada. Este sírio de 42 anos de idade, que nasceu na Arábia Saudita mas que viveu na cidade de Damasco desde os 7 anos de idade, aderiu ao jihadismo da al-Qaeda no Iraque, passou pelo Daesh e a partir de 2017 cortou com a al-Qaeda e criou o Hayat Tahir-al Shams (HTS), uma organização que as Nações Unidas, os Estados Unidos, o Reino Unido e muitos outros países consideram terrorista.
É caso para usar uma famosa e popular frase: prognósticos só no fim do jogo…

sábado, 14 de dezembro de 2024

A nova alternativa: canhões ou manteiga

Um político holandês de 57 anos de idade e de nome Mark Rutte é, desde o dia 1 de Outubro de 2024, o 14º Secretário-Geral da NATO, sucedendo ao norueguês Jens Stoltenberg que ocupou aquele cargo durante dez anos. Parece não haver mudanças significativas na orientação ideológica da NATO e se Stoltenberg vivia obcecado com a possibilidade de uma invasão russa e dizia “mata”, temos agora Rutte a dizer “esfola”, ao afirmar que “o perigo está a avançar na nossa direção a toda velocidade” e, ao mesmo tempo, a expressar a convicção de que “não estamos preparados para o que está para vir em quatro ou cinco anos”.
O holandês nem esperou pela posse de Donald Trump e já avisou que os cidadãos dos 32 países-membros da NATO devem “aceitar fazer sacrifícios”, como cortes nas suas pensões, na saúde e nos sistemas de segurança social, para aumentar as despesas com a defesa e garantir a segurança a longo prazo na Europa, isto é, aumentar o valor de referência das suas despesas de defesa dos actuais 2% para 3% do PIB, como referia o Finantial Times na sua edição de ontem.
Mark Rutte náo teve tempo de consultar ninguém. Falou por si, pelo seu partido, pelos seus princípios e até se pode pensar que também falou por Portugal. Mas não é assim. Portugal é um membro fundador da NATO, mas é um estado soberano com órgãos democráticos que decidem a forma como devem ser repartidas as suas despesas entre “canhões ou manteiga”. As suas despesas na área da defesa são actualmente da ordem dos 4.186 milhões de euros, mas o primeiro-ministro – com base não se sabe em quê – já veio dizer que podem atingir os 6 mil milhões de euros em 2029. Com que base e com que direito?
A escolha entre “canhões ou manteiga” obedece a regras constitucionais e nenhum poder político tem legitimidade para fazer essas escolhas à margem da vontade dos portugueses, ou não é um qualquer Rutte que nos diz como devemos aplicar os nossos escassos recursos.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

5º centenário da morte de Vasco da Gama

Vasco da Gama é a personalidade que, nos nove séculos do percurso histórico português, teve maior reconhecimento no mundo por ter sido o comandante da expedição marítima que em 1498 chegou à Índia e iniciou o encontro de dois mundos e duas culturas – europeia e asiática – cuja mútua existência ainda era mal conhecida. Essa viagem marítima mudou o mundo e deu origem ao fenómeno da globalização. O poeta Fernando Pessoa veio a escrever que essa viagem fez com “que o mar unisse, já não separasse” e o reputado historiador inglês Arnold Toynbee escreveu que, com essa viagem, se iniciou a era gâmica ou a era de Vasco da Gama.
Vasco da Gama nasceu em Sines cerca de 1469 e o rei D. Manuel recompensou-o, fazendo-o conde da Vidigueira e Almirante-Mor dos Mares da Arábia, Pérsia, Índia e todos os Orientes, mas a sua carreira também ficou marcada por comportamentos agressivos que hoje se diriam violadores dos direitos humanos.
À sua primeira viagem (1497-1499), sucedeu uma segunda expedição (1502-1503) e uma terceira viagem em 1524. Foi nesta terceira viagem que morreu na cidade de Cochim na véspera do Natal de 1524, provavelmente vítima de paludismo, tendo sido sepultado na igreja de S. Francisco. Em 1539 os seus restos mortais foram transladados para Portugal, mas a lápide tumular original ainda se conserva naquela igreja.
A evocação do 5º centenário da morte de Vasco da Gama tem sido ignorada pelas nossas autoridades culturais e políticas, o que é lamentável. Porém, devem ser elogiadas as iniciativas editoriais da revista Visão, mas também da revista Sábado, que assim prestaram um bom serviço à nossa memória histórica e às nossas heranças culturais.

