segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Viagens de Estado... em tempo de crise

Os nossos governantes desdobram-se em viagens de Estado, naturalmente para melhor desempenhar as suas importantes funções. Essas viagens são missões de sacríficio, são obrigações indeclináveis e, mesmo em tempo de austeridade, só podem ser, como antigamente, a bem da Nação. Não se imagina outra coisa!
O ministro Portas tem sido o campeão e ninguém se lhe compara. O homem embarca, desembarca, discursa, fotocopia, posa, orienta e corre. Este ano, já tem na sua bagagem pelo menos duas visitas aos Estados Unidos e viagens à Turquia, ao Brasil, à China  e, agora, a Moçambique. Falta dinheiro para o Instituto Camões, mas não falta dinheiro para as viagens do ministro Portas e das suas comitivas. Que exemplo!
O ministro Portas está em Moçambique para “dar ânimo aos empresários portugueses”. Em tempo de crise, é uma decisão controversa e cara. Hoje visitará a FACIM-2012 e, em particular, o Pavilhão de Portugal. Ontem terá estado num encontro informal com os empresários portugueses e, amanhã, estará na recepção alusiva ao Dia de Portugal na FACIM. Um programa muito apertado e cansativo!
O ministro Relvas inicia amanhã uma visita a Timor-Leste para “reiterar o apoio de Portugal à consolidação política e económica do país”. Em tempo de crise, é uma decisão controversa e cara. O ministro vai na esteira da viagem do ministro Mota e espera ser aplaudido em Dili e não voltar a ser vaiado, como aconteceu em Mafra na abertura dos Jogos da CPLP.
Eu pergunto se, em tempo de grande sacrifício e de pouca esperança, os meus impostos são para pagar viagens destinadas a dar ânimo aos empresários portugueses” e para “reiterar o apoio de Portugal à consolidação política e económica do país”. O que é que estes ministros-figurões podem fazer em Timor-Leste ou Moçambique que os nossos embaixadores residentes não possam ou não devam fazer?

domingo, 26 de agosto de 2012

Espanha: a hora do "patrioptimismo”

A edição de hoje do diário madrileno La Razón apresenta uma capa muito simbólica para os seus leitores que estão a regressar de férias e que se vão reencontrar com uma situação política dominada pela dúvida e pela incerteza, lançando-lhes um desafio muito mobilizador:
 "La hora del patrioptimismo".
De facto, a Espanha passa por um período muito crítico e enfrenta sérias dificuldades: é o desafio do futuro do euro e a possível necessidade de um resgate internacional, é a questão  da unidade nacional e das soberanias regionais, é o grave problema do desemprego e a ameaça sindical de “tomar las calles”. Sob o peso das dificuldades económicas, há quem pense que os desafios nacionalistas se vão acentuar como nunca, pelo menos no País Basco e na Catalunha, mas também que se agrave a tendência espanhola para extremarem posições e passarem rapidamente da euforia à depressão.
Por isso, a edição veicula uma mensagem de unidade nacional e de esforço repartido, porque só um país unido e com esperança pode superar os erros do passado e os excessos do Estado social. A edição refere a necessidade de um patriotismo moderno, que se estenda a todos os sectores da sociedade como acontece com o desporto, critica a obsessão financeira alemã e recorda que o projecto europeu é, sobretudo, um projecto de solidariedade e de paz para acabar com os enfrentamentos bélicos e os nacionalismos que condenaram a Europa. O jornal também destaca a importância do optimismo para vencer as dificuldades, através do trabalho e da determinação para mudar as coisas que estão mal e, evidenciando esperança na resolução da situação, afirma que “o optimismo vende”. Finalmente, com a receita patriotismo + optimismo, até o La Razón se mostra optimista e acredita que "os bons políticos e as grandes nações emergem nos momentos complicados".
Aqui no rectângulo, as coisas não são muito diferentes do que se passa em Espanha, mas há a sensação de que, neste momento complicado, não temos políticos à altura das circunstâncias e que em vez de cumprirem uma missão de serviço público, têm um emprego e usam-no como trampolim.

