sábado, 13 de dezembro de 2025

Portugal será a economia do ano de 2025?

A mais recente edição da prestigiada revista inglesa The Economist tem sido muito citada em Portugal porque o nosso país foi considerado como “a economia do ano de 2025” num artigo intitulado Which economy did best in 2025?.
Diz o texto que podia ter sido muito pior, porque foi em Abril que Donald Trump começou a sua trade war e temeu-se então por uma recessão global que não aconteceu. O crescimento global da economia foi de cerca de 3%, semelhante ao do ano anterior, o desemprego continuou baixo, o mercado acionista esteve em alta e só a inflação suscitou alguma preocupação. O método utilizado para a escolha combina cinco indicadores de 36 mostly rich countries – inflação, amplitude da inflação, produto, emprego e mercado acionista.
A revista faz a escolha da “economia do ano” pelo quinto ano consecutivo e os vencedores foram a Grécia em 2022 e 2023, a Espanha em 2024 e agora Portugal, o que não deixa de ser estranho, até porque dessa lista fazem parte, entre outros, o Canadá, a Noruega, a Suécia, o Reino Unido, a Áustria e a Nova Zelândia. A escolha de Portugal que a revista considera as sweet as a pastel de nata, baseia-se nos indicadores indicados e nos efeitos do turismo e na fixação de estrangeiros devido à baixa fiscalidade. Portugal será mesmo a economia do ano de 2025? Os meus olhos dizem que não... enquanto The Economist diz que sim.
A mesma revista inclui uma reportagem sobre Europe’s Populist Right – Can they be stopped?, tendo escolhido para ilustrar a capa desta edição uma montagem fotográfica com as imagens de alguns dos principais símbolos da direita populista europeia, tais como Jordan Bardella, Nigel Farage, Marine Le Pen, Giorgia Meloni e Alice Weidel.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Um holandês que é o “palerma do ano”

É costume no mês de Dezembro de cada ano que algumas instituições atribuam prémios e distinções a personalidades que se distingam e daí que no mundo sejam conhecidos os prémios Nobel, os Óscares de Hollywood ou os The Best da FIFA, enquanto em Portugal é atribuído o prémio Pessoa, o Prémio Leya e dezenas de outros prémios artísticos e literários. Porém, há muitos outros prémios que distinguem os melhores nisto e naquilo que, nesta época do ano, enchem os noticiários internacionais.
Porém, se houvesse um prémio internacional para “o palerma do ano” ele seria certamente para Mark Rutte, o holandês que é o secretário-geral da NATO, pelas afirmações incendiárias que tem feito desde o dia em que, miseravelmente, se sabujou a Donald Trump, ao desfazer-se em elogios pela exigência de aumento da despesa militar e dizendo-lhe: “a Europa vai pagar à grande e será uma vitória tua”. O palerma do Mark atribui-se a si próprio uma importância que não tem e não se cansa de misturar a NATO com a UE, quando há dez países que pertencem à NATO mas que não pertencem à UE.
Em declarações recentes o Mark veio dizer que “nunca a ameaça de guerra foi tão sombria como agora”, que “a Europa é o próximo alvo da Rússia” e que já estamos em perigo, embora não seja essa a posição dos Estados Unidos que pretendem que a Rússia seja reintegrada na economia mundial e volte a fazer parte do G8.
Na sua edição de hoje o jornal inglês The Independent destaca em título de primeira página uma frase-propaganda de Mark Rutte – “devemos estar preparados para a guerra como os nossos avós suportaram” – sem que tenha qualquer base sólida para fazer essa afirmação que, naturalmente, está alinhada com os interesses das indústrias do armamento que ele objectivamente representa e em oposição aos interesses dos europeus que querem a paz, como tem revelado o Eurobarómetro.
Mark Rutte quer a guerra e, por isso, é mesmo o palerma do ano.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

