terça-feira, 6 de agosto de 2024

Biles, Marchand, Evenepoel e… Duplantis

Como se esperava, os Jogos Olímpicos de Paris têm sido uma grande festa e as reportagens televisivas têm-nos mostrado um enorme envolvimento da cidade e da sua população, mas também grandes espectáculos desportivos, em que se têm destacado verdadeiras estrelas
A imprensa dos diversos países tem acompanhado as competições e anunciado os feitos dos seus atletas, escolhendo aqueles que se destacam pelas suas proezas, que passam a ser idolatrados nos seus países como símbolos do orgulho nacional ou, até, como  exemplos de uma qualquer superioridade.
A imprensa americana tem destacado Simone Biles, a ginasta de 1,42 metros de altura, que desde Tóquio tem sido a figura maior da ginástica artística e já ganhou mais de uma dezena de medalhas olímpicas. A imprensa francesa encontrou o seu ídolo nas proezas do nadador León Marchand que já ganhou quatro medalhas de ouro, estabelecendo recordes olímpicos nas quatro provas em que participou. Os belgas rejubilaram eufóricos com as medalhas de ouro ganhas no contrarelógio e na prova de estrada pelo ciclista Remco Evenepoel. O entusiasmo no Brasil concentrou-se nas vitórias da judoca Beatriz Sousa e da ginasta Rebeca Andrade, esta porque se tornou a mais medalhada atleta olímpica brasileira de todos os tempos e, também, porque ganhou a Biles. Em sentido inverso, vimos a imprensa espanhola resignada e triste com os insucessos de Rafael Nadal e de Carlos Alcaraz, que viram o seu rival sérvio Novak Djokovic ganhar a medalha de ouro do ténis aos 37 anos de idade. Porém, o caso porventura mais sensacional que até agora aconteceu em Paris terá sido a vitória de sueco Armand Duplantis, que ganhou com invulgar brilho a prova do salto à vara e com um novo recorde mundial.
Simone Biles, León Marchand, Rebeca Andrade, Remco Evenepoel e alguns outros campeões foram excepcionais, mas… Duplantis terá sido ainda mais excepcional.
O diário sueco Nagens Nyheter, que se publica em Estocolmo, não costuma trazer o desporto para a sua primeira página, mas na sua edição de hoje homenageou Duplantis e o seu salto de 6,25 metros, com uma bela fotografia.

domingo, 4 de agosto de 2024

A escandalosa voracidade da nossa banca

A imprensa anunciou ontem que a banca portuguesa, que no ano de 2023 registara os seus maiores lucros de sempre, está a repetir esses lucros históricos em 2024. É uma boa notícia para a banca e para os banqueiros, mas é uma triste notícia para os depositantes e para quem necessita de crédito para a sua vida corrente, que se vê diariamente extorquido pelos apetites vorazes da banca, incluindo a banca pública.
A notícia apareceu na edição do oje – jornal económico, mas também foi destacada noutros periódicos: os cinco maiores bancos portugueses – BCP, BPI, CGD, Novo Banco e Santander – lucraram mais de 2619 milhões de euros no 1º semestre do ano de 2024, o que significa um lucro diário de 14 milhões de euros e um crescimento de 31% nos lucros relativamente ao ano anterior. A CGD teve o maior crescimento absoluto de lucro pois conseguiu 889 milhões de euros, o que significa um aumento de 281 milhões de euros relativamente ao 1º semestre de 2023, enquanto o Santander foi o banco cujos lucros mais cresceram em termos relativos, ao registar um lucro de 547,7 milhões de euros, correspondentes a um crescimento de 64,2% do seu lucro.
Os banqueiros explicam estes números com a margem financeira, o indicador que mede a diferença entre os juros cobrados nos créditos concedidos e os juros pagos nos depósitos, que atingiu 1426 milhões de euros durante o semestre, mas também nos proveitos com as comissões que atingiram 289 milhões de euros.
De facto, estes escandalosos resultados resultam da voracidade da banca e assentam na margem financeira e na cobrança de comissões por tudo e por nada, como por exemplo na “comissão de manutenção de conta”, uma verdadeira prática de extorsão praticada contra os depositantes e que, mensalmente, me vai ao bolso. Embora esses resultados também resultem de um maior dinamismo comercial e da melhoria operacional da estrutura da banca, da situação económica do país e da significativa redução das imparidades dos créditos, a prepotência da banca é mesmo um verdadeiro escândalo.
Estes números parecem referir-se a um país de grande actividade económica, de enorme riqueza e de muita prosperidade, mas na verdade referem-se a Portugal e recordam-nos “O Canto e as Armas”, uma obra publicada em 1967 por Manuel Alegre, certamente o livro mais cantado em Portugal, que inclui o Poemarma e o verso que apela a “que o poema [...] chegue ao banco e grite: abaixo a pança!”. Um belo poema!