RTP: o atrevimento do assessor Borges

Aproxima-se o dia em que o governo se propõe desfazer-se da RTP, o que constitui uma decisão muito controversa, porque embora precisemos de uma televisão pública, não é desta que necessitamos. Nós precisamos de uma RTP, mas não desta RTP!
A RTP que temos é um poço sem fundo onde se enterram e desperdiçam milhões de euros provenientes dos nossos impostos e, além disso, é frequentemente um aborto de qualidade e um atentado à inteligência das pessoas. A situação arrasta-se desde há muitos anos, mas tem havido uma gravíssima cobardia das tutelas e das administrações que, ao longo dos anos, foram incapazes de resolver os graves problemas daquela casa, do seu sobredimensionamento, do excesso de pessoal e de dirigentes, das mordomias e dos carros de luxo, dos despesismos, do pluriemprego, da obscenidade dos altos salários que são pagos às “estrelas”, do culto do amiguismo corporativo e, em síntese, daquele escandaloso regabofe. Só nos últimos quatro anos a RTP custou mil milhões de euros aos cofres públicos em indemnizações compensatórias (488 milhões) e em transferências de capital (597 milhões), a que se devem somar as contribuições do audiovisual que os portugueses pagam mensalmente com a factura eléctrica (cerca de 500 milhões). É mais do que um milhão de euros todos os dias!
Agora o governo parece querer livrar-se rapidamente da RTP e entregá-la aos tubarões. Segundo revelou o assessor Borges, esse emissário da Goldman Sachs em Portugal que é ele mesmo um tubarão, o cenário mais provável para o futuro da RTP é o da concessão da empresa a investidores privados, com a garantia de continuarem a receber a taxa audiovisual que é de cerca de 140 milhões de euros anuais. Que grande ideia tem esse assessor Borges: entregar o que é nosso e querer que continuemos a pagar! O assessor Borges gosta muito de falar e ninguém no governo o manda calar. O assessor Borges é um atrevido e um espertalhão, ou se quiserem, um chico-esperto. Porque não se dedica apenas ao Pingo Doce, que até lhe dá emprego na Polónia? Quanto à RTP, entre privatização e concessão, porque não uma valente vassourada naquele regabofe, começando pela venda em leilão dos 57 carros de luxo?

sábado, 25 de agosto de 2012

Tesouros escondidos do nosso património

O nosso país tem uma forte identidade nacional assente em quase novecentos anos de história e pelo território nacional estão disseminadas fortificações e castelos, palácios e conventos, igrejas e pontes, que constituem um importante património monumental de grande valor histórico e simbólico.
A UNESCO reconheceu essa realidade e já distinguiu mais de uma dezena de monumentos, sítios arqueológicos ou paisagens naturais com a classificação de Património da Humanidade. Essas escolhas da UNESCO fazem parte dos nossos roteiros culturais e são locais conhecidos e visitados, não só pelo seu valor patrimonial, mas também pelas histórias que encerram.
No entanto, há muitos “tesouros escondidos do nosso património” e, na sua última edição e numa reportagem muito interessante, a revista Visão apresenta 25 desses sítios de grande interesse histórico e cultural, que ainda não foram reconhecidos pela UNESCO e que aconselha vivamente a serem visitados. Esses sítios encontram-se por todo o país, mas enquanto a localização de alguns não estimula uma visita, há outros que ficam bem próximos de locais por onde passamos com frequência.
Belmonte e Almeida, Penedono e Evoramonte, Idanha-a-Velha e Tibães são, apenas, alguns dos monumentos ou sítios que a Visão aconselha a descobrir. A partir de agora e depois deste alerta da revista, espero estar mais atento para descobrir ou redescobrir alguns desses locais.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Os nossos contabilistas são uns teimosos!