A paz na Ucrânia está difícil de atingir

A situação que se vive na Ucrânia é muito complexa e a tragédia da guerra iniciada em 24 de fevereiro de 2022 continua – já lá vão 1.384 dias e muitos milhares de mortos –sem que se vislumbre um cessar-fogo, apesar dos planos de paz apresentados pelos americanos que as partes ucraniana e russa quase aceitam, mas que os líderes europeus sempre rejeitam.
O primeiro plano de paz de Donald Trump para a Ucrânia que foi conhecido no dia 21 de novembro constava de 28 pontos, sendo reconhecido que favorecia largamente os propósitos de Putin. No seu ponto 3, esse plano dizia: “Espera-se que a Rússia não invada os países vizinhos e que a NATO não proceda a mais alargamentos”.
Este ponto parece ser um dos “ossos mais difíceis de roer” e as dezenas de comentadores que nos entram em casa todos os dias nunca o mencionam, isto é, quando os russos de Gorbachov aceitaram “a perda da RDA e a reunificação alemã” em 1990, tiveram a garantia de que a NATO não se alargaria para oriente. Porém, isso não aconteceu e, desde então, a NATO passou de 16 para 32 membros, pelo que a Rússia se considerou humilhada.
Com a chegada de Donald Trump à Casa Branca os dados do problema alteraram-se e os Estados Unidos parecem comportar-se como aliados da Rússia e adversários da Europa. A pressão de Trump sobre Zelensky é enorme mas, como ontem salientava o jornal The Guardian, estamos num “momento crítico”, pois “os líderes europeus unem-se em apoio à Ucrânia”, numa altura em que a National Security Strategy of the United States, recentemente enunciada em apenas 33 páginas, é bem clara ao enunciar o “declínio económico e o apagamento civilizacional da Europa” e ao colocar a Europa e a NATO em segundo plano, para além de avisar que “em poucas décadas alguns membros da NATO serão maioritariamente não-europeus e terão outras alianças diferentes daquelas que tinham quando aderiram à NATO.
Portanto, o braço de ferro na Ucrânia está a acontecer, mais entre americanos e europeus e menos entre russos e ucranianos. As voltas que estas coisas dão...

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

A evocação dos 84 anos de Pearl Harbor

Desde o fim da 2ª Guerra Mundial que os Estados Unidos são a maior potência mundial, um estatuto que resultou da sua participação vitoriosa nesse conflito, em que morreram cerca de 405 mil militares americanos.
Para os Estados Unidos a guerra começou às primeiras horas da manhã do dia 7 de dezembro de 1941, quando a aviação da Marinha Imperial japonesa atacou de surpresa a Base Naval de Pearl Harbor, nas ilhas Hawai, onde se encontravam cerca de 87 mil militares, dos quais morreram 2.400. 
Foi há 84 anos e ontem, em Honolulu, durante o 84th Pearl Harbor Remembrance Day Ceremony, esse dia foi evocado com solenidade e nessa evocação estiveram presentes três veteranos de guerra centenários, cuja fotografia foi hoje publicada na primeira página do jornal The Wall Street Journal.
Porém, nenhum dos doze sobreviventes do ataque de 1941 compareceu à cerimónia, pois nenhum deles conseguiu deslocar-se ao Hawai. Todos os anos, à excepção do ano de 2020 por causa da covid-19, os sobreviventes desse dia trágico deslocavam-se a Honolulu para tomar parte nas cerimónias evocativas, inclusive no ano passado, em que dois deles ainda estiveram em Honolulu apesar da sua muito avançada idade.
Este ano estiveram presentes mais de três mil pessoas nas cerimónias evocativas realizadas, incluindo familiares de alguns dos militares que morreram nesse dia, mas também alguns cidadãos japoneses sobreviventes da bomba atómica lançada sobre Nagasaki, que estavam de visita à ilha de Oahu.
O tempo tem a virtude de apagar muitas feridas, mesmo quando são muito dolorosas. Assim aconteceu com americanos e japoneses, com alemães e franceses e, terá de acontecer com russos e ucranianos.