sexta-feira, 2 de agosto de 2024

A 1ª medalha olímpica chegou a Portugal

Ao sétimo dia das provas olímpicas em Paris, os portugueses tiveram a alegria de ver uma atleta portuguesa ser medalhada, pois Patrícia Sampaio conseguiu o terceiro lugar e a correspondente medalha de bronze na prova de judo feminino para menos de 78 quilogramas. 
Não foi a estreia olímpica de Patrícia Tavares que em 2021 participou nas Olimpíadas de Tóquio 2020, onde chegou aos oitavos de final.Muitos portugueses, provavelmente já desesperavam por ver o nome do nosso país no medalheiro olímpico, pelo que este sucesso inesperado de Patrícia Sampaio, que correspondeu à 29ª medalha olímpica conquistada por portugueses em todas as suas participações olímpicas, veio dar algum ânimo aos desportistas portugueses.
Ontem tínhamos criticado a indiferença noticiosa da comunicação social portuguesa relativamente ao brilhante desempenho dos nossos triatletas Vasco Vilaça e Ricardo Baptista que se classificaram em 5º e 6º lugares na prova do triatlo, bem como de outros atletas como o ciclista Nelson Oliveira que obteve o 7º lugar na prova de contrarelógio, ou a atiradora Inês Baptista que conseguiu o 8º lugar na prova de tiro com arco.
O facto é que nas suas edições de hoje, a generalidade da imprensa portuguesa destacou em primeira página, o feito e a foto de Patrícia Sampaio, incluindo os jornais Público e Diário de Notícias, o que aqui vivamente saudamos, embora o apreço pelos atletas não tenha necessariamente de ser expresso apenas quando ganham medalhas.

quinta-feira, 1 de agosto de 2024

O brilhantismo dos triatletas portugueses

Disputou-se ontem em Paris a prova do triatlo masculino dos Jogos Olímpicos. Trata-se de uma prova que foi incluida pela primeira vez no programa dos Jogos Olímpicos de Sydney no ano de 2000, cujo formato consiste em três módulos ultrapassados de uma forma única e sem interrupção, respectivamente 1.500 metros de natação em águas abertas, seguidos de 40 km de ciclismo e de uma corrida em estrada de 10 km.
Com base nas performances reconhecidas oficialmente, a organização aceitou apenas 55 concorrentes oriundos de 41 países, neles se incluindo os triatletas portugueses Vasco Vilaça e Ricardo Baptista.
Ao contrário do que se passou com outros atletas e ex-atletas olímpicos que foram muito promovidos nos jornais e na imprensa portuguesa, ninguém conhecia Vasco Vilaça nem Ricardo Baptista, que foram praticamente ignorados pela comunicaçáo social. Porém, ontem, em directo pela televisão, pudemos ver a excelência da participação destes dois jovens que concluiram nas ruas de Paris e sob o incentivo de muitos portugueses, a sua extraordinária prova em quinto e sexto lugares, o que representa o melhor resultado até agora conseguido pelos olímpicos portugueses.
O triatlo é uma prova duríssima e muito exigente, pelo que os seus praticantes merecem o nosso aplauso, sobretudo quando conseguem tão bons tresultados como aconteceu com Vasco Vilaça e com Ricardo Baptista. Porém, a imprensa portuguesa, tanto de informação geral como desportiva, voltou a ignorar esta façanha do desporto português, preferindo enfatizar a figura do futebolista João Neves que foi vendido a um clube de Paris, que é propriedade de um árabe.
Neste espaço deixamos o nosso aplauso ao comportamento dos nossos triatletas e, como se trata de um caso desportivo, deixamos um cartão amarelo aos homens que fazem os jornais e aos seus gatekeepers, pela sua falta de sensibilidade noticiosa.

