quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A língua como especialidade.

O cromo número dois da minha colecção declara-se especialista em língua portuguesa e, portanto, tem a língua como especialidade. Estava-lhe traçado um futuro como professora e talvez esperasse integrar o elenco de uma qualquer telenovela, quando descobriu uma vocação partidária adormecida. Então começou a subir, e subiu e subiu… até ser deputada.
A ambição era muita e sentiu que podia ir mais longe. Sintra foi o seu momento de glória, mas nem Guterres nem Sócrates lhe deram um lugar nos seus governos. Ela que tanto se esforçara! Ela que era a Madrinha! E o Ministério da Cultura que lhe ficaria tão bem!
A urbanização da Portela já era demasiado pequena para si e em 2004 conseguiu que lhe dessem um lugar em Bruxelas como eurodeputada.
O estatuto político, o centro da Europa, as missões parlamentares, o convívio social e as viagens em classe executiva deslumbraram-na. A sua imagem institucional passou a ser gerida pela LPM o que, obviamente, não é caro, nem é um sinal de vaidade.
É, sem dúvida, o percurso bem sucedido de um verdadeiro cromo.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O fascínio da Economia

A CULTURGEST decidiu organizar uma série de quatro conferências sob o título genérico de “O Fascínio da Economia”, sob a responsabilidade do Doutor João Ferreira do Amaral, professor catedrático aposentado do ISEG.
A primeira conferência realizou-se hoje e o conferencista e o tema esgotaram o Pequeno Auditório da Culturgest, deixando ainda algumas dezenas de interessados a seguir a conferência através de televisores colocados nos átrios. Foi muito bom. Ninguém perdeu o seu tempo.
As próximas conferências realizam-se nos dias 15 e 22 de Fevereiro e 1 de Março, às 18.30 horas.

Reformas douradas

Diz o Jornal de Notícias de hoje que, nos dois primeiros meses de 2011, a CGA registou um "boom" de "reformas douradas". Só nestes dois meses, reformaram-se 120 pessoas com pensões acima dos 4 mil euros por mês e a CGA passou a suportar 69 novas reformas de mais de 4 mil euros e 51 de valor superior a 5 mil euros por mês.
A desigualdade na distribuição do rendimento é, provavelmente, o factor que mais afecta a coesão social no nosso país. Sendo Portugal o mais desigual dos países da União Europeia, era de prever que se fixassem limites máximos para as pensões de reforma pagas pela CGA, não só para diminuir a desigualdade, mas também para não enfraquecer a coesão social.
As “reformas douradas” podem ser legais e corresponder ao tempo de desconto e aos montantes descontados pelos beneficiários, mas são socialmente injustas, tal como em muitos casos foi injusta a carreira desses mesmos beneficiários que, além de terem o emprego garantido, tiveram admissões e promoções de favor, ausência de avaliações de desempenho e, sempre, bons salários e muitas mordomias.
Assim, o nosso progresso social não avança e a injustiça social agrava-se.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Gostou do Oriente e orientou-se.

Apresento-vos o primeiro cromo da minha colecção!
Aos 23 anos já era deputado e durante mais de 25 anos teve uma cadeirinha para ocupar em São Bento. Foi governante, professor e comentador. Foi tudo o que lhe apeteceu. Conheceu a árvore das patacas em Macau. Gostou do Oriente e orientou-se.
Aos 38 anos instalou-se em Bruxelas como Comissário Europeu. Sonhou alto de mais, mas o Barroso trocou-lhe as voltas e sacou-lhe o lugar. Hoje colecciona tachos, soma senhas de presença e muitas mordomias.
É preciso ser muito bom! A sua conta bancária cresce.
Não lhe perguntem o que ele pode fazer pelo país, mas perguntem-lhe o que é que ele já sacou e ainda quer sacar ao país.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O ofício de deputado

