quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O drama social do desemprego acentua-se

No quarto trimestre de 2012, havia 923 mil pessoas sem trabalho em Portugal, o que equivale a 16,9% da população activa, segundo indicou ontem o Instituto Nacional de Estatística (INE) e os jornais destacaram. Apenas num ano, o número de desempregados aumentou em 150 mil novos casos mas, desde que em meados de 2011 o actual governo e a troika assumiram o poder, houve 248 mil novos desempregados em Portugal. Esse é o resultado mais visível do programa de ajustamento económico e financeiro que está a ser aplicado em troca de um empréstimo de 78 mil milhões de euros. No entanto, esse é o número oficial de desempregados porque, segundo outros critérios, esse contingente poderá atingir 1,4 milhões de pessoas, isto é, cerca de 25% da população activa.
O programa da troika e aqueles que o aplicam continuam a revelar uma profunda insensibilidade social e a mostrar indiferença perante o nosso empobrecimento generalizado. Não é só o desemprego e o seu drama social a acentuar-se. A economia está a afundar-se e entrou numa espiral recessiva, os problemas da dívida e do défice não estão a ser resolvidos e a situação social está em acelerada deterioração. O pequeno comércio encerra. Os jovens emigram. A sociedade desagrega-se. Não há confiança. Não se vê futuro. Um milhão de desempregados desespera.
A nossa secular identidade, assim como a história e a cultura de que tanto nos orgulhamos, estão a ser destruídos por um grupo de contabilistas que ignoram o nosso passado e que estão “orgulhosamente sós”. São os fundamentalistas - os gaspares, os moedas e os borges - que já fizeram demasiado estrago ao país com a sua insensibilidade social e que, todos os dias, contribuem para o aumento do desemprego. Deixem-nos, por favor!

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Fisco penhora e vende carros de luxo

A edição de hoje do Correio da Manhã inclui uma notícia com o sugestivo título – ‘Bombas dão milhões ao Fisco – revelando que industriais dos sectores têxtil e do calçado, construtores civis, promotores imobiliários, advogados e gente do futebol ficaram sem os seus carros topo de gama para pagar as dívidas fiscais das suas empresas. A penhora de automóveis para pagamento de dívidas fiscais é uma prática corrente em Portugal.
Em 2011 houve 8.491 veículos penhorados e vendidos, mas porque o processo de penhora e venda foi agilizado, em 2012 foi possível penhorar e vender 21.499 automóveis. De acordo com a informação do jornal foram penhorados e vendidos dois Rolls-Royce (160 mil euros), dois Aston Martin D89 (250 mil euros), seis Ferrari Testarossa (175 mil euros), nove Lamborghini (100 mil euros), vinte e cinco Aston Martin Vanquish (220 mil euros) e dezassete Porsche 911 (80 mil euros). No lote de veículos penhorados e vendidos pela Administração Fiscal ainda se encontravam 1.097 Volkswagen, 1.065 Mercedes, 514 BMW, 437 Volvo e 290 Audi.
Este quadro é absolutamente lamentável e envergonha-nos, mostrando como temos sido insultados por esta gente e por quem fechou os olhos ao seu exibicionismo e à sua continuada prática de evasão fiscal. Porém, estes números também nos ajudam a compreender muita coisa.  Na realidade, eles parecem mostrar que uma parte dos fundos estruturais destinados à modernização do sector produtivo português, que passaram a ser recebidos depois de Janeiro de 1986, foi canalizada para a aquisição de veículos de luxo e serviram para alimentar o novo-riquismo lusitano. O Fisco actuou e é caso para dizer que mais vale tarde que nunca.

