terça-feira, 2 de setembro de 2025

A ambição por uma nova ordem mundial

A 25ª Cimeira da Organização de Cooperação de Xangai decorreu na cidade chinesa de Tianjin durante dois dias a convite de Xi Jinping, tendo juntado duas dezenas de dirigentes mundiais, entre os quais o indiano Narendra Modi, o russo Vladimir Putin e o iraniano Massoud Pezeshkian, mas também o secretário-geral das Nações Unidas António Guterres, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan e o primeiro-ministro eslovaco Robert Fico, com a particularidade destes serem membros da NATO e um deles membro da União Europeia.
Na sua edição de hoje o jornal Le Monde escolheu como título “La Chine au centre d’un front anti-Occident” porque, com esta cimeira, a China procurou intensificar a cooperação económica, energética e digital entre aqueles países, mas também apresentar-se e ser reconhecida como o motor de um multilateralismo “não ocidental”. Em Tianjin estiveram representados quase quatro mil milhões de pessoas que correspondem a cerca de 50% da população mundial e os seus dirigentes ouviram o presidente chinês denunciar a “mentalidade da guerra fria e as acções intimidatórias dos Estados Unidos e dos seus aliados” e apelar “à união das forças do Sul Global”, posicionando-se como o líder desse movimento. Uma das maiores surpresas desta cimeira foi a presença em Tianjin de Narendra Modi, antes rival e agora parceiro de Xi Jinping porque, segundo afirma o jornal, “humilhada por Trump, a India aproxima-se de Pequim”. 
A ambição por uma nova ordem mundial é evidente e, depois da Cimeira de Tianjin, o presidente Xi Jinping vai mostrar ao mundo em Pequim, uma grande parada militar para assinalar o 80º aniversário da rendição do Japão no final da Segunda Guerra Mundial no Oriente, a que assistirão a maioria dos dirigentes que participaram na cimeira e, ainda, o norte-coreano Kim Jong-un. 
A Ásia e o seu dinamismo marcam pontos e o mundo já não é o que era…

sábado, 30 de agosto de 2025

"Aviso de temporal" que ameaça a França

Os tempos não estão a ser fáceis para a Europa, pois está a enfrentar enormes desafios num quadro em que a ordem mundial já não é o que era…
A sua acelerada decadência e a sua irrelevância acentuam-se, com os seus líderes a mostrarem-se incapazes de reagir aos ventos variáveis que sopram do outro lado do Atlântico e a não terem voz própria, enquanto temos Xi Jinping a receber Vladimir Putin, Narendra Modi e Kim Jong-un para assistirem a uma grande parada militar em Pequim e para modelar uma ordem internacional pós-americana na Cimeira da Organização para Cooperação de Xangai.
São tempos realmente difíceis para a Europa, que todos os dias nos mostram como os figurões que a têm representado não são capazes de encontrar soluções para os problemas que afectam ou preocupam os cidadãos europeus.
A França é um bom exemplo desta espécie de agonia em que a Europa está a mergulhar, com um presidente que quis ser o líder dos líderes e que, afinal, nem tem conseguido dar estabilidade ao seu país, que atravessa uma grave crise económica e com preocupantes perspectivas sociais. Hoje, está sob "aviso de temporal". De facto, o primeiro-ministro François Bayrou anunciou que vai submeter-se a um voto de confiança no parlamento por causa da sua proposta de orçamento para 2026, que prevê cortes de 44 mil milhões de euros, para reduzir o défice público que se estima estar nos 5,4% e desacelerar a dívida pública que já representa 114% do PIB francês. Fala-se abertamente no “sobreendividamento francês” e há o risco do FMI intervir se o governo de Bayrou cair, o que pode acontecer nos próximos dias. No meio de tudo o que se antevê no corte de benefícios sociais, o presidente Macron anunciou um ambicioso plano para elevar os gastos em Defesa de 2 para 3,5% do PIB.
A capa da edição de ontem do diário La Croix vale mais que mil palavras.