sábado, 6 de dezembro de 2025

A cooperação Índia-Rússia está em alta

Os presidentes Vladimir Putin e Narendra Modi, encontraram-se durante dois dias em Nova Delhi e de acordo com o título da edição de hoje do jornal The New Indian Express, a Índia e a Rússia “avançam rapidamente”, tendo concordado em expandir e ampliar o comércio e fortalecer a amizade entre os dois países.
O líder russo teve um primeiro momento de glória com a recepção que teve à chegada à capital indiana, com “uma cavalgada, salvas de canhões e uma sala do trono de mármore”, o que mostrou que não têm resultado os esforços europeus para transformar Putin num perigoso pária por ter invadido a Ucrânia, tal como não tinham resultado nas visitas que fez a Pequim e a Anchorage.
Foi a primeira visita de Putin à Índia desde a invasão da Ucrânia em Fevereiro de 2022, com o fim de reforçar a sua aliança comercial e de defesa com a Índia e, segundo relatou a imprensa, foram assinados múltiplos acordos, de que resultarão o fornecimento ininterrupto de combustível, a cooperação nuclear e um ambicioso plano de cooperação económica e de trocas comerciais.
A Índia é a maior compradora de armamento russo, mas nada foi dito sobre os aviões furtivos Su-57, nem sobre o sistema de defesa antiaéreo russo de longo alcance S-400, o que não quer dizer que não tenha havido acordos.
Vladimir Putin sentiu-se entre amigos e tratou de afirmar que irá anexar todo o Donbass “pela força das armas” ou pelo abandono das tropas ucranianas. Quando souberam destas declarações, os amigos europeus de Zelensky devem ter ficado petrificados, enquanto os esforços de Donald Trump para encontrar uma solução para o conflito terão ficado perturbados por este desafio de Putin. O facto é que, como aqui se tem dito, os povos asiáticos estão a emergir em todos os domínios na comunidade das nações.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Uma “tempestade perfeita” na Venezuela

A Venezuela é governada desde 2012 por Nicolás Maduro Moros, um homem de elevada estatura, elevada arrogância e elevado autoritarismo. Começou por assumir a presidência interina do país após a vitória eleitoral de Hugo Chávez, devido à grave doença do presidente eleito que veio a falecer em março de 2013. No mês seguinte, Maduro conseguiu vencer as eleições presidenciais e tornar-se o 57º presidente da República Bolivariana da Venezuela. Cinco anos depois Maduro foi reeleito, embora o resultado das eleições de 2018 não tivesse sido reconhecido, tanto pela oposição, como pela generalidade da comunidade internacional que, desde então, o têm considerado um presidente ilegítimo e o consideram um ditador.
O país vive atrofiado pelo autoritarismo e pela repressão praticados pelo regime e, segundo é regularmente noticiado nos media, a Venezuela está em declínio socioeconómico, com aumento dos problemas políticos e sociais, incluindo o aumento da pobreza, da inflação, da criminalidade e da fome, mas também o crescimento descontrolado do narcotráfico. O ataque ao narcotráfico foi o pretexto que levou Donald Trump a restaurar a Doutrina Monroe, que tendo sido enunciada em 1823, tinha por lema “a América para os americanos”. Assim, há uma escalada na tensão entre os Estados Unidos e a Venezuela, estando a acontecer uma intensa movimentação militar americana para aquela região, tendo Donald Trump já anunciado que vai haver “ataques americanos contra alvos no interior da Venezuela”, o que é muito preocupante, sobretudo para os venezuelanos.
Perante este quadro, o jornal Diario 2001, que se publica em Caracas, dedica toda a manchete da sua edição de hoje à jovem Clara Vegas Goetz, que foi eleita Miss Venezuela em representação do estado de Miranda e que é “un orgullo para su mamá la también Miss Venezuela 1990 Andreina Goetz”.
Clara estará em Porto Rico no próximo ano e espera-se que seja “la octava corona universal para Venezuela”. 
Quando a situação venezuelana parece configurar uma “tempestade perfeita” que ameaça desabar sobre o país, os venezuelanos e a sua imprensa pensam nas misses 