Os tempos de incerteza na banca

O jornal i anuncia hoje que os cinco maiores bancos a operar em território português – CGD, BCP, BPI, BES e Santander Totta - têm 23 mil milhões de euros de crédito mal parado ou crédito em risco, correspondentes a cerca de 8,1% do total da carteira de crédito e que representam quase 14% do PIB.
A situação é grave em termos quantitativos mas, sobretudo, é grave em termos de tendência evolutiva, pois são sinais a revelar mais tempos de incerteza na banca. De facto, em finais de 2011 o crédito em risco destes cinco bancos era de 17,8 milhões de euros e, um ano depois, tinha subido para 23,3 milhões de euros, significando que em doze meses o crédito em risco aumentou em 5,5 mil milhões de euros e que o rácio do crédito em risco passou de 5,9% para 8,1%.
Em termos globais, o maior agravamento verificou-se no crédito às empresas, sobretudo nos sectores da construção, do imobiliário e do comércio, mas também houve agravamento no crédito a particulares, embora a aquisição de habitação tenha continuado a ser o segmento de crédito menos gravoso, com taxas pouco acima de 1%.
Esta enorme volume de crédito em risco, resulta em primeiro lugar de uma conjuntura económica recessiva que se tem agravado e para a qual continua a não haver reacção governamental, mas também é uma herança dos tempos de deslumbramento, de ganância e de loucura que tomou conta da banca um pouco por todo o mundo. Entretanto, como a nossa economia se continua a afundar, parece não haver dúvidas de que o crédito mal parado continuará a agravar-se nos próximos tempos e, como sempre, essa factura acabará por cair sobre os nossos ombros. São tempos de incerteza na banca e, naturalmente, para cada um de nós, como de resto se viu com o BPN.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Histórias de guerra ainda por contar

Durante a 2ª Guerra Mundial, muitos países europeus fizeram declarações de neutralidade mas porque vieram a ser ocupados militarmente, acabaram por se envolver directa ou indirectamente no conflito. Por isso, apenas Portugal, Espanha, Irlanda, Suiça e Suécia permaneceram efectivamente neutrais, embora sejam conhecidas muitas actividades de apoio aos beligerantes, desenvolvidas nesses países à margem do estatuto de neutralidade.
Em Portugal essas actividades ainda não são muito conhecidas e, por vezes, aparecem relatadas em reportagens ou artigos de imprensa dispersos, que referem o apoio ou o internamento de pilotos abatidos ou de náufragos recolhidos, o abastecimento clandestino de submarinos e, agora, através da revista Visão, a participação de centena e meia de portugueses nas tropas alemãs que invadiram a Rússia e que integraram a Divisão Azul, que tomou parte no cerco de Leninegrado.
A Divisão Azul era uma unidade de voluntários espanhóis, formada essencialmente por falangistas, também chamados “camisas azuis”, que na sequência da vitória franquista na guerra civil de Espanha se alistaram para “combater o bolchevismo”, mas também motivados por razões económicas. Então, muitos portugueses que haviam combatido na guerra civil, por necessidade económica ou por aventureirismo, também se juntaram à Divisão Azul. Os nomes de muitos deles são conhecidos e a sua história ainda está a ser feita, ao mesmo tempo que a revista Visão anuncia que está a preparar uma edição especialmente dedicada a este assunto.

A inesperada renúncia de Bento XVI

Num discurso pronunciado em latim durante um consistório ontem realizado no Vaticano, o Papa Bento XVI anunciou a sua resignação a partir do próximo dia 28 de Fevereiro. Nesse discurso, o Papa reconheceu a sua “incapacidade para exercer de boa forma o ministério que lhe foi encomendado” para liderar mais de mil milhões de católicos em todo o mundo e “para governar a barca de S. Pedro e anunciar o Evangelho”, pois para isso “é necessário também vigor, tanto do corpo como do espírito”. O Papa, que tem 85 anos de idade e que governava a Igreja Católica desde 2005, acrescentou que “cheguei à certeza de que, pela idade avançada, já não tenho forças para exercer adequadamente o ministério de Pedro”.
Foi um anúncio inesperado e muito raro na História da Igreja Católica, mas foi também um discurso corajoso, pois a última vez que um Papa resignara tinha acontecido em 1415 com Gregório XII. A imprensa mundial destacou aquela notícia quase unanimemente, ilustrando-a com a fotografia de Bento XVI, mesmo em países e regiões onde o catolicismo é residual, como acontece no mundo árabe, destacando o seu espírito de reconciliação e o apoio à defesa dos valores ecuménicos. O diário egípcio al-akhbar é um dos jornais que destaca a notícia da resignação de Bento XVI, classificando-o como um dos mais importantes líderes mundiais, tanto a nível religioso como político, mas informando também que “os árabes perderam um amigo”.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