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

O Brasil e o julgamento de Jair Bolsonaro

No próximo dia 2 de Setembro, o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro e mais sete réus vão começar a ser julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em Brasília, por tentativa de golpe de Estado.
Jair Bolsonaro é acusado como o “principal articulador, maior beneficiário e autor” das várias acções de vandalismo e insubordinação que visaram a ruptura do Estado e a sua manutenção no poder, apesar de ter sido derrotado nas urnas por Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais de 30 de Outubro de 2022. Porém, Bolsonaro não aceitou a derrota e, no dia 8 de Janeiro de 2023, milhares de fanáticos bolsonaristas assaltaram os edifícios dos Três Poderes em Brasília, para rejeitar os resultados eleitorais, contestar a democracia brasileira e impedir a posse de Lula da Silva, numa acção comparável ao assalto ao Capitólio, feito em Washington pelos apoiantes de Donald Trump no dia 6 de Janeiro de 2021.
Os crimes de que Bolsonaro é acusado são graves e estão tipificados como organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e dano qualificado contra o património do Estado.
Na sua mais recente edição, a revista The Economist dedicou uma alargada reportagem ao julgamento de Bolsonaro com o título “Brazil offers America a lesson in democratic maturity”, referindo que será um teste à forma como os países se podem livrar da febre populista que os assola, tendo como referencial a figura de Donald Trump. Segundo a revista, o “Trump dos trópicos” e os outros réus “serão considerados culpados”, porque a memória dos horrores da ditadura ainda está presente na memória dos brasileiros e a maioria dos políticos, da esquerda e da direita, bem como os grandes empresários, querem esquecer a “loucura de Bolsonaro e a sua polarização radical”.  
O julgamento de Jair Bolsonaro pode ser, de facto, uma grande lição que o Brasil pode ensinar aos Estados Unidos e ao mundo. 
Esperemos que assim seja!

domingo, 24 de agosto de 2025

Netanyahu: ignóbil, vingativo e criminoso

Um relatório das Nações Unidas divulgado há dois dias revelou o que já se suspeitava, isto é, o território de Gaza está numa situação de inanição generalizada, miséria e morte, com mais de meio milhão de pessoas a passar fome. Tudo isto era sabido desde há muito tempo, sobretudo através das imagens televisivas que nos chegam daquele martirizado território mas, a partir de agora, as Nações Unidas declararam oficialmente a fome em Gaza devido às obstruções à ajuda humanitária que, de acordo como o Direito Internacional Humanitário, o governo israelita tem a obrigação de permitir. 
O jornal inglês The Independent destacou esta notícia, mas a generalidade da imprensa ignorou-a, o que mostra claramente quem domina e manipula a informação na Europa.Para além de ter morto brutalmente mais de 60 mil palestinianos dos quais 83% eram civis, de ter destruído o tecido urbano de Gaza e de estar a intensificar a sua vingança sobre os palestinianos, a criminosa situação de fome criada pelo governo de Netanyahu foi objecto de uma entrevista da SIC ao embaixador de Israel em Lisboa, que disse que “não há fome, nunca houve fome e ninguém morreu de fome em Gaza. Podemos ver crianças magras, mas é porque são doentes graves". Como é possível que um animal destes fale assim! É intolerável que um embaixador diga isto, que até envergonha todos os israelitas.Porém, ainda há espaço para vozes independentes e na sua última edição, o semanário Expresso publicou uma entrevista com Ehud Olmert, que foi primeiro-ministro de Israel entre 2006 e 2009 e que deve ser lida por quem ainda tem dúvidas sobre o que se passa em Gaza. Com o título “Basta. Já matámos o suficiente, já destruímos o suficiente”, o entrevistado diz:
“Trata-se de uma guerra ilegítima, conduzida por interesses políticos pessoais do primeiro-ministro. Como consequência, morrem soldados israelitas, mais reféns podem perder a vida e muitos palestinianos inocentes são mortos. Isto é um crime, é algo imperdoável”.
Perante isto, os europeus nada dizem sobre o que faz Netanyahu e, por cá, bem gostaríamos de ouvir o que Marcelo Rebelo de Sousa e Luís Montenegro têm para dizer.