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Na velha União Europeia... o rei vai nu!

A Europa vive tempos muito difíceis e o jornal catalão Ei Punt Avui, na primeira página da sua edição de hoje, publica as imagens de cinco líderes europeus e, como manchete, escolhe a frase “luta pelo poder na UE”. Depois, o jornal acrescenta que a União Europeia acusa falta de liderança num contexto marcado pela guerra na Ucrânia, pela debilidade do eixo franco-alemão, pela ascensão da extrema-direita e pelo regresso de Donald Trump.
São tudo verdades inquestionáveis e preocupantes mas que, lamentavelmente, não têm sido tratadas pelos meios de comunicação europeus com o destaque que se justifica. A União Europeia bem procura mostrar uma unidade que na realidade não existe, porque as nacionalidades e os nacionalismos persistem, gerando egoismos e rivalidades, com cada estado-membro a procurar sobrepor os seus interesses aos dos seus parceiros. O projecto europeu de paz, de progresso e de solidariedade que nasceu com o Tratado de Roma, está a dar lugar a um projecto geopolítico dirigido por Ursula von der Leyen que, em vez de se preocupar com os problemas dos europeus e procurar arbitrar os conflitos em curso, tem optado por dar todo o seu apoio aos regimes de Kiev e de Telavive, o que claramente serve o complexo militar-industrial e enfraquece a Europa. Macron é uma tristeza para os franceses. Scholz é uma desilusão para os alemães.
Encravada entre a meteórica ascensão da Ásia e o poderio existente do outro lado do Atlântico, a Europa está a tornar-se cada dia mais irrelevante no mundo, com menos paz, menos progresso e menos solidariedade, mas também com menos prestígio na comunidade internacional. O que se pode dizer da Europa do declínio, do envelhecimento, da pobreza, da imigração, da recessão económica, das vaidades e de tantos outros problemas, é que o rei vai nu…

segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

A Venezuela e as suas rainhas de beleza

Numa altura em que os concursos de beleza são muito contestados e são objecto de muita controvérsia um pouco por todo o mundo, alegadamente por serem expressões de menor dignidade da pessoa humana e expressões de sexualização, o jornal venezuelano Diario 2001 que se publica em Caracas, deu alargado destaque ao concurso de Miss Venezuela 2025.
O concurso nacional de beleza feminina é realizado anualmente na Venezuela para escolher as representantes nacionais para os concursos de Miss Universo, Miss Mundo e Miss Beleza Internacional e, de acordo com a informação disponível, esses concursos de beleza serão, juntamente com as telenovelas, as principais actividades destinadas à promoção da imagem externa da Venezuela. Significa, portanto, que os concursos de beleza são um elemento importante na cultura no país de Nicolas Maduro e, na realidade, o país apresenta o eloquente palmarés de sete títulos de Miss Universo, seis títulos de Miss Mundo e nove títulos de Miss Beleza Internacional. Nenhum país do mundo tem tantas beldades! Que orgulho devem sentir todos os venezuelanos!
A notícia do Diario 2001 informa que Stephany Abasali, uma estudante de Economia com 24 anos de idade e que representou o estado de Anzoátegui, foi a vencedora e vai ser a Miss Venezuela 2025. A partir de agora lá se vai o curso de Economia, porque a radiosa Stephany vai ser um objecto ao serviço de interesses comerciais e políticos.
Felizmente que Portugal não é a Venezuela e que, por cá, os concursos de beleza não fazem parte da nossa matriz cultural e são coisas marginais e desinteressantes a que ninguém dá atenção.

Treinadores portugueses vencem no Brasil

O Botafogo de Futebol e Regatas, ou simplesmente Botafogo, triunfou no Campeonato Brasileiro de Futebol, isto é, venceu o Brasileirão 2024, disso tendo feito manchete o jornal O Globo, na sua edição de hoje, com grande destaque. A cidade do Rio de Janeiro está em festa pois o clube venceu este título nacional pela terceira vez e quebrou um jejum de 29 anos, pois anteriormente só vencera o campeonato em 1968 e em 1995.
O Botafogo não tem estado ao nível de clubes como o Palmeiras, o São Paulo, o Corinthians e o Santos (estado de São Paulo), ou o Flamengo, o Fluminense e o Vasco da Gama (estado do Rio de Janeiro), além de outros, tendo nos últimos trinta anos descido de divisão três vezes.
Por isso, o seu triunfo no Brasileirão 2024 e, nove dias antes na Taça Libertadores da América, a principal competição de futebol da América Latina, levou a euforia às torcidas organizadas do Botafogo e da população deste bairro do Rio de Janeiro.
O treinador e principal responsável por este momento único na vida do centenário clube é o português Artur Jorge que, em nove dias, conduziu o Botafogo a dois prestigiosos títulos. Depois de Jorge Jesus no Flamengo e de Abel Ferreira no Palmeiras, o sucesso de Artur Jorge veio confirmar que os portugueses de maior notoriedade no Brasil desde o tempo do imperador D. Pedro, não são Pessoa, nem Saramago, nem Amália, mas sobretudo os treinadores de futebol. Quem diria?