Ser gigante em Paris e em Brasília

A edição de hoje do Correio Braziliense destaca com a palavra “gigantes” o sucesso da equipa feminina de ginástica artística brasileira que obteve o terceiro lugar na sua prova olímpica em Paris, depois dos Estados Unidos e da Itália e, portanto, à frente de algumas potências mundiais da ginástica artística, como a China, o Japão e a Roménia. Foi um feito inesperado e grandioso do desporto brasileiro, através do desempenho de cinco excepcionais ginastas que “levaram o Brasil às lágrimas”, como se referiu aquele jornal a esse notável resultado. 
Porém, o sucesso já foi mais longe e a comitiva olímpica brasileira que tem 274 atletas, apesar da “procissão ainda estar no adro”, já conquistou quatro medalhas olímpicas (uma de prata e três de bronze), no judo e no skate, para além da ginástica artística.
O respeitável jornal Correio Braziliense elegeu o resultado da ginástica artística para ilustrar a sua primeira página, embora tivesse omitido outros gigantes que, não estando a competir em Paris, conseguiram grandes resultados académicos na Universidade de Brasília que, em certo sentido, também são um desporto e, em boa verdade, com o mesmo tipo de exigência. Por isso, aqui fica minha homenagem àqueles e àquelas que foram “gigantes” nas provas disputadas, não só em Paris 2024, mas também nas exigentes provas que disputaram na Universidade de Brasília.

quarta-feira, 31 de julho de 2024

Todo ambicionam medalhas olímpicas

Ao fim de cinco dias de provas olímpicas, as imprensas nacionais vão glorificando os seus atletas com noticiários e títulos que procuram ser mobilizadores para eles, para os seus patrocinadores e para os seus públicos. É assim em toda a parte.
Ontem o jornal francês Le Parisien escrevia que “les Bleus sont chauds”, enquanto o espanhol Marca anunciava que “España ruge”, o italiano La Stampa escrevia “Regina di spada”, o New York Post escolhia como título “Golden girls” e o Correio Braziliense escrevia apenas “Gigantes”. Neste contexto informativo excessivamente desportivo e demasiado laudatório, o noticiário sobre o que se passa na Venezuela, na Ucrânia, em Gaza ou no Líbano, torna-se absolutamente marginal, embora as diferentes situações continuem a ser preocupantes.
O facto é que as competições da 33ª Olimpíada vão decorrendo como se o mundo vivesse tempos gloriosos de paz e de concórdia, enquanto Emmanuel Macron vai aproveitando esta anestesia que está a acalmar os franceses, para se recompor dos seus desaires políticos.
A França tem estado à altura deste grande desafio e, enquanto país organizador, tem tido assinalável sucesso desportivo. O medalheiro deste episódio olímpico designado como Paris 2024 vai sendo preenchido e, nesta altura, já há 40 países que ganharam medalhas, dos quais 21 ganharam medalhas de ouro. Todos ambicionam medalhas olímpicas, mas a China, a Austrália e o Japão já estão na frente, enquanto os portugueses ainda esperam com alguma impaciência para ver a sua bandeira ser hasteada no mastro do pódio olímpico e ouvir A Portuguesa.

terça-feira, 30 de julho de 2024

Uma espectacular fotografia de Paris 2024

À margem dos desempenhos desportivos e da luta pelas medalhas, os Jogos Olímpicos também são uma “quase-competição” pela captura das melhores fotografias, na qual “participam” centenas de fotojornalistas do mundo inteiro.
Um deles é Jerôme Brouillet, um fotojornalista francês da Agence France-Presse, que ontem em Teahupo’o, na ilha do Taiti da Polinésia Francesa, se encontrava a bordo de uma pequena embarcação para fotografar as provas de surf olímpico, tendo-se posicionado nas proximidades do “tubo” provocado pela rebentação da onda, por onde os surfistas iriam passar, a fim de fotografar a sua “saída do tubo”.
Quando o surfista brasileiro Gabriel Medina “surfou” uma das maiores ondas do dia, teve a sensação que lhe correra muito bem e “saíu” em linha recta acima das ondas, manifestando exuberante satisfação pela sua prestação. Jerôme Brouillet “estava lá” e fez a fotografia desse instante em que Gabriel Medina “saía” de um “tubo” que lhe rendeu 9,90 pontos, a maior pontuação da história do surf olímpico, apontando um dedo para o céu, com a prancha ao seu lado que, por acaso, também apontava para o céu.
A fotografia de “um surfista a voar” correu mundo, já foi considerada a “foto perfeita” e um grupo de comunicação australiano escreveu que era “a melhor foto de desporto de todos os tempos”.
A foto de Jerôme Brouillet foi publicada na primeira página do jornal O Globo, mas como celebrava Gabriel Medina, também foi publicada por toda a imprensa brasileira de referência. Ainda faltam duas semanas para o fim dos Jogos Olímpicos, mas já há quem diga que esta é a mais icónica de todas as que vierem a ser feitas.