A relutância e até mesmo a hostilidade com que os socialistas ouviram um dos seus dirigentes defender a redução do número de deputados de 230 para 180, revela bem o estado a que isto chegou, o alastramento da cegueira política e os caminhos tortuosos por que nos conduzem.
Esta reacção mostra como o clientelismo se tornou num problema gravíssimo e transversal à sociedade portuguesa, de que nem o próprio Parlamento se livra.
Será que não entendem que temos deputados a mais e que precisamos de uma nova lei eleitoral que identifique e aproxime o eleito do eleitor?
Será que não percebem que estamos fartos de deputados “perpétuos”, cuja principal virtude é a fidelidade ao partido a qualquer preço?
Será que não vêem que, salvo uma ou outra excepção, nunca os deputados tinham tido um emprego tão bem remunerado nas suas vidas?
Será que sabem que a generalidade dos deputados nunca teve uma profissão ou um emprego, desconhecendo objectivamente que a sua função é servir e não servir-se?
Será que não vêem que estamos cada vez mais cansados desta farsa?

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Revisitar Portugal

Fui visitado por um familiar que vive em Brasília. Veio a Portugal para ver os pais e o país, tendo desembarcado no aeroporto com muito mais saudades do que bagagem.
A viagem com mais de 7300 quilómetros é muito longa, mas apesar dessa aventura e do frio que nesta época nos apoquenta por cá, o reencontro com a terra lusitana e com as suas marcas identitárias foi certamente reconfortante.
Não é o tempo das feiras populares, nem das sardinhas assadas, nem das tardes sem fim, mas é o tempo de um glorioso mar azul e de areais desérticos, de vinhos e de sabores únicos, além de tantos monumentos que nos evocam um passado histórico de algumas misérias e de muitas grandezas.
“Vale a pena revisitar Portugal” foi, seguramente, o que o meu familiar pensou, quando entrou no avião da TAP que o levou de regresso a Brasília.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Basta!

Os acontecimentos que estão a ocorrer na Tunísia e no Egipto continuam a suscitar interpretações muito diversas quanto às suas causas, mas também muitas preocupações quanto à sua previsível evolução.
No entanto, há um denominador comum em ambas as situações, que é o longo consulado de Zine Ben Ali na Tunísia (desde 1987) e de Hosni Mubarak no Egipto (desde 1981). Como tem sido visto na televisão, logo que as multidões se libertam dos seus constrangimentos políticos, logo reclamam o afastamento daqueles líderes.
E aqui? Quantos dirigentes nomeados pelo Estado, que nem sequer foram eleitos, ocupam lugares de topo há mais de vinte anos, sem que o seu desempenho seja questionado?

Mudar de vida

Com grande frequência, somos alertados para os problemas financeiros que Portugal atravessa, nomeadamente em relação ao Estado, ao seu défice e à sua dívida, cujos principais indicadores nos são fornecidos pelo Eurostat.
O défice público português em 2009 em relação ao PIB foi de -9.3%, enquanto a média do EUR27 foi de -6.8%; piores do que Portugal foram os desempenhos orçamentais da Grécia, Irlanda, Reino Unido, Espanha e Letónia.
A dívida pública portuguesa em 2009 em relação ao PIB atingiu 76.8%, enquanto a média do EUR27 foi de 71.4%; piores do que Portugal são as dívidas públicas da Itália, Grécia, Bélgica, Hungria e França.
Estes números mostram que, embora não seja única no contexto europeu, a situação portuguesa é complexa. Por isso, alguns entendidos prevêem a necessidade de ajuda internacional, enquanto outros dizem exactamente o contrário.
O que é evidente é que, a nossa fraca taxa de crescimento económico, não suporta as taxas de juro que nos estão a ser cobradas e, qualquer dia, a receita pública não será suficiente para pagar amortizações e juros. Nestas condições, todos os dias nos continuamos a afundar.
Com ou sem ajuda internacional, só nos resta uma saída: mudar de vida.
Mas, para isso, são precisas boas práticas e bons exemplos mas, lamentavelmente, umas e outros são muito raros.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Portalegre, os amigos e as boas memórias

Fui a Portalegre para me encontrar com alguns amigos num almoço, a reviver outros tempos e outras circunstâncias vividas nos tempos difíceis, de incerteza e de sacrifício que todos passamos na Guiné, antes de 1974.
São os bons amigos de há muitos anos, daqueles que nos fazem recuar no tempo a relembrar histórias e a recuperar memórias, no adequado ambiente proporcionado por um almoço de excelência, enriquecido com os melhores sabores da gastronomia alentejana. Estes amigos e a gastronomia alentejana, são duas experiências fantásticas.
Mas, para além do encontro com os amigos e do almoço, também havia o encanto da cidade, com um panorama atraente. É que eu gosto da orografia e do traçado urbano de Portalegre, serpenteando pela orla da serra de São Mamede, com vista para as encostas de sobreiros e oliveiras e, sempre, a evocar-nos a “Toada de Portalegre”, que José Régio criou.