domingo, 30 de novembro de 2025

Memória de um dia trágico em Hong Kong

Quatro dias depois do trágico incêndio no bairro social Wang Fuk Cour, na zona de Tai Po, nos Novos Territórios de Hong Kong, estão contabilizados 128 mortos e mais de duzentos desaparecidos, segundo anuncia o jornal hojemacau, que publica na sua capa uma impressionante fotografia das torres calcinadas.
Hong Kong e Macau são territórios separados por cerca de 60 quilómetros de distância e ambas são Regiões Administrativas Especiais da República Popular da China, pelo que tudo o que acontece numa delas interessa à outra e daí que o incêndio de Tai Po tenha ocupado as manchetes da imprensa macaense durante alguns dias.
O bairro social Wang Fuk Cour foi construído nos anos 80 do século passado, é constituído por oito torres com cerca de 30 andares com um total de 1.984 apartamentos, nele vivendo cerca de quatro mil pessoas. Estava em trabalhos de manutenção e terá sido por negligência das equipas que nele trabalhavam que deflagrou o pavoroso incêndio que foi possível ver em directo pela televisão, com os bombeiros a procurar extinguir o fogo e a tentar resgatar muitos residentes que estavam retidos nos seus apartamentos.
Certamente que as autoridades de Macau mas também das cidades de todo o mundo onde existem este tipo de torres residenciais, aprenderão a lição desta tragédia para reforçar as necessárias medidas de segurança.

sábado, 29 de novembro de 2025

A Ásia a avançar e a Europa a regredir

A edição de hoje do jornal The Times of India destaca na sua primeira página duas importantes notícias que deveriam ser lidas por todos os líderes europeus: uma refere-se ao crescimento de 8,2% da economia indiana no 2º trimestre de 2025 (Q2), o mais elevado dos últimos seis trimestres e, a outra, destaca o próximo encontro entre Modi e Putin que se vai realizar em Nova Delhi nos próximos dias 4 e 5 de Dezembro.
Relativamente à economia, a recente divulgação das 244 páginas do European Economic Forecast - Autumn 2025, dizem-nos quase tudo. As estimativas para o crescimento económico em 2025 são bem modestas, com 1,4 % para a União Europeia, 1,8% para os Estados Unidos, 0,8% para a Federação Russa, 0,2% para a Alemanha, 0,7% para a França, 1,4% para o Reino Unido e 1,9% para Portugal, enquanto para a China são 4,8% e para a Índia 6,8%. É caso para dizer “palavras para quê”, se estes números evidenciam um dinamismo e um progresso asiático bem diferentes do declínio ocidental.
A outra notícia anuncia o encontro de dois dias entre Vladimir Putin e Narendra Modi para a cimeira anual Rússia-Índia e, entre outros memorandum of understanding (MoU) a negociar, encontram-se o possível fornecimento do sistema de defesa antiaéreo russo de longo alcance S-400 e de aviões furtivos Su-57, o que significa que não é só na economia que este mundo se está a desequilibrar. 
Porém, os líderes europeus continuam a visitar-se mutuamente e a fazer cimeiras presenciais, ou em videoconferência, envolvidos naquela “vaidade a quem chamamos fama”, ignorando que o mundo já mudou e que a nossa Europa é cada vez mais irrelevante.
A Ásia a avançar e a Europa a regredir. Esta parece ser a nova realidade geopolítica.