Com títulos diversos e em vários jornais, estamos a ser fustigados com a notícia que, apesar da austeridade, as coisas não estão a correr bem devido à quebra nas receitas fiscais, o que deixa o objectivo do défice de 4.5% para 2012 mais longe de ser alcançado. Embora a despesa com a administração pública tenha caído quase mil milhões de euros devido sobretudo ao corte de subsídios aos funcionários e pensionistas, verificou-se uma brutal quebra na receita fiscal, estimando-se que o desvio atinja três mil milhões de euros, que é um montante superior a 1,5% do PIB e que “atira” o défice para 6.0%.
A execução orçamental de 2012 está pressionada pela subida da despesa com prestações sociais e subsídios de desemprego e com a quebra das contribuições para a Segurança Social, que são consequência desta austeridade. O governo já em Maio alertara para o aumento dos "riscos e incertezas" que ameaçavam o cumprimento da meta do défice, devido aos resultados da execução orçamental do lado da receita. O que é que esperava o gaspar e os contabilistas que nos governam? Conhecem o país e a economia reais? Provavelmente, não! Toda a gente sabe que quando se espreme um limão, a partir de certa altura já não dá sumo. O caminho adoptado não está a resolver o nosso problema e são precisas novas ideias. Talvez novas pessoas. Talvez menos viagens. Talvez menos austeridade. Assim, isto é um naufrágio, não é um ajustamento.
Aqueles que há dezasseis meses afirmavam que não seriam cortados subsídios e que tudo seria resolvido com a saída do pinto de sousa e com o corte de gorduras, em vez de assumirem que erraram e que não são competentes, já nos ameaçam com mais austeridade. Os nossos contabilistas e os seus assessores são mesmo uns teimosos!

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O fascínio lusitano por bons automóveis

A Associação do Comércio Automóvel de Portugal (ACAP) divulga mensalmente as estatísticas das vendas de veículos automóveis em Portugal. São muito poucas as entidades públicas ou privadas que são tão céleres na divulgação de um tipo de informação que, como esta, nos ajuda a perceber melhor a real situação económica e social em que nos encontramos e, por isso, a ACAP merece elogios.
Pois, segundo o seu boletim mensal, entre Janeiro e Julho deste ano, o mercado automóvel caíu em todos os sectores – ligeiros de passageiros, comerciais ligeiros e veículos pesados. Em sete meses foram vendidos 72.760 veículos que, relativamente ao mesmo período de 2011, representa uma queda de 41%. São os sinais da crise e da sua dimensão!
A análise das estatísticas é deveras curiosa, pois mostra-nos que os portugueses compram menos mas que continuam a comprar do melhor, não prescindindo de motores com desempenho acima da média, nem dos emblemas de maior prestígio. Assim, as marcas mais vendidas foram a Renault, a Volkswagen, a Peugeot, a BMW e a Audi e, nos 62.661 veículos ligeiros de passageiros vendidos nos primeiros sete meses do ano de 2012, encontram-se 4000 BMW, 3807 Audi e 3192 Mercedes, embora o modelo mais vendido tivesse sido o Renault Mégane, que custa 28.100 euros. A lista das vendas informa-nos, ainda, que nesses sete meses foram vendidos 167 Porsches (apenas 10% menos do que em 2011), 78 Jaguares (mais unidades do que em 2011), 6 Ferraris, 3 Aston Martin, 3 Bentley e um Lamborghini. Quem serão e qual a origem dos rendimentos desta gente?
A conclusão é óbvia: a crise não é igual para todos, há quem continue a ter privilégios injustificados e imorais e, evidentemente, não há justiça fiscal nenhuma. O nosso contabilista gaspar continua a ter medo dos fortes e a malhar nos fracos.

domingo, 19 de agosto de 2012

Um jornalismo de vão de escada?