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

O “cara a cara” que não vai acontecer

Embora o assunto não seja para graças, porque morre muita gente e o património dos beligerantes está a sofrer grandes danos, a guerra da Ucrânia e os seus principais protagonistas têm servido para alimentar o anedotário das redes sociais e até está a chegar aos jornais que, em princípio, são menos sujeitos ao fenómeno da desinformação.
As diligências feitas por Donald Trump, tanto em Anchorage como em Washington, para encontrar uma solução para o conflito ucraniano, inspiraram o diário alemão Die Tageszeitung, que é conhecido como taz e que, face à ideia trumpiana para a realização de um encontro bilateral entre os vladimires de Moscovo e de Kiev, isto é, o Putin e o Zelensky, tratou de fazer uma interpretação gráfica desse desafio na primeira página da sua edição de hoje. Vai daí e com o apoio da IA, o jornal berlinense publicou a imagem de um combate de boxe entre os dois líderes em que, como escreve o jornal, estão cara a cara.
Não há muita gente que tenha passado pela experiência de lutar com todas as suas forças contra um qualquer inimigo e depois, em poucos dias, abraçá-lo fraternalmente como se nada tivesse acontecido. Isso dificilmente acontece. A passagem do estado de guerra para o estado de paz é lento e é feito passo a passo, pelo que muito do que se diz e escreve, corresponde a um estilo comunicacional que precisa de ser alimentado com notícias ou não-notícias, verdadeiras ou não.
Assim, não é provável que Putin e o Zelensky se encontrem cara a cara, sem que antes as suas equipas de negociadores e os mediadores, ou os seus diplomatas, tenham acordado os termos do acordo de paz. É exactamente isso que se espera que aconteça, sobretudo se não houver aquele tipo de beija-mão dos líderes europeus que estiveram em Washington, cuja vaidade só atrasa e dificulta o processo de paz. 

terça-feira, 19 de agosto de 2025

A paz na Ucrânia fica para mais tarde

Eu imaginei – ingenuamente – que a ida de tantos líderes europeus a Washington para se encontrarem com Donald Trump era um pretexto para ficarem na “fotografia da vitória”, ou “na fotografia da paz”. Que era o fim, ou quase o fim da guerra. Que os ucranianos iam finalmente encontrar sossego e viver em paz.
Eles fizeram uma longa viagem transatlântica e encontraram muita pompa e circunstância. A encenação era perfeita e tudo parecia caminhar numa boa direcção. Porém, eles foram encaminhados para uma sala lateral da Casa Branca e esperaram pelo anfitrião, como se estivessem a aguardar uma consulta médica, o que mostrou que a sua presença não era importante e que apenas eram figurantes nesta história em que pouco sorriram.
Os líderes europeus só foram a Washington para serem vistos e sofrerem mais uma humilhação, porque a sua vaidade é superior ao seu bom senso, embora seja difícil entender o que lá foram fazer Ursula von der Leyen, Giorgia Meloni, Mark Rutte e Alexander Stubb, o presidente da Finlândia, simples figurantes nesta comédia trumpiana.
Não se esperavam quaisquer negociações, porque já estão a ser feitas com outros actores, além de ser gente a mais para negociar o que quer que fosse. Porém, apesar de ter havido “little movement toward deal” como hoje titula The Washington Post, os ilustres visitantes tiveram direito a uma fotografia na capa do The New York Times, mas também noutros jornais.
E agora?
Todos parecem desejar o fim da guerra, mas também parece que, cada um à sua maneira, têm interesse nos negócios da guerra, sobretudo as compras e vendas de material militar.
Volodymyr Zelensky está apertado e talvez desconfie de tanta solidariedade europeia, até porque não são coincidentes os interesses (e as rivalidades) de Macron, Starmer e Merz. Aceita falar com Putin e aceita eleições, mas sabe que não pode contar com Donald Trump, mesmo que mude de fato e que se desdobre em elogios e agradecimentos.
Em Anchorage o encontro entre Trump e Putin deixou a bola nas mãos de Zelensky e, repetidamente, Trump afirma que acordo de paz depende agora de Zelensky.