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

Portugal é campeão do mundo de futebol

Ontem foi um dia de grande festa e de regozijo nacional porque a selecção portuguesa de futebol triunfou no FIFA U-17 World Cup, isto é, o Campeonato do Mundo de Futebol Sub-17 da FIFA disputado no Qatar e tornou-se campeão do mundo de futebol, que é uma coisa que acontece poucas vezes e a muito poucos países.
Os portugueses que assistiram à final com a equipa austríaca ficaram eufóricos com o espectáculo a que assistiram e com o desempenho dos jovens futebolistas portugueses. A imprensa portuguesa refletiu essa euforia nas suas edições de hoje, publicando manchetes alusivas a esse “feito” desportivo e à “arte” dos atletas, designadamente na chamada “bíblia” do futebol, ou seja, o jornal A Bola.
Eram 48 equipas em competição e a selecção nacional portuguesa ultrapassou a Nova Caledónia (6-1), Marrocos (6-0), Japão (1-2), México (5-0), Bélgica (2-1) e Suiça (2-0). Chegou às meias-finais e encontrou-se com o Brasil (0-0), mas a lotaria dos penaltis foi-lhe favorável e chegou à final, que foi disputada ontem. O adversário era a equipa da Áustria, mas a equipa portuguesa triunfou por 1-0 e tornou-se campeã do mundo, como muito merecimento – digo eu que vi.
Uma vitória deste tipo no futebol tem um valor relativo, mas num país com tantos problemas na saúde, na educação, na habitação e na justiça, mas também com dificuldades em muitas outras áreas da nossa vida colectiva, este triunfo futebolístico e a forma como os jovens jogadores portugueses jogaram, cantaram o hino e empunharam a bandeira nacional, é um forte contributo para aumentar a nossa auto-estima e para reforçar a coesão nacional, mas também para que alguns países estrangeiros nos olhem com um olhar mais atento e menos sobranceiro.
Aqui fica o justo aplauso aos nossos campeões do mundo!

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Uma grande catástrofe em Hong Kong

Um incêndio de enormes proporções, considerado o mais mortífero na história de Hong Kong, deflagrou ontem no bairro social Wang Fuk Court, construído nos anos 80 do século passado, que é constituído por oito torres com cerca de trinta andares, com 1.984 apartamentos onde se estima que viviam cerca de 4.000 pessoas. 
O jornal South China Morning Post, que é o principal jornal da antiga colónia inglesa, dedicou toda a primeira página da sua edição de hoje ao catastrófico incêndio, informando que havia “36 mortos e 279 desaparecidos”, mas as notícias mais recentes já referem “94 mortos e quase 300 desaparecidos”.
Embora ainda não se conheçam as causas do trágico incêndio, tudo aponta para uma grosseira negligência de alguns trabalhadores que vinham realizando trabalhos de manutenção em algumas daquelas torres, pois foram descobertos materiais inflamáveis e esponjosos que arderam rapidamente, que libertaram fumos tóxicos e que propagaram o fogo pelos sucessivos andaimes em estruturas de bambu, que apoiavam os trabalhos de manutenção que estavam a ser realizados. O fogo propagou-se rapidamente às outras torres e a acção dos bombeiros revelou-se ineficaz.
Segundo foi declarado, tudo correu mal, pois não foram audíveis quaisquer sinais de alarme e não terão sido atendidas as reclamações de muitos moradores contra os trabalhos que decorriam nos prédios que alegaram falta de segurança.
As imagens televisivas desta catástrofe foram impressionantes e lembraram os ataques às torres gémeas de Nova Iorque, acontecidos no dia 11 de setembro de 2001.

domingo, 23 de novembro de 2025

A bandeira de Ceuta é memória lusitana

A edição de ontem do jornal El Faro de Ceuta publica na sua primeira página uma fotografia em que Pedro Sánchez, o presidente do governo de Espanha, abraça Juan Jesús Vivas, o prefeito-presidente da Cidade Autónoma de Ceuta, durante a sua quarta visita oficial àquele território, destacando-se nessa fotografia as bandeiras de Espanha e da Cidade Autónoma.
A bandeira da Cidade Autónoma de Ceuta tem uma forte ligação emocional a Portugal, porque o seu desenho gironado de oito peças de negro e prata é igual ao da cidade de Lisboa. Essa ligação é ainda mais evidente no brasão colocado no centro da bandeira, que representa as armas portuguesas, tal como eram representadas no século XV.
A história desta bandeira “nasceu” no dia 22 de agosto de 1415, durante a conquista de Ceuta pelos portugueses, quando foi pedido a João Vasques de Almada que hasteasse a bandeira no ponto mais alto da cidade como símbolo da vitória alcançada.
Depois, com a cidade a depender do rei de Portugal, a cidade continuou a hastear aquela bandeira, inclusive no período filipino da União Ibérica (1580-1640). Quando em 1640 aconteceu a restauração da independência de Portugal, a cidade de Ceuta optou por não regressar à soberania do novo rei de Portugal e jurou fidelidade a Filipe IV, mas manteve a sua bandeira e o seu brasão, que chegaram até à actualidade. Esses símbolos constituem um curioso sinal da história da expansão marítima portuguesa, iniciada exactamente com a tomada de Ceuta em 1415, quando o reino de Granada ou Emirado Nacérida de Granada, localizado do outro lado do estreito, ainda era dominado pelos muçulmanos do rei Maomé XII.