Nos últimos tempos tem sido ouvida a voz de gente muito corajosa que, sobretudo através da televisão, tem denunciado o compadrio e a promiscuidade que, simultaneamente, domina o aparelho de Estado e os interesses empresariais, havendo algumas dessas vozes que não hesitam em utilizar a palavra corrupção para descrever o estado a que chegamos. Ninguém tem dúvidas quanto às dificuldades por que passamos e, por isso, é exigível mais rigor na gestão pública e mais equidade nos sacrifícios pedidos à população. A austeridade é realmente necessária, mas os sacrifícios têm que ser equitativamente repartidos. Porém, não tem sido assim e isso é uma chocante evidência, que deve ser denunciada pela imprensa.
Os relatos que circulam na blogosfera, verdadeiros ou não, são muito preocupantes. Somos frequentemente confrontados com informações relativas a admissões nos quadros do Estado de assessores, especialistas, motoristas e gestores, aparentemente amigos e até familiares do poder. É verdade ou não? Haverá governantes que viajam demais e que levam consigo grandes comitivas. É verdade ou não? Dizem que há serviços e fornecimentos adjudicados aos amigos e sem concurso. É verdade ou não? Dizem que há demasiadas excepções à supressão dos subsídios dos assalariados e pensionistas do Estado. É verdade ou não? A imprensa e os jornalistas raramente tratam esses temas. Estarão dependentes dos poderes que dominam a sociedade? Estarão amedrontados? Será uma questão de preguiça ou de obediência à lei do menor esforço?
A generalidade dos jornalistas perde muito tempo com o futebol e com os pequenos escândalos sociais, esquecendo a sua função de formar e de informar sobre os assuntos importantes e, sobretudo, está a perder a prática da reportagem de investigação que traga para o conhecimento público os casos de desgoverno, de abuso de poder, de despesismo, de favorecimento ilícito e de corrupção, que possam eventualmente constituir notícia com interesse relevante. O jornalismo que vamos tendo parece de vão de escada ou, como se diz na gíria, é um jornalismo de corta e cola.

sábado, 18 de agosto de 2012

Que faire pour la Syrie?

O jornal francês Libération dedica a sua última edição ao problema sírio e revela que o violento conflito que opõe o regime de Bashar al-Assad às forças da oposição e seus aliados, parece que está para durar. Depois da mediação de Kofi Annan ter sido infrutífera, foi agora pedido a Lakhdar Brahimi, um diplomata argelino, o mesmo esforço para encontrar uma solução para o conflito.
Desde há alguns meses que a Síria está envolvida numa guerra civil e é urgente que se encontre uma solução, porque o povo sírio não merece tanta violência, nem tanta destruição, nem aquela tão sensível região do Médio Oriente, por onde passam os grandes interesses internacionais, suporta tanta instabilidade.
Nas duas últimas dezenas de anos o mundo assistiu a algumas guerras civis, destacando-se especialmente as que ocorreram na Jugoslávia, no Sri Lanka e na Líbia. Embora nesses casos tenha havido algum envolvimento externo em homens, material e dinheiro, tratou-se principalmente de um feroz conflito interno entre grupos étnicos ou facções políticas, que se caracterizou pelas violentas atrocidades praticadas por todos os contendores. Os relatos e as imagens que então nos chegaram de Sarajevo, de Jaffna ou de Benghazi, mostraram que não havia bons de um lado e maus do outro, mas que todos se tinham tornado maus. É exactamente o que se está a passar na Síria. São todos igualmente maus e só com base nessa realidade é que se pode encontrar uma boa solução, sem a interferência da imprensa internacional e de quem a manipula e controla.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A Romaria da Senhora da Agonia

A grande romaria começa hoje em Viana do Castelo! É costume dizer-se que é uma das mais afamadas de quantas se realizam no norte de Portugal, mas também no resto do país e até na vizinha região da Galiza, pois tem aspectos etnográficos de grande beleza. Durante quatro dias a cidade acolhe milhares de visitantes para ver os desfiles, os tapetes floridos, as procissões, os concertos, a animação de rua e o fogo-de-artifício, mas também para conviverem com a rica tradição artesanal e gastronómica minhota. Como pontos mais altos da romaria destacam-se o cortejo histórico-etnográfico que se realiza no dia 18 de Agosto, e os festejos do dia 20, quando a cidade irá acordar com as suas ruas cobertas com tapetes floridos por onde passará a tradicional procissão que sai da igreja da Senhora da Agonia, que vai até à margem do rio Lima e que depois volta à igreja.
Naturalmente, ocorrem-nos a voz de Amália e os versos de Pedro Homem de Mello:
Se o meu amor não me engana / como engana a fantasia 
Havemos de ir a Viana / ó meu amor algum dia 
A Romaria da Senhora da Agonia é uma manifestação extraordinária da cultura popular portuguesa que decorre em Viana do Castelo, num belo enquadramento paisagístico entre o rio Lima e o monte de Santa Luzia. Por isso é sempre aliciante voltar a Viana ou, como sugere a canção, ir a Viana algum dia. Porém, em tempo de austeridade e para os que estejam em Lisboa e se queiram deslocar a Viana do Castelo, não podem deixar de pensar nos 400 quilómetros de distância, nas portagens e nas despesas de alimentação e alojamento. São os sinais dos tempos.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A tentação da chanceler e o seu plano B