O incerto (e perigoso) futuro da Síria

A imprensa mundial noticia hoje a queda da cidade de Damasco e a fuga de Bashar al-Assad para a Rússia. Aparentemente, em doze dias apenas, os “rebeldes” do grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS) de Abu Mohammad al-Jolani derrubaram o regime autoritário dos Assad e terminaram a guerra civil que se travava desde 2011. Nessa longa guerra participaram o Irão e a Rússia em apoio do regime sírio e, do lado das várias forças da oposição, os Estados Unidos, a Arábia Saudita, a Turquia e os Emirados Árabes Unidos, estimando-se que tenha havido mais de 14 milhões de refugiados e mais de 600 mil mortos.
O fim do regime de Bashar el-Assad foi anunciado com regozijo nas capitais europeias onde os seus líderes manifestaram satisfação pelo fim do ditador, mas sem comentarem se também foi o fim da ditadura.
Porém, há quem tema que o radicalismo do novo poder seja pior que o secularismo do regime de Bashar al-Assad. Há, também, quem se admire com a ausência de resistência das forças armadas sírias que se desintegraram e com a apatia dos aliados de Bashar el-Assad. A rapidez com que os “rebeldes” tomaram o poder em Damasco, a indiferença das forças russas e iranianas que estão no terreno e as instruções aparentemente deixadas por Bashar el-Assad para que se fizesse uma transição pacífica do poder, parecem revelar que esta operação-relâmpago teve contornos de concertação que ainda estão por esclarecer.
O jornal francês Libération escreve que a Síria caminha para o desconhecido e a imprensa chinesa alerta para que a mudança na Síria pode perturbar o Médio Oriente. O facto é que a queda dos ditadores naquela região do mundo não contribuiram para a paz, nem para a democracia, enquanto se tem visto muita inabilidade ocidental nesta região, onde Israel e o regime de Netanyahu fazem o que lhes apetece.

domingo, 8 de dezembro de 2024

A Síria e a queda de Bashar al-Assad

A imprensa internacional escolheu hoje como tema dominante das suas manchetes a reabertura da catedral de Notre-Dame e o encontro entre Donald Trump e Volodymyr Zelensky no qual, segundo algumas notícias, o presidente eleito americano terá “empurrado” Zelensky para uma negociação com Putin. Foram raros os jornais que trouxeram a crise síria para a primeira página das suas edições de hoje e um deles foi o jornal La Vanguardia que se publica em Barcelona, que escreveu com destaque que “los islamistas sírios alcanzan los suburbios de Damasco”. A notícia era surpreendente, porque não era imaginável que, em cerca de dez dias, os “rebeldes” tivessem ocupado as cidades de Aleppo e Homs e estivessem às portas de Damasco, aparentemente sem resistência das forças leais a Bashar al-Assad, nem a oposição dos seus aliados russos e iranianos.
Hoje de manhã, a notícia televisiva chegou inesperada pela sua rapidez: os “rebeldes” tinham entrado em Damasco e Bashar al-Assad tinha abandonado a capital e deixara o país num avião com a família, sem combates, nem oposição e com forte apoio popular. E foi tudo tão rápido que só amanhã a imprensa poderá noticiar a queda do regime sírio…
O fim do regime ditatorial sírio, que era dominado pela família Assad, foi saudado em muitos países mesmo sem se saber quem são e o que querem fazer os "rebeldes", mas também já se levantam vozes a referir a incerteza e os riscos que envolvem a transição, num quadro interno com o poder a ser repartido por vários grupos étnicos e religiosos e num quadro regional muito complexo.
Aí está mais um desafio para a estabilidade mundial e se nos lembrarmos do que aconteceu no Iraque, depois de Saddam Hussein, e na Líbia, depois de Muammar Kaddafi, talvez não tenhamos razões para entrar em euforia com a queda de Bashar al-Assad.