sábado, 16 de agosto de 2025

Anchorage foi uma cimeira de esperança

O encontro de Anchorage correu muito bem, ao contrário do que disseram ontem os comentadores portugueses nas televisões ao afirmarem que “foi uma mão cheia de nada” e do que hoje escreve a generalidade da imprensa internacional, que destaca ideias como “no breakthrough” (The Wall Street Journal) e “no deal” (The Dallas Morning News). Porém, outros jornais foram mais substantivos ao escreverem “Trump says historic peace talks make progress” (New York Post), ou que “Trump acaba com o aislamiento internacional de Putin” (El País), embora o título mais animador venha de Londres e afirme “Peace in their hands“ (The Times).
É verdade. Não houve acordo, mas a paz está nas mãos daqueles duas controversas personagens, como hoje escreve The Times. O formalismo do encontro de Anchorage entre Trump e Putin foi um grande acontecimento porque nos trouxe algum desanuviamento em relação à crescente tensão que nas últimas semanas se vivia entre Washington e Moscovo, inclusive com veladas ameaças nucleares, além de ter sido um passo no sentido da paz na Ucrânia.
Ninguém sabe o que se passou naquele encontro embora muito se especule, mas certamente já estão a ser negociados todos os aspectos de um acordo de paz, parecendo que tudo caminha para a solução que Henry Kissinger sugeriu em 2014, num artigo publicado no jornal The Washington Post.
Ainda é cedo para fazer a história deste conflito, expurgada da propaganda e da desinformação, mas parece cada vez nais evidente que os líderes europeus deveriam ter sido os mediadores desta “guerra entre irmãos” mas que, por vaidade, inexperiência e ignorância, escolheram outro caminho e enganaram Zelensky e os ucranianos, prometendo, enquanto fosse preciso, o que podiam e o que não podiam.
Agora, o que é preciso é fazer avançar o “diálogo de Anchorage” e chegar rapidamente à paz!

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Todos à espera da cimeira de Anchorage

Faltam apenas dois dias para o encontro de Anchorage entre Donald Trump e Vladimir Putin e muito se tem especulado sobre essa reunião que, entre outros assuntos, vai procurar uma solução para o problema da Ucrânia, onde tem morrido muita gente. Seria muito bom que houvesse “fumo branco” e que o povo e as cidades ucranianas voltassem a viver em paz.
Muito se tem especulado, sobretudo através dos incontáveis comentadores que tomaram conta das televisões portuguesas, sobre o que pode acontecer nesse encontro, se Zelensky estará ou não presente no Alasca, se haverá ou não um cessar-fogo, se haverá cedências das partes e que tipo de cedências. Há demasiada especulação daqueles que precisam de alimentar espaços noticiosos e audiências, esquecendo-se que a diplomacia está a trabalhar e que a sua principal regra de conduta é a discrição.
A capa do jornal New York Post diz quase tudo. Os europeus estarão fora a reunião de Anchorage e a sua voz vale cada vez menos, porque tem dirigentes medíocres que, desde 2014, se demitiram da sua função de árbitros de um conflito com características de “guerra civil”, preferindo ressuscitar as tensões da “guerra fria” ao prometerem ajudar a Ucrânia enquanto fosse preciso. Agora estão amuados com a iniciativa do Donald e sabem que a continuar com a sua teimosia vão ter de gastar muito dinheiro.
Não sei se há optimistas quanto ao que vai acontecer em Anchorage. Porém, desde já, há um aspecto bem positivo no encontro porque, certamente, vai arrefecer a tensão nuclear entre a Casa Branca e o Kremlin. Da mesma forma, o frente a frente entre Trump e Putin, que parecem ser homens de negócios, também parece ser um passo no bom sentido para o regresso da paz ao território ucraniano, como quase todos desejam.
Volodymyr Zelensky deveria estar nesse encontro, mas a sua presença talvez perturbasse em vez de ajudar…

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Sorte grande para o Morante de la Puebla

A festa brava, ou a fiesta que Ernest Hemingway consagrou no seu famoso romance The Sun also rises, é uma tradição ibérica cada vez mais contestada, mas que continua bem viva em muitas regiões peninsulares, sobretudo espanholas. Os festejos populares que acontecem durante o Verão, a par da componente religiosa incluem uma diversificada componente lúdica, com muitas atracções de feira, competições desportivas, espectáculos e concertos, que enchem o centro das cidades com música e alegria, mas também contemplam as corridas de touros que, por vezes, acontecem em dias sucessivos.
Na cidade de Pontevedra, em honra da padroeira da província, são anualmente celebradas as Festas da Virxe Peregrina, que se iniciam no segundo sábado de Agosto. É a grande semana daquela cidade galega, situada a cerca de 55 quilómetros da fronteira portuguesa.
A Plaza de Toros de Pontevedra, que é a única praça da região da Galiza e que recebe toda a actividade tauromáquica do noroeste de Espanha, apresentou os cartéis com os melhores diestros para a Feria de La Peregrina 2025, com corridas nos dias 9, 10 e 15 de agosto. Na corrida de ontem, que era o segundo dia da Feria Taurina, actuaram os matadores Morante de la Puebla, Alejandro Talavante e Daniel Luque, para lidarem touros da ganadaria Garcigrande, mas o diestro Morante de la Puebla, um ídolo sevilhano de 45 anos de idade, foi colhido com uma grave cornada durante a faena do seu primeiro touro.
O caso foi destacado como notícia de primeira página em vários jornais espanhóis, como por exemplo no diário madrileno ABC, mas poucas horas depois foi anunciado que Morante de la Puebla teve alta. Uma boa notícia para o diestro e para a sua família ou, dito de outra maneira,  que sorte grande ele teve.