A Europa está em férias e, aparentemente, nada acontece de relevante na sua vida política e económica. Porém, a prestigiada revista The Economist revela que a chanceler alemã está tentada a ultrapassar o actual impasse, mesmo que seja necessário desmembrar a zona euro. De facto, a equipa económica de Angela Merkel parece que tem trabalhado no sentido de resolver o problema grego e, também, os problemas económicos e financeiros de vários países que integram a moeda única. Apesar de sempre ter afirmado o interesse alemão na unidade dos 17 e na preservação da moeda única, a chanceler alemã está agora a considerar uma estratégia alternativa ou um plano B. Esse plano pretende salvar o euro através de uma intervenção selectiva, destinada a afastar os países que se têm revelado incapazes de cumprir as regras da moeda única e tem duas alternativas: uma considera apenas a saída da Grécia da zona euro, mas outra considera uma saída mais alargada de países, designadamente os que já foram ou estão em vias de ser intervencionados, isto é, os PICS (Portugal, Irlanda, Chipre e Espanha). Segundo o estudo feito, todos estes países falharam no seu projecto de integração na moeda única e têm perdido competitividade, aumentado o desemprego e reduzido o seu produto nacional. Apesar da austeridade e das reformas adoptadas, são muito reduzidas as perspectivas de melhorar o desempenho económico desses países no curto/médio prazo. A análise do The Economist e a referência ao plano B alemão são angustiantes, porque revelam que a solidariedade europeia já não existe e contrariam o recente discurso do nosso primeiro que, cheio de optimismo, afirmou que em 2013 o nosso ciclo económico seria invertido. Talvez o mês de Setembro já nos revele novidades, mas é evidente que também precisamos de um Plano B, para o que der e vier.

 

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A Índia festeja 65 anos de independência

A Índia celebra hoje o 65º aniversário da sua independência e o dia é festejado com pompa e circunstância por todo o território nacional desde os Himalaias ao Cabo Comorim, através das mais diversas cerimónias destinadas a evocar uma data, mas sobretudo para afirmar um sentido de unidade e de orgulho nacionais.
Foi no dia 15 de Agosto de 1947 que Jawaharlal Nehru pronunciou o famoso discurso da independência que veio a dar o título ao famoso livro de Dominique Lapierre e   Larry Colins - “Freedom at midnight”. A prestigiada revista India Today associa-se à efeméride e, na sua primeira página, destaca as figuras históricas de Mohandas Gandhi e de Muhammad Ali Jinnah, que simbolizam a luta anti-colonial e a partilha da Índia Britânica entre os hindus e os muçulmanos. Esse processo foi muito complexo e muito conflituoso e, de certa forma, mantém-se na actualidade, porque apesar do seu passado comum sob a administração inglesa,  as diferenças entre os dois países são cada dia mais acentuadas. São mundos à parte. Enquanto a Índia regista um assinalável progresso económico, apesar de continuar a manter elevadíssimos índices de desigualdade e de pobreza, o Paquistão está cada vez mais ameaçado pela instabilidade política e por grupos terroristas.
A fronteira indo-paquistaneza é frequentemente referida como “a mais perigosa do mundo", não só devido à rivalidade entre a Índia e o Paquistão, mas também porque a região da Caxemira é objecto de reivindicações territoriais indianas, paquistanesas e até chinesas, isto é, por três países que dispõem de armas nucleares. A celebração do 65º aniversário da independência indiana é uma boa oportunidade para nos lembrarmos desse problema que as Nações Unidas têm em mãos, exactamente desde 1947.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Adeus Londres. O Rio já espera por nós!