sábado, 7 de dezembro de 2024

Reabertura da nova Notre-Dame de Paris

No dia 15 de Abril de 2019 um violento incêndio destruiu a histórica catedral Notre-Dame de Paris, um símbolo da cidade e do cristianismo, que é classificada como Património Mundial pela Unesco e que, então, recebia 12 milhões de visitantes por ano.
A derrocada da catedral que começou a ser construida no século XII na île de la Cité, rodeada pelas águas do rio Sena, foi um enorme choque emocional para os franceses, mas também para o mundo, com a visão em directo das imagens televisivas da catástrofe. Foi imediatamente decidida a reconstrução da catedral e cerca de 340.000 doadores asseguraram a coleta de fundos suficiente para custear os trabalhos de reconstrução e restauro, que se prolongaram por cinco anos e custaram 700 milhões de euros.
Hoje, vai realizar-se a festa da reabertura da Notre-Dame, a que assistirão cerca de cinco dezenas de chefes de Estado e de governo, com a imprensa francesa, designadamente o jornal Le Parisien, mas também alguma imprensa internacional, a dedicarem largos espaços a este acontecimento cultural de importância mundial. É a festa da catedral de Notre-Dame, a festa do Património Mundial e a festa da França.
Porém, nem tudo são rosas nesta festa francesa, em que o presidente Macron quer ser o rei, pois o governo de Barnier está demitido e andam todos muito nervosos. Além da crise política, também a economia francesa está em perda, havendo grandes preocupações quanto ao futuro e teme-se que a característica agitação social dos franceses se revele, sobretudo através do Mouvement des gilets jaunes.
No entanto, é bem possível que os franceses se fiquem apenas com um sentimento de orgulho pela reconstrução da Notre-Dame e que esqueçam os protestos, por agora...

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

As crises políticas que afectam a Europa

O Parlamento francês votou uma moção de censura contra o governo de Michel Barnier, que se demitiu e deixou a França sob uma grave crise política, a que se junta uma crise económica traduzida por um défice público de 6,2% do PIB, que é o maior desequilibrio orçamental da Zona Euro, bem como uma dívida pública de 112% do PIB. O jornal Le Télégramme destaca hoje em manchete que “Barnier censuré, Macron isolé”, enquanto um outro jornal escreve que “Macron plus fragilisé que jamais”.
Marcelo Rebelo de Sousa, uma vez mais vestido de comentador, veio afirmar de imediato que a queda do governo francês é um “sinal de como a Europa está cheia de problemas”. Afirmar agora que a Europa está cheia de problemas é uma evidência, ou mesmo uma la palissada, porque a incapacidade dos actuais líderes europeus já vem de longe, até porque se entregaram a Ursula van der Leyen, que tem um protagonismo excessivo e pouco imaginativo, mas que ainda não teve tempo para condenar Israel pelo genocídio a que está a sujeitar o povo palestiniano.
A França vive uma situação muito complexa e há quem exija a demissão de Emmanuel Macron, mas a Alemanha também passa por grandes dificuldades, com a economia em recessão e com o pior desempenho económico da União Europeia, mas também com a coligação governamental chefiada por Olaf Scholz a desfazer-se, pelo que haverá eleiçóes antecipadas em Fevereiro.
Estamos a caminho de um vazio político em França e na Alemanha, as duas maiores e mais influentes potências económicas da União Europeia e essa circunstância é altamente preocupante e desprestigiante para a Europa. Podem vir aí dias sombrios…

quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

A próspera Europa tem muita pobreza…

A imprensa portuguesa divulgou hoje que, segundo os dados do INE, ”um quinto dos portugueses acima dos 65 anos é pobre”.
Numa época de prosperidade como aquela em que vivemos, em que as pessoas viajam e compram automóveis, a existência de tantos pobres na nossa sociedade tem que ser interpretada como uma aberração e uma violação dos direitos humanos.
A definição de pobreza e de pobre envolve, sobretudo, a falta de recursos e de rendimentos que assegurem a subsistência, mas também se manifestam através da fome, do limitado acesso à educação e da exclusão social, mas o conceito não é consensual. O INE afirma que em 2023, cerca de um milhão e 760 mil portugueses viviam com menos de 632 euros por mês, embora realçando que a taxa de pobreza em Portugal tivera uma ligeira diminuição em 2023.
No conjunto da União Europeia e de acordo com o Eurostat, em 2023 o risco de pobreza ou exclusão social era de 21,4%, correspondente a 94,6 milhões de europeus, sendo mais grave nos territórios ultramarinos franceses, no sul da Itália e nas regiões rurais da Roménia, parecendo que o problema em Portugal terá menos gravidade.
A edição de hoje do jornal La Provence que se publica em Marselha, destaca em manchete que 17.4% da população da Provença – uma região do sueste da França na orla do Mediterrâneo, onde se localiza a famosa Côte d’Azur – é pobre. Com tanta pobreza, era importante que os líderes europeus atacassem o drama da pobreza e não desperdissassem recursos nos conflitos em curso, que bem poderiam ser resolvidos pela via da diplomacia e da negociação.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Carlos Tavares e o abandono da Stellantis