sábado, 22 de novembro de 2025

O plano de Trump para a paz na Ucrânia

Na sua actual fase, o conflito da Ucrânia já dura desde o dia 24 de fevereiro de 2022, isto é, há 1344 dias, mas durante todo este tempo falou-se mais da guerra do que da paz, ficando muitas vezes no ar a ideia de que há muita gente mais interessada nos negócios de armamento do que no fim das hostilidades. Muita gente já morreu, muitas cidades e infraestruturas foram destruídas e milhões de ucranianos ficaram com as suas vidas arruinadas. Todos assistimos ao corrupio de dirigentes europeus, com destaque para essa figura menor que é Ursula von der Leyen, que foram a Kiev para ser vistos e para empurrar Zelensky para o abismo, ao convencerem-no que não lhe faltaria apoio e que ganharia uma guerra em que do outro lado está uma potência nuclear.
Agora, provavelmente entusiasmado com a sua obsessão pelo prémio Nobel, o presidente Donald Trump preparou um plano de paz em 28 pontos que é um verdadeiro ultimato a Zelensky, como refere o jornal londrino The Independent: se aceita o plano será uma traição face aos seus compromissos que assumiu perante os seus concidadãos, mas se o rejeita perderá o apoio do armamento do seu aliado americano que tem sido o seu principal instrumento nas operações militares. É um grande dilema para Zelensky.
O plano de paz de Trump é muito duro e até humilhante para a Ucrânia e para a Europa, pois prevê que a Ucrânia faça a cedência de cerca de 20% do seu território à Rússia, incluindo a Crimeia, que não aderirá à NATO, que as suas forças armadas terão um limite máximo de 600 mil efectivos, que não haverá tropas da NATO no seu território e que deverão ser realizadas eleições dentro de 100 dias, o que parece mostrar que os americanos se querem ver livres de Zelensky, bem como das teimosias e das utopias que os líderes europeus lhe têm metido na cabeça, sem olharem à diversidade e natureza cultural, religiosa e étnica da população ucraniana.
Entre os 28 pontos do plano está inscrito um ponto que diz que “espera-se que a Rússia não invada os países vizinhos e que a NATO não se expanda ainda mais” e esta simples frase parece sintetizar a razão desta guerra.
Ninguém sabe se a Ucrânia aceita ou não aceita o plano de Trump, com alterações ou sem alterações, mas é tempo de acabar com esta guerra e com o crescente belicismo que anda por aí.

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

A festa dos apurados para a World Cup

Muito se enganam os que pensam que o fenómeno futebolístico, enquanto espectáculo, manifestação de arte e negócio de muitos milhões de cores diversas, tem uma geografia restrita aos países da Europa Ocidental e da America do Sul, mas o entusiasmo pelo jogo da bola já é um acontecimento universal e não tem fronteiras. Agora que se estão a definir as 48 selecções nacionais que, no próximo Verão, irão disputar nos três países da América do Norte o 2026 FIFA World Cup, é bem curioso observar como alguma imprensa festeja o apuramento da equipa dos seus países.
Ontem, em Viena, com a arbitragem do referee português João Pinheiro, as selecções da Áustria e da Bósnia Herzegovina lutaram por uma vitória que levaria uma delas à América do Norte. Nesse grupo de apuramento, que também incluia as selecções da Roménia, Chipre e San Marino, aquele jogo da fase europeia das eliminatórias para o campeonato – um só jogo – tudo iria decidir. O jogo foi muito disputado e parece que o árbitro esteve à altura das circunstâncias. O resultado foi um empate por 1-1, que deu o apuramento à Áustria.
Na sua edição de hoje, o jornal generalista Österreich, que é um diário tablóide que se publica em Viena, destaca o entusiasmo austríaco pelo apuramento da sua selecção com uma fotografia que “vale mais que mil palavras”. De facto, não é costume em lado nenhum que um jornal enfatize desta forma este tipo de notícia.