Os Jogos Olímpicos de Londres chegaram ao fim e, para além do seu enorme sucesso desportivo, também foram um grande sucesso organizativo e mediático, conforme atestaram as imagens que diariamente nos chegaram através da televisão. Tal como acontecera com a imponente cerimónia de abertura, também a cerimónia de encerramento foi grandiosa e inesquecível. Os ingleses brilharam.
Uma primeira análise à participação portuguesa deixa um certo sentimento de frustração ao verificamos que no ranking final das medalhas ocupamos um modesto 69º lugar, apenas com a medalha de prata conquistada por Fernando Pimenta e Emanuel Silva na prova de canoagem (K2 - 1.000 metros). O chefe da missão olímpica portuguesa classificou de “muito positiva” a participação nos Jogos Olímpicos, mas essa declaração é muito exagerada, pois ficamos aquém das expectativas e dos resultados que obtivemos em Atenas e Pequim.
Segundo um estudo da agência Lusa, o investimento do Estado português na preparação e participação olímpica ascendeu a 15,1 milhões de euros, estimando-se que ao longo de quatro anos foi investida uma média de 196 mil euros por cada um dos atletas presentes em Londres, mas os resultados obtidos limitaram-se a um segundo, dois quintos, dois sextos, dois sétimos e três oitavos lugares. Esperava-se mais com esse nível de investimento? Não sei. Desconheço a correlação existente entre o investimento e os resultados desportivos obtidos, mas era desejável que fosse conhecida e comparada internacionalmente para tirarmos as nossas próprias conclusões. Da mesma forma era desejável que se conhecessem os critérios utilizados para atribuir bolsas e apoios aos atletas e a razão para haver tantos convidados “pendurados” na delegação olímpica portuguesa. Finalmente, um justo aplauso para o remo, a canoagem e o ténis de mesa que, estando sempre fora da atenção dos nossos media, tiveram prestações excelentes. Adeus Londres. O Rio já espera por nós!

domingo, 12 de agosto de 2012

A descoberta de Marte e o "nosso" futuro

No passado dia 6 de Agosto, às 05 horas e 31 minutos TMG, o robot Curiosity aterrou na superfície de Marte, num local situado apenas a 2,4 quilómetros do local previamente estudado, depois de uma viagem de mais de 560 milhões de quilómetros, tendo começado imediatamente a enviar imagens para a Terra. A revista TIME seleccionou o tema e informa-nos sobre “o que podemos aprender com um robot a 154 milhões de milhas de distância”.
O Curiosity é uma sonda-laboratório concebida pela NASA que foi transportada na sonda espacial Mars Science Laboratory (MSL), tendo sido lançada de Cabo Canaveral no dia 26 de Novembro de 2011, por meio de um foguetão espacial Atlas V. Transporta instrumentos científicos especialmente concebidos para esta missão que nunca antes tinham sido utilizados nas anteriores missões a Marte e que, em certa medida, resultam da cooperação científica internacional. A sua principal missão é a investigação sobre a possibilidade da existência passada ou actual de vida microbiana em Marte, o estudo do clima e da geologia do “planeta vermelho” e a recolha de dados para servirem de base a uma futura missão tripulada, o que se espera possa acontecer dentro de dez anos, se houver dinheiro para isso.
A especulação jornalística e a curiosidade científica misturam-se e sugerem que estamos no campo da ficção científica, mas para muita gente a missão do Curiosity pode representar o início da colonização de Marte. Existe a ideia de “terraformar” o planeta Marte, isto é, transformá-lo numa segunda Terra, através da “criação” de uma atmosfera respirável, com rios, mares e florestas e, dessa forma, duplicar a superfície de que a humanidade poderá dispor no sistema solar. Dizem que tal operação é o mais audacioso projeto de “engenharia civil” jamais concebido pela mente humana, mas para a nossa geração tudo isso não passa de ficção científica. Nem Júlio Verne foi tão longe.