O BPN ajudou muita gente…

Ontem deixei aqui um texto intitulado “Ainda a fraude BPN” e, curiosamente, o tema foi hoje chamado à primeira página do Correio da Manhã a propósito dos cortes remuneratórios que estão a ser feitos aos pensionistas e que tanto estão a contribuir para a espiral recessiva e o consequente empobrecimento em que estão a mergulhar o nosso país.
Segundo o jornal, o antigo ministro Miguel Cadilhe não é afectado por esses cortes, apenas porque é um reformado especial. De facto, quando Cadilhe substituiu Oliveira e Costa na presidência do BPN, para além de um salário bruto anual de 700 mil euros, assegurou um PPR de mais de dez milhões de euros, que foi pago de imediato na sua totalidade e que, por sua exigência, foram confiados à seguradora Zurich. O homem fez-se pagar bem e, afinal, em vez de ir cuidar do BPN tratou antes de cuidar de si próprio.
Não burlou nem defraudou, apenas cadilhou. Oliveira e Costa declarou então que, em poucos meses, Cadilhe ganhara duas vezes e meia mais do que ele próprio ganhara em dez anos.
Afinal, o BPN não serviu apenas para facilitar fraudes, roubos, falcatruas e evasão fiscal, para branquear capitais, conceder crédito sem garantias e fazer pagamentos clandestinos a dezenas de administradores e colaboradores, mas serviu também para ajudar muita gente. Miguel Cadilhe foi um deles. O Correio da Manhã andou bem ao relembrar esta história.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Ainda a fraude do BPN

A SIC apresentou-nos uma desenvolvida reportagem intitulada “A fraude”, em que analisou com detalhe o escândalo que continua a ser o caso BPN. A história revelada é quase inacreditável e é chocante, deixando-nos absolutamente perplexos. Como foi possível tanta promiscuidade entre a alta política e a negociata? Como foi possível ter havido tanta gente sem escrúpulos a beneficiar do fraudulento esquema? Como foi possível a supervisão bancária não ter percebido e actuado em devido tempo? A reportagem da SIC estimou que o buraco financeiro do BPN pode chegar aos 7 mil milhões de euros, nele se incluindo os chamados activos tóxicos, as imparidades e os créditos de cobrança duvidosa. É um quadro de catástrofe sem paralelo na nossa história económica. A reportagem mostra que os principais responsáveis por esta criminosa fraude continuam impunes e continuam a passear por aí com indiferença, privando com os poderes políticos e, em muitos casos, a ocupar posições públicas de grande responsabilidade. E não são apenas os homens de topo, aqueles que tinham relações políticas e de negócios com Oliveira e Costa e que agora frequentam o Copacabana Palace do Rio de Janeiro. Havia os quadros intermédios e os gerentes das agências que prometiam juros de 30% para os depósitos e havia também os economistas sôfregos que não percebiam que não era possível haver lucros anuais de mais de 100%. Andavam todos deslumbrados com tanta fartura! Houve algumas centenas de clientes ou amigos que beneficiaram de milhões de euros de créditos para a compra de terrenos e de grandes mansões, obras de arte e financiamento de negócios especulativos, mas ficamos a saber que nada estará a ser feito para que esses créditos sejam recuperados. Haverá já mais de cinco centenas de clientes com dívidas superiores a meio milhão de euros em incumprimento total, isto é, clientes que já deviam ter liquidado tudo o que devem e que, pelo contrário, deixaram pura e simplesmente de pagar qualquer prestação. Será porque o crime compensa? Perante este quadro aterrador de trafulhice e roubo, quem nos pode valer?