sábado, 9 de agosto de 2025

Romaria d’Agonia: havemos de ir a Viana!

As Festas d’Agonia que ontem começaram na cidade de Viana do Castelo, são um dos maiores acontecimentos culturais e religiosos de Portugal e, desde 1772, realizam-se todos os anos. Este ano, a Romaria dedicada a Nossa Senhora da Agonia vai estender-se até ao dia 20 de agosto e, como sempre, vai atrair milhares de visitantes fascinados pela diversidade dos eventos religiosos, em que se destaca principalmente a Procissão ao mar e ao rio, em que as embarcações vianenses decoradas a preceito, transportam a imagem da Senhora da Agonia pelo rio Lima. Porém, na parte cultural da Romaria destacam-se os tapetes florais criados pela imaginação dos moradores, os sons dos Zé Pereiras, dos bombos e das concertinas, das bandas filarmónicas e dos grupos folclóricos, as arruadas, os concertos e os cantadores ao desafio. 
Porém, um dos pontos mais altos da Romaria é o concorrido e espectacular Desfile da Mordomia, que ocorrerá no dia 14 de agosto, no qual mais de mil mulheres de Viana do Castelo desfilam com os ricos trajes tradicionais minhotos. Depois, no dia 16 de agosto, ocorrerá o habitual Cortejo Histórico-Etnográfico, com mais de 3.000 figurantes que mostram as melhores tradições da cidade.
Tudo acontece num ambiente ímpar de festa e diz-se que quem esteve na Romaria não a esquece e regressa. Como escreveu o poeta Pedro Homem de Melo e Amália cantou, "havemos de ir a Viana", embora o regresso nem sempre seja possível...
Todos os anos, a Romaria é publicitada por um cartaz oficial que tem um rosto e uma imagem oficial, escolhida através de um concurso. Este ano, a imagem central do cartaz é a jovem mordoma Bruna Oliveira Torre, de 17 anos, natural de Abelheira, a envergar o traje de domingar, feito em memória do primeiro traje da família, que foi confeccionado pela avó. 
A todos os meus amigos vianenses, em especial ao FSM, aqui fica o meu aplauso por esta singular manifestação de vitalidade e dinamismo cultural.

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

A completa e criminosa destruição de Gaza

A edição de hoje do jornal The Guardian publica uma fotografia aérea do território de Gaza a toda a largura da sua primeira página e, como título, escolheu a frase: “Vista do ar, Gaza é como o rescaldo do apocalipse”. A utilização da palavra apocalipse diz tudo sobre a crueldade do extremismo israelita e a gravidade da situação que está transformada num verdadeiro crime contra a humanidade, cujo responsável é Benjamin Netanyahu, que bem pode ser baptizado como “o carniceiro de Telavive”. 
Hoje, também o The Wall Street Journal (WSJ) informava, com destaque de primeira página, que “muitos israelitas questionam a moralidade da continuada guerra na Faixa de Gaza”, acrescentando que “os protestos e as críticas a Netanyahu vêm aumentando em paralelo com a crise humanitária”.
Apesar da questão israelo-palestiniana dever ser analisada com cuidados redobrados devido à propaganda e à desinformação de ambas as partes, estas informações têm toda a credibilidade e mostram o extremismo de Netanyahu e a destruição completa que, sob as suas ordens, foi feita num território com o pretexto de libertar reféns e acabar com o movimento Hamas. Estão contabilizadas mais de 60.000 mortes, todos os dias morrem palestinianos sob os bombardeamentos israelitas ou com fome, enquanto o monstro a quem o TPI emitiu ordem de prisão por crimes contra a humanidade e crimes de guerra, continua na sua criminosa acção de vingança e extermínio, com o silêncio do mundo ocidental, ou mesmo com o seu apoio. Segundo o WSJ, diversas organizações de direitos humanos israelitas, bem como um antigo director da Mossad, acusam Netanyahu de genocídio, mas as lideranças europeias parecem não ver isso.
No meio desta vergonha que é o comportamento irresponsável, leviano e cobarde de muitos líderes europeus, pouco mais podemos fazer que mostrar solidariedade para com aqueles que estão a ser mortos diariamente pela fome e pelas bombas.  