"La vuelta al mundo de Pascual Sala"

Quando nas suas edições de hoje todos os jornais espanhóis celebram os êxitos dos seus atletas em Londres, festejam as 17 medalhas olímpicas já conquistadas e se concentram na grande final de basquetebol contra os Estados Unidos, o diário madrileno ABC escolhe um outro tema para a sua primeira página e titula: La vuelta al mundo de Pascual Sala. É uma pedrada no charco! É a denúncia dos que abusam dos dinheiros públicos em tempo de crise.
Pascual Sala Sánchez, de 77 anos de idade, é o presidente do Tribunal Constitucional de Espanha desde Janeiro de 2011 e, nesse mesmo ano de 2011, devido a compromisos internacionales, realizou viagens por seis países da América Latina e da Europa, que totalizaram 46 mil quilómetros. Estas despesas foram custeadas pela rubrica “despesas correntes de bens e serviços” do orçamento do Tribunal Constitucional, que teve uma dotação de 6.9 milhões de euros. Muito dinheiro. O jornal ABC informa que insistiu com a instituição para saber o custo exacto das viagens de Pascual Sala, mas que esses elementos não lhe foram facultados. A blogosfera espanhola reagiu a esta notícia e, sem qualquer hesitação, denunciou este caso como um exemplo da grande corrupção que tem a cumplicidade da imprensa que, geralmente, a encobre e silencia.
Esta notícia que hoje nos chega de Espanha é realmente muito curiosa, porque até parece indicar que a diferença entre os países ibéricos não está nos comportamentos, que serão muito parecidos, mas que está… nos jornais. Enquanto uns denunciam e informam, outros calam-se e esquecem o seu dever de informar, relatar e comentar. Aqui no rectângulo, mesmo em tempo de crise, também temos muita gente que gosta de viajar para satisfazer compromisos internacionales e outros, sem que os jornais denunciem as situações de abuso e de despesismo. São os nossos pascuais salas, que viajam, viajam, viajam. Era bom que soubéssemos para que servem essas viagens e quanto nos custam, a começar naturalmente pelas viagens constantes desse frequent flyer que é o licenciado portas. A bem da Nação!

 

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

O centenário de Jorge Amado

Jorge Amado, o escritor brasileiro que os portugueses melhor conhecem, completaria hoje cem anos se não tivesse falecido em 2001. Conhecido mundialmente como um dos símbolos da literatura brasileira, consagrou-se pelo seu estilo simples e pelas personagens populares que criou, que tanto evidenciavam as injustiças sociais da época. Tendo nascido em 1912, publicou em 1931  “O país do Carnaval”, que foi o seu primeiro romance e um grande êxito literário. Muito conhecido e apreciado em Portugal, que visitava frequentemente, a sua verdadeira consagração em Portugal só aconteceu com a projecção mediática que adquiriu depois da publicação de “Gabriela Cravo e Canela” e, sobretudo, depois da adaptação daquele romance para a televisão. O peso que a emissão dessa novela teve, fez crescer em grande volume a venda dos livros do escritor. Depois seguiram-se muitas outras adaptações televisivas das suas obras, com destaque para “Tieta do Agreste” e “Dona Flor e seus dois maridos”. A evocação da vida e obra de Jorge Amado vai ser feita na Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa, através de uma exposição intitulada  “Jorge Amado em Portugal”, que vai estar  vai estar disponível até ao dia 29 de Setembro. Na Casa dos Bicos, onde está instalada a Fundação José Saramago, o escritor baiano também será recordado numa exposição de livros, fotografias, correspondência trocada com José Saramago, filmes e música. Entretanto, no terreiro situado em frente da Casa dos Bicos realiza-se hoje uma festa que recordará Jorge Amado e os cem anos que ele teria se ainda fosse vivo, com a apresentação do grupo Arte Pura Capoeira, seguindo-se uma sessão de música e leituras encenadas no auditório da Casa dos Bicos. A efeméride é assinalada, ainda, por um cartaz que recorre a uma expressiva fotografia: Jorge Amado e José Saramago, sentados à conversa em Salvador da Baía.