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O atrevimento de certos autarcas

Este ano vão realizar-se eleições autárquicas e, de acordo com a lei, esse facto deveria constituir uma oportunidade para o reforço da participação democrática dos cidadãos na vida da comunidade e para a renovação dos aparelhos e do pessoal político locais. Foi com esse espírito que em 2005 foi aprovada a lei da limitação dos mandatos autárquicos, que determina que os titulares dos órgãos autárquicos estão limitados a três mandatos consecutivos de quatro anos. Porém, a lei também pretende contrariar a existência de “dinossauros autárquicos” que se perpetuavam no poder local como verdadeiros caciques, criando e gerindo promíscuas teias de interesses que envolviam empreiteiros e construtores civis, fornecedores, gestores municipais, assessores e outros amigos, para além da gente do futebol da terra. 
O poder autárquico é um dos maiores símbolos do nosso Estado Democrático e deveria ser exercido de baixo para cima, em nome da vontade dos eleitores e dos interesses locais. Porém, há quem queira impor candidatos de cima para baixo, numa clara violação do espírito da lei. A anunciada candidatura de autarcas que estão a concluir o seu terceiro mandato numa localidade e se apresentam agora numa localidade vizinha, casos de Menezes e Seara, viola o espírito da lei, enfraquece claramente o poder local, desprestigia a classe política portuguesa e é um evidente caso de caciquismo e de esperteza saloia. Certamente, os tribunais ou, mais tarde os eleitores, não deixarão passar o atrevimento, a ambição e a leviandade desta gente tão vulgar.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

The Perfect Storm

A imprensa é um meio de comunicação que utiliza o texto e a imagem como suportes da informação, embora seja o texto e, em especial o título, que habitualmente dão destaque à notícia. Porém, nem sempre é assim. Por vezes, com base na ideia de que uma imagem vale mais do que mil palavras, a imprensa utiliza a imagem como principal suporte da informação ou da notícia, não se refugiando na lógica mercantilista do sensacionalismo de um título.
A imprensa inglesa utiliza frequentemente a imagem como suporte da informação e um bom exemplo desse estilo encontra-se na edição de hoje do jornal The Guardian, que noticia a situação de temporal que vem assolando as Ilhas Britânicas através da fotografia de uma gigantesca onda batendo a área portuária de Seaham Harbour, uma pequena cidade situada no distrito de County Durham, na costa nordeste da Inglaterra. O autor da espectacular fotografia, em que é possível comparar a altura da onda com a altura do farol, é o fotojornalista Owen Humphreys.
O jornal recorreu a uma sugestiva legenda: perfect storm ou tempestade perfeita, que é uma expressão que descreve uma combinação rara de circunstâncias meteorológicas extremamente graves, mas que também vem sendo usada para descrever fenómenos de outra natureza e que se popularizou quando, no ano de 2000, foi produzido o filme The Perfect Storm, realizado por Wolfgang Petersen e que teve George Clooney como protagonista.
Sem quaisquer dúvidas, com a capa da sua edição de hoje, o The Guardian dá uma boa lição de jornalismo.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Afrighanistan ou a ameaça no Sahara