A catástrofe de Hiroshima foi há 80 anos

Foi no dia 6 de agosto de 1945, exactamente há 80 anos, que um avião bombardeiro B-29 americano, comandado pelo tenente-coronel Paul Tibbets, lançou uma bomba atómica sobre a cidade japonesa de Hiroshima, de que resultou a morte imediata de mais de 70.000 pessoas. Três dias depois, uma segunda bomba atómica foi lançada sobre Nagasaki, estimando-se que tenham sido mortas mais 80.000 pessoas.
O avião de Paul Tibbets foi baptizado como “Enola Gay” e ambos ficaram na História como os responsáveis pelo primeiro ataque nuclear contra seres humanos a que a Humanidade assistiu, embora o presidente Harry Truman tivesse dito à tripulação do avião, após o seu regresso aos Estados Unidos: “não percam o sono por terem cumprido esta missão; a decisão foi minha, vocês não podiam escolher”.
São muito poucos os jornais que evocam esta triste efeméride nas suas edições de hoje e a excepção é o diário francês L’Humanité, que dedica toda a sua primeira página ao “terror nuclear”.
A partir de Hiroshima e Nagasaki, a ameaça nuclear passou a perturbar as nossas vidas e a manter a humanidade intranquila, pois haverá uma dezena de países que já dispõem da arma nuclear. Cada um deles, sobretudo os Estados Unidos e a Rússia, parecem viver num “equilíbrio de terror”, porque demasiadas vezes tratam das suas rivalidades e das suas conflitualidades com o olho posto nos respectivos arsenais nucleares.  
A cidade de Hiroshima reergueu-se da catástrofe de 1945 e hoje recebe um número recorde de países nas cerimónias evocativas do “dia em que a cidade desapareceu”, embora três potências nucleares – China, Rússia e Paquistão – estejam ausentes.
Que o “espírito de Hiroshima”, que visa promover a paz no mundo e a abolição das armas nucleares, seja reforçado para o bem da humanidade.

terça-feira, 5 de agosto de 2025

Brasil reage às provocações de Bolsonaro

A notícia que chegou do Brasil não surpreendeu ninguém, pois era sabido que o ex-presidente Jair Bolsonaro se afirmara humilhado com as medidas de coação tomadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), incluindo as buscas judiciais domiciliárias e o uso de tornozeleira, o que fez com que reagisse muito mal e o levasse ao não cumprimento do que lhe estava determinado. Era de esperar essa atitude. Agora, por ordem do ministro Alexandre de Moraes do STF, foi-lhe imposta prisão domiciliária e terá de cumprir uma série de medidas cautelares. Além de usar a tornozeleira electrónica, ele está proibido de receber visitas sem autorização judicial e terá muitas restrições ao uso de telemóvel. Além disso, o não cumprimento destas condições poderá levar a que seja decretada a sua prisão preventiva em unidade prisional.
Esta decisão anunciada pelo jornal A Tarde de Salvador e por outros jornais brasileiros, parece marcar o fim da tolerância do STF para com o ex-presidente, face às reiteradas provocações de Jair Bolsonaro, provavelmente excitado pelo seu aliado Donald Trump, que insiste em meter-se onde não é chamado. Segundo o STF, Bolsonaro insiste no uso indireto das redes sociais, através de filhos e amigos, que é uma prática que lhe está vedada desde fevereiro, mas que continua a manter para atacar o sistema eleitoral brasileiro, o STF e os seus juízes e, até mesmo, para defender a intervenção estrangeira no país.
Na história do Brasil, Jair Bolsonaro é o primeiro presidente a ser preso por subversão institucional, esperando-se que seja julgado a partir de setembro, mas só o tempo dirá como vai evoluir esta situação, que é muito complexa.