segunda-feira, 29 de julho de 2024

Venezuela não se livra de Nicolás Maduro

Tal como muitos esperavam, as eleições presidenciais na Venezuela foram um grosseiro exercício de simulação democrática. Tudo foi manipulado para dificultar a vida aos adversários do ditador venezuelano e foi o próprio Nicolás Maduro que anunciou a sua vitória com 51.2% dos votos, com Edmundo Gonzalez Urrutia, o principal candidato da oposição, a obter apenas 44,2% dos votos. A oposição repudiou esta declaração e afirmou que Maduro só teve 30% dos votos e que Edmundo Gonzalez venceu com 70% dos votos.
O exuberante anúncio de vitória feito por Maduro, travestido de clown,  aconteceu quando estavam contados apenas 80% dos votos e sem haverem sido apurados os resultados parciais de milhares de mesas de voto, o que é surrealista e mentiroso. O ditador nem esperou pela contagem dos votos e tratou de se autoproclamar vencedor. Os portugueses, sobretudo aqueles que viveram as eleições presidenciais de 1958, em que Humberto Delgado ganhou nas urnas mas perdeu devido à extensão da fraude eleitoral, conhecem bem a forma fraudulenta como os ditadores ganham eleições.
A oposição venezuelana denunciou muitas irregularidades durante a campanha eleitoral, muitos viram a agonia do chavismo e o fim da ditadura bolivarista. Os resultados anunciados levaram a população para as ruas a contestar os resultados. Diz-se que o povo é quem mais ordena e o ambiente de tensão está a aumentar. Ninguém quer prever o que possa acontecer.
Alguns países já felicitaram a figura caricata de Nicolás Maduro, casos da China, Rússia, Cuba, Bolívia, Nicarágua, Honduras e Síria. Outros países recusam-se a reconhecer os resultados, como a Argentina, o Uruguai, o Brasil, o Perú e a Costa Rica e outros, ainda, mostraram-se cautelosos como o Chile, a Colômbia, os Estados Unidos e a União Europeia, pedindo maior transparência no processo de contagem dos votos.
A imprensa reflecte as posições dos diferentes países e enquanto alguns se limitam a repetir o anúncio do Conselho Nacional Eleitoral, dizendo que “Maduro é o vencedor mas a oposição contesta”, outros como acontece com o jornal peruano La Razón falam em “fraude na Venezuela”. 
Haverá alguém que tenha dúvidas de que as eleições foram fraudulentas?
O facto é que as eleições venezuelanas nada contribuiram para o desanuviamento de um panorama internacional cada vez mais complexo.

domingo, 28 de julho de 2024

Venezuela: continuidade ou renovação?