A prestigiada revista inglesa The Economist, muitas vezes considerada como a melhor revista económica do mundo, destacou na sua última edição o conflito que está a afectar alguns países situados entre o mar Mediterrâneo e o deserto do Sahara, comparando-o aos que acontecem desde há 11 anos no Iraque e no Afeganistão, onde a guerra já custou centenas de milhares de mortos e um trilião e meio de dólares em custos directos. A situação é especialmente crítica no chamado “arco da instabilidade”, que se estende da Somália ao Mali, passando pelo Sudão, pelo Chade e pelo Niger. A intervenção francesa que está em curso no Mali é, aparentemente, uma operação limitada no tempo, mas não há garantias de que seja assim, podendo vir a degenerar numa situação semelhante à que se passa no Iraque ou no Afeganistão.
A ilegalidade e a violência sempre existiram na região sahariana mas, nos últimos anos, com a “primavera árabe” e, sobretudo, depois da queda de Kadaffi em finais de 2011, a situação piorou. Formaram-se pequenos exércitos ou gangues armados que ocupam cidades, fazem reféns, exigem resgates, praticam o contrabando, fazem tráfico de drogas e praticam o banditismo avulso. Embora sejam comparados aos piratas das costas da Somália, parecem ser bem mais perigosos. Esses gangues e os seus líderes têm reforçado a sua influência junto das populações saharianas e, alguns deles, actuam em nome da jihad. Os jihadistas parecem ter ricos apoios financeiros, sobretudo na Arábia Saudita, sendo oriundos de alguns países da região como a Argélia, Tunísia, Niger e Mali, mas também de outras regiões como o Paquistão, a Iémen e a Somália. Esses grupos procuram atacar os interesses ocidentais na região, que é rica produtora de petróleo e gás, numa estratégia que também pretende incentivar uma campanha de terror na Europa e na América. Em defesa dos seus interesses económicos e da protecção dos seus nacionais residentes no Mali, a França assumiu o combate contra esses gangues armados, mas tem lamentado estar sozinha no terreno. Para a generalidade dos observadores, a situação é muito perigosa e muito incerta, podendo ser um atoleiro para os franceses, enquanto The Economist se interroga sobre se já estamos confrontados com um Afrighanistan.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

A impressionante ondulação da Nazaré

No passado dia 28 de Janeiro a Nazaré voltou a ser notícia mundial, através de uma excepcional fotografia de Garrett McNamara a surfar uma onda gigante na Praia do Norte, mesmo junto ao Farol da Nazaré.
Alguns jornais internacionais, nomeadamente a edição de 30 de Janeiro do jornal inglês The Times, reproduziram essa extraordinária imagem do surfista americano a deslizar sobre uma montanha de água de impressionantes dimensões. Um caso de fotojornalismo de qualidade.
No mesmo local, no dia 1 de Novembro de 2011, o mesmo atleta tinha conseguido surfar uma onda cuja altura foi estimada em 27,5 metros, que viria depois a ser distinguida com o prémio de Maior Onda Surfada de 2011, nos Billabong XXL Awards, uma espécie de “óscares” do surf de ondas grandes, ao mesmo tempo que passou a constar do Guiness Book de recordes.
As imagens captadas vão agora ser avaliadas pelos peritos para determinar a sua altura exacta, através de um processo simples: assume-se a altura do surfista como referência e extrapola-se para conseguir a distância entre o topo e a parte mais baixa da face da onda. Independentemente da medição que vier a ser fixada, uma vez mais o mundo assistiu ao encontro de um fenómeno da natureza com um extraordinário feito desportivo, que contribui para a promoção internacional da Nazaré como destino de referência para a prática de desportos de ondas grandes. No entanto, para as pessoas comuns, com ou sem a ousada presença de surfistas do tipo McNamara, a observação da impressionante ondulação da Nazaré em certos dias é um espectáculo imperdível.