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

O "mundo celta" e a sua riqueza cultural

A cidade bretã de Lorient recebeu a 54ª edição do Festival Intercéltico que se realiza desde 1971. Trata-se de um evento que envolve populações com culturas e sentimentos celtas e que habitam nas Astúrias, Bretanha, Cornualha, Escócia, Galiza, Irlanda e País de Gales, mas também a diáspora celta que se fixou no Quebec e em várias regiões dos Estados Unidos, da Austrália e da Nova Zelândia.
Apesar do festival ter um vasto programa cultural e muita música, segundo os relatos da imprensa, o Grande Desfile das Nações Celtas é o seu ponto mais alto, sendo aguardado por milhares de pessoas ansiosas e entusiasmadas pelos sons e pelos trajes celtas de mais de três mil artistas, dançarinos e músicos, que marcham em cortejo pelas ruas da cidade, sob grandes aplausos do público.
La Grande Parade des Nations Celtes realizou-se no passado domingo e durou mais de três horas. Na cabeça do cortejo  desfilaram “as bandeiras das nações celtas”, logo seguidas pela Bagad de Lann-Bihoué, a famosa banda bretã composta por gaitas de foles, bombardas e tambores que é a bagad da Marinha Francesa e que a representa em diversos eventos nacionais e internacionais.
O cortejo deste ano teve a participação de 61 agrupamentos provenientes do “mundo celta”, sobretudo muitas bagad ou bandas de música celta, podendo aqui ser destacadas a Banda de Gaitas La Reina del Truébano (Astúrias), a Lorient Festival Highland Dance Team (Escócia), o Grupo de Baile San Félix de Candás (Astúrias), a Bagad New-York (Bretanha/USA), a Interceltic Scottish Pipe Band (Escócia), a Bagad An Hanternoz (Bretanha), o Cercle Quic-en-Groigne (Saint-Malo), o Treorchy Male Choir (País de Gales), a Bagad Naoned (Nantes), a Skeealyn Vannin (Ilha de Man) e a Bagad Sonerien an Oriant (Lorient), entre muitas outras.
Foi uma grande festa que pode ser vista online na plataforma you tube e o jornal Le Télégramme, que se publica em Lorient, dedicou-lhe a sua primeira página, mas La Grande Parade des Nations Celtes mostra que a geografia política da Europa não está bem resolvida, como mostrou o “mundo celta” e o seu festival.

domingo, 3 de agosto de 2025

O Donald já meteu esta Europa no bolso

Desde há muitos meses que temos escrito nesta janela que a Europa, a “velha Europa” que tem sido o símbolo da civilização actual e que foi inspiradora do progresso humano que circula pelo mundo, atravessa uma crise profunda por não ter líderes à altura das circunstâncias e tão só umas figuras menores, deambulando vaidades por cimeiras que as televisões promovem. Provavelmente, alguns deles nem leram o Tratado de Roma, até porque ainda não eram nascidos. As Ursulas e os Macrons, os Boris Johnson e os Mark Rutte são produtos de marketing, sem sabedoria nem substância, que parecem obedecer a um poder que vem do outro lado do Atlântico e que tremem perante um qualquer fanfarrão que os receba na sala oval da Casa Branca, com pose intimidatória e agressiva.
Na sua edição de hoje, a propósito da génese de uma nova ordem mundial, o jornal El País escolheu como principal o título “Trump desnuda a Europa”. De facto, é incrível e desoladora a forma como Donald Trump humilha toda a gente e, especialmente, a debilitada Europa, à qual retirou qualquer influência nos conflitos da Ucrânia e de Gaza e à qual até exige a compra de equipamento militar, “dificilmente compatível com o seu estado de bem-estar social”. Com 27 soberanias na União Europeia e com 27 projectos políticos de variadas tonalidades, os eleitores europeus não vão aceitar facilmente aquilo que os seus líderes se propõem fazer para satisfazer a vontade do Donald em que, de forma ostensiva para com todo o mundo, procura fazer a “America Grande outra vez”.
Há realmente um problema sério na Europa e são poucos os que reagem, pois a maioria parece aceitar a situação com subserviência, como se ela não existisse e opta por “esconder a cabeça na areia”.