O jornal uruguaio El País destaca na sua edição de hoje que “Venezuela decide si pone fin a 25 años de régimen chavista”, porque hoje se realizam eleições presidenciais no país. O assunto é importante para Portugal porque vivem na Venezuela cerca de meio milhão de portugueses ou luso-descendentes, oriundos sobretudo do arquipélago da Madeira, havendo muitos deles com dupla-nacionalidade.
A Venezuela é o país com as maiores reservas de petróleo do mundo, mas deixou passar o tempo da “petroprosperidade” para se desenvolver. Actualmente, o seu Índice de Desenvolvimento Humano, que agrega condições de saúde, educação e rendimento, está em 119º lugar do ranking IDH das Nações Unidas, o que significa um desenvolvimento abaixo da média.
Entre 1999 e 2013 o país foi governado por Hugo Chávez que impôs um regime de cunho nacionalista que foi chamado bolivarismo. Com a sua morte por doença, sucedeu-lhe o seu vice-presidente Nicolás Maduro, que foi eleito em 2013 e em 2018, embora esta vitória não tivesse sido reconhecida pela oposição, nem pela comunidade internacional. Enquanto cópia de Chavez, dizem os críticos que é pior que o original, daí resultando uma crise política e económica, com aumento da pobreza, da fome, da inflação, da criminalidade, da emigração e do isolamento internacional.
Hoje, cerca de 21 milhões de eleitores venezuelanos vão escolher o seu novo presidente entre dez candidatos, mas o que eles irão fazer é a escolha entre a continuidade ou o fim do chavismo/bolivarismo, ou entre Nicolás Maduro, do Partido Socialista Unido da Venezuela e o diplomata Edmundo Gonzalez Urrutia, da Mesa Unitária Democrática.
A situação é complexa, até porque Maduro está em desvantagem nas sondagens e pediu aos eleitores para “pensarem bem” no seu voto, alertando para um “banho de sangue” se perder, o que para muitos foi visto como uma ameaça.

sábado, 27 de julho de 2024

O ditador Benjamin é um perigo mundial

Blaise Pascal, um filósofo, matemático, físico e inventor francês do século XVII, é o autor da frase “o coração tem razões que a própria razão desconhece”. Esta frase tornou-se famosa e tem sido utilizada em diferentes contextos e com significados muito diversos. Por isso, também me sinto autorizado a plagiar Pascal e a escrever que “a política internacional tem razões que a própria razão desconhece”.
Benjamin Netanyahu, que é o primeiro-ministro de Israel, está acusado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por diversos crimes de guerra e crimes contra a humanidade, sendo objecto de um mandato de captura internacional por “extermínio” e “morte de civis pela fome”. Apesar de manter um massacre sobre o povo palestiniano que já matou mais de 39 mil pessoas e gerou uma catástrofe humanitária, o ditador israelita foi convidado a visitar os Estados Unidos e a discursar em Washington, numa sessão conjunta da Câmara dos Representantes e do Senado, em que defendeu a guerra em Gaza, mostrou o seu ódio contra os palestinianos e foi muito aplaudido. 
O apoio que recebeu não foi unânime, como refere o The Wall Street Journal. Kamala Harris, a vice-presidente e candidata presidencial, acusou a política de extermínio israelita e recusou-se a assistir à sessão, a que constitucionalmente devia presidir, enquanto o senador independente Bernie Sanders não discursou naquela sessão, em protesto contra a presença de Netanyahu e a sua recusa de uma solução de dois estados para aquela região.
A contestação ao discurso também se revelou no estrangeiro e Recep Tayyip Erdogan, o presidente da Turquia que é membro da NATO desde 1952, acusou o Congresso americano de “coroar o Hitler da nossa era”, afirmando que “em vez de parar o massacre, estamos a assistir a um colapso da razão, quando dão as boas-vindas ao carniceiro no Congresso e aplaudem-no 57 vezes durante o seu discurso delirante”.
Custa a crer como tantos senadores e congressistas americanos pactuaram com este ditador e o aplaudiram ou, então, a política internacional tem razões que a própria razão desconhece.

As surpresas do anticiclone dos Açores

A ponta dos Rosais, na ilha de S. Jorge
A meteorologia dos Açores é dominada pelo seu famoso anticiclone, que é um centro de altas pressões atmosféricas que influencia o tempo e o clima de vástas áreas da Europa, do Norte de África e das Américas. Este sistema é um exemplo de um anticiclone subtropical quente e tem variações de posição ao longo do ano, mas no Verão mantém-se bastante estacionário na proximidade do arquipélago, o que origina um tempo ameno, com ventos fracos e fraca pluviosidade. Porém, o comportamento do anticiclone não é regular pelo que, apesar das condições meteorológicas favoráveis em que a luminosidade oferece panoramas de grande deslumbramento, também se sucedem fenómenos de excepção, designadamente no mar, onde a temperatura da água atingiu os 26 graus nos últimos dias, bem como situações de invernia fora do tempo, com ondulação e mar encapelado, nevoeiro e pouca visibilidade, vento e alguma pluviosidade. 
Foi nessas condições de excepção que navegamos recentemente da ilha do Pico para a ilha Graciosa, mas o anticiclone surpreendeu-nos. A passagem pela ponta dos Rosais, na extremidade ocidental da ilha de S. Jorge, proporcionou nesse dia uma visão digna da passagem do cabo Horn, tido como o "lugar mais perigoso do mundo para os navegantes". Na fotografia que então captei destaca-se o dia sombrio, o mar encapelado e, imponente e solitário, o farol dos Rosais.