Joana Vasconcelos: o sucesso em Paris

Entre os dias 19 de Junho e 30 de Setembro de 2012 realizou-se no Palácio de Versailles, em Paris, uma exposição de Joana Vasconcelos que teve assinalável êxito. O assunto não foi esquecido e, passados cerca de quatro meses, a edição on line de 30 de Janeiro do jornal francês Le Fígaro, publica uma reportagem intitulada “La folie des expos” que assinala que nos últimos seis anos, o número de exposições apresentadas em Paris mais do que duplicou. O artigo procura analisar algumas das razões que justificam esta explosão de exposições em Paris (de 46 em Novembro de 1998 a 104 em Novembro de 2012), através das suas temáticas, dos seus públicos e do número de visitantes, mas também através da sua “equação financeira” porque, tal como acontece com os museus, uma exposição deve assentar num equilíbrio entre receitas (apoios mecenáticos, patrocínios e receitas de bilheteira) e despesas (transportes, seguros, catálogos e outros).
O artigo publicado pelo jornal Le Figaro, apresenta uma relação das exposições mais visitadas em Paris nos últimos cinquenta anos, que mostra que a exposição “Joana Vasconcelos dans les Grands Appartements à Versailles”, realizada em 2012 no Palácio de Versalhes teve o impressionante número de 1,6 milhões de visitantes, tendo sido  a exposição mais visitada de sempre em Paris. Nessa lista, a mostra de Joana Vasconcelos é, seguida pela exposição “Toutankhamon au Petit Palais” (em 1967, com 1,2 milhões de visitantes), pela exposição “La Collection Barnes à Orsai” (em 1993, com 1,15 milhões), a exposição “Monet au Grand Palais” (em 2011, com 913 064 visitantes) e a exposição “Dali à Beaubourg” (em 1979, com 840 600 visitantes).
Numa época em que uma certa Europa procura ridicularizar uma outra Europa, o êxito de Joana Vasconcelos é uma resposta cultural à arrogância dessa Europa endinheirada e, naturalmente, alimenta a nossa auto-estima.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Adeus Goa, olá Lisboa!

Depois de alguns dias passados em Goa, estou de regresso a Portugal. O tempo que por lá passei satisfez as minhas expectativas e consegui fazer tudo o que eu tinha planeado fazer. Goa continua na sua onda de progresso acelerado e a alimentar o seu próprio estereótipo de “Europa da Índia”, o que leva a que multidões de turistas indianos a visitem e contribuam para a descaracterização cultural cada vez mais rápida do território.
No entanto, está a acontecer em Goa um caso muito curioso: a importantíssima actividade mineira foi suspensa pelo Bombay High Court, que tem jurisdição nos Estados de Maharashtra e Goa, ao dar provimento às queixas e às pressões das associações ambientalistas que vinham acusando a indústria mineira de estar a provocar uma verdadeira catástrofe ambiental em Goa. As três centenas de explorações mineiras a céu aberto, muitas delas operando intensivamente e à margem da lei, alteraram a paisagem goesa, destruíram áreas enormes, produziram autênticas montanhas de terra, lama e minério de ferro de baixo teor, que são materiais não tratados e altamente instáveis, que ameaçam abater-se sobre aldeias e os campos e que já estão a poluir os rios e os inúmeros cursos de água.
Acontece que a indústria mineira, juntamente com o turismo, são as principais actividades económicas de Goa, pelo que esta decisão revela muita coragem ao enfrentar interesses económicos muito poderosos, o que não é nada comum no mundo contemporâneo.
Ao largo da barra de Goa não se vêem agora as dezenas de navios mineraleiros em espera, nem nos rios Mandovi e Zuari se observam as centenas de barcaças que faziam o transporte do minério, desde o interior até aos navios fundeados. Há uma mudança visível na paisagem goesa e a poeira avermelhada desapareceu de muitas áreas que recuperaram a sua cor verde natural. Porém, a indústria mineira cresceu exponencialmente nos últimos anos devido à procura do Japão e da China, empregando actualmente muitos milhares de pessoas nas minas, no transporte do minério e nas actividades conexas. Assim, esta suspensão está a ter consequências económicas muito sérias e a colocar em causa a coesão social goesa, até porque a suspensão da actividade significa muito desemprego. À calamidade ambiental pode suceder uma calamidade social. Porém, neste caso, a arrogância e a ganância do poder económico foram travadas pela Justiça, devido à pressão dos ambientalistas e das estruturas democráticas de participação popular. É um bom exemplo a mostrar que, mesmo em nome da economia, não pode valer tudo.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Eu falo português em Goa!