terça-feira, 18 de novembro de 2025

Gripens e Rafales a caminho da Ucrânia?

Há menos de um mês foi anunciado que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e o primeiro-ministro sueco Ulf Kristersson tinham assinado uma carta de intenções para a venda de 150 aviões de combate Saab Gripen-E destinados à Força Aérea da Ucrânia, faltando definir os termos exactos quanto a custos e data de entrega, embora o valor do contrato possa oscilar entre 12 e 18.000 milhões de euros. Entretanto, Zelensky foi a Paris e, como hoje anuncia a edição do jornal La Dépêche du Midi, assinou com o presidente Emmanuel Macron uma outra carta de intenções para a aquisição de 100 aviões Rafale F-4, num valor estimado entre 10 e 15.000 milhões de euros.
Qualquer destas notícias foi adjectivada como histórica, tanto pelos construtores suecos como pelos construtores franceses, mas Donald Trump deve estar furioso por esta “deslealdade ucraniana” e por estarem a ser ignorados os seus Lockheed Martin F-35.
Porém, há muita gente que deve estar boquiaberta com estas operações e com os colossais valores que estão em jogo, porque se levanta a questão do financiamento destas aquisições num país em guerra e que é altamente dependente da ajuda de vários países europeus, onde as opiniões públicas estão perplexas com as notícias sobre a corrupção no país de Zelensky.
É sabido que nem a Saab nem a Dassault Aviation têm capacidade de produção para satisfazer estas “encomendas” de aviões, pelo que os ucranianos “não os terão tão cedo”, até porque é necessário formar mecânicos e pilotos.
Parece, portanto, que há uma indústria do armamento que está interessada em continuar a guerra da Ucrânia, mesmo quando alguns dirigentes políticos dizem o contrário.

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Portugal no 2026 FIFA World Cup

Hoje não se fala de outra coisa em Portugal, porque a seleção nacional de futebol ganhou à seleção da Arménia num jogo emocionante disputado na cidade do Porto. Tudo correu bem e os portugueses lembram-se dos golos de João Neves, de Bruno Fernandes e de outros jogadores, esquecendo a Ucrânia e Gaza, as eleições presidenciais e o mau tempo provocado pela depressão Cláudia.
A vitória por 9-1 garantiu a presença num Campeonato do Mundo de Futebol pela 9ª vez. Foram nove golos como salienta a manchete da edição de hoje do jornal A Bola e foi também a 9ª vez que a selecção portuguesa foi apurada para um Mundial de futebol.
Assim, a 23ª edição do 2026 FIFA World Cup que se realizará em 16 cidades dos Estados Unidos, México e Canadá, vai incluir Portugal entre as 48 equipas participantes, incluindo 16 seleções são europeias, das quais já estão apuradas a França, Portugal, Noruega, Inglaterra e Croácia.
A competição vai decorrer a partir de 11 de junho até 19 de julho de 2026 e vai entusiasmar meio mundo, nomeadamente em Portugal. Ainda bem que assim é, porque se a participação portuguesa tiver a qualidade que se espera, ganha a auto-estima lusitana, ganha a economia portuguesa e ganha o prestígio internacional de Portugal.
Portanto, é preciso que se conserve o entusiasmo proporcionado por esta vitória sobre a Arménia, mas também é necessário que não haja euforias desproporcionadas, como são as declarações de algumas personalidades que até já pensam numa vitória portuguesa no 2026 FIFA World Cup.