    Em Portalegre, cidade
    Do Alto Alentejo, cercada
    De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros,
    Morei numa casa velha,
    Velha, grande, tosca e bela,
    À qual quis como se fora
    Feita para eu morar nela…

Foi um verdadeiro dia D, não tanto por qualquer desembarque na Normandia, mas pelas muitas emoções que a todos proporcionou. Obrigado à M. e ao C. por esta oportunidade!

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Mediterrâneo

Tunísia, Egipto… a revolução nas ruas, aqui bem perto, na margem sul do espaço geopolítico euro-mediterrânico.
Poucos imaginariam ver as imagens que a televisão nos tem mostrado, com multidões a reclamar por mudanças políticas profundas.
A rapidez da mobilização popular, estimulada pelas novas tecnologias da comunicação e da informação, surpreendeu a comunidade internacional que não esperaria este tipo de movimentações na orla mediterrânica.
Porém, numa época de crise generalizada e de dificuldades desigualmente partilhadas, como acontece na área euro-mediterrânica, não nos podemos surpreender com esta reacção à cegueira política dos dirigentes, à corrupção generalizada, ao clientelismo, ao agravamento da desigualdade e à injustiça social.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A Última Missão

As guerras de África são um tema que sempre me interessou e não dispenso a leitura do que se tem escrito sobre o assunto, até porque estive pessoalmente nelas envolvido e conheci muitos dos seus cenários em Moçambique e na Guiné. Por isso, li com toda a atenção A Última Missão de José de Moura Calheiros, que foi publicado muito recentemente. E gostei muito.
É uma obra muito bem estruturada, com uma escrita elegante, solidamente documentada e com um enorme interesse histórico, que nos permite conhecer com detalhe o que aconteceu na Guiné em 1973, especialmente nas violentas batalhas de Guidage e de Guilege/Gadamael.
Trata-se, provavelmente, de duas das mais importantes operações realizadas na Guiné, que se traduziram na perda de muitas vidas, de alguns aviões e de algumas dezenas de viaturas.
A Última Missão foi escrito por quem viveu esses acontecimentos no terreno e é, seguramente, um dos melhores livros até agora escritos sobre as guerras de África.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

RTP

A RTP é uma empresa pública. As suas receitas resultam, sobretudo, das indemnizações compensatórias e da taxa audiovisual, isto é, de fundos públicos. Segundo afirmou o líder do PSD (Correio da Manhã de 6 de Setembro de 2010), “só com a RTP o Estado gasta 400 milhões de euros”. Portanto, todos os dias, a RTP recebe mais de um milhão de euros.
É muito dinheiro!
Nenhuma outra empresa em Portugal recebe este avultado incentivo, que lhe permite pagar os mais elevados salários públicos, conceder mordomias impensáveis num país cronicamente deficitário e alimentar clientelas de toda a ordem, como não sucede nas estações televisivas concorrentes.
É muito despesismo!
Tudo isto até poderia ser aceitável se o serviço prestado fosse credível e de qualidade mas, infelizmente, é a mediocridade que está presente na generalidade da programação, que não diverte, que não forma e que não informa. Que faz fretes aos amigos, que embrutece, que enerva e que, por vezes, enoja!
É uma vergonha!

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Eleições Presidenciais 2011

Realizaram-se as eleições presidenciais e, sem qualquer surpresa, tudo ficou na mesma.
Ou talvez não.
O discurso da vitória foi confrangedor e desagregador, deixando-nos perplexos e apreensivos, porque não foi um momento de mobilização, nem foi uma mensagem de esperança. Foi uma oportunidade perdida e, nos tempos que correm, não se podem perder oportunidades.
Valha-nos Deus, como diz o povo!
Entretanto, os cadernos eleitorais tinham 9 629 630 inscritos. Alguém acredita neste número?