sexta-feira, 26 de julho de 2024

Angola e Portugal em onda de cooperação

A edição de hoje do Jornal de Angola destaca a visita do primeiro-ministro português a esse grande país a que nos ligam demasiadas memórias históricas e em cujo mercado actuam mil empresas portuguesas. As relações entre Portugal e Angola, mas também entre todos os nove países da CPLP, são muito importantes porque assentam num íntimo conhecimento histórico, em afinidades culturais e numa língua comum.
No Livro do Desassossego, que é considerado pela crítica como uma obra-prima ou uma verdadeira obra de arte da literatura portuguesa, “composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa, por Fernando Pessoa”, publicado pela primeira vez em 1982, quase meio século após a sua morte acontecida em Lisboa no dia 30 de novembro de 1935, o poeta escreveu:
“Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa”.
Essa frase escrita há quase cem anos é uma âncora emocional para milhões de pessoas que se exprimem em português. Durante os séculos da sua expansão marítima os portugueses fixaram-se em muitas das terras que encontraram em todos os continentes e, desse processo histórico muito complexo e nem sempre respeitador das culturas locais, resultaram algumas fricções mas também um rico processo de aculturação, cujo principal vector foi a língua portuguesa. Com o movimento do 25 de Abril de 1974, foram criadas as condições de pacificação, de cooperação e de solidariedade entre Portugal e os países nascidos da sua era colonial, com base nas suas relações históricas e na língua comum.  Actualmente, segundo anuncia o Instituto Camões, cerca de 260 milhões de pessoas falam o português, que é a quarta língua materna mais falada do mundo, depois do mandarim, do inglês e do espanhol, enquanto nove países da CPLP e Macau têm o português como língua oficial.
A visita a Angola de Luís Montenegro é um passo dado no sentido certo e estimula a necessária onda de cooperação entre os dois países.

quinta-feira, 25 de julho de 2024

Paris 2024 também é um acto cultural

Em vésperas da abertura oficial dos Jogos Olímpicos, sucedem-se as reportagens na imprensa sobre os seus aspectos desportivos, mas também outros aspectos que lhe estão associados, sobretudo de ordem política, económica, logística, cultural e diplomática. 
O pequeno Emmanuel Macron que tem acumulado tantos desaires políticos internos e internacionais, tem agora a oportunidade de ocupar o centro do mundo e brilhar à sombra dos 330 metros da altura da Tour Eiffel. Por isso, organizou uma grande festa de inauguração, a realizar no rio Sena, tendo convidado os presidentes das maiores multinacionais do mundo que já lhe garantiram 15 mil milhões de euros de investimento e um cortejo numeroso de líderes mundiais que lhe comprarão Airbus e material militar, mas nesse grupo faltarão Joe Biden, Vladimir Putin, Xi Jinping e Lula da Silva, porque os tempos não estão para grandes festas. Porém, não faltará Marcelo Rebelo de Sousa com a sua comitiva de assessores, mais os seus jornalistas convidados.
Haverá por certo várias declarações, nomeadamente de Macron, a pedir um cessar-fogo em Gaza e na Ucrânia, mas a França é um dos principais fornecedores de armamento a Israel e à Ucrânia, o que significa que muitos dos pedidos de tréguas ou de cessar-fogo que venham a ser feitos, são meros exercícios de retórica, ou mesmo de hipocrisia.
No entanto, nenhum destes comentários retira importância nem destaque à parte desportiva dos Jogos Olímpicos, como mostra a edição de hoje do JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias que, sendo o mais importante órgão de comunicação português na área cultural, reconhece nesta sua edição a grandeza cultural dos Jogos Olímpicos. E faz muito bem!