Desde que se consolidou o regime democrático em Portugal e o nosso país deixou de estar isolado e “orgulhosamente só”, os portugueses deixaram de ter o estigma do emigrante pobre que procurava no estrangeiro aquilo que a sua terra não lhe proporcionava e passaram a “competir” internacionalmente em várias actividades, atingindo níveis nunca dantes alcançados. Os portugueses passaram a mostrar que eram tão capazes como os outros e a ser reconhecidos. Podem citar-se José Saramago e Cristiano Ronaldo, Paula Rego e Álvaro Siza Vieira e, sobretudo, aqueles que ocupam posições de grande notoriedade mundial como António Guterres e António Costa, embora outros nomes pudessem ser mencionados.
Hoje, vários jornais franceses e italianos, entre os quais o Vosges matin, um diário regional que se publica na cidade de Épinal, situada no nordeste da França, destacam o gestor português Carlos Tavares por se ter demitido do cargo de administrador executivo da Stellantis, um gigantesco grupo multinacional do sector automóvel que, entre outras, possui as marcas Abarth, Alfa Romeo, Chrysler, Citroën, Dodge, Fiat, Jeep, Lancia, Maserati, Opel. Peugeot e Vauxhall. É uma grande nau e por isso susceptível de grande tormenta.
Acontece que o sector automóvel europeu está em crise considerada grave. Essa crise chegou à Stellantis que baixou as suas vendas em 8,6%, o que se revelou catastrófico num grupo que oferece 12,9 milhões de postos de trabalho e é responsável por mais de 7% do produto interno bruto da União Europeia. Carlos Tavares não resistiu e demitiu-se. Era, provavelmente, o mais importante gestor português, muito reconhecido no sector automóvel europeu. 
Pode ser que agora regresse a este jardim à beira-mar plantado e que nos ajude a sair da cepa torta.

A violência e a guerra de regresso à Síria

Na passada sexta-feira, dia 29 de Novembro, um numeroso grupo de oposicionistas sírios, congregados em torno da facção Hay’et Tahrir al-Sham (antiga Frente al-Nusra), lançou uma operação-relâmpago contra a cidade de Aleppo, que era controlada pelo Exército Árabe Sírio, isto é, pelas forças militares comandadas pelo presidente Bashar al-Assad. 
De acordo com as notícias divulgadas, os rebeldes sírios tomaram o controlo de Aleppo, sendo a primeira vez, desde 2016, que a cidade é palco de uma batalha de grandes proporções. Este inesperado ataque é o mais intenso que acontece no noroeste da Síria desde 2020, o ano em que a Rússia e a Turquia chegaram a um acordo para acalmar o conflito, depois que as forças governamentais sírias tomaram áreas anteriormente controladas por combatentes de diversos grupos oposicionistas. Entretanto a Rússia já informou que a sua força aérea foi em socorro do exército sírio e é natural que o Irão também avance para apoiar as forças sírias agora derrotadas em Aleppo. 
O jornal francês L’Humanité anuncia hoje que a queda de Aleppo é o regresso da guerra e que os jihadistas tiveram o apoio activo da Turquia. 
Pensava-se que a guerra na Síria, iniciada em 2011, já tinha acabado, sobretudo devido ao enorme apoio da Rússia e do Irão ao regime de Bashar al-Assad, mas esta ofensiva do grupo Hay’et Tahrir al-Sham, que é considerado um grupo terrorista pelos Estados Unidos, Rússia, Turquia e alguns outros estados, veio mostrar como o mundo se agita cada vez mais no Médio Oriente, mas também noutras regiões. 
O reaparecimento do conflito sírio só vem complicar o já preocupante panorama internacional.