Amanhã parto para Goa, onde vou visitar amigos e rever lugares pelo que, durante algum tempo, estarei ausente deste espaço.
Voltar a Goa é sempre um reencontro com uma terra acolhedora, cultural e paisagisticamente muito rica, cheia de contrastes na sociedade e no ordenamento, que quase se assemelha a um caleidoscópio de cores e de sabores, mas também de línguas e de religiões. A dinâmica desenvolvimentista e o ritmo de transformações que se verificam na sociedade e na economia goesas são bem evidentes para o visitante frequente e não precisam de ser atestadas por quaisquer indicadores.
Goa é o mais pequeno, mas também é o Estado mais próspero de toda a União Indiana e, depois de 451 anos de presença portuguesa, o território e em especial as cidades de Pangim e Margão, continuam a exibir muitos traços da cultura portuguesa, reconhecíveis na sociedade e no quotidiano, na arquitectura e no traçado urbano, na gastronomia e nas práticas festivas, nos costumes sociais e no uso do Código Civil, na paixão pelo futebol e no gosto pelo Carnaval mas, sobretudo, na língua portuguesa. Naturalmente, a língua portuguesa tende a perder importância em Goa, mas é do interesse da Lusofonia preservar, estimular e apoiar a sua preservação, o seu uso e o seu ensino, com base nos acordos culturais estabelecidos com as autoridades indianas e através das instituições adequadas para esse efeito. Trata-se de uma exigência histórica e cultural e, por isso, terá que ser um parâmetro ou uma directiva permanente da nossa acção externa.
Eu falo português em Goa!

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O Município de Lisboa é um gigante

Nas remessas de correio electrónico mais ou menos indesejado que todos recebemos diariamente, chegou-me uma informação relativa aos quadros de pessoal da Câmara Municipal de Lisboa (CML), que referia a existência de 2521 Técnicos Superiores, licenciados ou doutorados, designadamente 330 arquitectos, 101 assistentes sociais, 73 psicólogos, 104 sociólogos, 146 licenciados em marketing, 260 engenheiros civis, 156 historiadores e 303 juristas, entre outros profissionais. Não era referido se a situação era actual ou passada, mas estranhei um tão numeroso exército de gente qualificada pelo que fui procurar a confirmação dessa informação. Julgo ter encontrado uma resposta no Boletim Municipal da CML, nº 937, Suplemento 2 (Fevereiro de 2012), que inclui o Mapa de Pessoal do Município de Lisboa para 2012, anexo ao Orçamento para o mesmo ano. O Mapa apresenta os elementos relativos a 2011 e estabelece a sua evolução para o ano de 2012. No que respeita aos Técnicos Superiores está prevista em 2012 a sua redução de 2616 para 2539 elementos (-2,9%) e lá estão 343 arquitectos, 321 juristas, 270 engenheiros civis, 160 historiadores, 150 licenciados em Ciências da Comunicação e 104 sociólogos. A informação que eu recebera estava certa e apenas pecava por defeito!
No entanto, a CML parece estar alertada para o seu gigantismo e estar a actuar com sensatez e sem sobressaltos, pois em 2012 o número total de pessoal teria passado de 11.510 para 10.424 colaboradores (-9,4%), com o pessoal dirigente a passar de 197 para 166 (-15,7%) e os assistentes operacionais a passarem de 4599 para 3975 elementos (-13,5%). Há, portanto, uma vontade de racionalizar estruturas e racionalizar custos, corrigindo os erros acumulados durante muitos anos. De resto, o texto que acompanha o Mapa de Pessoal destaca a efectiva redução do número de cargos dirigentes e faz referência à necessidade de potenciar recursos e de assegurar ganhos de eficiência, significando que a CML está atenta às realidades nacionais, mas que não precisou de recorrer aos estagiários do FMI como fez o deslumbrado moedas que, por isso, muito tem levado na cabeça.