quarta-feira, 24 de julho de 2024

Aí estão os Jogos Olímpicos de Paris 2024

Na próxima sexta-feira, dia 26 de julho de 2024, serão oficialmente inaugurados os Jogos da XXXIII Olimpíada, designados como Jogos Olímpicos de Paris 2024, que decorrerão até ao dia 11 de agosto. Será, certamente, o mais atraente espectáculo televisivo do ano, em que se concentrarão milhares de milhões de espectadores em todo o mundo.
Os tempos mudaram e já não são o que foram, quando em 1894 foram criados pelo Barão Pierre de Coubertin e em que o espírito dominante assinalava que “o mais importante não é vencer, mas participar”. Agora, os 10.714 atletas que participarão em 32 modalidades desportivas nestes Jogos querem mesmo vencer, ganhar medalhas, regressar aos seus países como os heróis e acumular as suas contas bancárias.
Portugal participa nos Jogos Olímpicos desde a sua 5.ª edição, realizada em Estocolmo no ano de 1912 e, nesta 33ª edição, a comitiva olímpica portuguesa terá 73 atletas em que, pela primeira vez, haverá mais mulheres (37) do que homens (36), que irão competir em 15 modalidades, havendo a habitual esperança de alguns bons resultados.
Ontem o jornal i dedicou muitas páginas da sua edição às Olimpíadas de Paris e escolheu a fotografia do canoista Fernando Pimenta para a ilustrar, até porque é o atleta português sobre quem recai o maior favoritismo para uma vitória olímpica.
Desde a sua primeira participação olímpica em 1912 os portugueses já ganharam 28 medalhas, das quais cinco de ouro, nove de prata e catorze de bronze. 
Aqui fica a nossa homenagem aos nossos campeões olímpicos: Carlos Lopes (Los Angeles, 1984), Rosa Mota (Seoul, 1988), Fernanda Ribeiro (Atlanta, 1996), Nelson Évora (Pequim, 2008) e Pablo Pichardo (Tóquio, 2020). Haverá algum Fernando Pimenta que se possa juntar a esta lista?

terça-feira, 23 de julho de 2024

EUA: sai Joe Biden e entra Kamala Harris

As eleições presidenciais americanas são importantes para o mundo e é sabido como há muitos assuntos da política internacional que “esperam” pelos seus resultados, inclusive a paz em várias regiões do nosso planeta. A hipótese de se confrontarem os mesmos candidatos das anteriores eleições – Donald Trump e Joe Biden – tornou o presente processo eleitoral americano mais disputado e até mais emotivo.
Acontece que nos últimos dias se sucederam alguns acontecimentos relevantes, como o debate do dia 27 de junho em que Biden esteve desastrado, a tentativa de assassinato de Trump do dia 13 de julho e o anúncio da desistência de Biden no dia 21 de julho. As hostes democratas andavam divididas e desalentadas pois a escolha de Biden não era consensual devido à sua idade e ao seu estado de saúde. Com a sua desistência, em poucas horas surgiu a candidatura de Kamala Harris, a actual vice-presidente dos Estados Unidos, que logo devolveu a esperança aos Democratas, atacando Donald Trump com muita dureza, atraindo avultados apoios políticos e financeiros e garantindo a adesão da maioria dos delegados para a convenção democrata que se realizará entre os dias 19 e 22 de agosto, para escolher o candidato que concorrerá contra Donald Trump.
A imprensa americana está repartida entre os que entendem que com Kamala Harris a vitória de Trump será mais fácil e os que acreditam que o entusiasmo e o dinamismo de Harris vão derrotar Donald Trump. Será, certamente, um case study para ser acompanhado pelos estudiosos da sociologia política.
Hoje, a imprensa afecta aos Democratas encheu as suas primeiras páginas com a fotografia de Kamala Harris sorridente e determinada em inverter os números que são indicados pelas sondagens, com o Daily News a destacar que “Harris une os Democratas”.
Sem dúvida que a renúncia de Biden abriu uma nova página na corrida presidencial americana. Porém, porque Biden ainda estará na Casa Branca por mais seis meses, será de esperar que queira deixar o seu nome ligado a um grande acontecimento mundial, que apague esta sua derrota de julho de 2024.